sábado, 2 de março de 2024

A IGREJA MATRIZ DE PÃO DE AÇÚCAR

Por Etevaldo Amorim

 

A igreja Matriz de Pão de Açúcar, símbolo material da devoção dos pão-de-açucarenses ao Sagrado Coração de Jesus, é um dos mais belos templos católicos do Estado de Alagoas.

Saber como foi a sua concepção, e quais foram as pessoas envolvidas e os esforços dispendidos para levar a termo a sua construção, suscita em nós uma enorme curiosidade. Mas não há um trabalho, uma fonte, onde se possa buscar respostas para essas perguntas. Temos que garimpar, aqui e ali, e encontrar informações dispersas, esperando descobrir nexo entre elas.

Vista interna da Igreja Matriz de Pão de Açúcar.


Uma primeira pista vem do Juiz de Direito de Penedo, o Dr. José Rodrigues Vieira de Carvalho e Silva. Por volta de 1854, aquela Comarca abrangia uma vasta região, entre a foz do rio São Francisco e a confluência do rio Moxotó, duas léguas acima da cachoeira de Paulo Afonso.

Em carta ao Dr. G. Schuch de Capanema[i], imaginando-se em viagem de canoa, dentre as muitas que teve que realizar para cumprir os misteres da sua função, descreve as povoações e os aspectos físicos de toda a região do Baixo São Francisco.

Em certo ponto da carta, julgando ter percorrido dez léguas desde a Vila de Traipu, passa a falar de Pão de Açúcar, onde costumeiramente fazia correições, como a que se nota no Cartório de Registro de Imóveis, em 29 de outubro de 1850.

Diz ele em certo ponto da carta:

O arraial de Pão de Açúcar conta 230 casas. O terreno plano lhe proporciona o belo arruamento que vai tendo, e o comércio que aflui do centro lhe pressagia um risonho futuro. Há alguns sobrados e sofríveis casas. A capela do Santíssimo Coração de Jesus está em obras ainda de sua edificação e já é elevada em Freguesia por lei de 1853, de 11 de julho, nº 227...

Mais adiante diz:

 “Em 1821, era fazenda de gados de Antônio Luiz Dantas. Depois, a família de Antônio Rodrigues Delgado, foi o primeiro povoador, fazendo casas, etc. Antônio Manuel das Dores continuou; fez a capela com o Padre Baldaia[ii], pondo a primeira pedra em 1840 – doando 2:000$000 para sua edificação. Rosa Benta Pereira (esposa de Ignácio Rodrigues Delgado) e D. Anna Thereza de Jesus[iii] doaram as terras[iv].”

Mais tarde, em 1869, quando da passagem do presidente da Província, Dr. José Bento da Cunha Figueiredo Junior, demandando a cachoeira de Paulo Afonso, foi solicitada ajuda dos cofres provinciais para a conclusão das obras da igreja. Ele, então, solicitou ao engenheiro da Província, Dr. Carlos de Mornay[v] que fizesse orçamento dos serviços.

Com efeito, nove meses depois, o Dr. Mornay respondeu nos seguintes termos:

PROJETO DE REFORMA DA MATRIZ DE PÃO DE AÇÚCAR – Engº Carlos de Mornay

“Imº Exº Sr.

Tenho a honra de passar às mãos de V. Exº a descripção e orçamento do custo do serviço a fazer-se para elevação, à altura de 37 ½ palmos, as paredes laterais da igreja Matriz da vila de Pão de Assucar; como também a planta do mesmo serviço, em que dou o desenho de um novo frontispício, visto que, para concluir-se o edifício sobre a nova planta, será preciso derrubar a frente actual.

Deus guarde a V. Exº, Maceió, 23 de outubro de 1869.

Ilmº Exmº Sr. Dr. José Bento da Cunha Figueiredo Junior, digno Presidente da Província.

Carlos de Mornay”

 

“Descrição e orçamento do custo do serviço a fazer-se para elevar-se à altura de 37 ½ palmos, as paredes laterais da igreja Matriz da villa de Pão de Assucar.

DESCRIPÇÃO

Para elevar a coberta do corpo da igreja à altura da parte começada junto à capela-mor, torna-se preciso derrubar a frente existente, e com estas vistas dou o risco de uma nova frente. Este serviço, porém, não se pode fazer com a quantia subvencionada de 2:000$000 réis, podendo-se apenas elevar as paredes laterais à altura destinada, e repor o teto naquela altura, para o que deve se tirar as telhas e com “bimbarras” suspender o madeirame do teto em um lado e outro alternativamente e construir as respectivas porções de parede até ganhar essa altura; refazer-se-há as juntas das madeiras fortificando-as com gatos, parafusos ou pregos, conforme o caso exigir, e retelhar o edifício.

Emboçar, rebocar e caiar-se-á a igreja limpa.”

 

ORÇAMENTO

 


Não conseguimos saber se, com base nesse orçamento, a obra teve prosseguimento. Mas, constatamos que um correspondente do Jornal do Penedo, que se assina por “Descartes”, informa, no dia 17 de fevereiro de 1877:

A obra da Igreja Matriz desta Vila acha-se paralisada à falta de dinheiro. O donativo dos particulares deu apenas para o alicerce da frente. Praza a Deus que o estado financeiro da Província melhore e que a Assembleia próxima a reunir-se vote alguma quantia suficiente para a conclusão da dita obra.”

 Fato é que, em 1877, estando missionando na região o famoso frei Cassiano FREI CASSIANO DE COMPACCHIO, esse assunto voltou à pauta da imprensa a época.

No ano em que foi elevada à categoria de cidade, Pão de Açúcar recebeu benefícios que transpuseram os limites da ação regular da Igreja, graças a sua capacidade empreendedora.

Após um breve período de três meses, em que acumulou a celebração de atos religiosos com a administração das obras do cemitério e da Matriz, partiu anunciando que regressaria ao Recife. Não tardou, entretanto, que chegassem à Vila notícias de que ele, com ordens de seus superiores, voltaria do Penedo para retomar suas atividades.

O seu regresso foi triunfal. Esse registro histórico fica por conta de um correspondente do JORNAL DO PENEDO, edição de 12 de maio de 1877, que assinava sob o pseudônimo de O Católico. Conta ele, em carta de 26 de abril, que, na tarde do dia 10, ante o anúncio de que se aproximava o vapor Jequitaya (da Companhia Baiana), uma multidão afluía para o porto, enquanto girândolas de foguetes espocavam no ar. Bandeiras foram hasteadas em frente à Matriz e no próprio porto. Ainda a bordo, foi recepcionado pelo Vigário da Freguesia – Pe. Antônio José Soares de Mendonça e por outras autoridades.

Ao desembarcar, foi recebido com uma salva de 21 tiros e, ao som da Banda Marcial, se encaminharam ao barracão em que havia um tablado onde fazia suas prédicas. Ali, em tom afetuoso, pronunciou memorável discurso, manifestando seu contentamento por estar de novo entre o povo pão-de-açucarense. Dali seguiu para a casa do Vigário, onde costumeiramente se hospedava.

Já no dia seguinte retomou o comando das obras. Estando a do cemitério interrompida, uma vez que alcançara apenas à fase de emboço e ao assentamento do portão, privilegiou a da Matriz, cujos serviços se concentravam na torre do lado esquerdo.

Seguindo uma planta organizada pelo próprio Capuchinho, o templo ocupa uma área construída de 677,32 m² (16,40 m de frente e 41,30 m de frente a fundos). Sua elegante e majestosa fachada, voltada para o Sul, se ergue sobre um pedestal de 1,60 m, em quatro esbeltas colunas, cujas bases e capitéis[vi], alcançam a altura de 9,90 m, trazendo fielmente executadas as regras da ordem toscana.

O correspondente, demonstrando amplo conhecimento técnico, descreve com riqueza de detalhes a vista principal ou central da frente da Matriz. Segundo ele,

“Um entaboamento ou cornija[vii] que, em linha reta, atalha e percorre a frente, se vê sustentada pelas colunas e é coroada por um rico tímpano romano, a cujo cimo ergue-se imponente o sinal na nossa Redenção, a Santa Cruz, assentada sobre robusto pedestal; suspendendo assim mais 3,50 a altura da Igreja. Preenchem às intercolunas, na parte inferior, três portas, a da frente com metros 1,40 de largura, e duas laterais menores, e na parte superior três janelas arqueadas que transmitem a luz do coro para o interior da Igreja. No centro do tímpano, fingira-se em baixo relevo um coração, símbolo do Sagrado Coração de Jesus a cuja invocação é consagrada a Freguesia.”

Além desta vista central, há também as frentes formadas pelas torres, erguendo-se estas sobre salientes da frente da igreja. No alto das torres, há uma albica, uma espécie de parapeito, em cujo centro abre-se um óculo circular em que se pretende colocar um relógio para servir à utilidade pública”.[viii]

Da coroa d’esta óthica surge a célla campanária ou sineira formada de quatro pilastrões unidos pelas respectivas arcadas, e coroada de uma linde cornija; solta-se depois uma cúpula ou zimbório em forma piramidal que, recebendo em sua summidade a altura do estandarte do Christianismo, declara e manifesta ser aquella uma obra dedicada ao culto de Deus Todo Poderoso. A altura das torres ascende a metros 19”.

A importância disponível para a construção da Matriz não superava 3:000$000 rs (Três Contos de Réis), de todo insuficiente para a conclusão das obras. Frei Cassiano criou, então, nos diversos povoados da Freguesia, comissões encarregadas de arrecadar donativos.  Não descuidando do aspecto espiritual, anunciou a programação para os festejos do mês Mariano, segundo o que fora acordado com o Padre Mendonça.

Por fim, temos uma data precisa da conclusão dos trabalhos de construção do cemitério e da Matriz. Uma correspondência datada de 15 de junho de 1877, publicada no jornal Órgão do Povo, de Penedo, em edição do dia 24 de junho de 1877, assinada por um enigmático "Y", informa:

"Temos um cemitério!!!! Graças a Deus!!!! Graças aos incansáveis esforços de Fr. Cassiano e do nosso povo. Ontem, os oficiais pedreiros colocaram a cruz na grimpa da torre da nossa matriz que estava por concluir. Foi isto um motivo de contentamento, e eu passei por uma agradável decepção; porque, à vista do abandono em que sempre nos tem deixado os nossos deputados, não esperavam aquele êxito. Temos, pois, um templo com sofríveis acomodações, feito pelo povo."


Ao que parece, no entanto, a Matriz não exibia a beleza que ostenta hoje, a julgar pelo comentário de Theodoro Sampaio, que por ali passou, em 1879,

“… atravessamos a pé o largo lençol d’areia que a precede e percorremos-lhe as ruas retilíneas, planas, marginadas de edificações humildes e sem elegância. Nenhum edifício notável se descobre, nem mesmo a igreja que, aliás, oferece melhor aspecto vista de longe.”

“Pão de Açúcar não oferece de notável senão a sua paisagem pitoresca, que a montanha cônica que lhe dá o nome aformoseia, e o perfil azulado da serra dos Meirus, duas léguas longe, torna quase encantador.”

 

***   ***   ***

Não temos uma imagem frontal da igreja, que nos permita saber que forma tinha o templo daqueles pão-de-açucarenses de meados daquele século XIX. Entretanto, duas fotografias de Abílio Coutinho, de 1869, nos dão a ideia de que a matriz não era mais que um imenso casarão localizado na esquina da Rua do Meio com a Rua Augusta.

Igreja Matriz de Pão de Açúcar.
Rua do Meio, Pão de Açúcar-AL, 1869, vendo-se à direita, ao fundo
o telhado da Igreja Matriz. Foto: Abílio Coutinho.


A primeira, mostrando a “Rua do Meio”. Nota-se uma construção ao fundo, à direita, com um telhado longo, que se eleva na parte posterior. Na frente, um espaço entre o prédio e a linha das demais casas, como a indicar que se reservava para ali a edificação das torres.

Igreja Matriz de Pão de Açúcar.
Rua Augusta, Pão de Açúcar-AL, 1869, vendo-se à esquerda os fundos da
Igreja Matriz. Foto: Abílio Coutinho.

Rua Pe. Soares Pinto (antiga Rua Augusta). Foto: Google.


A segunda, tomada na Rua Augusta (hoje Pe. Soares Pinto), mostra a igreja pelos fundos. Vê-se um espaço entre a construção propriamente dita e o alinhamento da última casa, dando a entender que se estava projetando um futuro alargamento. Vale a pena comparar com a mesma tomada nos dias atuais.


Rua Augusta, Pão de Açúcar-AL, 1860, vendo-se o oitão da igreja em 
construção. Foto: Abílio Coutinho.


De fato, essa foto de 1919 (ano de uma das grandes cheias do S. Francisco), mostra o oitão da igreja em obras de expansão da sua largura, deixando-o bem próxima à calçada.

Rua do Meio, Pão de Açúcar-AL, vendo-se a Igreja Matriz.


Já a foto acima, colhida de um Almanak de 1910, mostra a matriz do Sagrado Coração de Jesus reproduzindo o projeto original concebido por Frei Cassiano de Comacchio. A exceção é, talvez, a ausência das cruzes no alto das torres, como conhecemos hoje.

Calçada alta, projetada sobre a avenida, com dois degraus largos para acesso dos fieis. O pedestal do cruzeiro é diferente do que temos atualmente. Também não há sinal do relógio “Malakoff” na torre da direita, dando a entender que a foto é anterior a 23 de dezembro de 1909, data em que foi instalado.

Ao longo da principal via da Vila, então chamada de “Rua do Meio”, dois renques de árvores dispostas em ambos os lados, servindo de abrigo a rebanhos de ovinos e caprinos.

À direita, nas imediações da atual Praça Moreno Brandão, algumas novas árvores sendo situadas, protegidas por engradados de madeira rústica.

Algumas pessoas transitam pela vastidão da rua, ainda desprovida de qualquer pavimento. Particularmente defronte a igreja, quatro pessoas: uma com a calçada à altura da cintura; outras duas diante da porta da torre sul, uma de pé e outra sentada no batente; e ainda outra bem na esquina com a Rua Augusta (atual Pe. Soares Pinto). Acima desta, fixado no encontro da fachada com o oitão, um lampião de gás, ali instalado estrategicamente para iluminar o máximo possível aquele que deveria ser o ponto central da vila.

A histórica foto ainda evidencia a habilidade do fotógrafo que, em tomada de rara felicidade, faz a imagem da igreja refletir-se na água, que ali ficara empoçada da última chuva ou como resquício da grande cheia do rio São Francisco, em 1906.

 

***   ***   ***

 

Muitas reformas e melhorias foram feitas ao longo de todo esse tempo, e pelos esforços dos párocos que se sucederam, com ajuda da comunidade católica.

Houve também alguns percalços, como o que me relata um atento leitor,como um grande incêndio que teria ocorrido na igreja, “destruindo na ocasião o altar-mor e várias imagens, inclusive a do senhor morto[ix].

A obra de João Damasceno Lisboa também está presente no conjunto de obras que embelezam a Matriz, para orgulho da comunidade católica de Pão de Açúcar.

 

***   ***   ***

 

NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.




[i] Conselheiro Guilherme Schuch de Capanema (Barão de Capanema). Doutor em matemática e ciências físicas pela Escola Militar do Rio de Janeiro. Estudou engenharia na Escola Politécnica de Viena.

[ii] Padre Francisco do Rego Baldaia que, por volta de 1847, foi pároco em Palmeira dos Índios. Antes, foi ativo combatente intelectual durante as lutas que culminaram com a abdicação de D. Pedro I, à frente do jornal Federalista Alagoense, sucessor do Íris Alagoense. Filho do comerciante português Francisco do Rego Baldaia, um dos fundadores da vila de Maceió. Sua irmã, Francisca Maria do Rego Baldaia, casada com Francisco Dias Cabral, era mãe do médico, jornalista e historiador João Francisco Dias Cabral. Faleceu em 24 de dezembro de 1863.

[iii] Anna Thereza de Jesus. Doadora das terras da capela de Nossa Senhora da Luz, em Meirus. Filha de Alfredo Antônio Manoel de Jesus Brandão e Josepha Maria de Assumpção, irmã de Anacleto de Jesus Maria Brandão. Era esposa de Inácio Rodrigues Delgado, com quem teve a filha Clarinda Maria da Conceição Mello (1843-1894), de cujo casamento com João Pereira de Mello nasceram dois filhos: Anna Josepha de Mello e Omindo Pereira Mello.

[iv] Consta que o patrimônio seria: - Rua da Areia – (Pão de Açúcar) – Encontra-se a escritura no Cartório do 1º Ofício, Livro do ano de 1843. (esse deve ser o ano da abertura do livro, já que a Paróquia foi criada em 1853). O patrimônio estende-se da casa de Rosa Benta Pereira, viúva de Inácio Rodrigues Delgado, 75 braças em frente ao rio, com fundos até onde chegam as águas da lagoa.

[v] Charles de Mornay nasceu em Londres, Inglaterra, em 1818 e faleceu em Alagoas, Brasil, em 1884. Filho de Aristides Franklin Mornay e de Maria D. Anjubault. Foi casado com a alagoana Isabel Carolina de Carvalho, filha de Maria Cleofa de Jesus, de Coruripe.

[vi] Capitel. Coroamento do fuste (cabo, haste roliça de madeira) de uma coluna. Arremate superior, em geral esculturado, de pilastra, balaústre, etc.

[vii] Na arquitetura clássica, Cornija é a parte superior do entablamento ('conjunto composto de arquitrave, friso e cornija'), que assenta sobre o friso. É uma moldura saliente que serve de arremate superior à fachada de um edifício, ocultando o telhado e impedindo que as águas escorram pela parede.

[viii] O relógio, já previsto no projeto original, foi finalmente instalado no dia 23 de dezembro de 1909.

[ix] Relato de Massilon Ferreira da Silva. 

6 comentários:

  1. Essa igreja é mesmo uma bela obra de engenharia e arquitetura, além de postar gravuras e pinturas sacras maravilhosas.

    ResponderExcluir
  2. A Matriz do Sagrado Coração de Jesus é uma verdadeira obra de arte.

    ResponderExcluir
  3. Muito interessante não conhecia essa parte da história.

    ResponderExcluir
  4. Muito bom e muito bem a história de um povo é tudo de melhor que se tem para a cultura desse povo.Parabens

    ResponderExcluir
  5. MUITO INTERESSANTE, CONTRIBUINDO COM A HISTÓRIA DE ALAGOAS

    ResponderExcluir

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

PUBLICAÇÕES
Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia