segunda-feira, setembro 1

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PERSONALIDADES PÃO-DE-AÇUCARENSES - JOVINO DA LUZ

 

Por Etevaldo Amorim

 

Nas cerimônias cívicas, ao final dos desfiles escolares, era comum se ouvir dos oradores, para enaltecer as suas qualidades culturais, que Pão de Açúcar é “a terra de Bráulio Cavalcante, Moreno Brandão e Jovino da Luz”...

Apesar de não ser natural de Pão de Açúcar, embora muitos assim o considerem, a inclusão de Jovino no rol das personalidades pão-de-açucarenses se justifica pela sua presença, desde muito jovem, em nossa terra. O filho de seu Justino Pereira da Luz e de dona Alexandrina Eulália da Conceição (naturais de Garanhuns-PE), nasceu em Olhos D’Água do Accioly[i] (atual cidade de Igaci), à época um povoado do município de Palmeira dos Índios, Estado de Alagoas, no dia 28 de junho de 1855.


Pão de Açúcar em 1888. Foto: Adolpho Lindemann.

Eram seus irmãos: Gracindo Pereira da Luz, Maria Joaquina da Luz, Severiano Pereira da Luz, Horêncio Pereira da Luz (que foi prefeito de Pão de Açúcar de 07/01/1895 a 07/01/1897) e Justino Pereira da Luz Filho. Este último, consorciou-se com Maria Amélia Sampaio, e tiveram, entre outros filhos, Manoel Sampaio Luz, conhecido por Juca Sampaio (casado com Heloisa Natália Leite da Costa), que são os pais de Geraldo Sampaio, José Sampaio, Gileno Sampaio... conhecidos políticos e empresários, sobretudo no ramo das comunicações.

Jovino fez o curso primário em Pão de Açúcar e Humanidades no Colégio Sete de Setembro na Bahia, dirigido pelo ilustrado professor Luiz da França Pinto de Carvalho.

Destinando-se à vida sacerdotal, seguiu para a Itália, em 1875, partindo do Recife, a bordo do vapor Rio-Grande.[ii] Em Roma, frequentou o Colégio Pio Latino Americano.[iii]Por essa época, o Colégio funcionava nas instalações de San Andrés no  Quirinal, antigo noviço da Companhia de Jesus, para onde havia mudado em 13 de maio de 1867, quando era Reitor o Pe. Francesco Vannutelli, e quando a instituição passou a ser chamada oficialmente de “Colégio Pio Latino Americano”.

Era seu intuito matricular-se no Curso de Teologia. Descobrindo-se sem vocação para a carreira eclesiástica, formou-se em filosofia pelo Colégio Gregoriano, em 1879, sendo sua tese aprovada com distinção. De fato, seu nome consta de uma lista publicada no jornal O Apóstolo-RJ, de 22 de julho de 1877, das pessoas que estiveram em peregrinação a Roma, por ocasião do quinquagésimo aniversário da sagração episcopal do papa Pio IX.

Segundo Aldemar de Mendonça, em Monografia de Pão de Açúcar, esse fato influiu sobremaneira na vida de Jovino da Luz. Voltando ao Brasil, não mais contou com a proteção de seu velho pai, que desgostoso, por não ter ele abraçado a carreira eclesiástica, negou-lhe qualquer auxílio.

Em difícil situação, Jovino da Luz, que sentia vocação para o magistério, seguiu para  o Recife, onde pretendia matricular-se na Escola de Direito. Para sua subsistência, dedicou-se ao ensino particular.

Efetivamente, seu nome consta de uma lista de estudantes inscritos para exames de línguas na Faculdade de Direito do Recife. (Diário de Pernambuco, 11 de novembro de 1879). Para tanto, havia estudado no Colégio Dois de Dezembro, no Recife, logrando constar na lista publicada no dia 20 de dezembro do mesmo ano, no mesmo jornal: Jovino foi aprovado em Inglês, SIMPLESMENTE; em Língua Portuguesa e em Francês, PLENAMENTE;  e em Latim, COM DISTINÇÃO.

Em 1881, em Penedo, atuou na defesa do réu José Cypriano de Souza, por ter dado uma facada em Maria Clara da Conceição, conhecida por Hilária. O réu foi condenado a 5 anos e 3 meses, mais multa. (Jornal do Penedo, 14 de janeiro de 1881) Por essa época, entre 1881 e 1884, lecionou Português e Filosofia no Colégio Parthenon Sergipense, em Aracaju, dirigido pelo Dr. Ascendino Ângelo dos Reis.[iv]

Voltando de Pernambuco, após a morte de seu pai, ocorrida em 1º de março de 1885, em Piaçabuçu, estabeleceu nesta em Pão de Açúcar o “Externato Coração de Jesus”, educandário que ali prestou grandes e reais serviços.

Em 1885, casou-se Jovino da Luz com a Exma. Sra. Aristeia de Carvalho Luz. Aristéia era filha do Cap. Baldomero Pereira de Carvalho Gama e Maria do Carmo Souza Castro.

Retirando-se de Pão de Açúcar, seguiu para São Miguel dos Campos, onde fundou, em 1886, o Colégio João de Deus, que teve curta existência.[v]

Ainda em São Miguel, foi vice-Presidente da Sociedade Filarmônica Miguelense, fundada em 2 de maio de 1886. Em 1891, já estava como professor de uma das Cadeiras (do sexo masculino) em Traipu.

 

NA POLÍTICA

Sua passagem pela política foi rápida. Foi, contudo, distinguido pelos seus concidadãos com sua eleição, em 1º de novembro de 1894, para Deputado Estadual, prestando a promessa legal, conforme ata da sessão preparatória, no dia 19 de abril de 1895.

Procedendo-se a eleição da Mesa Efetiva, foi o deputado Jovino Pereira da Luz, eleito 2º Secretário, aos oito dias de maio do mesmo ano. Era membro das Comissões: Constituição, Leis e Poderes – Instrução Pública. Nos anais da Câmara, constam várias proposições e pareceres de autoria do Deputado Jovino Pereira da Luz. Apresentou e foram transformados em Lei, os projetos números 32, 51 e 64. O projeto nº 32, de 19 de junho de 1895, eleva à categoria de cidade a vila de Anadia. O Projeto nº 51, de 9 de julho de 1895 autoriza o Governador do Estado a estabelecer por acordo com o Governo de Pernambuco, os verdadeiros limites entre este e aquele Estado. O Projeto nº 64, de 13 de julho de 1895, autoriza despesas com a construção de açudes no município de Pão de Açúcar.

Entrando par ao magistério deste Estado, o Deputado Jovino da Luz, encaminhou á Câmara ofício comunicando a perda de seu mandato, visto como assumira o exercício do cargo de professor público, ofício lido na sessão de 8 de junho de 1896.

Por Decreto do governador do Estado, Barão de Traipu, de 25 de janeiro de 1896, foi nomeado professor da Cadeira de Instrução Primária de Pão de Açúcar.[vi]

Em 1899 era Diretor do Externato Hilário Ribeiro[vii], em Pão de Açúcar. Segundo anúncio no jornal O Puritano, de Aracaju-SE, ensinava Primeiras Letras, Português, Francês, Latim, Geografia e Música. Sua esposa, dona Aristéia, ensinava também Primeiras Letras e Prendas Domésticas.


Anúncio do Externato Hilário Ribeiro em Pão de Açúcar. Jornal O Puritano, Vila Nova-SE, 2 outubro de 1899.


Em 1906, residia em Maceió, na Rua Clarêncio Jucá, nº 19 (antiga Rua do Lyceo), onde funcionava o seu Curso de Preparatórios, com aulas de Português, Francês, Latim, Italiano, Geografia, Desenho e Aritmética.[viii] Já no ano de 1907, muda sua residência para a Rua do Livramento, nº 52.

Em 23 de agosto daquele ano, o jornal Gutemberg anuncia as suas despedidas como colaborador devido a sua transferência para a cidade do Penedo.

Faleceu no dia 21 de abril de 1908, na casa de número 82 da Rua Joaquim Nabuco, na cidade de Penedo, aos 52 anos.

Deixou um livro de poesias denominado Pétalas Descoradas (ou Tentativas Poéticas), em que revela altanada inspiração e se mostra pouco conhecedor da técnica do verso. Publicado, provavelmente em 1888, esteve à venda no BAZAR JOSÉ ALFEDO, situado na Rua Boa Vista, esquina com Livramento, conforme anúncio no jornal maceioense A ORDEM, de 15 de novembro de 1888.

Pouco depois da sua morte, o jornal “O Alagoano”, de Penedo, publicou uma ligeira biografia do ilustre pão-de-açucarense, elaborado pelo escritor Theofanes Brandão. Ei-la:

 

“Conhecemo-lo em plena mocidade. Era um belo tipo de brasileiro genuíno: Tez bronzeada, cabelos negros e corredios, estatura mais que mediana. Dos seus olhos desprendiam-se fluidos estranhos, magnéticos. Em poucos instantes Jovino da Luz empolgava uma multidão. Sua palestra tinha encanto irresistível. A mocidade em Florência era servida por uma inteligência culta; sua longa permanência no velho mundo, aprimorara-lhe de tal sorte a educação que tornara-lhe de tal sorte a educação que tornara-lhe um perfeito cavalheiro. Estava na alvorada da vida, nessa quadra risonha feliz, em que o homem domina sempre, subjuga quando quer. Muitas vezes nossa alma de adolescente sentiu-se presa, escravizada, pela eloquência admirável desse homem desventurado, sonhador admirável, que teve a desdita de ver todos os santos ideais que lhe turbilhonavam na mente, sempre encandecida, desfeitos pela tempestade que lhe amarguraram a existência. Dos seus lábios as palavras desprendiam-se com a impetuosidade de catadupas com a harmonia de uma orquestra de harpas invisíveis, tangidas por seres celestiais; as estrelas roubavam o brilho de suas orações que pareciam talhadas, á maneira dessas criações sublimes que o gênio grego transmitiu aos nossos dias, como requinte de todas as belezas.

 

Poeta, - seus versos eram de uma melodia doce, encantadora, se bem que, muitas vezes, sacrificasse de boa vontade e conscientemente, os preceitos da arte e beleza de um pensamento, o que não era pra admirar, pois Jovino da Luz era insubmisso arrojado. Tinha horror a tudo que era convencional. Amava o belo surpreendido em plena nudez, sem os atavios de formas de convenção. Demais, o que é a arte? Causa ou Efeito? Cremos que a arte mais não é do que o resultante de criações sublimes, sem submeter o artista a certos e determinados conceitos; é o mesmo que limitar-lhe o campo de ação; equivale a corta-lhe  os vôos da água. Mestre, - era o encanto de seus discípulos que ouviam suas sábias lições com relevo semelhante do crente, quando embriagado pelo incenso, adormido pelas melodias plangentes do órgão, deixa-se embalar, como se fora vitima de um sonho, pelas preces que salmodiam os levitas do Senhor e que se perdem na vasta nave das catedrais. E Jovino mais não era do que um levita dessa religião sublime, incomensurável, donde a verdade emana em jorros de luz – a Instrução.

 

Dr. Jovino deu á publicidade, em data que não podemos apurar, um volume de poesias “Pétalas Descoradas” um trabalho que mereceu benévola crítica dos mestres. Além do volume a que aludimos, tinha ele, em elaboração “Ardentias”, versos e um trabalho sobre ensino cívico. Aí fica em ligeiras notas, os principais fatos da vida do inesquecível alagoano, cuja morte a família, os amigos o Alagoas sinceramente prateiam. Hoje, que se completa um mês que desapareceu dentre os vivos, o querido mestre, genuflexo, ante seu túmulo, espargimos as flores da nossa imorredoura saudade. – Penedo, 28 de maio de 1908. – Theofanes Brandão.

 

Moreno Brandão, em correspondência de Maceió, especial para o Diário de Pernambuco (11 de março de 1930),tratando do processo de ensino denominado “Método João de Deus”, do qual Jovino da Luz era grande defensor e propagador, escreveu:

“A PROPÓSITO DE JOÃO DE DEUS

Devendo-se comemorar a 8 do fluente o primeiro centenário de nascimento do poeta português João de Deus, não é descabido apreciar qual o influxo que ele teve em nossos lares.

É verdade que a sua atuação indireta nas terras alagoanas não se exerceu por intermédio de suas poesias.

Poeta místico, a quem se devem composições repassadas da mais doce e elevada unção religiosa, poeta lírico, em cuja pena parecia sempre bailar um beijo prestes a ser endereçado à mulher que ele decantava de modo suavíssimo, poeta-filósofo a quem se devem tão sugestivas máximas de alta moralidade, poeta satírico, de quem tivemos quadros de um cômico irresistível, o autor de Campo de Flores também pode ser chamado o poeta das escolas.

Nessa ele penetrou com o seu excelente método de leitura de que é deliciosa iniciação a Cartilha Maternal e complemento indispensável o livro denominado Dever dos Filhos, tão brilhantemente traduzido por João de Deus.

O método de leitura inventado pelo notável português que nasceu na região ainda hoje povoada pela sobra imprtal do Infante D. Henrique, foi largamente praticado em Alagoas, nas cidades de Pão de Açúcar, Traipu e São Miguel dos Campos.

Incumbiu-se de divulgar o aludido método outro poeta, cujo renome ficou circunspecto à terra onde ele mais largamente exercitou a sua atividade.

O propagador das doutrinas de João de Deus em nosso Estado chamava-se Jovino Pereira da Luz. Tinha ele nascido em Olhos D’Água do Accioly, donde seus pais, senhores de recursos medíocres, se trasladaram para Pão de Açúcar.

Depois de frequentar escolas primárias naquela cidade ribeirinha do São Francisco, Jovino da Luz foi estudar o curso preparatório na Capital da Bahia, matriculando-se no Colégio Sete de Setembro.

Mais tarde partiu para Roma com o fito de seguir a carreira eclesiástica, internando-se no Colégio Pio Latino Americano e fazendo estudos completos de filosofia no Colégio Gregoriano.

Mal tinha ele obtido a láurea de doutor em filosofia, desistiu do intento de se ordenar, regressando ao seu Estado natal e fundando em Pão de Açúcar o Externato do Coração de Jesus.

Foi aí que o Dr. Jovino da Luz pôs em prática os luminosos e aceitáveis preceitos didascálicos inventados por João de Deus, conseguindo à custa de trabalhos verdadeiramente exaustivos, fazer com que qualquer um de seus discentes lesse convenientemente após vinte e cinco lições.

Apesar de ter prestado tão relevantes serviços ao seu Estado, industriando mais de uma geração no conhecimento completo das primeiras letras, o Dr. Jovino da Luz teve penoso destino.

Não se pode, entretanto, lançar culpa de seus inêxitos senão sobre ele mesmo, que encontrou sempre amigos e correligionários dispostos a explorá-lo.

Além de professor, o Dr. Jovino da Luz escreveu o inspirado livro de versos - PÉTALAS DESCORADAS. Também ocupou por duas vezes a cadeira de Deputado Estadual.

Faleceu em penosas circunstâncias, deixando prole muito numerosa.”

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NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo. Tratamento de imagem: Vívia Amorim.

 



[i] Segundo Moreno Brandão, Diário de Pernambuco, 11 de março de 1930.

[ii] Diário de Pernambuco, 11 de setembro de 1875.

[iii] No ano de 1825, o padre jesuíta mexicano José Ildefonso Peña foi o primeiro a manifestar o desejo de fundar em Roma um seminário ou colégio para a educação do clero latino-americano, lamentavelmente não alcançando o seu objetivo. Uma segunda intenção de fundar Deus em 1853, quando o padre mexicano José Villaredo, da Congregação do Oratório, desenvolveu um projeto, que logo foi concluído. Esta ideia foi apresentada ao Monsenhor José Ignacio Víctor Eyzaguirre, chileno, que a recebeu com grande entusiasmo e, em pouco tempo, apresentou o projeto de fundação de um seminário-colégio em Roma para jovens latino-americanos ao falecido Pontífice do Sumô, Pio IX. O Papa Pio IX apoiou-o decisivamente, ordenando ao Cardeal Giacomo Antonelli, Secretário de Estado, que redigisse um documento de recomendação aos observadores do continente. O documento foi elaborado em 22 de janeiro de 1856. O nascimento do Colégio foi fruto do entusiasmo e do empenho de Eyzaguirre e do Papa Pio IX.(Fonte: https://piolatino.org/el-collegio/resena-historica/

[iv] Ascendino Ângelo dos Reis nasceu em 20 de abril de 1852, em Divina Pastora-SE. Filho de João Francisco dos Reis e dona Rosa Florinda do Amor Divino. Echo Sergipano, 13 de fevereiro de 1881. 

[v] Gutembert, Maceió-AL, 16 de janeiro de 1886.

[vi] Gutemberg, Maceió-AL, 12 de fevereiro de 1896.

[vii] Hilário Ribeiro de Andrade e Silva foi um educador e escritor brasileiro. Filho do professor José Ribeiro de Andrade e Silva e de Emília Gonçalves de Mesquita Ribeiro. Nasceu em Porto Alegre no dia 1 de janeiro de 1847 e faleceu a 1 de outubro de 1886, no Rio de Janeiro.

[viii] Gutemberg, Maceió-AL, 10 de abril de 1906.

terça-feira, agosto 26

O CEMITÉRIO VELHO DE PÃO DE AÇÚCAR

 

Por Etevaldo Amorim


A referência mais antiga ao cemitério de Pão de Açúcar talvez se tenha verificado quando da visita do Imperador Pedro II, em 1859. Um viajante[i] que integrava a comitiva observou: “O cemitério é pequeno e cercado de pedras”. Não mencionou, contudo, o local; embora já se tivesse reservado, em terreno doado pelo Major Manoel Caetano de Aguiar Brandão[ii].


O cemitério São Francisco de Assis. Foto: acervo de Aldemar de Mendonça, gentilmente cedida por Lygia Mendonça.


Nas próximas décadas daquele século, já se tinha notícias de que a construção de um cemitério na “florescente Villa” entrara na pauta de suas principais reivindicações. Exemplo disso é a carta de um correspondente do Jornal do Penedo, que assina pelo nome de “Emílio”, na edição de 16 de março de 1876:


Próxima está a reunião da Assembleia Provincial desta Província. Por mais de uma vez se tem apontado as necessidades mais vitais deste município, sem proveito algum. Nesse empenho se tem esforçado o jornal desta Vila[iii] e alguns correspondentes. Mas não seja isso razão para que eu guarde silêncio. Cumprirei meu dever, embora clame no deserto. Infelizmente estamos com uma crise no tesouro provincial desta Província, a ponto de andarem os pobres empregados provinciais (de fora da Capital) tocando leques com bandurra[iv]. Todavia, não será grande sacrifício um auxílio para a conclusão da nossa matriz, único templo que possuímos e este em estado de desabar agora com a invernada. Também precisamos de um auxílio para a construção de um cemitério, a fim de que se vedem os enterramentos dentro da Matriz.


Para o cemitério já existe em mão de um particular uma certa quantia de um benefício dramático, e bem assim uma quantia superior a 700$000, de donativos do Imperador e de particulares – na mão do Sr. André Avelino[v] e Capitão Maia.”


Quase um ano depois, outro missivista do mesmo Jornal, em carta de 29 de janeiro de 1877, que a subscreve com o nome de “O Católico”, diz:


Ontem foi marcado o lugar do cemitério e deu-se princípio ao carregamento de pedras e à escavação dos alicerces. ... Cabe aqui consignar um voto de louvor aos habitantes da freguesia, a começar pelo Reverendíssimo Vigário... O valioso concurso de todos ao mesmo tempo e para o mesmo fim, satisfazendo os benéficos empenhos do Reverendo Capuchinho, faz que ele prossiga com aquela boa vontade de quem, a cargo de uma missão elevada e espinhosa, e cônscio do bem que promove a religião e a humanidade, sacrifica todos os seus cômodos no altar da religião de que é digno Ministro. Tal é o que podemos dizer do ilustre missionário Feri Cassiano, que está entre nós.”


Em Carta de 2 de março de 1877, o mesmo correspondente anuncia:


Sobre a barra que se acha de permeio entre a Vila e o cemitério, construiu-se uma ligeira ponte de madeira, por onde passam fácil e sem inconvenientes povo e animais.”


Referida por Aldemar de Mendonça em seu Pão de Açúcar-História e Efemérides, essa ponte foi construída por Frei Cassiano de Comacchio. Edificada sobre a barra da Lagoa da Porta, era também conhecida por “ponte de Maria Zuína”, por ser a lagoa propriedade de Maria Jesuína de Mello Pinto.


Já o historiador Moreno Brandão, pão-de-açucarense nascido em Entremontes, no seu artigo Corografia de Alagoas – Pão de Açúcar[vi], assim se refere:


Seguindo sempre para Oeste, encontra-se, posta sobre a barra da Lagoa da Porta, uma ponte que foi erigida em 1877, sob o benigno influxo do mesmo religioso Frei Cassiano de Camacchio[vii]. Além da ponte, para os lados do Noroeste, num vale soturno e umbroso, fica o cemitério público, para o qual a munificência do Imperador, quando esteve em Pão de Açúcar em 1859, deixou a quantia de 700$.000.


Há, entretanto, controvérsia quanto à exata quantia deixada pelo Imperador. Relatos da viagem dão conta de que foram 600$000 (seiscentos mil réis) mandados “entregar aos pobres”.


Segundo Relatório do Dr. José Bento da Cunha Figueiredo Junior, Presidente da Província, em 1868, restavam ainda 200$000 (Duzentos Mil Réis) em mãos de um cidadão local, reservados para obras de melhoria no cemitério. Essa quantia, acrescida de 100$000 réis, doados em 1859 pelo Ministro do Império, Conselheiro João de Almeida Pereira Filho[viii], que compunha a comitiva imperial, além de 400$000 (Quatrocentos Mil Réis) agenciados entre pessoas da comunidade, estavam destinados para “aplicação no mesmo fim”. “No entanto – diz ainda o Relatório – nada ainda se iniciou para se levar a efeito uma das obras de primeira necessidade e interesse público daquele município.”


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Na Sexta-feira Santa do ano de 1877, que caiu no dia 30 de março, fez-se enorme procissão, que contou com mais de quatro mil pessoas, conduzindo a cruz que foi colocada no cemitério, tendo Frei Cassiano concedido a sua bênção.


No dia 4 de abril o mesmo religioso proferiu a bênção do cemitério, cuja cerimônia contou com a presença de grande número de fiéis.


Sob o tema sic transit gloria mundi (assim passa a glória do mundo), diz o correspondente, “o ilustrado capuchinho pronunciou um memorável discurso no qual, depois de pintar com vivas cores o respeito que os merece a morada dos que transpuseram os vestíbulos da eternidade, nos advertiu de que, se o corpo pertence à terra, a alma pertence ao Criador, para quem havemos voltar, reunidos ao corpo no dia final.”


Tendo que retornar ao Recife, e depois de muitos meses em Pão de Açúcar, Frei Cassiano embarcou no dia seguinte no vapor Jequitaia, deixando as obras do cemitério muito adiantadas, estando todo fechado com muros de 8 a 9 palmos de altura e assentada a grade do portão[ix].[x]


Após a partida de Frei Cassiano, as obras da matriz e do cemitério ficaram a cargo do Sr. João Alves Feitosa Franco Filho[xi], coadjuvado pelo vigário Pe. Antônio José Soares de Mendonça e pelo Sr. Joaquim Bernardes de Souza.


Procedente da Província de Bolonha, Itália, Frei Cassiano chegou ao Recife em abril de 1872 e ali faleceu,em 1897. Mais que um pastor, foi um "tocador de obras". Em Alagoas há inúmeras obras com a marca da sua determinação.


Frei Cassiano de Comacchio


Por fim, em longa carta de 6 de novembro de 1877, o correspondente Aristarcho informa que “há poucos dias foi concluído o frontispício e caiamento do cemitério desta cidade, sob a administração do Sr. João Alves Feitosa Franco Filho. Está feito em diversas e perfeitas pirâmides e em estilo bonito. Serviços com os que o Sr. Alves tem prestado nas obras pias desta cidade, tornam-se dignos de encômios. “

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Durante a gestão do prefeito Elísio Maia (1983-1988), foi construído um novo cemitério, anexo ao antigo, em moldes modernos e de grande extensão. Conserva-se, entretanto, a velha necrópole, repositório de memória dos pão-de-açucarenses e símbolo do esforço e da determinação dos nossos antepassados.

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Ofereço este breve histórico do cemitério São Francisco de Assis ao amigo Roberto Menezes de Moraes. Livreiro, genealogista e Sócio-Titular do Colégio Brasileiro de Genealogia, Roberto é descendente da nossa tradicional família MORAES (de Emílio José de Moraes e seu filho, o reverendo Odilon Moraes, que figuram entre os fundadores da Igreja Presbiteriana em Pão de Açúcar). Os Moraes constituíram laços com as famílias Ribeiro e Damasceno, cujos membros ainda se acham presentes na sociedade pão-de-açucarense.

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NOTA


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[i] Trata-se de Bernardo Xavier Pinto de Souza, português naturalizado, proprietário da Tipografia e Livraria B. X. Pinto de Souza, que se identificava com as iniciais “P. de S.”.

[ii] Natural de Mata Grande. Faleceu em Pão de Açúcar, aos 72 anos de idade, no dia 11 de janeiro de 1890. Teria nascido em 1818. Era tio de Moreno Brandão por parte de pai e avô por parte de mãe. É que o pai de Moreno Brandão (Dr. Félix Moreno Brandão) se casou com a sobrinha Maria de Aguiar Moreno Brandão.

[iii] Refere-se ao Jornal do Pão d’Assucar, fundado por José Venustiniano Cavalcante, pai de Bráulio Cavalcante.

[iv] Instrumento espanhol de seis parelhas de cordas, tocado com plectro.

[v] André Avelino da Costa Nunes (1924-1894), pai do Cel. Manoel Afro da Costa Nunes, que foi Intendente.

[vi] Extraído da Coluna Estudos e Opiniões, Diário de Pernambuco, 3 de outubro de 1920, p. 2. Francisco Henrique Moreno Brandão nasceu em Pão de açúcar, a 14/09/1875 e faleceu em Maceió, a 27/08/1938.

[vii] Procedente da Província de Bolonha, Itália, chegou ao Recife em abril de 1872, onde faleceu em 1897.

[viii] Nomeado por Carta Imperial de 17 de setembro de 1859. Foi Deputado Geral e Presidente da Província do Rio de Janeiro. Filho do comendador João de Almeida Pereira e Ana Luzia de Aguiar, nasceu em Campos dos Goitacazes em 9 de junho de 1826 e faleceu no Rio de Janeiro em 2 de julho de 1883.

[ix] Do correspondente O Católico, Jornal do Penedo, 20 de abril de 1877.

[x] (do correspondente que se apresenta com o nome de Aristarcho, publicado na edição de 13 de abril de 1877).

[xi] João Alves Feitosa Franco Filho, casado com Maria Custódia de Carvalho Pitombo.

sábado, agosto 23

UMBRARUM TERRORES



Meia noite! Nos bronzes: Meia noite!

E medroso caminho pela rua...

- Por mais – diz um fantasma, que se afoite

Esse pobre mortal treme, recua!...

 

E o vento rijo, demorado açoite,

Passa ganindo na ironia sua...

Meia noite! Nos bronzes: Meia noite!

E o meu passo medroso continua...

 

Trêmulo, encontro os Mausoléus do Medo...

Vejo avenidas lúridas e místicas,

Como quem viaja dentro de um Segredo...

 

E pesa-me sombria, pelos ombros,

Em danças macabras, Cabalísticas,

Fera Legião de Lôbregos Assombros! ...

 

(Bráulio Cavalcante, 1909[i])

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Publicado no jornal O MONITOR, Penedo, 24 de maio de 1909.

 

NOTA

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[i] Bráulio Guatimozim Cavalcante. Filho do Capitão José Venustiniano Cavalcante e de D. Maria Olympia. Nasceu em Pão de Açúcar-AL, no dia 14 de março de 1887, na casa nº 23 da rua da Matriz (hoje Avenida Bráulio Cavalcante, nº 209). Faleceu em 10 de março de 1912, na Praça dos Martírios, em Maceió, de um ferimento penetrante na linha axilar posterior direita, no quarto intercostal, recebido quando realizava um comício em prol das candidaturas do Cel. Clodoaldo da Fonseca e do Dr. Fernandes Lima.

 




quinta-feira, agosto 14

O CONDE D’EU EM PÃO DE AÇÚCAR

 

Por Etevaldo Amorim


Ao longo do segundo semestre de 1889, Gastão de Orleans, o Conde d’Eu[i], visitou as províncias do antigo Norte do Império do Brasil (atualmente Norte e Nordeste), como uma estratégia de reatar os vínculos políticos com as autoridades regionais[ii], e dar sobrevida ao Regime Monárquico.


Partindo do Rio de Janeiro no dia 12 de junho, a bordo do paquete nacional Alagoas, o genro do Imperador tencionava visitar as províncias da Bahia, Pará, Amazonas, Ceará, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Foi uma viagem difícil e cheia de atribulações. Basta dizer que, no mesmo vapor, viajava um dos maiores propagandistas da causa republicana, o Dr. Silva Jardim[iii]. Os dois se confrontaram em Salvador e no Recife.


O Conde D'Eu, ao centro, a bordo do vapor Paumery em viagem entre Manaus e Tabatinga, 1889. O Barão de Corumbá à esquerda. Foto: Barbosa Rodrigues. Fonte: COLEÇÃO PRINCESA ISABEL - Fotografia do Século XIX, Pedro e Bia Corrêa do Lago.


Na viagem de regresso à Corte, a bordo do vapor Una, desembarcou ele em Maceió no dia 20 de agosto, indo direto para a Estação Ferroviária de onde seguiu até o km 35, no local denominado Lourenço de Albuquerque (município de Rio Largo) para inaugurar o ramal à vila de Assembleia (atual Viçosa) da Ferrovia Maceió-Imperatriz (atual União dos Palmares).[iv]


Às 11 horas da noite embarcou com destino a Penedo, onde chegou no dia 21 para uma incursão até a Cachoeira de Paulo Afonso.


No dia seguinte, depois de visitar a cidade e assistir a uma missa, embarcou novamente no Maceió[v] com destino a Piranhas, de onde subiria até as cachoeiras. A seu lado, o ajudante de ordens Barão de Corumbá - João Mendes Salgado.[vi]


Alguns órgãos da imprensa da época veicularam notícias de que o visitante fora recebido com grande entusiasmo pelos políticos e pelo povo em geral. Mas consta que o Conde foi recebido com extrema frieza. Um jornal local de oposição assim descreveu:


Em Pão de Açúcar, central cidade da província das Alagoas, o Sr. Gaston d’Orleans teve uma recepção muitíssimo fria. Na véspera de sua chegada escreveram pelas travessas proclamações republicanas, e ao saltar, um conceituado negociante do lugar levantou uma lindíssima bandeira com o dizer:


- Pavilhão Federal.


O viajante visitou a Casa da Câmara, não se apresentando para recebê-lo um só vereador.” (CONDE..., 1889, p. 3).


Já Aldemar de Mendonça, em seu livro Monografia de Pão de Açúcar, transcreve nota do jornal “O Trabalho”, datado de 24 de agosto de 1889:


“Como era esperado, ontem à tarde, chegou a esta cidade S. Alteza o Conde D’Eu, que foi recebido por uma comissão nomeada pelo Presidente da Província, autoridades judiciárias e policiais, Pároco da Freguesia e Guarda Municipal, e outras pessoas gradas, sendo assim acompanhado com jubilosa manifestação, á casa do Juiz de Direito da Comarca, onde foi bem hospedado. Sua Alteza seguirá, agora pela manhã, com destino à Cachoeira de Paulo Afonso, devendo regressar nestes 3 ou 4 dias.”


E o respeitável historiador pão-de-açucarense ainda acrescenta:


“Sabemos, por tradição, que quando o ilustre visitante percorria as ruas desta cidade, teve de passar por perto de um quiosque instalado na rua do meio, (Avenida Bráulio Cavalcante) pertencente ao Sr. Manoel Rego, republicano exaltado. Já bem próximo do referido quiosque, impulsivo como era Manoel Rego, gritou bem alto: “Viva a República” e o Conde perguntou a alguém daqui quem era aquele entusiasta, tendo sido informado que se tratava de um cidadão correto, portador de qualidades exemplares, porém intransigente na defesa dos seus ideais. ”


Na preciosa obra Esboço Histórico e Geográfico do Baixo São Francisco, Antônio Xavier de Assis, o primeiro pão-de-açucarense a governar Aracaju, mencionou:


"Em 1889, quando o Conde D'Eu visitou o Baixo São Francisco, Pão de Açúcar foi a única localidade que levantou bandeira vermelha na sede do seu Club, fato que impressionou mal o genro de D. Pedro II. Penedo fez o mesmo, mas em uma ponte de desembarque."


A "bandeira vermelha", embora não fosse o pavilhão oficial da campanha republicana, era utilizada para representar a luta pela igualdade e justiça social. 


Conclui-se, então, que Pão de Açúcar possuía o seu Clube Republicano, a exemplo do Clube Republicano do Rio de Janeiro,  fundado em 3 de Dezembro 1870 através do manifesto republicano. Este clube foi fundado e presidido por Quintino Bocaiuva e Joaquim Saldanha Marinho em protesto contra a monarquia e seu centralismo, e propunha a instalação de uma república federativa, em um modelo inspirado nos Estados Unidos. Poucos meses após sua criação vários clubes semelhantes se espalharam pelo resto do país.


Pois bem, o Conde regressou à Corte esperando ter alcançado grande êxito no seu intento. E os acontecimentos foram se sucedendo, até o 15 de novembro, com o movimento de militares que derrubou o Gabinete do Visconde de Ouro Preto[vii], culminando com a implantação do regime republicano.


“Após o dia 15 de novembro de 1889 – diz ainda Aldemar de Mendonça - deviam todos os lugarejos, por pequenos que fossem, comemorar a magna data da implantação do novo regime, com festejos condizentes com a Proclamação da República. Os maiorais da terra, entretanto, abstinham-se de fazê-lo. O escrúpulo em “mudar de casa”, tão comum, hoje, entre os políticos... a compaixão, talvez, pela expatriação do velho monarca que era tão generoso... .


Fossem quais fossem as razões, foi necessário que surgisse aquela mocinha espicaçando o brio daqueles homens, prontificando-se a ser oradora das solenidades que se deviam promover, em homenagem à Proclamação da República. Essa mocinha era D. Laura Marques de Albuquerque[viii], falecida há poucos anos na cidade de Penedo.”

O Capitão Manoel Rego. Foto: acervo Juracy Rego de Oliveira.


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Agora vejam esse telegrama publicado no Jornal do Penedo, edição de 23 de novembro de 1889:


“ESTAÇÃO DO PENEDO, 21 DE NOVEMBRO DE 1889.


Do Rio. O Governo dos Estados Unidos da América do Norte pôs à disposição da República Brasileira todas suas tropas, todo seu erário e sua força, caso nações europeias não reconheçam oficialmente nova forma Governo, ainda mais: caso Inglaterra exija pagamento dívida Brasil, será esta paga em 23 horas pelos cofres dos Estados Unidos.

Peço publicação todas Gazetas.

Viva a República dos Estados Unidos da América do Norte!!!!

Bellarmino Augusto Athayde – Comandante Força[ix]. ”

 

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NOTA

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.



[i] Luís Filipe Maria Fernando Gastão, conde d'Eu (Louis Philippe Marie Ferdinand Gaston; Neuilly-sur-Seine, 28 de abril de 1842 — Oceano Atlântico, 28 de agosto de 1922), foi um nobre francês, tendo sido conde d'Eu. Gastão era neto do rei Luís Filipe I de França, tendo renunciado aos seus direitos à linha de sucessão ao trono francês em 1864, quando do seu casamento. Tornou-se príncipe imperial consorte do Brasil por seu casamento com a última princesa imperial de facto, D. Isabel Cristina Leopoldina de Bragança, filha do último imperador do Brasil, Dom Pedro II. Faleceu quando voltava ao Brasil para celebrar o centenário da independência brasileira do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em 1922.

[ii] SANTOS, Magno Francisco de Jesus. UM PASSEIO EM DIAS DE TORMENTAS: A VIAGEM DO CONDE D’EU ÀS PROVÍNCIAS DO ANTIGO NORTE DO BRASIL. UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2016. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/his/v36/0101-9074-his-36-e6.pdf. Acesso em: 20 de julho de 2020.

[iii] Antônio da Silva Jardim (Capivari, 18 de agosto de 1860 — Nápoles, 1 de julho de 1891) foi um advogado, jornalista e ativista político brasileiro, formado na Faculdade de Direito de São Paulo. Em 1º de julho de 1891, fez uma viagem de turismo à Itália, na companhia de Joaquim Carneiro de Mendonça. Em Nápoles, visitava o vulcão Vesúvio quando escorregou e caiu em uma de suas bocas, desaparecendo.

[iv] Fonte: Orbe, Maceió, 21 de agosto de 1889.

[v] Fonte: Jornal do Penedo, 24 de agosto de 1889.

[vi] Almirante João Mendes Salgado, era filho de João Mendes Salgado e de Dona Sabina Joaquina da Fonseca. Nasceu no Rio de Janeiro, em 3 de março de 1832 e ali faleceu no dia 30 de julho de 1894.

[vii] Gabinete Ouro Preto foi o ministério formado pelo Partido Liberal em 7 de junho de 1889 e dissolvido em 15 de novembro do mesmo ano. Foi chefiado por Afonso Celso de Assis Figueiredo, Visconde de Ouro Preto, sendo o 32º e último gabinete do Império do Brasil após o estabelecimento do Decreto n. º 523 de 1847, interrompido pela Proclamação da República. Foi antecedido pelo Gabinete João Alfredo e sucedido pelo Governo Deodoro da Fonseca.

[viii] Laura Marques de Albuquerque (solteira, Laura Soares de Albuquerque), casada com José Marques de Albuquerque e mãe do poeta Lauro Marques de Albuquerque.

[ix] Bellarmino Augusto Athayde. Natural da Paraíba, nascido em 15 de abril de 1850, era flho de José Francisco de Athayde e Mello e Anna Francisca Martins Botelho. Já como Major reformado do Exército, faleceu em Olinda-PE no dia 23 de outubro de 1914. Fonte: A Província, 24 de outubro de 1914.

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia