PÃO
DE AÇÚCAR
Bem-Gum[i]
Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.
D’um balcão de janela eu velo o seu dormir.
Nas tuas ermas ruas, somente o pó existe,
O pó que o vendaval deixou no chão cair.
Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste
Ao teu profundo sono num divino sorrir.
Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,
Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.
Assim, amortecida, tu guardas teus mistérios.
Teus jardins se parecem com vastos cemitérios,
Por onde as brisas passam em brando sussurrar.
Aqui e ali tu tens um alto campanário,
Que dá maior relevo ao pálido cenário
Do teu calmo dormir em noite de luar.
____
CIDADE
Bem Gum
Cidade, colmeia humana, aonde o luxo e o prazer
Têm lugar de desdém para a miséria e a fome.
Aonde, ao relento, dorme o pária sem pão, sem nome,
E o nababo indolente tem sereno adormecer.
Cidade, centro onde a honra caminha pra fenecer,
Dominada pelo vício, que aos poucos lhe carcome,
Cidade, onde o proletário, na fábrica, se consome,
Para mais o argentário subir e enriquecer.
Cidade, ruas festivas, igrejas e lupanares,
Pináculos de arranha-céus dispersos, cruzando os ares,
E casebres, moradias do pequeno, do ninguém.
Cidade, luz, vaidade, encantamento, alegria,
Amor, desprezo, miséria, ingratidão, nostalgia,
Cidade, berço do riso e da lágrima também.
[i] Ben-Gum, pseudônimo de José Mendes Guimarães – “Zequinha Guimarães”. Poeta, vereador, comerciante.
Nasceu em Pão de Açúcar,
em 25 de setembro de 1899. Filho de João Mendes Guimarães e Maria Cândida de
Andrade Freitas, tinha como avós paternos: José Mendes Guimarães e Joanna Maria
de Jesus e, maternos: o Cap. Miguel de Freitas Machado e Cândida Delfina de
Andrade.
Ficando órfão de mãe aos sete anos, seu pai o levou para morar em Sergipe, tendo ali permanecido até os 10 ou 11 anos, voltando então à sua cidade natal para a companhia dos avós maternos, ali permanecendo até 1917. Trabalhou como caixeiro na loja de tecidos de um tio materno. Nesse período, passou um ano (provavelmente 1912), estudando no Colégio Salesiano, no Recife.
Voltando para Pão de Açúcar, passa a trabalhar na mesma loja de tecidos, que seria adquirida algum tempo depois (1924 ou 1925), em sociedade com outro empregado da casa.
Em 1927, já agora único proprietário da loja, trabalhava também no Cartório de Registro Civil.
Desistindo de suas funções no cartório, voltou-se para o trabalho rural em sua modesta propriedade e para o pequeno estabelecimento comercial. Ali mesmo residia, no pavimento superior.
Mais tarde, volta a viver, agora por quatro anos, no Recife. Finalmente, regressa em 1921 a Pão de Açúcar, onde iria residir e ser comerciante. Vereador no final da década de 1940 e início da década de 1950.
Foi casado com Rosa Pires de Carvalho, com quem teve os filhos Maria, Paulo, Miriam e Péricles. Faleceu em Pão de Açúcar, no dia 21 de
fevereiro de 1968.
É Patrono da cadeira nº
22 da ALEPA – ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DE PÃO DE AÇÚCAR. Tem sonetos
publicados da p. 11 a 36 do livro Pão de Açúcar. Cem Anos de Poesia. Coletânea,
Maceió: Ecos Gráfica e Editora, 1999.
Um belo e merecido resgate de uma parte da história de Zequinha Andrade, fonte de inspiração de vários poetas conterrâneos. Nas estrofes de seus poemas podemos sentir a sua vivência e o clamor por uma sociedade mais justa
ResponderExcluirNossa querida pão de açúcar - a terra de Jaciobá é uma grande fonte cultural na arte e na literatura , são inúmeros os personagens ainda a serem resgatados, nossa história cultural é bastante ampla , viva o Grande poeta Ben - GUM, Pseudônimo de José Mendes Guimarães
ResponderExcluir👏👏👏👏👏
ResponderExcluir