segunda-feira, 25 de junho de 2018

O BAIXO SÃO FRANCISCO NA ROTA DA COMISSÃO GEOLÓGICA


Por Etevaldo Amorim
Muitos foram os cientistas e autoridades que se utilizaram do curso Baixo do rio São Francisco demandando a região sertaneja e, especialmente, a Cachoeira de Paulo Afonso. George Gardner, naturalista britânico, em 1838; Vieira de Carvalho e Halfeld, em 1854; o naturalista alemão Avé Lallemant e o Imperador D. Pedro II, em 1859; José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, em 1869; e, em 1879, técnicos da Comissão Hidráulica também estudaram e descreveram aquela Região com impressionante riqueza de detalhes.
Alguns desses viajantes produziram belos registros fotográficos dessa Região. Abílio Coutinho, integrante da Comitiva de José Bento da Cunha Figueiredo Junior, Presidente da Província das Alagoas, em 1869, retratou muitas localidades e paisagens desde Penedo até Piranhas. Adolpho Lindemann, fotógrafo francês estabelecido em Penedo, também fez, em 1888, registros de diversas cidades ribeirinhas. Agora, com a publicação do Museu J. Paul Getty, está disponível uma coleção de fotos de um dos maiores fotógrafos brasileiros, contratado pela Comissão Geológica do Império do Brasil.
Charles Frederick Hartt-
auto-retrato
Essa Comissão era chefiada pelo canadense (naturalizado americano) Charles Frederick Hartt. Ele veio ao Brasil pela primeira vez em 1865 como geólogo da Comissão Thayer (sob o patrocínio de diversas corporações científicas americanas e principalmente por Nathaniel Thayer), comandada por Louis Agassiz. Em 1870, liderou a expedição Morgan, cujo nome era devido ao coronel Edwin B. Morgan, um dos diretores da Universidade de Cornell, que doou dois milhões de dólares para realizar pesquisas no vale do Amazonas.
Estava o Império sob o Governo do “Gabinete de 7 de março”, chefiado pelo Visconde do Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos, pai do Barão do Rio Branco, de mesmo nome). O Ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Dr. José Fernandes da Costa Pereira Júnior (Campos dos Goytacazes, 20/01/1833 — Rio de Janeiro, 10/12/1899), pensou em estabelecer no Brasil uma exploração regular e sistemática do seu vasto território. Assim, em Aviso[i] dirigido ao Dr. Charles Frederick Hartt, em 30 de abril de 1875, comunica os objetivos e o nomeia para Chefe da Comissão:
O governo imperial resolveu mandar proceder aos estudos preparatórios para o levantamento de uma carta geológica do Império. Esses estudos deverão habilitá-los a conhecer, dentro de alguns anos, a estrutura geológica do país, a sua paleontologia, a riqueza dos seus minerais e facilidade de explorá-los”.
Nesse mesmo expediente, o Ministro autoriza o Dr. Hartt a contratar os ajudantes de que necessitar, inclusive um fotógrafo para acompanhá-lo em suas excursões. Ele então, confirmando a notória sabedoria, convidou Marc Ferrez.
O próprio Hartt o confirma em documento referido por Edgard Roquette-Pinto, no Diário de Notícias (RJ), de 16 de julho de 1938, p. 15:
Em 1874, tive a honra de receber do Sua Excelência o Conselheiro José Fernandes da Costa Pereira um pedido oficial de fazer uma proposta relativa à exploração sistemática da Geologia do Império, e foi ao Rio de Janeiro, no fim do ano, submetido logo ao Governo Imperial um plano para esse fim. Não havendo verba suficiente, Sua Excelência o Ministro propôs que eu começasse em uma escala mais modesta do que a da minha proposta. E no dia 1º de maio de 1875, fui nomeado Chefe da Comissão, sendo nomeado ajudante o Engenheiro Elias S. Pacheco Jordão. Geólogos auxiliares os senhores Orville A. Derby e Richard Rathburn, e Praticante o Sr. Francisco José de Freitas. Tendo o Governo me dado o direito de contratar um fotógrafo, escolhi o Sr. Marc Ferrez, da Côrte.”
Com efeito, em Portaria do Ministério da Agricultura, de 30 de abril de 1875, foram nomeados os seus membros: Chefe: Carlos Frederico Hartt; Richard Rathbum; John Casper Branner; Orville A. Derby e dois engenheiros brasileiros, Francisco José de Freitas e Elias Fausto Pacheco Jordão (1849-1901), este último o primeiro brasileiro a estudar Engenharia Civil na Universidade de Cornell, onde se doutorou em 1874, no mesmo ano do doutoramento de Orville Derby[ii]. Dela faziam parte, ainda, Frank de Yeaux Carpenter (Engenheiro Civil, formado na U. de Cornell) e Herbert H. Smith e Luther Wagoner.
Marc Ferrez[iii], recém-chegado da Europa onde fora readquirir materiais e equipamentos para recuperar o seu atelier destruído por um incêndio, aceitou o convite, com o objetivo empreender estudos e trabalhos preparatórios para o levantamento da Carta Geológica do Império do Brasil. Partiu do Rio de Janeiro a 10 de junho de 1875, a bordo do paquete Pará, chegando ao Recife em 18 de julho.
Depois de minuciosos estudos na capital pernambucana e adjacências, especialmente dos arrecifes, a Comissão decidiu explorar a Cachoeira de Paulo Afonso. Com efeito, a 16 de setembro, partiram para Penedo no vapor nacional Ipojuca. Para tanto, o Presidente da Província de Pernambuco, João Pedro Carvalho de Morais, determina à Companhia Pernambucana que ofereça passagem para a Comissão até Penedo, oficiando à Presidência das Alagoas que lhe ofereça transporte até Piranhas. Do mesmo modo, ordenou ao Arsenal de Guerra que lhe fornecesse barracas, que seriam úteis aos seus membros nos acampamentos.
Possivelmente já em preparativos para a viagem, obteve uma bela vista da cidade, em que aparecem algumas igrejas e o seu porto.
Penedo, 1875. Foto: Marc Ferrez
Embora já houvesse linha regular de vapores, a viagem de Penedo a Piranhas foi feita de canoa. De fato, para a realização de suas pesquisas, era de todo conveniente que a Comissão pudesse dispor do seu próprio meio de transporte para cumprir o percurso , cerca de 30 léguas (180 km).
A embarcação utilizada foi uma rústica canoa de tolda, de tamanho médio, equipada com um “pano-de-asa”, como era popularmente conhecido. Esse tipo de pano não era mais que um par de velas latinas, presas a um único mastro.
Morro do Chaves, abaixo de Propriá, 1875. Foto Marc Ferrez
Impulsionada pelo vento forte que soprava do mar, a canoa da Comissão chegou ao Morro do Cal, que então já se tornara conhecido por “Morro do Chaves”, em alusão ao proprietário daquelas terras, o Tenente-Coronel João José de Medeiros Chaves, político e grande latifundiário de  Propriá (falecido nessa cidade,  a 29 de janeiro de 1890, aos 70 anos). Nesse local acha-se assentada a base sergipana da ponte sobre o rio São Francisco, ligando Propriá (SE) a Porto Real do Colégio (AL). Marc Ferrez registrou ali uma bela vista do morro, em cuja fotografia anotou: “Camadas do terreno cretáceo fortemente inclinadas no morro do Chaves, perto de Propriá no rio S. Francisco”.
Propriá (SE), 1875. Foto Marc Ferrez (montagem)
Porto Real do Colégio, 1875. Foto: Marc Ferrez
Vista de Traipu, 1875. Foto: Marc Ferrez
Antes de seguir viagem, Ferrez não deixou de capturar imagens da margem alagoana, anotando “O rio São Francisco visto rio acima do lado oposto a Propriá”, que corresponde a Porto Real do Colégio. Adiante, passando ao largo, fez uma tomada de Traipu, com seu imponente templo dedicado a Nossa Senhora do Ó.
Morro de Belo Monte, 1875. Foto: Marc Ferrez
Beirando a margem esquerda, algumas léguas acima, mais uma foto. Desta vez, da encosta do morro do Belo Monte, então chamado Lagoa Funda, em que se pode avistar os combros da Terra Firme, próximo à Restinga, bem próximo do Limoeiro, já em território de Pão de Açúcar.
Pão de Açúcar, AL, 1875. Ao fundo, o morro do Cavalete. Foto: Marc Ferrez.

Chegando a Pão de Açúcar, os membros da Comissão acamparam mesmo ali à beira do rio. Anotação na própria foto indica: "Vista do morro do Cavallete, Pão d'Assucar, no rio São Francisco, olhando-se rio acima". Nela aparecem oito pessoas, sendo três da Comissão: o Professor Hartt e os engenheiros brasileiros Francisco José de Freitas e Elias Fausto Pacheco Jordão. Nota-se ainda, junto à proa e abaixo da tolda, uma réplica em miniatura da própria canoa. Foi, talvez, a partir dessa foto que Ferrez teve a ideia de subir até o alto do Cavalete, de onde se tem vista privilegiada de todo o entorno, tanto rio abaixo, alcançando até o Limoeiro, além do morro do Farias; como rio acima, vislumbrando o morro do Belmonte, entre o Bonsucesso e a Ilha do Ferro, onde naufragaria, 42 anos depois, a lancha Moxotó.
Marc fez, primeiro, algumas tomadas da Serra de Pão de Açúcar, também conhecida por Serra do Meirus. Na sequência, uma bela foto da Vila, que se tornaria cidade dois anos depois; outra em que focaliza o leito do rio e, finalmente, uma outra em que se vê a margem direita, pertencente à então Província de Sergipe, vendo-se o Morro do Saco Grande. 
Pão de Açúcar vista do morro do Cavalete, 1875. Foto: Marc Ferrez
O rio São Francisco visto do morro do Cavalete. Foto: Marc Ferrez
Margem direita do rio S. Francisco vendo-se o morro do Saco Grande.
Foto: Marc Ferrez
Detalhe da Serra do Meirus, Pão de Açúcar, 1875. Foto: Marc Ferrez

Virando-se para o Poente, o perspicaz fotógrafo dirige a sua lente para o leito do São Francisco, tendo-se uma sucessão de morros de ambos os lados: Pau-Ferro, Mampirá, Algodão, estes na margem alagoana. Completando o restante do percurso, obteve ainda imagens do cânion e da própria Cachoeira. 
Vista do São Francisco a montante do morro do Cavalete. Foto: Marc Ferrez
Cânion do São Francisco pouco abaixo das cachoeiras. Foto: Marc Ferrez
Vista das principais cachoeiras em Paulo Affonso, 1875. Foto: Marc Ferrez

Segundo se lê na "Biografia do Professor Americano Carlos Frederick Hartt" - 1878, feita pelo estudante Carlos Alberto Menezes, "Ferrez tirou as mais belas fotografias que se conhece e que foram mais tarde premiadas na Exposição da Filadélfia."
Os membros da Comissão encerraram os trabalhos em 1º de junho de 1877, durando apenas dois anos. Hartt, no entanto, para salvar o material coletado, conseguiu seu funcionamento até dezembro daquele ano.

OS MEMBROS DA COMISSÃO

Marc Ferrez em 1870, com 27 anos
MARC FERREZ
Marc Ferrez nasceu no Rio de Janeiro a 7 de dezembro de 1843. Era filho de Zépherin Ferrez e Alexandrine Ferrez. Faleceu em 12 de janeiro de 1923. Segundo Gilberto Ferrez, foi durante essa viagem que Ferrez contraiu uma doença no fígado, da qual nunca se curou. Fonte: http://brasilianafotografica.bn.br/?p=6305.

ELIAS FAUSTO PACHECO JORDÃO
Elias Fausto Pacheco Jordão
O Dr. Elias Fausto Pacheco Jordão nasceu em São João do Rio Claro (SP) em 18 de fevereiro de 1849, filho de José Elias Pacheco Jordão e de Maria Marcolina. Seu pai foi deputado provincial em São Paulo.
Após o curso primário em Rio Claro, matriculou-se no Seminário Episcopal, na capital paulista, mas não se adaptou ao clima e mudou-se para Itu. Residiu um breve período no Rio de Janeiro e mais uma vez voltou para Itu, onde estabeleceu uma casa de comércio. Para completar os estudos superiores, viajou para os Estados Unidos e formou-se em engenharia civil na Universidade de Cornell, em 2 de julho de 1874. Fonte: CPDOC, Fundação Getúlio Vargas.

Orville Derby
ORVILLE ADELBERT DERBY
Orville Adelbert Derby Nasceu a 23 julho 1851 em Kelloggsville, Cayuga, New York. Filho de John C. Derby (1808-1890) e Malvina Adéia Lindsay (1818-1898). Chegou ao Brasil em 1870, integrando a Comissão Morgan, organizada pelo Presidente da Universidade de Cornwell, Ittaca, Estados Unidos.
Faleceu em 27 de novembro de 1915, cometendo suicídio em seus aposentos no Hotel dos Estrangeiros, no Rio de Janeiro. Naturalizado brasileiro pouco antes de morrer, era considerado o maior geólogo da América Latina. Fonte: A Rua, RJ, 27 de novembro de 1915, p.2
John Casper Branner
JOHN CASPER BRANNER
John Casper Branner nasceu em New Market, Tennessee, em 4 de julho de 1850. Formou-se em Cornell em 1882 e recebeu seu Ph.D na Universidade de Indiana em 1885. Era filho de Michael T. Branner e Alsey Baker. Em 22 de junho de 1883, casou-se com Suzan Dow Kennedy, com quem teve os fihos John Kennedy Branner, George Carper Branner e Elsie Branner.
Faleceu aos 72 anos, em Palo Alto, Califórnia (EUA)

Richard Rathbun
RICHARD RATHBURN
 Richard Rathburn ou Richard Rathbun (25/01/1852 – 16/07/1918)) nasceu em Buffalo, Nova York , filho de Charles Rathburn e sua esposa Marey (née Furey). Ele foi educado em Buffalo antes de se juntar à empresa de pedreiras de seu pai, Whitmore e Rathbun, por quatro anos. Em 6 de outubro de 1880, casou-se com Lena Augusta Hume, em Eastport, Maine.
Ele morreu em 16 de julho de 1918, de doença cardíaca resultante da febre amarela que sofrera 40 anos antes, [1] e foi sepultado no Cemitério Rock Creek . [2] Ele deixou sua esposa e seu único filho, o arquiteto Seward Hume Rathbun .

FRANK DE YEAUX CARPENTER. Nasceu Highland on Hudson, Estado de New York, Estados Unidos da América a 1º de setembro de 1848. Filho de Robert Carpenter e Júlia Carpenter.
Logo depois de formado, trabalhou na Comissão Geológica dos Estados Unidos. Em 1877, veio para o Brasil se incorporar à Comissão do Império, a convite de Hartt. Infelizmete, a Comissão já estava no fim. Mesmo assim, atuou como seu geógrafo e publicou livro a respeito da Comissão. Fonte: Revista Novo Mundo, New York, Vol. IX, Nº 99, 1879.
Em 1878, estando o seu professor Hartt à beira da morte, vítima da Febre Amarela, foi Carpenter que esteve com ele à sua cabeceira. Poucos dias depois foi ele, Carpenter, quem caiu doente. Conseguiu, porém, restabelecer-se. Retornando aos Estados Unidos, faleceu em sua terra natal a 19 de dezembro de 1883, com apenas 35 anos. Fonte: Revista de Engenharia, http://memoria.bn.br/DocReader/709743/1287.


HERBERT HUNTINGDON SMITH
 Herbert Huntingdon Smith ou Herbert Huntington Smith (Manlius, Nova York, 21 de janeiro de 1851 - Tuscaloosa, Alabama, 22 de março de 1919). Filho de Charles Smith e de Julia Maria Huntington.
Foi um naturalista americano e conchologista amador que trabalhou na flora e fauna do Brasil. Escreveu o Brasil, as Amazonas e a costa (C. Scribner's Sons, 1879) e Do Rio de Janeiro a Cuyabá: Notas de um naturalista (1922).
Ele primeiro foi ao Brasil em 1870 na expedição Morgan liderada por Charles Frederick Hartt. Ele voltou para ficar em Santarém de 1874 a 1876, e depois passou um ano explorando os rios Amazonas e Tapajós.
A morte de Smith foi trágica. Em sua caminhada para trabalhar no Museu de História Natural do Alabama, o naturalista surdo, que sofrera recentemente um surto de gripe, foi atropelado por um trem. O local no campus da Universidade do Alabama era conhecido por muitos anos como "Smith's Crossing".

JOHN LUHER WAGONER
John Luther Wagoner, geólogo, nasceu em Yadkin County, North Carolina, USA, a 16/02/1839 e faleceu a 2 de Janeiro de 1911. Foi sepultado no Macedonia Baptist Church Cemetery, Ronda, Wilkes County, North Carolina, USA. Filho de William Wagoner e Fanny Waggoner; Casou-se com Mary Jane Money Waggoner, com quem teve os filhos William Lee Waggoner. Chegou ao Brasil em 12 de maio de 1874, segundo Diário do Rio de Janeiro, 13 de maio de 1874, p. 3. Em 1876, substituiu Pacheco Jordão na Comissão. No ano seguinte era substituído por Frank Carpenter.

NOTA:
Caro leitor,
Este Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, contém postagens com informações históricas resultantes de pesquisas, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso algumas delas seja do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo. Segue abaixo, como exemplo, a forma correta de referência:
AMORIM, Etevaldo Alves. O Baixo São Francisco na Rota da Comissão Geológica. Maceió, Junho de 2018. Disponível em: http://www.blogdoetevaldo.blogspot.com.br/. Acesso em: dia, mês e ano.





[i] A Nação, RJ, 14 de maio de 1875, p. 2.
[ii] Fonte: CPRM – Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (Serviço Geológico Brasileiro – Ministério das Minas e Energia).
[iii] Marc Ferrez nasceu no Rio de Janeiro, a 7 de dezembro de 1843, filho de Zépherin e Alexandrine Ferrez, e faleceu em 12 de janeiro de 1923

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia