sábado, março 29

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PERSONALIDADES PÃO-DE-AÇUCARENSES – DR. LUIZ MACHADO

 

Por Etevaldo Amorim

 

O Dr. Luiz Machado


O Dr. Luiz Machado de Andrade, médico, produtor rural, Intendente, Deputado Estadual, nasceu em Pão de Açúcar no dia 18 de setembro de 1879. Filho de Miguel de Freitas Machado e Cândida Delfina de Andrade. Eram seus avós paternos: José de Freitas Machado e Maria Pastora de Jesus e, maternos: Ten-Cel José Gonçalves de Andrade e Cândida Delfina do Coração de Jesus.

 

Foi casado com Maria José Machado de Andrade, “Mariinha”, e (filha de Francisco de Freitas Machado e Maria José Monteiro Machado, que faleceu aos 46 anos de idade, no Hospital de Doenças Nervoss, no Recife, no dia 26 de março de 1936), com quem teve os filhos Miguel e Luiz.

 

Depois de iniciar seus estudos em Pão de Açúcar, foi para o Recife, em 1895.[i] No ano seguinte, ele e seu irmão José de Freitas Machado pedem para ser inscritos no Instituto Benjamim.[ii] Com efeito, em 16 de outubro de 1897, o Instituto publica Edital no Diário de Pernambuco avisando que as provas seriam realizaas no dia 18 daquele mês e ano. O nome de Luiz Machado de Andrade consta para exames de Geometria e Trigonometria. O de seu irmão José de Freitas Machado, em História Universal.

 

Em 1898, muda-se para Salvador, ingressando na primeira série do Curso de Farmácia da Faculdade de Medicina da Bahia,[iii] passando depois para o Curso de Medicina.

Colou grau em 1903, defendendo a tese: ETIO-PATOGENIA DO IMPALUDISMO NO BAIXO SÃO FRANCISCO.

 

Na edição do dia 15 de dezembro de 1903, o jornal Correio do Brasil, órgão Democrata de propriedade de Freire, Costa & Cia, e administrado por Laureano J. F. Oliveira, publica um convite para a colação de grau, assinado por oito doutorandos, entre eles o Dr. Luiz Machado.

 

“Será para nós motivo de grande prazer e honra o comparecimento de V. Exª com a Exmª família à cerimônia solene de colação de grau aos doutorandos de 1903, às 12 horas do dia 15 do corrente mês, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina, assistindo antes à missa que, em ação de graças, será rezada no Mosteiro de São Bento, às 10 horas do dia supremencionado.

 

Esperamos, confiantes, que V. Exª não se escusará de atende a esta solicitação, o que será motivo para muito nos penhorar.

 

Bahia, 5 de dezembro de 1903.

 

Alípio Maia Gomes, Alvim Martins Horcades, Alpheu Bicca de Medeiros, Manoel Joaquim Alves Feitosa, Paulo Bernardes, Delphim Paiva de Lima Junior, Francisco da Costa Fernandes e Luiz Machado de Andrade.” (Alípio Maia Gomes e Manoel Joaquim Alves Feitosa eram também alagoanos).”

 

 

Neste ano, em que ingressou no curso de Farmácia o seu irmão José de Freitas Machado, a Escola se achava em intensa agitação, em virtude de protestos dos estudantes contra a reforma do ensino, levada a efeito pelo Decreto nº 3.890, de 1º de janeiro daquele ano (a chamada “Reforma Epitácio Pessoa”) e pelo regulamento das faculdades de medicina.

 

Ele, então, somando-se a muitos dos seus colegas do 6º Ano, assina o manifesto intitulado “AO PAÍS E À IMPRENSA”, publicado na gazeta O TEMPO, em 17 de junho.

Segunda-feira, 17 de junho – Saiu à luz, através da gazeta O TEMPO, o alentado manifesto da Corporação Acadêmica de Medicina e de Farmácia da Bahia, dirigido “ao País e à Imprensa”:

“Quando levados pela força imperioza das circunstancias e pelos impulsos intimos da consciencia vimo-nos na dura necessidade de abrir franca divergencia com o sr. dr. José

Olympio de Azevedo, director da Faculdade de Medicina e de Pharmacia da Bahia, bem longe estavamos de presumir que surgissem commentarios tentando desnaturar a feição verídica dos factos e sopitar a voz suprema da verdade.

No emtanto, e sem embargo de muitos nos fazerem a devida justiça, houve quem articulasse contra nós acusações que accarretariam grandes responsabilidades, si não fossem infundadas, si não tivessem uma base completamente aerea.

Retardamos o mais possivel a explicação de nossa atitude correcta, serena e defensiva para não cercear ou aniquilar de todo o conceito apparente de que gosa o sr. dr. director, mas, dado o primeiro passo e com o desenrolar dos acontecimentos que tem occorrido nesta capital, para convencermos de modo inconcusso a opinião publica de que estamos

amparados pelo direito, organisamos este trabalho que nada mais é do que um conjuncto de provas irrefragaveis e esmagadoras contra s.s., ao mesmo tempo que uma justificativa da posição stoica, nobre e digna de applausos da mocidade academica da Bahia.

Não nos emprestem intenções que não temos. Não nos arvoramos em tribunal de accusações desarrazoadas e injustas.

Pugnamos pela reivindicações dos nossos direitos postergados, luctamos em prol do nosso futuro que se nos antolha ameaçados.

Vai aqui a exposição dos factos com a critica fiel e imparcial, por isso que adoptamos a divisa; Scribitur nom solum ad narrandum, sed ad probandum.

No dia 4 do mez presente os alumnos dos diversos cursos de nossa Faculdade querendo testemunhar o intraduzível reconhecimento que impunha o brilhante desempenho da incumbência comettida ao distincto academico Alvim Martins Horcades, de apresentar ao Congresso Nacional o seu protesto contra a reforma do ensino, ultimamente decretada, resolveram fazer-lhe, como realmente o fizeram, a manifestação simples e sincera que o publico apreciou e o colega commovido recolheu ao coração.

O sr. dr. director que aliás havia tido conhecimento do facto, mas que é indifferente a semelhantes expansões, porque não sabe, e nem póde produzil-as, estribado na autoridade que lhe deu o officialiusmo ultrajou ostensivamente á mocidade, marcando ponto nas aulas, batendo-lhe brutal e grosseiramente as portas da secretaria, quando incorporada lhe fora pedir a relevação das faltas. Assim feriu s.s., quando devia animal-os os seus sentimentos sagrados, justos e incontestáveis, necessarios e essenciaes.

Dahi a reacção que surgiu, fructo também de um acervo de injustiças praticadas por s.s., que de rasão gelada e senso esteril, não soube ou não quis contemporizar, fazendo côro com as nossas alegrias, pois que seus interesses assim não o reclamavam.

Nunca se mencionou uma ação de tamanha gravidade, que ficasse impune e os moços que fazem jus a essas condescendências, não pela edade e pelos sentimentos, não podiam, não deviam deixar passar sem correção tão grande injuria atirada publicamente ás suas faces.

E se alliarmos ao que fica expendido que s.s é a negação absoluta do typo que concebemos de um chefe, se advirtimos que é inteiramente destituído de um coração amorável e de uma alma enthusiasta, que são as raizes moraes, como um cerebro activo e uma cabeça equilibrada sãos as raízes intellectuaes de um bom director, teremos sobejamente demonstrado e comprovado a asserção dos nossos telegramas expedidos aos srs. Presidente da Republica, Ministro do Interior, ao Congresso Nacional, ao Paiz e á Federação Academica.

Na verdade, de longa data se vinha formando no espirito da mocidade academica a convicção, ora radicada e profunda, da incapacidade daquelle que o poder supremo encarregava de dirigil-a e guial-a.

Naturalmente bondosa e compassiva, hesitava até então entre o dever que a impellia a apresental-a aos olhos da Nação, tal qual era, e a conveniencia naturalmente respeitosa ao poder constituido de não passarem do recinto protector da Faculdade os seus erros, as suas culpas. Quando, porém, o coração do Sr. Dr. Director se revelou inacessivel a qualquer magnanimidade a alma da mocidade vibrou e compreendeu que a generosidade era intempestiva e criminosa para com aquelle que não sabia dispensal-a.

Então, venceu a idéa do dever durante tanto tempo sofreado, e a demissão do funccionario incompetente se impoz como uma necessidade inadiavel e atal D’ahi os telegrammas e a energia de seus termos, que reverte em um acto, talvez não muito curial mas sobretudo justificavel attribulados como nos achavamos pelos desvios de urbanidade e dureza na applicação da lei, rudes demonstrações de excesso de autoridade.

Chamamol-o de incompetente e vamos proval-lo. Antes, porém, de fazel-o, pedimos ao Sr. Dr. Director que lance a vista para o grande numero de assignaturas abaixo afim de convencer-se de que não somos um pequeno grupo nem tão pouco uns transviados: representamos, ao contrario, a quase unanimidade da Escola, os ellementos que constituem a sua existencia, a sua força e a sua gloria.

Os alumnos Alarico Nunes Pacheco, José Gomes da Maia Monteiro, Climerio Ribeiro Guimarães, Eunisio Eunapio da Conceição, José Araujo Domingos Carneiro, José Ignacio da Silva, Antonio José de Farias Costa, Perillo de Assis Benjamin, Antonio Ramos Carvalho Duarte, João José de Medeiros, João Petronillo Ribeiro e outros requereram á Directoria da Faculdade matricula no segundo anno do curso de Pharmacia, visto como tinham as matriculas constitutivas pelo antigo regulamento do 1º anno medico.

Pagas as respectivas taxas na Alfandega Federal e satisfeitas as demais exigencias da lei, foram matriculados sendo seus nomes lançados nos livros de termos que assignaram.

Tempo depois, quando por diversas vezes haviam elles assistido as aulas e respondido ás chamadas, foram, com surpresa geral mandados vir á secretaria, onde do Dr. Director receberam sem despacho os alludidos requerimentos, com observações de que haviam sido annulladas as suas matriculas!

Ainda mais: aos alumnos do 5º anno medico com o curso de pharmacia completo, exigido pelo regulamento em vigor, foi sem contestação conferido o gráo de pharmaceutico.

Entretanto, aos estudantes matriculados no mesmo curso, aos quaes faltava somente pharmacia galenica para competal-o de accordo ainda com o mesmo regulamento, exigio o Dr. Director não sé exame da alludida materia, como o de therapeutica, privando-os assim das regalias que a lei lhes conferia e que a propria Directoria concedera aos alumnos do 5º anno.

A desorientação do Dr. Director era manifesta, e só uma severa punição a s.s seria bastante para compensar os prejuízos causados.

Por occasião da abertura da inscripção para os exames da 2ª epoca que deviam realisar nesta Faculdade, ao Sr.Dr. Director foi apresentado um requerimento em que sollicitava

inscripção para os exames da 1ª serie de odontologia, s.s baseado não sabemos em que dispositivo do novo código, lançou um indeferido formal naquelle requerimento, cujo autor não se conformando com essa illegal recusa recorreu para o Exmo. Sr. Ministro do Interior que sabiamente o attendeu, ordenando áquelle funccionario que mandasse proceder aos exames requeridos.

Encerrados, entretanto, como estavam, os trabalhos, da 2ª epoca, nova mesa examinadora, teve de se organisar, de modo que assistimos, há pouco, o curioso espetaculo de exames fora das epocas legaes!

Alliem-se a esta estravagante scena os prejuisos experimentado pelo infeliz estudante, victima da ignorancia de um Director hesitante, a cuja intelligencia os textos claros e precisos da lei se afiguram mythos nebulosos, enigmas indecifraveis.

Vejamos agora como o Sr. Dr. Director torceo os termos da lei em beneficio de pessoas de suas famílias.

O art. 12 das disposições transitorias do ultimo regulamento das Faculdades de Medicina: “Aos alumnos de 1900 é garantido o direito de prestarem exames no começo do corrente anno lectivo, observando-se o processo do regulamento que baixou com o decreto nº 1482, de 24 de Julho de 1893.

É claro que o legislador assim estabelecendo procurou respeitar os principios de equidade, e direitos legitimamente adquiridos.

Não podia, pois, esse despositivo aproveitar, estender os seus beneficos effeitos áquelles que não se tivessem matriculados naquella ou em data anterior. O Sr. Dr. Director, porem, que toda vez que seus interesses entram em jogo, interpreta a lei a seu modo, não conhecendo ou não querendo conhecer o brocardo juridico de que interpretatio cessat inclaris, não hesitou em consentir dous moços a sua pessôa ligados pelos laços de parentesco e que acabaram de concluir os seus preparatorios, prestassem exame de Historia Natural Medica conjuntamente com os alumnos de 1900, aos quaes concedia a lei este favor, abrindo-lhes assim passagem contra a expressa vontade do reformador, para o 2º anno do curso medico e pharmaceutico.

Mas, ao mesmo tempo que o Dr. Director procurava, illudindo a lei, beneficiar os seus parentes, prejudicava-os e a um grande numero de outros estudantes.

Assim é que aos alumnos que lhe requeriam exames de Historia Natural Medica e Chimica Inorganica, materias pertencentes ao primeiro anno de medicina e pharmacia, que elles, apezar de matriculados não haviam conseguido fazer no anno de 1900, resolvia que nenhuma necessidade havia de exames de Chimica Inorganica, visto como esta cadeira, a semelhança da de Physica, fora supressa, quando a verdade era que apenas ficava annexa á de Chimica Medica, pelo novo regulamento creado.

Os damnos resultantes desta decisão do dr. director são incalculáveis.

A esses desditosos estudantes será forçosamente negado o direito de requererem na primeira epocha inscripção para os exames do segundo annno, porque quando mesmo o director lhes permitta prestarem o exame da alludida materia no fim do corrente anno, ficam impossibilitados de fazer os do segundo visto como o novo regulamento expressamente prohibe que se façam, numa só epocha, materias que constituem mais de uma serie.

Mas não parou ahi a cerebrina hermeneutica do dr. Director de torcer os textos da lei em beneficio de pessoas de suafamília.

O codigo do ensino estatue: Art. 237. Cada estabelecimento de ensino superior terá um secretario, um bibliothecario, amanuenses, conservadores, auxiliares e bedeis, em numero marcado pelos regulamentos especiaes, e um porteiro.

Art. 238. São funccionarios providos por decreto o secretario, o sub-secretario, e, por portaria do ministro, os amanuenses.

Art. 241. Ao director compete nomear e dimettir os demais empregados indicados no art. 237.

O dr. director, porem, entendeu que muito obscuras eram, as disposições regulamentares, e baixou uma portaria nomeando seu genro para o cargo de sub-bibliothecario da Faculdade!

Felizmente, o sr. ministro do interior não deixou sem reparo o acto illegal do pouco escrupuloso funccionario, fazendo-o sciente de que só ao governo aquella nomeação competia. Este facto escandaloso e immoral, e a justa censura a elle infligida pelo ministro vem exuberantemente provar que o prestigio que no momento actual empresta esta autoridade ao sr. director e a confiança, que lhe diz merecer, não passam de simples deferencia para com o funccionario publico investido de um cargo superior.

Um facto que não póde passar sem reparo é o seguinte: Em um dos ultimos dias santos o Sr. Dr. Director compareceu á Escola para dar a sua aula de chimica. Alli chegando mandou proceder a chamada, apresentando-se então um numero limitado de estudantes, e aos ausentes foram impiedosamente marcadas as faltas.

Não lhe censurariamos agora a conducta, nem trariamos o facto á discussão, se S.S., depois de procurar um pretexto futil, não se houvesse levantado sem fazer a prelecção.

Ainda mais, S. S. retirou-se, e á 1 hora da tarde, quando vinha, em cumprimento de seus deveres, o Dr. Nina Rodrigues encontrou trancadas as portas da Faculdade.

Mais ainda; por muito tempo os alumnos matriculados que eram reprovados em Novembro pagavam na segunda epoca 100$; felizmente o Sr. Ministro pôz um paradeiro a tão grande absurdo, fazendo ver que só deviam contribuir com 50$000.

Não é só isto; o Sr. Dr. Jose Olympio interceptou a remessa da representação dos lentes da Escola, não obstante a expressa disposição do art. 3º do Codigo do Ensino, que reza: “incumbe ao Director resolver acerca dos requerimentos e representações, cujo assumpto for de sua competencia e encaminhar os outros, segundo a especie, ao governo ou á congregação Tambem uma representação dos estudantes da Faculdade, na qual estes protestavam contra as intrucções baixadas por S. S. e dirigida á congregação, parece que ficou archivada na Secretaria, pois que até esta data não chegou a seu destino.

Agora uma nota comica. Para se avaliar da perspicacia do Sr. Dr. Director basta lembrar o seguinte facto. = Á secretaria da Faculdade compareceu um estudante do 1º anno pedindo para falar ao Dr. Director.

Levado à presença deste, o academico ponderou-lhe que no dia anterior lhe havia sido marcada falta nas aulas, ás quaes não tinha de fato comparecido, porquanto estava convencido de que nesse dia não funccionaria a Faculdade, visto como era santificado.

“Menino, o senhor sabe que a Egreja está separada do Estado?

Mas nesse caso, doutor, objectou-lhe o estudante, porque motivo mandou o senhor fechar a Escola na quinta e sextafeira da Paixão, relevando assim as faltas dos alumnos?

O dr. José Olympio permaneceu durante algum tempo pensativo; depois ergueu lentamente a cabeça e collocando a mão no hombro do teimoso estudante, com o semblante risonho e enthusiasmado, respondeu-lhe:

Menino, você dá para advogado. Vá estudar direito que ha de fazer figura.

Eis ahi a serie de erroneas interpretações dadas pelo sr. dr. director á nova reforma do Ensino, esse monstruoso edifício como a de Jerichó esbarrondam-se por si mesmo, ao som estridente das trombêtas da logica e da razão.

Ao ver descer das altas regiões do poder, esse monstro formidável, o sr. dr. director tremeu e o aterrou a idéa de que podia ser por elle tragado. De uma única salvação lembrouse então. Executar ferrenhamente certas disposições draconianas daquella reforma inconstitucional, exagerando-as até o absurdo com as instrucções que baixou para verificação da frequencia dos alumnos nas aulas theoricas e praticas da Faculdade.

E tanto é verdade que era o terror de ser tragado pelo monstro que impellia s. s. a agir de modo tão estranho, que por occasião da abertura dos cursos, e particularmente a um distincto cathedratico, confessava, em radical antagonismo com o que apparentava, ser inteiramente contrario a nova reforma de Ensino.

Não foi esse o procedimento do Exmo. Sr. Visconde de Alvarenga, que de identico lugar se demettio na Eshola do Rio, por incompatibilidade de regimen.

Mas ainda não é tudo; S. S. foi medroso, foi desleal.

Assim é que após a sessão realisada a 28 de Fevereiro ultimo, e na qual a congregação da Faculdade manifestou-se abertamente contraria áquella reforma, S. S. transmettio ao Ministro do Interior um telegramma publicado na imprensa desta capital e concebido nestes termos mais ou menos: “Li perante congregação pontos mais importantes nova reforma, sem ter havido contestação parte lentes.” Dias depois S. S. recebia um desmentido cathegorico com a representação dos professores desta Faculdade e da qual foi relator o illustrado e provecto mestre o Sr. Dr. Antonio Pacifico Pereira, esse vulto eminente que paira no bando sagrado de nossas sanctas recordações, e que por longos annos foi o pharol magestoso que illuminava o futuro de nossa Faculdade, hoje tão negro e tristonho, porque sobre elle projecta-se desanimadora e carregada sombra.

Contraste terrivel entre a direcção dada á nossa Faculdade por aquelle respeitavel professor e a que actualmente lhe dá o Dr. José Olympio; naquella, a severidade, mas a severidade justa; nesta o rigor, mas o rigor a que não preside o direito; naquella a firmeza das convicções, a inquebrantabilidade do caracter e a sabedoria; nesta a dubiedade, a hesitação e a incompetencia.

Contraste terrivel!!

Vamos terminar. Antes, citemos um facto altamente significativo.

Quando na penultima congregação o Sr. D. Director communicava aos illustrissimos professores da Faculdade os acontecimentos ultimamente ocorridos, gelido silencio acolheo as suas palavras, prova evidente e cabal de que os distinctos medicos alli reunidos contristadoramente desesperavam da salvação moral de S. S.

Mas não queria ceder ainda o Sr. Dr. Director.

Em sua imaginação doentia afigurava-se-lhe que a distincta congregação o poderia salvar e mais de uma vez implorou-lhe o seu auxilio, o socorro de suas palavras animadoras. Mas S. S. estava condemnado. Não havia salvação possivel. Comprehenderam-no os illustres clinicos e calaram-se. Era a sentença do Dr. Director. Desfilavam ainda do vasto salão da congregação os distinctos mestres e já S. S. agonisava, debatendo-se nas garras de uma morte moral inevitavel, a que o tinham arrastado as suas injustiças, os seus erros, a sua incompetencia, a sua falta de generosidade para com esta briosa mocidade que durante tanto tempo o amparou com o bordão forte de sua benevolencia, e que o poderia acatar e venerar, enchendo-lhe de alegria a velhice, se S.

S. não fosse inteiramente refractario a tudo quanto é justo, santo e luminoso.

Agora, julgue-nos a opinião publica. Sub judice lis est.

Assinam:

Joaquim F.C Lins Sobrinho

Boaventura dos Santos Cajueiro

João F. Santos Brandão

Carlos Costa Rodrigues

Francisco da Costa Fernandes

José Domingos de Barros

Pharmaceutico Adolpho Rabello

Paulo A de Carvalho

Joaquim da Cunha Fontenelle

Pharmaceutico Dario Peixoto

Pedro Rodrigues de Vasconcellos

Lamberto Reis de Athaide

Pharmaceutico Jeronimo Sodré Filho

Ruffo Galvão

Hebreliano Mauricio Wanderley

Celestino Bourroul

Ovidio Pires de Campos

Luiz Dutra Guimarães

João Alves da Costa

Pharmaceutico David Bastos

Waldimir Borges Castello Branco

Luiz Gonzagas de Souza Góes

Clinio Antonio de Jesus Junior

José Souto Maior

Arthur Lavigne de Lemos

Manuel de Toledo Silva

Paula Buarque

Pharmaceutico Sabino Filho

Octavio Brandão

Adolpho Brazil Vianna

Flavio Gouveia

Antonio Borja

Romualdo Luiz de Almeida

Francisco Clementino C. da Cunha

Ezequiel Antunes de Oliveira

José Varandas de Carvalho Junior

Octavio Joaquim Tosta da Silva

Alberto Moreira Rabello

José Ignacio da Silva

Joaquim Brazil de H. Cavalcante

Pharmaceutico Leite Belém

Leone Herbster Menescal

Manoel Tavares da Costa

Antonio Raposo Pinto

Raul Moreira Fragoso

João Ayaro

Jovenal Santos

Bernardino Antonio de Souza

Alvim Martins Horcades (salvo a parte que lhe é referente)

Januario Gomes de O. Carvalho

Joaquim Martagão Gesteira

Pedro Fontes

João José de Medeiros

Luiz Tavares Sobrinho

Joaquim Ribeiro da Frota

Alberto Ferreira Freitas

Agenor de Meirelles

Alvaro Madureira de Pinho

José Augusto de Azevedo

Doutorando Alvaro da Silva Rego

Agenor José da Silva

Francisco D. Paraiso Cavalcante

Victoriano José de S. Freire

Manoel Antonio

Pharmaceutico Carlos Lopes

Januario Cicco

Antonio Carlos S. de Avellar

João Capitulino Sampaio

Antonio de Castro Contreiras

Militão Francisco de Almeida

João Soares da Costa Filho

Pharmaceutico Fabio David

Rodopiano Neves da Silva

Peryllo de Assis Beijamin

João Rollemberg Junior

Gabriel F. Bittencourt

Manuel Moreira

Pharmaceutico Manuel Guedes da C. Goudinho

Jozé Paraizo Galvão

Manuel Muniz Ferreira

Pharmaceutico David Bastos

Pharmaceutico Heraclito de O. Sampaio

José de Souza Maciel

Abdon Henriques de Sá

Lindolpho Brandão

Pharmaceutico Albano P. Franco

Fernando Espinheira da Costa

José Teixeira de Vasconcellos

Pharmaceutico Domingos Candido de Oliveira

José Rodrigues Mauricio

Belmiro de Lima Valverde

Benedicto A. Pereira Filho

Basilio Torreão Franco de Sá

Jusselino Monteiro Filho

Adolpho Luiz do Rego

Carlos Pirajá Martins

José Rodrigues Pinheiro

Francisco Acciolle M. Soares

Climerio Ribeiro Guimarães

Luiz Machado de Andrade

Oscar Claudio de Oliveira

José Carneiro de Albuquerque”.

 

No noticiário do dia, 27 de junho, lê-se no Jornal da Bahia, em “Declarações” / Faculdade de Medicina – “O abaixo assignado declara, que tendo assignado um papel pedindo férias e ausente da Capital, não tendo, portanto, conhecimento do que ali se tem passado, acompanha os seus collegas da 6.ª serie em suas resoluções.

Villa de S. Francisco, 21 de Junho de 1901

Olympio Augusto da Silva Miranda.

Alumno da 2.ª serie medica”

 

OBS. Mantida a ortografia da época.

 

Por conta desse episódio, ele e outros formandos tiveram seus diplomas retidos[iv], os quais só foram liberados no ano seguinte, após recurso por eles impetrado e por decisão do Presidente da República, Rodrigues Alves.

 

***   ***

 

Foi Intendente do Município de De 07/01/1907 a 07/01/1909. Além de Intendente, foi Deputado à Assembleia Estadual na legislatura 1915/16, pelo Partido Democrata.[v]

 

Faleceu em Pão de Açúcar em 1º de outubro de 1940.

 

Do livro MONOGRAFIA DE PÃO DE AÇÚCAR, de Aldemar de Mendonça, extraímos o artigo que o jornalista Dr. Adherbal de Arecippo escreveu a seu respeito:

 

“Gente do meu tempo – Um dos homens de vida mais moderada que eu conheci em Pão de Açúcar, foi, sem dúvida, o Dr. Luiz, membro da família Machado, a mais tradicional dali. Nunca se sentiu atraído pelos ambientes agitados, jamais a política partidária o conquistou, em tempo algum preocupou-se com a notoriedade científica, nem mesmo ambicionou certo destaque no centro social onde vivia. Doutorado em medicina, pela respeitável Faculdade da Bahia, no ano de 1903, de começo ainda clinicou, para em seguida, devotar-se aos labores de uma fazenda de gado e a direção de uma máquina de descaroçar algodão. O seu belo anel de grau, como sempre o via, era trazido dependurado á argola da corrente do relógio.

 

Tinha uma maneira toda sua de vestir-se: calças e colete brancos, paletó de paxá preto ou cor de cinza, e cobria-se com o chapéu “duro”, calçando botinas pretas.

 

Fumava bastante e, de noite, toda a sua distração consistia em debruçar-se na janela, ali ficando por vários quartos de hora, acendendo um cigarro, de vez em quando. Há muitos anos distanciado da clínica, nunca deixou, porém, de atender ao doente que lhe procurasse, sem distinção de cor ou de posição social.

 

Também não cobrava, nem um tostão, pelos serviços médicos. Naquele tempo, quando quase não se falava em laboratório de pesquisas clínica, admirava-se a facilidade com que o dr. Luiz Machado conseguia buscar ou descobrir a origem de uma febre, mesmo as que se manifestavam de forma fora do comum.

 

É pena que o Dr. Luiz, muito depressa, houvesse abandonado a clínica, e teria ele deixado um nome imorredouro no seio da sociedade pão-de-açucarense, com irradiação pelos municípios vizinhos, à maneira de como já está formado um excelente conceito, naquela redondeza, o seu jovem conterrâneo Djalma Gonçalves.

 

Deixou o Dr. Luiz Machado um nome digno, e parece que estou a vê-lo receitando a minha saudosa irmã, Amabilia, de um distúrbio intestinal com as recomendações do uso do leite condensado, o qual, naquele tempo, era o que existia de melhor, como também a lhe sarjar um abscesso no braço.

 

E a conta por esses serviços? Certamente foi recebida no céu e, com certeza, já está ele liberto dos sofrimentos que experimentou nos seus últimos anos de existência”.

 

Sobre ele também falou o conterrâneo Gervásio Francisco dos Santos, em seu UM LUGAR NO PASSADO:

 

“... Como médico, nunca se negou aos chamados mais longínquos, dessas ou daquelas pessoas que o procuravam, sabendo assim honrar o juramento que prestou para o exercício da profissão. Não viveu da medicina, graças às qualidades de industrial e fazendeiro.

 

Era ainda presidente do Banco Agrícola S/A e do Tiro de Guerra nº 656, que na época era uma sociedade de caráter cívico”.

O Dr. Luiz Machado foi presidente do Tiro de Guerra nos anos de 1929/1930/1931.

Durante gestão do Cel. Manoel Antônio Machado na Intendência, ele foi membro do Conselho Municipal, ao lado de Manoel Soares de Campos, Aprígio Antônio de Carvalho, José Vieira dos Anjos, João Pereira de Mello, José Venustiniano Cavalcante e João Gomes de Carvalho Mello.

Criada a Secretaria da Agricultura do Estado de Alagoas, pelo Decreto nº 556, de 5 de julho de 1913 e regulamentado pelo Decreto nº 582, de 14 de agosto do mesmo ano, Tendo como primeiro Secretário o Dr. Ignácio Uchôa de Albuquerque Sarmento, o Dr. Luiz Machado foi indicado Inspetor Agrícola no 10ª Distrito, abrangendo Pão de Açúcar e Belo Monte.[vi]

 

O Dr. Luiz faleceu em Pão de Açúcar no dia 1º de outubro de 1940. Em sua homenagem, denominou-se uma rua da cidade, que vai da Av. Bráulio Cavalcante até a Praça São Pedro, popularmente conhecida por “Beco da Prefeitura”.

 

No alto, o Dr. José de Freitas Machado e o irmão Themístocles. Sentados: o Dr. Luiz, a mãe D. Cândida Delfina, o pai Cel. Miguel e a esposa do Dr. Luiz, Maria José. Na fila intermediária: os irmãos e irmãs Hermilla, Miguel, Tercília, Antônio e Maria das Dores.


***   ***

NOTA:

 

Caro leitor,

 

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo



[i] Jornal do Recife, 29 de dezembro de 1895.

 

[ii] Constant. Diário de Pernambuco, 21 de novembro de 1896.

 

[iii] Jornal de Notícias (BA), 13 de dezembro de 1898.

 

[iv] Tiveram os diplomas retidos: Drs. Manoel Joaquim Alves Feitoza, Joaquim de Carvalho Ramos, Alvim Martins Horcades, Delphim de Paiva Lima, Gabriel Fortunato Bittencourt, Manoel Tavares da Costa, Raul Elysio Botelho, Pedro Fontes, Luiz Machado de Andrade, Paulo Ananias do Carvalho, Lamberto Reis do Athayde, Francisco Xavier Carneiro do Albuquerque, Alipio Maia Gomes e Armando Bello Barbedo, Alcides Codeceira, Pedro Fontes, Raul Botelho.

 

[v] A Rua, RJ, 15 de novembro de 1914.

 

[vi] Almanak Laemmert, 1914.

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

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Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


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PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

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Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia