quarta-feira, outubro 8

ASPECTO URBANÍSTICO DA CIDADE

 

Por Etevaldo Amorim


Av. Bráulio Cavalcante, Pão de Açúcar-AL. Foto: João Lisboa, 1939.


Pão de Açúcar apresenta, grosso modo, um aspecto urbanístico agradável, com uma avenida central extensa e ampla, da qual derivam outras perpendiculares.


Dom Pedro II, quando da visita à cachoeira de Paulo Afonso, em 1859, deixou registrado em seu diário:


Há uma bela rua direita longa e muito larga, e outra perpendicular também direita, porém menos longa e larga.


Por certo se referia à então chamada “Rua do Meio”, atual Bráulio Cavalcante. Quanto à outra, provavelmente seja o “Beco da Igreja”, que já se chamou Rua Augusta, atual Padre José Soares Pinto.


Entretanto, observada sob um ponto de vista mais restrito, a cidade teve, ao longo da história, que corrigir alguns erros no traçado de algumas vias.


Gervásio Francisco dos Santos, em seu UM LUGAR NO PASSADO, menciona essa deficiência na estrutura urbana da cidade. Diz ele:


“Cada proprietário, por uma questão de embelezamento de sua residência, construía o passeio a seu modo. Assim, havia falta de uniformidade nas calçadas; umas eram mais salientes para o meio-fio, outras mais altas. A calçada da Matriz, além de alta, atingia quase o meio da Av. Bráulio Cavalcante (Rua do Meio).”


As ruas perpendiculares à Avenida Bráulio Cavalcante são demasiadamente estreitas, como as do lado Sul: Rua João Antônio dos Santos (agora transformada em Calçadão) e as que lhe sucedem no sentido Oeste.


Do mesmo modo, as do lado Norte: Rua Dr. Luiz Machado (esquina da Prefeitura), Rua Cel. Manoel Antônio Machado e Rua Vereador Antônio Machado Guimarães (antiga rua Duque de Caxias). Desta, há registro de uma intervenção do Poder Público, na primeira Gestão do Prefeito Augusto Machado, no sentido de alargá-la, conforme afirma Lauro Marques em reportagem publicada no Diário de Pernambuco de16 de setembro de 1934.


Rua Duque de Caxias antes da intervenção. 

Rua Duque de Caxias depois do alargamento.



Outra intervenção de grande valia foi realizada na Administração do prefeito Antônio Gomes Pascoal, quando foram desapropriadas algumas casas (na verdade casebres, feitos de taipa), abrindo espaço para se chegar à rua Odilon Pires de Carvalho (antiga Rua da Mangueira), atravessando a Rua Odilon Moraes (antiga Boa Vista, e que também se chamou Rua do Lírio).


Abertura para acesso da Praça Darcy Gomes para a Rua Odilon Pires Guimarães.


A preocupação com o aspecto urbanístico da cidade é bastante antiga, conforme esse artigo do professor Hypólito de Souza[i], intitulada RETROSPÉCTO, publicada no jornal A Ideia, Pão de Açúcar-AL, 12 de março de 1911.

 

“A nossa terra já possui um povo conceituado, justo e cuidadoso.


A arborização das nossas ruas com uma iniciativa particular nos dará a resposta do amor do povo a nossa terra, nos dirá que outrora o nosso povo era um amigo decidido do progresso e da civilização.


O que de benefício não nos trarão estas alamedas, em um solo tórrido como o nosso, em uma cidade onde o ar está viciado pelas imundícies, pelo constante respirar de cerca de 5.000 pessoas?


O alinhamento das nossas ruas bem está dizendo do cuidado e o bom gosto de uma população de pobres e desprotegidos da sorte.


A nossa antiga Câmara marcava uma quantia de 2$ que aos donos das casas em construção cumpria pagar a um cordeador[ii] que devia colocar em bom alinhamento todas as casas.


O nosso júri de então bem patenteia aos nossos olhos a probidade e a justiça dos nossos avoengos.[iii]


Hoje, o que vemos?


A arborização de nossas ruas parece que tende a ficar em umas poucas dezenas de árvores, como que patenteando o pouco empenho no saneamento do nosso solo para o que ela muito concorre.


O alinhamento das ruas é feito à vontade do construtor, que às vezes dispõe ruas redondas, triangulares e sinuosas, sem que o município nomeie uma pessoa para coloca-las em boa estética e concorrer para a sua beleza.


Haja a vista a rua onde mora o nosso amigo Leôncio Fonseca[iv], onde de vez em quando uma casa mais ou menos regular vai se edificando.


A Intendência deveria traçar as ruas para boa direção dos edificadores nomear cordeadores como outrora, pois que é uma nomeação que não depende dos cofres públicos.


O Júri... Paremos porque se nos divisa aos olhos a prostituição dessa sublime instituição, que em si encarna a justiça e a perfeição.


Vejamos, então, o que éramos e o que somos.


Ressurja o patriotismo de outrora e com ele ressurgirá a pureza e a probidade dos homens.”


___

NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.



[i] João Hypólito de Souza. Nasceu em Pão de Açúcar no dia 16 de setembro de 1886. Filho de Maria da Glória Soares de Souza. Ficou órfão de pai aos 3 anos de idade e ficou ao lado da mãe e seus irmãos: Alfredo, Aurora Carolina, Eduardo, Ismael, Carolina e Esther. Era professor e por muitos anos dirigiu a Escola 16 de Setembro e, juntamente com o Pe. José Soares Pinto, o Colégio Paroquial.

[ii] Profissional que cuida da cordeação ou cordoamento, que é o ato ou efeito de cordear, de medir por meio de corda; medição, delimitação. No Nordeste brasileiro, significa ato de alinhar edificações. Por volta de 1880, o cordeador era o Sr. Jerônymo Alves Barreto. Fonte: Almanak da Província de Alagoas.

[iii] Que vem ou se herdou dos avós ou dos antepassados.

[iv] Refere-se à rua que parte da Av. Bráulio Cavalcante no sentido do Alto Humaitá. Até pouco tempo conhecida como “Beco de seu Isauro”, antigamente chamado “Beco do Leôncio”.

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia