Por Etevaldo Amorim
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Av. Bráulio Cavalcante, Pão de Açúcar-AL. Foto: João Lisboa, 1939. |
Pão de Açúcar apresenta, grosso modo, um aspecto
urbanístico agradável, com uma avenida central extensa e ampla, da qual derivam
outras perpendiculares.
Dom Pedro II, quando da visita à cachoeira de Paulo Afonso,
em 1859, deixou registrado em seu diário:
“Há uma bela rua direita longa e muito larga, e outra
perpendicular também direita, porém menos longa e larga.”
Por certo se referia à então chamada “Rua do Meio”, atual
Bráulio Cavalcante. Quanto à outra, provavelmente seja o “Beco da Igreja”, que
já se chamou Rua Augusta, atual Padre José Soares Pinto.
Entretanto, observada sob um ponto de vista mais restrito, a
cidade teve, ao longo da história, que corrigir alguns erros no traçado de
algumas vias.
Gervásio Francisco dos Santos, em seu UM LUGAR NO PASSADO, menciona
essa deficiência na estrutura urbana da cidade. Diz ele:
“Cada proprietário, por uma questão de embelezamento de sua
residência, construía o passeio a seu modo. Assim, havia falta de uniformidade
nas calçadas; umas eram mais salientes para o meio-fio, outras mais altas. A
calçada da Matriz, além de alta, atingia quase o meio da Av. Bráulio Cavalcante
(Rua do Meio).”
As ruas perpendiculares à Avenida Bráulio Cavalcante são
demasiadamente estreitas, como as do lado Sul: Rua João Antônio dos Santos
(agora transformada em Calçadão) e as que lhe sucedem no sentido Oeste.
Do mesmo modo, as do lado Norte: Rua Dr. Luiz Machado (esquina
da Prefeitura), Rua Cel. Manoel Antônio Machado e Rua Vereador Antônio Machado
Guimarães (antiga rua Duque de Caxias). Desta, há registro de uma intervenção
do Poder Público, na primeira Gestão do Prefeito Augusto Machado, no sentido de alargá-la, conforme afirma Lauro Marques em reportagem
publicada no Diário de Pernambuco de16 de setembro de 1934.
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Rua Duque de Caxias antes da intervenção. |
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Rua Duque de Caxias depois do alargamento. |
Outra intervenção de grande valia foi realizada na Administração
do prefeito Antônio Gomes Pascoal, quando foram desapropriadas algumas casas
(na verdade casebres, feitos de taipa), abrindo espaço para se chegar à rua
Odilon Pires de Carvalho (antiga Rua da Mangueira), atravessando a Rua Odilon
Moraes (antiga Boa Vista, e que também se chamou Rua do Lírio).
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Abertura para acesso da Praça Darcy Gomes para a Rua Odilon Pires Guimarães. |
A preocupação com o aspecto urbanístico da cidade é bastante
antiga, conforme esse artigo do professor Hypólito de Souza[i],
intitulada RETROSPÉCTO, publicada no jornal A Ideia, Pão de Açúcar-AL, 12 de
março de 1911.
“A nossa terra já possui um povo conceituado, justo e
cuidadoso.
A arborização das nossas ruas com uma iniciativa particular
nos dará a resposta do amor do povo a nossa terra, nos dirá que outrora o nosso
povo era um amigo decidido do progresso e da civilização.
O que de benefício não nos trarão estas alamedas, em um solo
tórrido como o nosso, em uma cidade onde o ar está viciado pelas imundícies,
pelo constante respirar de cerca de 5.000 pessoas?
O alinhamento das nossas ruas bem está dizendo do cuidado e o
bom gosto de uma população de pobres e desprotegidos da sorte.
A nossa antiga Câmara marcava uma quantia de 2$ que aos donos
das casas em construção cumpria pagar a um cordeador[ii] que devia colocar em bom alinhamento
todas as casas.
O nosso júri de então bem patenteia aos nossos olhos a
probidade e a justiça dos nossos avoengos.[iii]
Hoje, o que vemos?
A arborização de nossas ruas parece que tende a ficar em umas
poucas dezenas de árvores, como que patenteando o pouco empenho no saneamento
do nosso solo para o que ela muito concorre.
O alinhamento das ruas é feito à vontade do construtor, que
às vezes dispõe ruas redondas, triangulares e sinuosas, sem que o município
nomeie uma pessoa para coloca-las em boa estética e concorrer para a sua
beleza.
Haja a vista a rua onde mora o nosso amigo Leôncio Fonseca[iv],
onde de vez em quando uma casa mais ou menos regular vai se edificando.
A Intendência deveria traçar as ruas para boa direção dos
edificadores nomear cordeadores como outrora, pois que é uma nomeação
que não depende dos cofres públicos.
O Júri... Paremos porque se nos divisa aos olhos a
prostituição dessa sublime instituição, que em si encarna a justiça e a
perfeição.
Vejamos, então, o que éramos e o que somos.
Ressurja o patriotismo de outrora e com ele ressurgirá a
pureza e a probidade dos homens.”
___
NOTA:
Caro
leitor,
Deste
Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de
informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita
pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência
bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse
para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior
proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a
citação das referências. Isso é correto e justo.
[i]
João Hypólito de Souza. Nasceu em Pão de Açúcar no dia 16 de setembro de 1886.
Filho de Maria da Glória Soares de Souza. Ficou órfão de pai aos 3 anos de
idade e ficou ao lado da mãe e seus irmãos: Alfredo, Aurora Carolina, Eduardo,
Ismael, Carolina e Esther. Era professor e por muitos anos dirigiu a Escola 16
de Setembro e, juntamente com o Pe. José Soares Pinto, o Colégio Paroquial.
[ii]
Profissional que cuida da cordeação ou cordoamento, que é o ato ou efeito de cordear,
de medir por meio de corda; medição, delimitação. No Nordeste brasileiro,
significa ato de alinhar edificações. Por volta de 1880, o cordeador era o Sr.
Jerônymo Alves Barreto. Fonte: Almanak da Província de Alagoas.
[iii]
Que vem ou se herdou dos avós ou dos antepassados.
[iv]
Refere-se à rua que parte da Av. Bráulio Cavalcante no sentido do Alto Humaitá.
Até pouco tempo conhecida como “Beco de seu Isauro”, antigamente chamado “Beco
do Leôncio”.
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