terça-feira, 19 de novembro de 2024

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PERSONALIDADES PÃO-DE-AÇUCARENSES - SEGISMUNDO MACIEL

 

Por Etevaldo Amorim


Segismundo Maciel

Filho de Laurentino Irineu de Oliveira Maciel e de D. Olímpia Benvinda Maciel, Segismundo nasceu em Pão de Açúcar, Estado de Alagoas, no dia 11 de abril de 1889. Eram seus avós paternos: Roberto Gomes Pereira de Carvalho e Anna Carolina de Oliveira Maciel; e, maternos: João Inácio de Moura e Maria Francisca de Carvalho.

Segundo o escritor patrício Aldemar de Mendonça, de quem era sobrinho, ele deixou sua terra natal com destino à cidade de Santos-SP, em 27 de abril de 1910. Efetivamente, seu nome consta da lista de passageiros do Vapor Nacional Minas Gerais, do Lloyd Brasileiro, passando por Salvador-BA, em 23 de setembro do mesmo ano.

De uma nota no jornal Correio Paulistano, de 8 de março de 1913, dando conta de que ele se achava a passeio na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo, hospedado em casa do Coronel Antônio Augusto de Andrade, ficamos sabendo que ele se estabelecera em Santos como guarda-livros, denominação, à época, do profissional autônomo encarregado de fazer o registro da contabilidade e das transações de uma empresa. É o que se chama, hoje, de Contabilista, ou simplesmente Contador.[i]

Em 17 de abril de 1916, segundo a Gazeta de Notícias, RJ, em reunião de membros da colônia portuguesa, realizada em São Vicente-SP, Segismundo é escolhido para integrar uma Comissão Central encarregada de “promover festivais e angariar donativos” para a Cruz Vermelha Portuguesa.

Sua permanência em solo paulista não foi contínua: há registro de sua chegada no Recife, a bordo do Vapor Nacional Rio de Janeiro, em 10 de novembro de 1916.[ii] Em 4 de dezembro de 1918, ele se achava residindo em Pão de Açúcar,  tendo sido, inclusive, testemunha do casamento do casal Pedro Antônio dos Santos e Maria Luiza da Conceição, segundo notas do Cartório do Registro Civil.

Em 1919, casa-se com Maria Amélia Teixeira Ribeiro, filha de Francisco Teixeira Ribeiro e Cândida Flora Rego Teixeira Ribeiro (irmã do Cap. Manoel Rego). Em nota publicada no jornal Diário de Pernambuco, em 5 de julho de 1919, o correspondente de Alagoas informa: “Com a senhorinha Maria Amélia Teixeira Ribeiro, consorciou-se o inteligente moço Sigismundo Maciel”.


Maria Amélia, esposa de Segismundo.

É provável que o casamento tenha sido realizado em Salvador, onde residiam os pais da noiva. Natural de Pão de Açúcar-AL, nascida em 9 de janeiro de 1890, Maria Amélia foi batizada na capital baiana a 26 de abril de 1891, e faleceu em Santo André-SP, a 5 de maio de 1982.

 

Bem conceituado na sociedade santista e aberto à modernidade, Segismundo Maciel é mencionado em anúncio da Casa Edson, situada na Rua General Câmara, nº 7, como sendo um dos “cavalheiros que adquiriram VICTROLAS ORTHOPHONICAS” naquela Casa, concessionária exclusiva para a Praça de Santos[iii].

Em 1927, Segismundo Maciel contribuiu com com a quantia de 100$000 (Cem Mil Réis) em Subscrição aberta pelo jornal Praça de Santos, intitulada PELOS BRASILEIROS EXPATRIADOS. Tratava-se de campanha de ajuda aos membros da “Coluna Miguel Costa/Prestes”, exilados na Bolívia desde o dia 3 de fevereiro daquele ano.

O lançamento da campanha, em 19 de junho de 1927, expõe as razões, com apelo patriótico muito acentuado:


                        “PELOS BRASILEIROS EXPATRIADOS

                        Dentro do programa de justiça que nos traçamos, abrimos ontem, neste jornal, uma subscrição pública em favor dos brasileiros expatriados, que sofrem atualmente, no seio das florestas bolivianas, o peso de um martírio que é moral e físico ao mesmo tempo.

Nas palavras que escreveu, em prol do nosso apelo, Maurício de Lacerda deixou patente a covardia inominável que o Brasil praticaria se abandonasse ao desespero do destino impiedoso, aqueles famosos legionários da coluna Prestes, erguidos em combatentes da revolução por ideias que eles julgavam de imprescindível objetivação para felicidade brasileira.

Não é preciso ser solidário com o movimento armado, que os erros imperdoáveis do Sr. Arthur Bernardes provocaram, para auxiliar os brasileiros afastados inexoravelmente da terra comum. É preciso compreender, antes de tudo, a nobreza dos sentimentos que determinaram a atividade desses homens e o ânimo sincero e desinteressado com que eles jogaram a própria vida em prol da causa nacional.

Admita-se a hipótese de que estivessem errados no emprego de meios violentos para consecução dos seus objetivos - daí não se deduz que sejam eles criminosos passíveis de castigos ferozes, mas, quando muito, brasileiros que não teriam acertado nos meios de fazer feliz a sua Pátria, embora fosse este o seu único anseio, a verdadeira força motriz das suas heróicas ações.

Agora, que a adversidade os levou à derrota, porque havemos de deixá-los perecer à falta de um pouco de pão - a eles, os ousados idealistas de uma cruzada em que só encontraram o sacrifício de si mesmos?

Assim, não é preciso discutir as razões fundamentais da epopeia de Luiz Carlos Prestes, para podermos auxiliar os seus companheiros que sofrem, nas matas da Bolívia, o duplo e amargurado martírio do exílio e da miséria.

O apelo que fazemos ao povo de Santos não foi, portanto, um apelo de partido, mas unicamente um gesto de patriotismo, em nome de princípios de humanidade que honram apenas à tradicional pureza do caráter brasileiro e à nobreza do coração sempre generoso de nossa gente.”


No decorrer da campanha, já com quase 5 mil contos de réis arrecadados, o jornal dá conta de que:


"Continua francamente vitoriosa a subscrição aberta pela PRAÇA DE SANTOS em favor dos brasileiros exilados na vizinha República da Bolívia, onde, apesar da generosa acolhida daquele país amigo, muitos abnegados irmãos nossos, honrados e paupérrimos, curtem horas amargas de fome e privações de toda a espécie, por terem sonhado, um dia, a regeneração política da Pátria. O povo de Santos, mais uma vez, tem sabido honrar as suas tradições de nobreza e liberalidade, prestigiando a nossa ideia e concorrendo diariamente para a subscrição aberta, que já alcançou as seguintes contribuições:"


Identificamos assim o pensamento político de Segismundo Maciel. Artista e profissional autônomo, ele era adepto do Partido Democrático - PD, que, junto ao PRP - Partido Republicano Paulista, constituíram a Frente Única Paulista, lançando as bases para o Movimento Constitucionalista de 1932, que teria início em 9 de julho de 1932.


Em princípios daquele ano, representando o Diretório de Santos, Segismundo subscreve telegrama publicado no jornal Diário Nacional (órgão do PD), de 16 de janeiro de 1932, com voto de aplauso ao Manifesto do Partido Democrático, intitulado À NAÇÃO, divulgado no dia anterior.


“Confortados atitude Partido, vimos trazer nossa solidariedade eminentes Chefes. (a) Jacyntho Martins, Segismundo Maciel e Hygino de Carvalho.”


O Manifesto, encabeçado por Francisco Morato, um dos fundadores do Partido Democrático,[iv] conclamava: “Entregue-se aos Estados o governo dos Estados; venha a Constituinte; e estaremos salvos.”


Em 5 de agosto do mesmo ano, já com a Revolução Constitucionalista em plena marcha, o jornal A Tribuna, de Santos-SP, abre Subscrição para AQUISIÇÃO DE CAPACETES DE AÇO para as tropas paulistas. Sigismundo Maciel contribui com a quantia de 15$000 (Quinze Mil Réis). Diz o jornal:


"Foi recebida com o mais vivo entusiasmo por parte do nosso público, a louvável iniciativa de vários rapazes que ontem nos visitaram e cujos nomes já foram declinados, de se obterem os meios para a aquisição de capacetes de aço para os nossos soldados que estão combatendo no 'front', iniciativa essa que foi aberta pelos aludidos rapazes com a quantia de 60$000 (Sessenta Mil Réis)."

Soldados paulistas em combate na Revolução de 1932.


Em  30 de agosto de 1932, tendo sido reconhecida pela Comissão Central do MMDC, tomou posse a Comissão de São Vicente, composta por: José Meirelles, Segismundo Maciel, Rodrigo Pires do Rio  Filho e Paulo Hourneaux de Moura[v]. Até então, o Movimento funcionara sob a direção de José Inácio Teixeira.


O M.M.D.C é o acrônimo pelo qual se tornaram representados os nomes dos mártires do Movimento Constitucionalista de 1932, que culminou no levante denominado Revolução Constitucionalista, eclodido em 9 de julho daquele ano. As iniciais representam os nomes dos manifestantes paulistas Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo[vi], mortos por tropas federais ligadas ao Partido Popular Paulista (PPP), um grupo político-militar sustentáculo do regime de Getúlio Vargas, em uma manifestação ocorrida na noite de 23 de maio de 1932, evento que antecedeu e foi uma das razões para o grande conflito daquele ano. A sigla também representou a organização clandestina que conspirou para o levante e posteriormente coordenou os esforços de guerra, no recrutamento, arrecadação de fundos e recursos, bem como a distribuição desses para os soldados do Exército Constitucionalista.


Ainda em 1932, precisamente em 22 de setembro, o prefeito de São Vicente, José Monteiro[vii], incumbido que fora de obter recursos para as tropas em operação nas diversas frentes da “revolução constitucionalista”, constituiu uma Comissão da qual fez parte Segismundo Maciel, ao lado de Eduardo Vítor de Freitas[viii], Rodrigo Pires do Rio Filho, Jaime de Almeida Paiva, José Meireles, Raul de Souza Dantas, José de Paula Machado, José Rites, Washington de Almeida e Carlos Vieira da Cunha.[ix]


Em 1933, era integrante da Liga dos Empregados no Comércio de Santos.[x]


Segismundo Maciel faleceu em Santos-SP, na Santa Casa de Misericórdia, em 25 de abril de 1951, sendo sepultado no cemitério do Saboó.


Em 5 de maio de 1951, sua esposa publica, no jornal santista O DIÁRIO, uma nota de agradecimento a todos os que o ajudaram durante sua doença e tratamento:


“A viúva de Segismundo Maciel, na impossibilidade de dirigir-se, pessoalmente, aos que a acompanharam durante a moléstia e falecimento de seu esposo, vem trazer a todos o testemunho de sua gratidão pelo conforto que lhe foi proporcionado, permitindo-lhe, desse modo, suportar com resignação o rude golpe que sofreu.

Muito especialmente dirige-se aos Srs. Henrique Soler[xi], Fausto de Oliveira[xii], Drs. José Rittes Filho[xiii], Goulart Penteado[xiv], Paulo Antunes Azevedo[xv], às Irmãs, enfermeiros, enfermeiras e demais auxiliares da Santa Casa de Misericórdia de Santos, bem como ao Sr. Antônio de Oliveira Rato e doadores de sangue, os quais, num gesto sublime de solidariedade humana, caridade cristã e proficiência, empregaram os melhores de seus esforços no sentido de minorar seus sofrimentos materiais e morais.

Que Deus, na sua infinita misericórdia, cubra-os de bênçãos.

MARIA AMÉLIA MACIEL”

 

Ainda segundo Aldemar de Mendonça, além de bom fotógrafo, era bom pintor, tendo deixado quadros na Escola de Belas Artes, do Rio de Janeiro.


Sobre sua obra,  localizamos referências na imprensa de São Paulo. No jornal Gazeta do Povo, de Santos-SP, em 30 de agosto de 1920, a notícia de que,  na vitrine da Loja Nova, situada à rua 15 de novembro, nº 9, em São Vicente, achava-se em exposição o retrato do capitão Luiz Horneaux, saudoso ex-presidente do club náutico de São Vicente.


Diz o jornal: “Esse trabalho, que é um primor, foi executado pelo Sr. Segismundo Maciel, e será ofertado ao Tumyarú pelos seus sócios.”[xvi] O capitão Luiz Horneaux havia sido recentemente eleito Presidente do Club de Regatas Tumyarú, quando veio a falecer em 24 de abril de 1920.


Em 1958, outra obra de Segismundo Maciel, um retrato a crayon do pintor itahaense Benedito Calixto de Jesus, foi afixado no Grupo Escolar que leva o seu nome, em Itahaem, Estado de São Paulo. O retrato fora conseguido pela diretora D. Eugênia Pita Rangel Veloso, por intermédio de d. Carolina Balio.[xvii]


Da esquerda para a direita: Edson (filho de Carolina Petrolina Maciel de Melo (Calu) e Hormindo Pereira de Melo); Elisa (avó do Dr. José Hamilton); Laurentino Irineu Oliveira Maciel e sua esposa Olympia Benvinda Maciel (Santa); Segismundo Maciel e sua irmã América Maciel Mendonça (Sinhazinha). As crianças: Albertina, Ancila, Aldemar de Mendonça (no colo da mãe); e Agenor Mendonça. Obs. : Elisa, casada c José de Farias Almeida. Morreu de parto no mesmo ano da foto: 1913. (Foto e dados do acervo de Lygia Maciel).


Segismundo Maciel jovem. Foto: acervo de Lygia Maciel


Victrola Orthophônica Granada_1926.


Anúncio da CASA EDSON





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NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.

Tratamento de imagens: Vívia Rodrigues Amorim.



[i] Correio Paulistano, São Paulo-SP,  9 de março de 1913.

[ii] Diário de Pernambuco, 11 de novembro de 1916.

[iii] Em 1925, a Victor Talking Machine Company, nos EUA, introduz no mercado o sistema “ortofônico”. Era uma avançada tecnologia em reprodução sonora consistindo na substituição dos antigos diafragmas com membranas de mica, por um material de maior resiliência, como o Alumínio. No setor de amplificação os aparelhos apesar de serem ainda de origem acústica usavam agora da chamada corneta dobrada exponencial. Estas inovações aliadas ao aparecimento das primeiras gravações elétricas permitiam que os aparelhos tivessem uma excepcional qualidade de som para a época. Entretanto, a fase áurea dos aparelhos reprodutores de origem mecâno-acústica chega ao fim a partir do aparecimento das gravações de alta qualidade devido às novas exigências do cinema falado, uma conseqüência direta da amplificação valvulada. Fonte: DO GRAMOFONE À VICTROLA ORTOFÔNICA. http://www.fazano.pro.br/port139.html.

[iv] Francisco Antônio de Almeida Morato (Piracicaba 17/10/1868-São Paulo 12/05/1948), fundador e primeiro presidente da Órdem dos Advogados do Brasil em São Paulo.

[v] Diário Nacional, São Paulo-SP, 31 de agosto de 1932.

[vi] MMDC = Mário Martins de Almeida, Euclides Miragaia, Dráusio Marcondes de Sousa e Antônio Américo Camargo de Andrade.

[vii] Dr. José Monteiro. Foi prefeito de São Vicente nos períodos: 10/04/1931 a 19/05/1938 - 01/01/1948 a 31/12/1951.

[viii] Eduardo Vítor de Freitas nasceu em São Vicente-SP a 12 de abril de 1865, filho de Adolfo Gonçalves de Freitas e Carolina do Espírito Santo Peres. Foi casado com Amância Gonçalves em em 25 de novembro de 1882, na matriz de São Vicente. Faleceu em São vicente a 3 de julho de 1956.

[ix] A Tribuna, Santos-SP, 3 de março de 1968.

[x] Gazeta Popular, Santos-SP, 13 de fevereiro de 1933.

[xi] Henrique Soler era, à época, Provedor da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Santos.

[xii] Fausto de Oliveira era, à época, Mordomo-Geral da Santa Casa de Misericórdia de Santos.

[xiii] José Rittes Filho, médico e membro do Diretório do Partido Republicano em Santos.

[xiv] José Goulart Penteado, médico-cirurgião.

[xv] Paulo Antunes Azevedo, médico, integrante do Serviço de Combate à Esquistossomose em Santos.

[xvi] Gazeta do Povo, Santos-SP, 30 de agosto de 1920.

[xvii] A Tribuna, Santos-SP, 28 de setembro de 1958.

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

PÃO DE AÇÚCAR NA GESTÃO DE ERALDO CRUZ


Por Etevaldo Amorim

ERALDO LACET CRUZ DE 01/02/1977 A 31/01/1983.

O Prefeito Eraldo Cruz


Para suceder o prefeito Augusto Machado, que cumpria a sua última Gestão, totalizando 5.787 dias no comando dos negócios do Município, as articulações políticas confluíram para uma candidatura única à Prefeitura de Pão de Açúcar.

Por influência do Ex-Deputado Segismundo Andrade, a escolha do candidato recaiu sobre o nome do Sr. Eraldo Cruz, seu cunhado e correligionário da UDN - União Democrática Nacional. Para compor a chapa como candidato a de Vice-Prefeito, foi escolhido o Sr. Jurandir Gomes da Silva, que já havia concorrido ao cargo de Prefeito em duas ocasiões: em 1965 e 1969.

Na sua gestão, o Prédio-sede da Prefeitura recebeu grande reforma, tendo sido modernizadas as suas instalações, principalmente pela substituição das suas largas portas de madeira por esquadrias e vidro.

Foram ainda construídas sete escolas, dentre as quais o Grupo Escolar Rui Palmeira, na cidade; José Gonçalves de Andrade, no povoado Machado; e Álvaro Rodrigues de Farias, no povoado Santiago; além da recuperação de onze Unidades de Ensino e ampliação das de Ipueiras e Joaquim Fonseca.

O Departamento de Educação foi também recuperado e foi instituído o transporte gratuito para os estudantes da Zona Rural.

Na área de Saúde, foram construídos Postos nas localidades de Limoeiro, Ilha do Ferro, Meirús, Machado, Jacarezinho e Lagoa de Pedra, além da aquisição de uma ambulância.

Destacaram-se ainda as seguintes realizações:

- pavimentação de onze ruas da cidade;

- obtenção da cessão dos prédios da SUVALE – Superintendência de Desenvolvimento do Vale do São Francisco, reformando-os para o Mercado da Carne e da Farinha e a Instalação da Biblioteca Municipal.

- instalação da Repetidora de TV na Serra de Meirus, bem como a instalação de TVs públicas nas localidades Machado, Meirus, Lagoa de Pedra, Jacarezinho e Limoeiro.

O campo de futebol ao pé do morro do Cavalete, onde foi construído o Conjunto da COHAB.


Registre-se ainda a construção do Conjunto Residencial “José Gonçalves de Andrade” pel a COHAB - Companhia de Habitação do Estado de Alagoas, com o apoio do Estado e do Deputado Hélio Lopes, dentre outras.

O Prefeito Eraldo participando de Congresso Municipalista em Brasília


Foi durante a sua Gestão que a Pão de Açúcar sofreu as consequências de uma das maiores cheias do rio São Francisco Entre 19 de fevereiro e 23 de abril, foram registradas vazões superiores a 8.000 m³/s, sendo a maior delas observada no dia 20 de março, com 13.605 m³/s.¹

O Prefeito Eraldo Cruz recebendo o Governador Guilherme Palmeira em seu Gabinete.
O Prefeito Eraldo Lacet prestigiando o lançamento do romance Ribeira do Panema, do escritor santanente Clerisvaldo Chagas.
À esquerda, o vereador João Gomes da Silva, seu Eraldo, Clerisvaldo, Prof. José Vieira e o escritor Aldemar de Mendonça.

O Prefeito em festa popular.





O Prefeito Eraldo Cruz em evento de sua Administração no Iate Club






***   ***

As eleições municipais se realizariam em novembro de 1980. No entanto, o Congresso Nacional, aprovando Proposta de Emenda Constitucional apresentada pelo deputado federal goiano Anísio de Sousa, determinou que os prefeitos e vereadores eleitos em 1976, que deveriam ter o mandato encerrado no início de 1981, teriam sua permanência no cargo prorrogada por mais dois anos. A justificativa oficial era de que os novos Partidos, criados ou reorganizados pela Reforma Partidária ocorrida em 1979, não teriam condições de cumprir as exigências legais até a realização das Eleições naquele ano.

A EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 14, DE 1980, de 9 de setembro de 1980, que “Altera o Título das Disposições Gerais e Transitórias, estendendo os mandatos dos atuais Prefeitos, Vice-Prefeitos, Vereadores e Suplentes até 1983, imprimindo nova redação ao artigo 209”, tinha o seguinte teor:

“AS MESAS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS E DO SENADO FEDERAL , nos termos do art. 49 da Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional:

     Artigo único.  O artigo 209 passa a viger reescrito nos termos infra:

Art. 209.  Os mandatos dos atuais Prefeitos, Vice-Prefeitos, Vereadores e seus Suplentes, estender-se-ão até 31 de janeiro de 1983, com exceção dos Prefeitos nomeados.

Parágrafo único. As eleições para Prefeitos, Vice-Prefeitos e Vereadores serão realizadas simultâneamente em todo o País, na mesma data das eleições gerais para Deputados.”

Assim, o PDS - Partido Social Democrático (sucedâneo da ARENA) e PMDB (que sucedeu o MDB), os únicos partidos organizados em Pão de Açúcar, tiveram que esperar mais dois anos para submeter seus candidatos ao crivo popular.

Transmissão de cargo do Prefeito Eraldo Cruz para o Prefeito-Eleito Elísio Maia, em 01/02/1983.
À esquerda, o Sr. Eraldo Cruz, seguido pelo Prof. José de Brito, Prof. Ascânio Rodrigues Correia, Sr. 
Elísio Maia, Sr. Luizinho Machado e Sr. Humberto Pinheiro Machado.


***   ***

 

Eraldo Lacet Cruz nasceu em Penedo, às 10:30 h do dia 11 de agosto de 1919. Seu pai, Carlos Cruz Silva, também era natural de Penedo, tendo nascido a 5 de fevereiro de 1896. Sua mãe, Otília Lacet Cruz (Otília Lacet de Vasconcelos, enquanto solteira), era natural da Vila de Santa Rita, região metropolitana da cidade de Paraíba do Norte (atual João Pessoa).

Seu avô paterno, José da Cruz Silva, estabelecido com uma padaria no comércio do Penedo², foi Membro do Conselho Municipal (cargo equivalente a Vereador)³. Ele era filho de Antônio da Cruz Silva e Costa (que por volta de 1873 era Escriturário do Consulado Provincial do Penedo) e de dona Alexandrina Constância da Silva). Sua avó paterna, Elvira Amália da Cruz, era filha de João da Silva Reis e de Maria de São José Costa.

Os avós maternos eram Octaviano Júlio Lacet (filho de Adolpho Alfredo Júlio Lacet e de Francisca Sanches da Costa Lacet) e Levina Fidelcina de Vasconcelos (filha de Galdino Inácio de Vasconcelos e de Deolinda Clementina Guedes de Vasconcelos). Os Lacet são de origem francesa.

O jovem Eraldo fez o curso primário do Colégio Jácome Calheiros e no Colégio Rui Barbosa, ambos em sua terra natal. O curso ginasial foi feito no Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho, na cidade de Bom Conselho, Estado de Pernambuco.

Fiscal de Rendas Federais, destacado para Pão de Açúcar, ele ali se casa, em junho de 1944, com a Stª Etelvina Gonçalves de Andrade, da tradicional família pão-de-açucarense, filha de José Gonçalves de Andrade - “Zequinha Andrade” e Maria Etelvina Dantas de Andrade. O casal teve os filhos: Augusto Cesar, Maria Tereza e Maria Etelvina (Branca).

Seu Eraldo e Dona Etelvina


Em 1949, fundou o jornal A Crítica, que se intitulava “Independente, literário e noticioso”. Tinha como Secretário José Hamilton Maciel Silva e, como Gerente, José de Brito.

Foi vereador em duas Legislaturas, pela UDN – União Democrática Nacional.


Notícia publicada no Jornal do Penedo, de 17 de julho de 1949, registra a passagem dele pela nossa Câmara de Vereadores:

O vereador Eraldo Lacet Cruz apresentou, na sessão de ontem do Legislativo Municipal, um requrimento pedindo a nomeação de uma comissão para representar a Câmara da cidade nas solenidades de posse de Dom Felício da Cunha Vasconcelos, novo bispo de Penedo. O vereador udenista justificou a sua proposição dizendo que a mesma refletia o desejo do povo de Pão de Açúcar, de prestar uma sincera e justa homenagem.”

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Eraldo Lacet Cruz faleceu em Maceió a 28 de maio de 2016.

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NOTA:

Caro leitor,

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Tratamento de imagens: Vívia Rodrigues Amorim.

Pão de Açúcar em 1977. Trecho da Av Bráulio Cavalcante, vendo-se ao fundo o morro do Cavalete e seu Cristo Redentor. Foto Marcos Ferreira.

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Pão de Açúcar em 1977. Confluência das ruas Prof. Antônio de F. Machado
e Manoel Pereira Filho (Rua do Monte). A casa ao centro viria a ser demolida
para dar acesso ao Morro do Humaitá. Foto Marcos Ferreira.




Pão de Açúcar em 1977. Foto Marcos Ferreira.





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¹ CHESF - Companhia Hidroelétrica do São Francisco.

² Almanak do Estado de Alagoas, 1894.

³ Idem.


segunda-feira, 28 de outubro de 2024

NOTÍCIA HISTÓRICA SOBRE O CÓLERA NO BRASIL

 Por Alfredo Brandão¹

Chegou a vez de Alagoas. 


Os fins de 1855 e os princípios de 1856 assinalam uma época sombria e trágica na história da nossa terra. A dor, o luto, o pranto, a viuvez e a orfandade espalham-se por todos os lados ante as vinte mil sepulturas cavadas pelo cólera-morbus no curso espaço de seis meses.


O Presidente da Província, o Dr. Antônio Coelho de Sá e Albuquerque, ao saber que o cólera se achava na Bahia, envidou todos os meios para evitar que ele invadisse o território alagoano. Infelizmente, todos os cuidados foram improfícuos: no dia 18 de novembro, o cólera aparecida em Piaçabuçu e logo no dia seguinte era observado em Penedo um outro caso, num operário de uma fábrica de óleo vegetal.


A epidemia – diz o Dr. Sá e Albuquerque em seu Relatório, começou com benigno caráter, fazendo poucas vítimas nos primeiros dias. Em 24 de novembro já grassava extensamente, desdobrando-se pelas margens dos rios, regulando a mortandade cinco por cento. Em fins do mesmo mês apareceu o primeiro caso em Jaraguá na pessoa de um correio vindo da cidade de Penedo. Então as notícias dos povoados das margens do S. Francisco chegavam a cada instante mais aterradoras. O cólera seguia rio acima. A linha de combate estendia-se desde Piaçabuçu até Piranhas, mais de 40 léguas de extensão. Em dezembro a epidemia estendeu-se para o centro e litoral e invadiu Coruripe, Barra de S. Miguel, Mata Grande, Anadia e Palmeira dos Índios. Corria o tempo e o cólera caminhava implacável por toda a Província. Sua marcha parecia abertamente pronunciada de Sul para Norte, não poupando um só dos lugares compreendidos na zona limitada pelos cursos dos rios S. Francisco e Mundaú.”


Na vila de Assembleia a moléstia apareceu no dia 6 de janeiro, tendo sido transportada de Quebrangulo. No dia 7 surgiram novos casos. No dia 8 o número aumentou assustadoramente e no princípio de fevereiro a epidemia já se achava açoitando palmo a palmo todo o município.


As devastações do Cólera em Alagoas ainda hoje são relembradas com horror – a moléstia havia assumido um caráter fulminante e estendia-se deste o tugúrio da miséria até a vivenda confortável do rico. As cidades desertas e silenciosas apresentavam um aspecto funéreo de tristeza e desolação. As casas fechadas só se abriam para dar passagem a enterros, e os rumores da vida pareciam ter se concentrado nos cemitérios, onde verdadeiras legiões de coveiros continuamente cavavam novos túmulos.


No centro, o povo aterrorizado e desanimado, não vendo na epidemia mais do que um castigo do céu, apenas procurava os meios de debelar o mal nas rezas, nas procissões e na penitência. Esse estado de depressão nervosa, essa certeza que todos tinham de ser feridos pelo flagelo muito concorreu, aumentando a receptividade mórbida de cada um, para que o Cólera produzisse tão vasto morticínio.


Nessa quadra dolorosa de provações terríveis, o povo alagoano soube perfeitamente compreender os seus deveres de humanidade e confraternização.


Os médicos, no dizer do Presidente da Província, foram verdadeiros heróis. Alguns entre estes os Drs. Roberto Calheiros de Mello e Manoel Rodrigues Leite e Oiticica, prestaram os seus serviços gratuitamente. Segundo uma estatística organizada pelo Dr. Thomaz do Bomfim Espíndola, Alagoas perdeu perto de vinte mil pessoas.


Em Pernambuco a epidemia apareceu no dia 13 de dezembro, na vila de Papacaça, onde morreu o Dr. Amazonas, cirurgião militar que por mandado do Governo seguira de Maceió para prestar serviços às vítimas. Em princípios de janeiro a moléstia chegou no Recife e atingiu o apogeu em 3 de fevereiro, quando matou 133 pessoas. Em toda a província o obituário elevou-se a mais de 37 mil.


Paraíba e Rio Grande do Norte também pagaram o seu tributo, morrendo na primeira província 16 mil pessoas e na segunda 4 mil.


Maranhão, Piauí e Ceará apenas foram visitadas pelo cólera na sua segunda explosão, a qual teve origem em 1862, no município de Goiana, em Pernambco. A causa dessa epidemia foi encontrada na exumação precoce de cadáveres em cemitério de coléricos.


Muitos pontos de Pernambuco foram novamente devastados. Em Cruangi a epidemia revestiu-se de um caráter apavorante, tendo prestado relevantes serviços na debelação do mal o alagoano, Major-Médico do Exército, Dr. Félix Moreno Brandão², o qual renunciou ao pagamento a que tinha direito. Do Recife, a segunda epidemia foi transportada para Maceió pelo brique Fidelidade e, estendendo-se para o interior, causou algumas devastações em Murici, Imperatriz, Assembleia e outros municípios.


A terceira epidemia brasileira começou na cidade do Rio Grande (RS) em 1867, após o desembarque de passageiros de um vapor procedente da América do Norte. Irradiando-se para Santa Catarina e Rio de Janeiro, estendeu-se logo depois para o nosso Exército, então em operações de guerra no Paraguai. Parece que o cólera foi para aí levado pelo vapor Teixeira de Freitas, que saíra do Rio com um contingente de duzentas praças.


Graças, porém, à atividade do corpo de saúde e as providências do General em Chefe, que mandou construir a duas léguas de Corrientes uma enfermaria para coléricos, a epidemia começou a diminuir e extinguiu-se de todo em poucos meses, apesar das condições especiais do meio onde ela tinha aparecido.

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Transcrito do jornal Gutenberg, 4 de novembro de 1910.

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NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.

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Alfredo Brandão

¹ALFREDO DE BARROS LOUREIRO BRANDÃO. Nasceu em Viçosa – AL 19/02/1874 e faleceu em Maceió - AL 06/01/1944). Escritor, médico. Filho de Teotônio Torquato Brandão e Francisca de Barros Loureiro Brandão.

 ²DR. FÉLIX MORENO BRANDÃO. Nasceu em Mata Grande a 26 de novembro de 1825 Filho do Tenente-Coronel Anacleto de Jesus Maria Brandão e Maria Francisca da Conceição. Pai do historiador Moreno Brandão. Faleceu em Pão de Açúcar-AL no dia 24 de agosto de 1878.

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

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Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


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PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

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Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia