segunda-feira, setembro 1

PERSONALIDADES PÃO-DE-AÇUCARENSES - JOVINO DA LUZ

 

Por Etevaldo Amorim

 

Nas cerimônias cívicas, ao final dos desfiles escolares, era comum se ouvir dos oradores, para enaltecer as suas qualidades culturais, que Pão de Açúcar é “a terra de Bráulio Cavalcante, Moreno Brandão e Jovino da Luz”...

Apesar de não ser natural de Pão de Açúcar, embora muitos assim o considerem, a inclusão de Jovino no rol das personalidades pão-de-açucarenses se justifica pela sua presença, desde muito jovem, em nossa terra. O filho de seu Justino Pereira da Luz e de dona Alexandrina Eulália da Conceição (naturais de Garanhuns-PE), nasceu em Olhos D’Água do Accioly[i] (atual cidade de Igaci), à época um povoado do município de Palmeira dos Índios, Estado de Alagoas, no dia 28 de junho de 1855.


Pão de Açúcar em 1888. Foto: Adolpho Lindemann.

Eram seus irmãos: Gracindo Pereira da Luz, Maria Joaquina da Luz, Severiano Pereira da Luz, Horêncio Pereira da Luz (que foi prefeito de Pão de Açúcar de 07/01/1895 a 07/01/1897) e Justino Pereira da Luz Filho. Este último, consorciou-se com Maria Amélia Sampaio, e tiveram, entre outros filhos, Manoel Sampaio Luz, conhecido por Juca Sampaio (casado com Heloisa Natália Leite da Costa), que são os pais de Geraldo Sampaio, José Sampaio, Gileno Sampaio... conhecidos políticos e empresários, sobretudo no ramo das comunicações.

Jovino fez o curso primário em Pão de Açúcar e Humanidades no Colégio Sete de Setembro na Bahia, dirigido pelo ilustrado professor Luiz da França Pinto de Carvalho.

Destinando-se à vida sacerdotal, seguiu para a Itália, em 1875, partindo do Recife, a bordo do vapor Rio-Grande.[ii] Em Roma, frequentou o Colégio Pio Latino Americano.[iii]Por essa época, o Colégio funcionava nas instalações de San Andrés no  Quirinal, antigo noviço da Companhia de Jesus, para onde havia mudado em 13 de maio de 1867, quando era Reitor o Pe. Francesco Vannutelli, e quando a instituição passou a ser chamada oficialmente de “Colégio Pio Latino Americano”.

Era seu intuito matricular-se no Curso de Teologia. Descobrindo-se sem vocação para a carreira eclesiástica, formou-se em filosofia pelo Colégio Gregoriano, em 1879, sendo sua tese aprovada com distinção. De fato, seu nome consta de uma lista publicada no jornal O Apóstolo-RJ, de 22 de julho de 1877, das pessoas que estiveram em peregrinação a Roma, por ocasião do quinquagésimo aniversário da sagração episcopal do papa Pio IX.

Segundo Aldemar de Mendonça, em Monografia de Pão de Açúcar, esse fato influiu sobremaneira na vida de Jovino da Luz. Voltando ao Brasil, não mais contou com a proteção de seu velho pai, que desgostoso, por não ter ele abraçado a carreira eclesiástica, negou-lhe qualquer auxílio.

Em difícil situação, Jovino da Luz, que sentia vocação para o magistério, seguiu para  o Recife, onde pretendia matricular-se na Escola de Direito. Para sua subsistência, dedicou-se ao ensino particular.

Efetivamente, seu nome consta de uma lista de estudantes inscritos para exames de línguas na Faculdade de Direito do Recife. (Diário de Pernambuco, 11 de novembro de 1879). Para tanto, havia estudado no Colégio Dois de Dezembro, no Recife, logrando constar na lista publicada no dia 20 de dezembro do mesmo ano, no mesmo jornal: Jovino foi aprovado em Inglês, SIMPLESMENTE; em Língua Portuguesa e em Francês, PLENAMENTE;  e em Latim, COM DISTINÇÃO.

Em 1881, em Penedo, atuou na defesa do réu José Cypriano de Souza, por ter dado uma facada em Maria Clara da Conceição, conhecida por Hilária. O réu foi condenado a 5 anos e 3 meses, mais multa. (Jornal do Penedo, 14 de janeiro de 1881) Por essa época, entre 1881 e 1884, lecionou Português e Filosofia no Colégio Parthenon Sergipense, em Aracaju, dirigido pelo Dr. Ascendino Ângelo dos Reis.[iv]

Voltando de Pernambuco, após a morte de seu pai, ocorrida em 1º de março de 1885, em Piaçabuçu, estabeleceu nesta em Pão de Açúcar o “Externato Coração de Jesus”, educandário que ali prestou grandes e reais serviços.

Em 1885, casou-se Jovino da Luz com a Exma. Sra. Aristeia de Carvalho Luz. Aristéia era filha do Cap. Baldomero Pereira de Carvalho Gama e Maria do Carmo Souza Castro.

Retirando-se de Pão de Açúcar, seguiu para São Miguel dos Campos, onde fundou, em 1886, o Colégio João de Deus, que teve curta existência.[v]

Ainda em São Miguel, foi vice-Presidente da Sociedade Filarmônica Miguelense, fundada em 2 de maio de 1886. Em 1891, já estava como professor de uma das Cadeiras (do sexo masculino) em Traipu.

 

NA POLÍTICA

Sua passagem pela política foi rápida. Foi, contudo, distinguido pelos seus concidadãos com sua eleição, em 1º de novembro de 1894, para Deputado Estadual, prestando a promessa legal, conforme ata da sessão preparatória, no dia 19 de abril de 1895.

Procedendo-se a eleição da Mesa Efetiva, foi o deputado Jovino Pereira da Luz, eleito 2º Secretário, aos oito dias de maio do mesmo ano. Era membro das Comissões: Constituição, Leis e Poderes – Instrução Pública. Nos anais da Câmara, constam várias proposições e pareceres de autoria do Deputado Jovino Pereira da Luz. Apresentou e foram transformados em Lei, os projetos números 32, 51 e 64. O projeto nº 32, de 19 de junho de 1895, eleva à categoria de cidade a vila de Anadia. O Projeto nº 51, de 9 de julho de 1895 autoriza o Governador do Estado a estabelecer por acordo com o Governo de Pernambuco, os verdadeiros limites entre este e aquele Estado. O Projeto nº 64, de 13 de julho de 1895, autoriza despesas com a construção de açudes no município de Pão de Açúcar.

Entrando par ao magistério deste Estado, o Deputado Jovino da Luz, encaminhou á Câmara ofício comunicando a perda de seu mandato, visto como assumira o exercício do cargo de professor público, ofício lido na sessão de 8 de junho de 1896.

Por Decreto do governador do Estado, Barão de Traipu, de 25 de janeiro de 1896, foi nomeado professor da Cadeira de Instrução Primária de Pão de Açúcar.[vi]

Em 1899 era Diretor do Externato Hilário Ribeiro[vii], em Pão de Açúcar. Segundo anúncio no jornal O Puritano, de Aracaju-SE, ensinava Primeiras Letras, Português, Francês, Latim, Geografia e Música. Sua esposa, dona Aristéia, ensinava também Primeiras Letras e Prendas Domésticas.


Anúncio do Externato Hilário Ribeiro em Pão de Açúcar. Jornal O Puritano, Vila Nova-SE, 2 outubro de 1899.


Em 1906, residia em Maceió, na Rua Clarêncio Jucá, nº 19 (antiga Rua do Lyceo), onde funcionava o seu Curso de Preparatórios, com aulas de Português, Francês, Latim, Italiano, Geografia, Desenho e Aritmética.[viii] Já no ano de 1907, muda sua residência para a Rua do Livramento, nº 52.

Em 23 de agosto daquele ano, o jornal Gutemberg anuncia as suas despedidas como colaborador devido a sua transferência para a cidade do Penedo.

Faleceu no dia 21 de abril de 1908, na casa de número 82 da Rua Joaquim Nabuco, na cidade de Penedo, aos 52 anos.

Deixou um livro de poesias denominado Pétalas Descoradas (ou Tentativas Poéticas), em que revela altanada inspiração e se mostra pouco conhecedor da técnica do verso. Publicado, provavelmente em 1888, esteve à venda no BAZAR JOSÉ ALFEDO, situado na Rua Boa Vista, esquina com Livramento, conforme anúncio no jornal maceioense A ORDEM, de 15 de novembro de 1888.

Pouco depois da sua morte, o jornal “O Alagoano”, de Penedo, publicou uma ligeira biografia do ilustre pão-de-açucarense, elaborado pelo escritor Theofanes Brandão. Ei-la:

 

“Conhecemo-lo em plena mocidade. Era um belo tipo de brasileiro genuíno: Tez bronzeada, cabelos negros e corredios, estatura mais que mediana. Dos seus olhos desprendiam-se fluidos estranhos, magnéticos. Em poucos instantes Jovino da Luz empolgava uma multidão. Sua palestra tinha encanto irresistível. A mocidade em Florência era servida por uma inteligência culta; sua longa permanência no velho mundo, aprimorara-lhe de tal sorte a educação que tornara-lhe de tal sorte a educação que tornara-lhe um perfeito cavalheiro. Estava na alvorada da vida, nessa quadra risonha feliz, em que o homem domina sempre, subjuga quando quer. Muitas vezes nossa alma de adolescente sentiu-se presa, escravizada, pela eloquência admirável desse homem desventurado, sonhador admirável, que teve a desdita de ver todos os santos ideais que lhe turbilhonavam na mente, sempre encandecida, desfeitos pela tempestade que lhe amarguraram a existência. Dos seus lábios as palavras desprendiam-se com a impetuosidade de catadupas com a harmonia de uma orquestra de harpas invisíveis, tangidas por seres celestiais; as estrelas roubavam o brilho de suas orações que pareciam talhadas, á maneira dessas criações sublimes que o gênio grego transmitiu aos nossos dias, como requinte de todas as belezas.

 

Poeta, - seus versos eram de uma melodia doce, encantadora, se bem que, muitas vezes, sacrificasse de boa vontade e conscientemente, os preceitos da arte e beleza de um pensamento, o que não era pra admirar, pois Jovino da Luz era insubmisso arrojado. Tinha horror a tudo que era convencional. Amava o belo surpreendido em plena nudez, sem os atavios de formas de convenção. Demais, o que é a arte? Causa ou Efeito? Cremos que a arte mais não é do que o resultante de criações sublimes, sem submeter o artista a certos e determinados conceitos; é o mesmo que limitar-lhe o campo de ação; equivale a corta-lhe  os vôos da água. Mestre, - era o encanto de seus discípulos que ouviam suas sábias lições com relevo semelhante do crente, quando embriagado pelo incenso, adormido pelas melodias plangentes do órgão, deixa-se embalar, como se fora vitima de um sonho, pelas preces que salmodiam os levitas do Senhor e que se perdem na vasta nave das catedrais. E Jovino mais não era do que um levita dessa religião sublime, incomensurável, donde a verdade emana em jorros de luz – a Instrução.

 

Dr. Jovino deu á publicidade, em data que não podemos apurar, um volume de poesias “Pétalas Descoradas” um trabalho que mereceu benévola crítica dos mestres. Além do volume a que aludimos, tinha ele, em elaboração “Ardentias”, versos e um trabalho sobre ensino cívico. Aí fica em ligeiras notas, os principais fatos da vida do inesquecível alagoano, cuja morte a família, os amigos o Alagoas sinceramente prateiam. Hoje, que se completa um mês que desapareceu dentre os vivos, o querido mestre, genuflexo, ante seu túmulo, espargimos as flores da nossa imorredoura saudade. – Penedo, 28 de maio de 1908. – Theofanes Brandão.

 

Moreno Brandão, em correspondência de Maceió, especial para o Diário de Pernambuco (11 de março de 1930),tratando do processo de ensino denominado “Método João de Deus”, do qual Jovino da Luz era grande defensor e propagador, escreveu:

“A PROPÓSITO DE JOÃO DE DEUS

Devendo-se comemorar a 8 do fluente o primeiro centenário de nascimento do poeta português João de Deus, não é descabido apreciar qual o influxo que ele teve em nossos lares.

É verdade que a sua atuação indireta nas terras alagoanas não se exerceu por intermédio de suas poesias.

Poeta místico, a quem se devem composições repassadas da mais doce e elevada unção religiosa, poeta lírico, em cuja pena parecia sempre bailar um beijo prestes a ser endereçado à mulher que ele decantava de modo suavíssimo, poeta-filósofo a quem se devem tão sugestivas máximas de alta moralidade, poeta satírico, de quem tivemos quadros de um cômico irresistível, o autor de Campo de Flores também pode ser chamado o poeta das escolas.

Nessa ele penetrou com o seu excelente método de leitura de que é deliciosa iniciação a Cartilha Maternal e complemento indispensável o livro denominado Dever dos Filhos, tão brilhantemente traduzido por João de Deus.

O método de leitura inventado pelo notável português que nasceu na região ainda hoje povoada pela sobra imprtal do Infante D. Henrique, foi largamente praticado em Alagoas, nas cidades de Pão de Açúcar, Traipu e São Miguel dos Campos.

Incumbiu-se de divulgar o aludido método outro poeta, cujo renome ficou circunspecto à terra onde ele mais largamente exercitou a sua atividade.

O propagador das doutrinas de João de Deus em nosso Estado chamava-se Jovino Pereira da Luz. Tinha ele nascido em Olhos D’Água do Accioly, donde seus pais, senhores de recursos medíocres, se trasladaram para Pão de Açúcar.

Depois de frequentar escolas primárias naquela cidade ribeirinha do São Francisco, Jovino da Luz foi estudar o curso preparatório na Capital da Bahia, matriculando-se no Colégio Sete de Setembro.

Mais tarde partiu para Roma com o fito de seguir a carreira eclesiástica, internando-se no Colégio Pio Latino Americano e fazendo estudos completos de filosofia no Colégio Gregoriano.

Mal tinha ele obtido a láurea de doutor em filosofia, desistiu do intento de se ordenar, regressando ao seu Estado natal e fundando em Pão de Açúcar o Externato do Coração de Jesus.

Foi aí que o Dr. Jovino da Luz pôs em prática os luminosos e aceitáveis preceitos didascálicos inventados por João de Deus, conseguindo à custa de trabalhos verdadeiramente exaustivos, fazer com que qualquer um de seus discentes lesse convenientemente após vinte e cinco lições.

Apesar de ter prestado tão relevantes serviços ao seu Estado, industriando mais de uma geração no conhecimento completo das primeiras letras, o Dr. Jovino da Luz teve penoso destino.

Não se pode, entretanto, lançar culpa de seus inêxitos senão sobre ele mesmo, que encontrou sempre amigos e correligionários dispostos a explorá-lo.

Além de professor, o Dr. Jovino da Luz escreveu o inspirado livro de versos - PÉTALAS DESCORADAS. Também ocupou por duas vezes a cadeira de Deputado Estadual.

Faleceu em penosas circunstâncias, deixando prole muito numerosa.”

____

NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo. Tratamento de imagem: Vívia Amorim.

 



[i] Segundo Moreno Brandão, Diário de Pernambuco, 11 de março de 1930.

[ii] Diário de Pernambuco, 11 de setembro de 1875.

[iii] No ano de 1825, o padre jesuíta mexicano José Ildefonso Peña foi o primeiro a manifestar o desejo de fundar em Roma um seminário ou colégio para a educação do clero latino-americano, lamentavelmente não alcançando o seu objetivo. Uma segunda intenção de fundar se deu em 1853, quando o padre mexicano José Villaredo, da Congregação do Oratório, desenvolveu um projeto, que logo foi concluído. Esta ideia foi apresentada ao Monsenhor José Ignacio Víctor Eyzaguirre, chileno, que a recebeu com grande entusiasmo e, em pouco tempo, apresentou o projeto de fundação de um seminário-colégio em Roma para jovens latino-americanos ao falecido Pontífice do Sumô, Pio IX. O Papa Pio IX apoiou-o decisivamente, ordenando ao Cardeal Giacomo Antonelli, Secretário de Estado, que redigisse um documento de recomendação aos observadores do continente. O documento foi elaborado em 22 de janeiro de 1856. O nascimento do Colégio foi fruto do entusiasmo e do empenho de Eyzaguirre e do Papa Pio IX.(Fonte: https://piolatino.org/el-collegio/resena-historica/

[iv] Ascendino Ângelo dos Reis nasceu em 20 de abril de 1852, em Divina Pastora-SE. Filho de João Francisco dos Reis e dona Rosa Florinda do Amor Divino. Echo Sergipano, 13 de fevereiro de 1881. 

[v] Gutembert, Maceió-AL, 16 de janeiro de 1886.

[vi] Gutemberg, Maceió-AL, 12 de fevereiro de 1896.

[vii] Hilário Ribeiro de Andrade e Silva foi um educador e escritor brasileiro. Filho do professor José Ribeiro de Andrade e Silva e de Emília Gonçalves de Mesquita Ribeiro. Nasceu em Porto Alegre no dia 1 de janeiro de 1847 e faleceu a 1 de outubro de 1886, no Rio de Janeiro.

[viii] Gutemberg, Maceió-AL, 10 de abril de 1906.

Um comentário:

  1. Apesar de não ser natural de nossa terra, como muitos outros que ali escreveram seus nomes, a exemplo de Aquylles Balbino de Lelis Melo, Seraphim Soares Pinto, Manoel Francisco Pereira, dentre outros dentre outros o personagem Jovino Pereira trouxe mais Luz ao nosso rincão e merece todo o nosso louvor e respeito. Parabéns, Jovino

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia