sexta-feira, abril 11

POETAS PÃO-DE-AÇUCARENSES: BEM-GUM

 

PÃO DE AÇÚCAR

Bem-Gum[i]

Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

D’um balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas, somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.

 

Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

Ao teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.

 

Assim, amortecida, tu guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios,

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.

 

Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

 

____

 

CIDADE

 

Bem Gum

 

Cidade, colmeia humana, aonde o luxo e o prazer

Têm lugar de desdém para a miséria e a fome.

Aonde, ao relento, dorme o pária sem pão, sem nome,

E o nababo indolente tem sereno adormecer.

 

Cidade, centro onde a honra caminha pra fenecer,

Dominada pelo vício, que aos poucos lhe carcome,

Cidade, onde o proletário, na fábrica, se consome,

Para mais o argentário subir e enriquecer.

 

Cidade, ruas festivas, igrejas e lupanares,

Pináculos de arranha-céus dispersos, cruzando os ares,

E casebres, moradias do pequeno, do ninguém.

 

Cidade, luz, vaidade, encantamento, alegria,

Amor, desprezo, miséria, ingratidão, nostalgia,

Cidade, berço do riso e da lágrima também.

 

 




[i] Ben-Gum, pseudônimo de José Mendes Guimarães – “Zequinha Guimarães”. Poeta, vereador, comerciante.

Nasceu em Pão de Açúcar, em 25 de setembro de 1899. Filho de João Mendes Guimarães e Maria Cândida de Andrade Freitas, tinha como avós paternos: José Mendes Guimarães e Joanna Maria de Jesus e, maternos: o Cap. Miguel de Freitas Machado e Cândida Delfina de Andrade.

Ficando órfão de mãe aos sete anos, seu pai o levou para morar em Sergipe, tendo ali permanecido até os 10 ou 11 anos, voltando então à sua cidade natal para a companhia dos avós maternos, ali permanecendo até 1917. Trabalhou como caixeiro na loja de tecidos de  um tio materno. Nesse período, passou um ano (provavelmente 1912), estudando no Colégio Salesiano, no Recife.

Voltando para Pão de Açúcar, passa a trabalhar na mesma loja de tecidos, que seria adquirida  algum tempo depois (1924 ou 1925), em sociedade com outro empregado da casa.

Em 1927, já agora único proprietário da loja, trabalhava também no Cartório de Registro Civil.

Desistindo de suas funções no cartório, voltou-se para o trabalho rural em sua modesta propriedade e para o pequeno estabelecimento comercial. Ali mesmo residia, no pavimento superior.

Mais tarde, volta a viver, agora por quatro anos, no Recife. Finalmente, regressa em 1921 a Pão de Açúcar, onde iria residir e ser comerciante. Vereador no final da década de 1940 e início da década de 1950. 

Foi casado com Rosa Pires de Carvalho, com quem teve os filhos Maria, Paulo, Miriam e Péricles. Faleceu em Pão de Açúcar, no dia 21 de fevereiro de 1968.

É Patrono da cadeira nº 22 da ALEPA – ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DE PÃO DE AÇÚCAR. Tem sonetos publicados da p. 11 a 36 do livro Pão de Açúcar. Cem Anos de Poesia. Coletânea, Maceió: Ecos Gráfica e Editora, 1999.

 

3 comentários:

  1. Um belo e merecido resgate de uma parte da história de Zequinha Andrade, fonte de inspiração de vários poetas conterrâneos. Nas estrofes de seus poemas podemos sentir a sua vivência e o clamor por uma sociedade mais justa

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  2. Nossa querida pão de açúcar - a terra de Jaciobá é uma grande fonte cultural na arte e na literatura , são inúmeros os personagens ainda a serem resgatados, nossa história cultural é bastante ampla , viva o Grande poeta Ben - GUM, Pseudônimo de José Mendes Guimarães

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  3. 👏👏👏👏👏

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


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PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

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Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia