terça-feira, outubro 14

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PERSONALIDADES PÃO-DE-AÇUCARENSES – MONSENHOR LANDIM

 

Por Etevaldo Amorim

O Monsenhor Landim. Foto: acervo de Aldemar de Mendonça



JOSÉ ALVES FERREIRA LANDIM é, pode-se dizer, um pão-de-açucarense acidental. Nasceu na pequena cidade alagoana situada à margem esquerda do rio São Francisco, em 3 de maio de 1887, onde seu pai exercia o cargo de Promotor Público.


O Dr. Vicente de Leirins Ferreira Landim, pernambucano, que ingressou na Faculdade de Direito do Recife em 1881, colando grau em 5 de novembro de 1885, fora nomeado para o Termo de Pão de Açúcar, para ali viajando no dia 28 daquele mesmo mês e ano.[i] Em 1886, casou-se com a srta. Maria Bernardina Alves Cavalcante, continuando em Pão de Açúcar. Entretanto, ali pouco se demora, posto que, em dezembro de 1888, já estava na Comarca de Anadia-AL.[ii] Faleceu em Natal-RN em 14 de julho de 1935.


Eram seus avós paternos José Eduardo de Souza Landim e Joaquina das Mercês Ferreira Landim e, maternos, Maria Joaquina Cavalcanti e Manoel Alves de Souza Cavalcanti.


Pão de Açúcar à época do nascimento de Mons. Landim. Foto: Adolpho Lindemann, 1888.


Acompanhando seu pai nas constantes mudanças de comarca, pelos Estados do Amazonas, Pará, Ceará e Alagoas, finalmente fixou residência em Pau d’Alho (PE). Foi ali que despertou no pequeno José a vocação para os caminhos religiosos.[iii]


Sua carreira eclesiástica começou aos 13 anos, ingressando no Seminário de Olinda em 5 de fevereiro de 1900, onde fez os cursos secundário e superior (filosofia, direito canônico e teologia), recebendo a tonsura clerical (19 de novembro de1905)[iv], as ordens menores (1907), subdiaconato (1908), diaconato e presbiterato (1909).


Como diácono, pregou no Tríduo Solene pela Schola Cantorum, nas comemorações da Assunção de Nossa Senhora, no curso teológico do Seminário Episcopal, no dia 15 de agosto de 1909.[v]


A sua promoção de diácono a presbítero se deu no dia 21 de novembro de 1909, em solenidade realizada na Matriz de Santo Antônio, presidida por Dom Luiz Raimundo da Silva Brito, Arcebispo de Olinda e Recife entre 1901 e 1915. Ele governou a arquidiocese antes da incorporação oficial da sede de Recife como sede metropolitana em 1918.[vi]


Iniciou o serviço eclesiástico como Coadjutor da Freguesia de Brejo de Deus (1910), em seguida foi Capelão em Recife (1911), Vigário de Amaragi (no interior) e Coadjutor da Matriz de Boa Vista (1912 1915); Secretário do Bispado, Diretor do Colégio Diocesano e do jornal “Alto Sertão”, na cidade de Floresta (1916)[vii], no mesmo ano assumindo o vicariato em Triunfo e a direção do ginásio local. Ali também dirigiu o semanário Folha do Sertão, que se publicava em Triunfo, pertencente à Diocese de Floresta.[viii]


Em 1919, era Secretário do Bispado de Pesqueira-PE[ix]. Foi nesse ano que o Papa Bento XV concede-lhe o título de Monsenhor Camareiro. No ano seguinte, era diretor do Grêmio Arcoverde, de Pesqueira, que publicava um jornalzinho de nome O Grêmio.[x] Ali também foi diretor do jornal Era Nova, fundado por Dom José Ferreira Lopes.[xi]


Vai para a Diocese de Nazaré da Mata (1921), como Vigário da Freguesia de Queimadas, dali se transferindo para a Diocese de Natal, onde chegou em 31 de agosto de 1923, em companhia de Dom José Pereira Alves. No ano seguinte, seus pais foram morar com ele.


Seu apostolado nesta cidade inicia-se como Capelão do Colégio Santo Antônio, seguindo-se a mesma função no Colégio Imaculada Conceição (1924) e Vigário da Paróquia de Nossa Senhora da Apresentação (1925).


Quatro anos depois, o Papa Pio XI confere-lhe a honraria de Monsenhor Prelado Doméstico. É constituído Visitador Diocesano (1931), no decurso da administração do Bispo D. Marcolino Dantas (V. “DANTAS, Dom Marcolino Esmeraldo de Souza”, Século XIX). Mons. Landim lecionou no Seminário de São Pedro, no Atheneu Norte-rio-grandense e em outras escolas locais. Vigário em Estância-PE (1951), retornou dois anos depois e reassumiu as funções de Capelão do Colégio Imaculada Conceição, simultaneamente tornando-se consultor diocesano.


Foi ele, ainda, o primeiro Vigário da Paróquia do Tirol. Durante o papado de João XXIII, tornou-se Monsenhor Protonotário Apostólico.


Foi ainda fundador da Academia Potiguar de Letras, cujo ato se realizou no Externato São Luiz, situado na Rua José de Alencar, em Natal, no dia 2 de setembro de 1956, tendo sido seu presidente por mais de oito anos. Tomou posse da Cadeira nº 4, patrocinada pelo Cônego Pedro Paulino, no dia 25 de abril de 1957.[xii]


Foi membro da Academia Alagoana de Letras; do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte; do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e da Associação de Imprensa de Pernambuco[xiii].


Deixou diversas obras como “Flores do Campo”, “Trilos”, “Perene Arrebol”, “Meus Quatro Lustros de Levita e Sacerdote”, “Biografia do Padre João Maria”, “Lei de Caim”, “Sob a poeira dos caminhos”, “Minha Família”, “Aspectos Baianos”, “Padre Landim e Padre João Maria”. Por vezes utilizava-se do pseudônimo de “Lúcio”.


É autor do Hino Diocesano do Centenário (Diocese de Nazaré da Mata-PE), cantado pela primeira vez em 7 de setembro de 1922, com música do professor Eustórgio Wanderley.[xiv] De sua autoria é, também, o hino à padroeira do Recife, Nossa Senhora do Carmo, com música do religioso carmelita Frei Carmelo Codinach.[xv]


Em 1922, foi candidato a membro da Academia Brasileira de Letras, na vaga de Dom Silvério Pimenta, bispo de Mariana.[xvi] Foi eleito o escritor cearense Gustavo Barroso, que usava o pseudônimo de “João do Norte”, com 23 votos. Em segundo lugar ficou o historiador Rocha Pombo. Em terceiro lugar, Mário de Lima, 2 votos. O Padre José Landim obteve o voto do pernambucano Marechal Dantas Barreto, ocupante à época da Cadeira 27.[xvii] Outro concorrente, Otto Prazeres, não recebeu votos.


No dia 4 de março de 1923, no Recife, esteve presente na cerimônia de sagração episcopal de Dom José Pereira Alves, bispo de Natal, ao lado do também monsenhor e pão-de-açucarense José de Freitas Machado (Mons. Freitas).[xviii]


O Padre José Landim jovem.


Foi também redator de A ORDEM, jornal religioso da Arquidiocese de Natal. Escreveu diversos artigos no Diário de Pernambuco, Jornal Pequeno e Jornal do Recife.


Sob os cuidados médicos do Dr. Helen Costa, faleceu em Natal, na Casa de Saúde São Lucas, às 17:30 h do dia 9 de julho de 1968.


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É Patrono da Cadeira nª 48 da Academia de Letras de Pão de Açúcar – ALEPA, fundada em 24 de março de 2018, ocupada pelo acadêmico Yvan Silva Fialho.


NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.

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Fonte: Gladisson Roberto Barbosa de Fontes e Silva. AMARAGI – DO BARONADO AO ANO 2000. Disponível em: http://amaraji-dobaronatoaoano2000.blogspot.com/2013/03/>.



[i] Jornal do Recife, 29 de novembro de 1885.

[ii] Cidade do Rio-RJ, 29 de dezembro de 1888.flo

[iii] Diário de Natal-RN, 10 de julho de 1968.

[iv] A Província, 17 de novembro de 1905.

[v] Jornal Pequeno, Recife, 11 de agosto de 1909.

[vi] Diário de Pernambuco, 9 de novembro de 1909.

[vii] O Semeador, Maceió-AL, 5 de dezembro de 1916.

[viii] Jornal do Recife, 20 de agosto de 1918.

[ix] Jornal Pequeno, 7 de maio de 1919.

[x] Jornal do Recife, 18 de novembro de 1920.

[xi] Revista Maria, Ano VIII, nº 8, agosto de 1920.

[xii] O Poty, 2 de setembro de 1956.

[xiii] Jornal Pequeno, 9 de outubro de 1951.

[xiv] Jornal Pequeno, 19 de setembro de 1922.

[xv] Jornal do Recife, 12 de setembro de 1919.

[xvi] Jornal Pequeno, 2 de novembro de 1922.

[xvii] O Paiz, RJ, 9 de março de 1923.

[xviii] Jornal Pequeno, 5 de março de 1922.

quarta-feira, outubro 8

ASPECTO URBANÍSTICO DA CIDADE

 

Por Etevaldo Amorim


Av. Bráulio Cavalcante, Pão de Açúcar-AL. Foto: João Lisboa, 1939.


Pão de Açúcar apresenta, grosso modo, um aspecto urbanístico agradável, com uma avenida central extensa e ampla, da qual derivam outras perpendiculares.


Dom Pedro II, quando da visita à cachoeira de Paulo Afonso, em 1859, deixou registrado em seu diário:


Há uma bela rua direita longa e muito larga, e outra perpendicular também direita, porém menos longa e larga.


Por certo se referia à então chamada “Rua do Meio”, atual Bráulio Cavalcante. Quanto à outra, provavelmente seja o “Beco da Igreja”, que já se chamou Rua Augusta, atual Padre José Soares Pinto.


Entretanto, observada sob um ponto de vista mais restrito, a cidade teve, ao longo da história, que corrigir alguns erros no traçado de algumas vias.


Gervásio Francisco dos Santos, em seu UM LUGAR NO PASSADO, menciona essa deficiência na estrutura urbana da cidade. Diz ele:


“Cada proprietário, por uma questão de embelezamento de sua residência, construía o passeio a seu modo. Assim, havia falta de uniformidade nas calçadas; umas eram mais salientes para o meio-fio, outras mais altas. A calçada da Matriz, além de alta, atingia quase o meio da Av. Bráulio Cavalcante (Rua do Meio).”


As ruas perpendiculares à Avenida Bráulio Cavalcante são demasiadamente estreitas, como as do lado Sul: Rua João Antônio dos Santos (agora transformada em Calçadão) e as que lhe sucedem no sentido Oeste.


Do mesmo modo, as do lado Norte: Rua Dr. Luiz Machado (esquina da Prefeitura), Rua Cel. Manoel Antônio Machado e Rua Vereador Antônio Machado Guimarães (antiga rua Duque de Caxias). Desta, há registro de uma intervenção do Poder Público, na primeira Gestão do Prefeito Augusto Machado, no sentido de alargá-la, conforme afirma Lauro Marques em reportagem publicada no Diário de Pernambuco de16 de setembro de 1934.


Rua Duque de Caxias antes da intervenção. 

Rua Duque de Caxias depois do alargamento.



Outra intervenção de grande valia foi realizada na Administração do prefeito Antônio Gomes Pascoal, quando foram desapropriadas algumas casas (na verdade casebres, feitos de taipa), abrindo espaço para se chegar à rua Odilon Pires de Carvalho (antiga Rua da Mangueira), atravessando a Rua Odilon Moraes (antiga Boa Vista, e que também se chamou Rua do Lírio).


Abertura para acesso da Praça Darcy Gomes para a Rua Odilon Pires Guimarães.


A preocupação com o aspecto urbanístico da cidade é bastante antiga, conforme esse artigo do professor Hypólito de Souza[i], intitulada RETROSPÉCTO, publicada no jornal A Ideia, Pão de Açúcar-AL, 12 de março de 1911.

 

“A nossa terra já possui um povo conceituado, justo e cuidadoso.


A arborização das nossas ruas com uma iniciativa particular nos dará a resposta do amor do povo a nossa terra, nos dirá que outrora o nosso povo era um amigo decidido do progresso e da civilização.


O que de benefício não nos trarão estas alamedas, em um solo tórrido como o nosso, em uma cidade onde o ar está viciado pelas imundícies, pelo constante respirar de cerca de 5.000 pessoas?


O alinhamento das nossas ruas bem está dizendo do cuidado e o bom gosto de uma população de pobres e desprotegidos da sorte.


A nossa antiga Câmara marcava uma quantia de 2$ que aos donos das casas em construção cumpria pagar a um cordeador[ii] que devia colocar em bom alinhamento todas as casas.


O nosso júri de então bem patenteia aos nossos olhos a probidade e a justiça dos nossos avoengos.[iii]


Hoje, o que vemos?


A arborização de nossas ruas parece que tende a ficar em umas poucas dezenas de árvores, como que patenteando o pouco empenho no saneamento do nosso solo para o que ela muito concorre.


O alinhamento das ruas é feito à vontade do construtor, que às vezes dispõe ruas redondas, triangulares e sinuosas, sem que o município nomeie uma pessoa para coloca-las em boa estética e concorrer para a sua beleza.


Haja a vista a rua onde mora o nosso amigo Leôncio Fonseca[iv], onde de vez em quando uma casa mais ou menos regular vai se edificando.


A Intendência deveria traçar as ruas para boa direção dos edificadores nomear cordeadores como outrora, pois que é uma nomeação que não depende dos cofres públicos.


O Júri... Paremos porque se nos divisa aos olhos a prostituição dessa sublime instituição, que em si encarna a justiça e a perfeição.


Vejamos, então, o que éramos e o que somos.


Ressurja o patriotismo de outrora e com ele ressurgirá a pureza e a probidade dos homens.”


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NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.



[i] João Hypólito de Souza. Nasceu em Pão de Açúcar no dia 16 de setembro de 1886. Filho de Maria da Glória Soares de Souza. Ficou órfão de pai aos 3 anos de idade e ficou ao lado da mãe e seus irmãos: Alfredo, Aurora Carolina, Eduardo, Ismael, Carolina e Esther. Era professor e por muitos anos dirigiu a Escola 16 de Setembro e, juntamente com o Pe. José Soares Pinto, o Colégio Paroquial.

[ii] Profissional que cuida da cordeação ou cordoamento, que é o ato ou efeito de cordear, de medir por meio de corda; medição, delimitação. No Nordeste brasileiro, significa ato de alinhar edificações. Por volta de 1880, o cordeador era o Sr. Jerônymo Alves Barreto. Fonte: Almanak da Província de Alagoas.

[iii] Que vem ou se herdou dos avós ou dos antepassados.

[iv] Refere-se à rua que parte da Av. Bráulio Cavalcante no sentido do Alto Humaitá. Até pouco tempo conhecida como “Beco de seu Isauro”, antigamente chamado “Beco do Leôncio”.

quarta-feira, outubro 1

A FEIRA LIVRE DE PÃO DE AÇÚCAR – BREVE HISTÓRICO

Por Etevaldo Amorim


Dia de feira em Pão de Açúcar-AL. Foto: Terra das Alagoas, Adalberto Marroquim, 1916.


Verdadeiros mercados a céu aberto, as feiras livres são centros de negócios que se caracterizam pela comercialização de produtos frescos e pela interação direta entre produtores e consumidores, além de serem cruciais para a geração de emprego e renda e para o fortalecimento da identidade cultural e sociabilidade local. 


Atraindo consumidores das localidades adjacentes de Alagoas e também do Estado de Sergipe, a nossa feira sempre foi reconhecida com uma das melhores de todo o Baixo São Francisco. Além dos moradores do centro (interior do município), que se deslocavam montados, em carros-de-boi ou em caminhões, os ribeirinhos para ali acorriam viajando em canoas e lanchas.


Nas manhãs de segunda-feira, logo cedo, às 5 horas, a lancha partia do Limoeiro, dando porto em Jacarezinho e Santiago com destino a Pão de Açúcar. Faziam essa linha as lanchas Tupy ou Tupigy, da Empresa Fluvial Tupan (com sede em Neópolis-SE), que desciam lá pelas 11 horas. Nos últimos anos da década de 1980, foram substituídas por outras.


Variadíssima era a oferta de produtos, encontrando-se gêneros alimentícios e até tecidos e calçados. Lá pelos anos 1960/70, ainda se podia comprar: candeeiros, placas, lampiões, esteira de piripiri, panelas e outros utensílios de barro feitos no Limoeiro, na Caiçara e na Ilha de São Pedro; cestos, caçuás, urupemas, chapéus de palha, abanador de palha...


Não faltavam também as cordas de caroá, feitas no povoado Mocambo (Porto da Folha-SE), fartamente utilizadas nos arreios dos panos de canoa, tendo os mais variados empregos nas atividades do campo.


Do Limoeiro vinhas as famosas mangas, produzidas na ilha situada entre este e o povoado Jacarezinho.


Da praia (regiões próximas ao mar, como Propriá e Penedo) chegavam o coco e a cerâmica de barro do Carrapicho (atual Santana do São Francisco-SE): moringas e quartinhas, cabaças, potes, jarros, alguidares; além de objetos de brinquedo: bois, cavalos..., que entretinham a garotada. Também traziam malcasada, pé-de-moleque (ou pé-de-nego) e outras guloseimas.


Feira de Pão de Açúcar, década de 1970, vendo-se o conhecidíssimo comerciante José Ivanildo dos Santos (Nidinho das Quartinhas).


Gervásio Francisco dos Santos, conterrâneo que publicou, em 1976, o livro UM LUGAR NO PASSADO, relembra os aspectos da feira lá pelos anos 1930. Diz ele que a mesma se limitava ao trecho da Av. Bráulio Cavalcante situado entre a Igreja Matriz e a Prefeitura. No extremo do lado da igreja, extavam expostos à venda: animais  (boi, carneiro, bode, porco, cavalo, burro e jumento); aves (peru, galinha, pato, ganso, papagaio e periquito); frutas nativas (araçá-mirim, Ouricuri e umbu), jenipapo, pinha, mamão, limão e caju, verduras e legumes (alface, maxixe, quiabo, açafrão, couve, segurelha, pimenta, pimentão, tomate, hortelã, coentro, cebola verde e berinjela), tapioca, beiju, ovos, farinha de mandioca, carne de boi de sol (seca), animais nativos (cágado, sagui e gato selvagem).


No trecho intermediário, fronteiro ao açougue público (atualmente Câmara de Vereadores), havia outra seção da feira, onde eram comercializados: tamancos, sandálias, utensílios domésticos de flandres (fabricados e vendidos por Manoel Cincinato, João Cincinato e “siá” Filomena), açúcar, laticínios (queijo, requeijão e manteiga), corda de caroá, fumo-de-rolo, cangalha, carne seca de animais nativos (veado, anta, caititu, tamanduá, paca, camaleão, capivara e mocó), chocalhos, arreios para cavalo, rede, alforge, cartucheira, gibão, sela, quinquilharia, comercializada pelos senhores Clarismundo de Campos – Zé Gago, Nestor Brandão (Nestor de Morena Brandão) e Antônio Ramos de Aquino.


No quadro situado defronte a Prefeitura, estava a seção de venda de cereais (feijão, milho e arroz), frutas (manga, laranja, melancia, abacaxi, pitomba, banana, jaca, coco, abóbora, cana-de-açúcar, covo, bolsa de palha, cesto, rapadura, fogos, peixe (seco e fresco), sal de cozinha, utensílios e objetos...


Nesta seção também havia pequenas barracas, cobertas com esteira de piripiri, onde se vendia peixe frito com arroz, café com pão, alfenim[i], puxa-puxa, broa, coruja, quebra-queixo, cuscuz de milho e de arroz.


Não sabemos quando, exatamente, surgiu a feira livre de Pão de Açúcar. O que podemos dizer é que sobre ela encontramos referências ao longo do ano de 1875, em jornais do Penedo, dando a entender que já existia em data muito mais remota.


O que é certo é que se deu, a exemplo de todas aquelas existentes nas localidades do Baixo São Francisco, a partir de determinado estágio de seu desenvolvimento. O crescimento populacional, a produção agrícola, o artesanato, a localização geográfica eram fatores determinantes para o aparecimento desses pequenos centros comerciais, para onde afluíam os moradores das redondezas em certo dia da semana.


Aliás, a fixação de um dia da semana para o funcionamento da feira respeitava sempre a distância entre as localidades ao longo do curso do rio, de modo a que não se fizesse concorrência umas às outras e que fosse permitido aos comerciantes “darem feira” em diferentes locais.


Assim, a feira de Propriá-SE era no sábado; a de São Brás, na sexta-feira; a de Belo Monte, aos domingos; a de Pão de Açúcar, às segundas-feiras.


Quisera poder saber a data precisa da fundação da feira de Pão de Açúcar, como temos a de Belo Monte. Um anúncio datado de 20 de junho de 1877, publicado no Jornal do Penedo de 6 de julho de 1877, informa o dia exato em que se fez a primeira:


“UMA NOVA FEIRA. Sendo marcado e já anunciado por todo o centro desta povoação o dia 15 de julho vindouro, pelos negociantes e proprietários da mesma povoação para a reunião da primeira feira que será em o dia domingo; o abaixo-assinado vem por meio da imprensa ainda mais asseverar ao público para completa ciência. Lagoa Funda, 20 de junho de 1877. UM APOLOGISTA”

Anúncio da primeira feira de Belo Monte, publicado no Jornal do Penedo, 6 de julho de 1877.


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Contrariar esse princípio foi sempre motivo de grandes contendas. Os comerciantes de São Brás, por exemplo, insurgiram-se contra um artigo do Código de Posturas de Porto Real do Colégio, que tencionava transferir para as segundas-feiras o dia da feira, há alguns anos funcionando às sextas-feiras. Alegavam que seriam prejudicados com a medida, conforme expõem em carta aberta ao Presidente da Província (Dr. Passos de Miranda), datada de 25 de julho de 1877 e publicada no Jornal do Penedo, edição de 3 de agosto de 1877:


Nas margens do rio de São Francisco, têm feira as cidades do Penedo, Propriá e Pão de Açúcar, e as povoações de São Brás e Piranhas; todas elas em dias determinados e expostos em ordem que não coincidem com as mais contíguas, nem perturbam mutuamente os seus interesses; mas, ao contrário, estabelece essa ordem a precisa comodidade e conveniência geral aos negócios de seus concorrentes.


Todas essas localidades, por sua vez, escolheram para suas feiras o dia em que, sem detrimento de seus interesses nem interrupção de seus labores, pudessem os povos trazerem para elas as suas mercadorias, e ali abastecerem-se dos gêneros de que hão mister.


Coube, nesta distribuição, à povoação de São Brás, o dia de sexta-feira, o único que pode satisfazer às conveniências aludidas, que são a bale elementar do edifício do progresso. Transferida para qualquer outro dia, cairá a feira em um dia inconveniente, ou coincidirá com a de outros lugares: duma e doutra forma, subsistir é um impossível absoluto.”


E, por fim, concluem:


Para estes lugares, porém, em que não se tem firmado um comércio estritamente sólido, erigido sobre elementos vitais, é a feira o material fabril desses mesmos elementos, a essencialidade do desenvolvimento social, uma necessidade palpitante.”

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De uma carta datada de 20 de janeiro de 1875, do correspondente de Porto Real do Colégio, que se assina por “O observador”, publicada no Jornal do Penedo (13/02/1875), ficamos sabendo que a feira daquela localidade fora criada há cerca de um ano antes, mencionando também que se criava uma feira em Igreja Nova, no dia 2 de janeiro de 1875, um sábado.


A certa altura, o correspondente faz menção à feira de Pão de Açúcar:


Sem dúvida é esta localidade uma das que, na margem do São Francisco, nos limites desta Província, depois de Pão de Açúcar, melhor futuro promete; porquanto tem um excelente porto e muitos povoados circunvizinhos, com que entrelaça relações, não tendo sido até hoje elevada à categoria de vila, como tanto merece.”

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Quando Piranhas ainda pertencia a Pão de Açúcar, a sua feira foi suspensa, como podemos ver em nota publicada no jornal O Paulo Affonso, de Pão de Açúcar, datado de 16 de fevereiro de 1879:


“FEIRA. Com a notícia de haver bexigas em Piranhas[ii], muitos sertanejos e canoeiros deixaram de frequentar aquele porto, dirigindo-se semanalmente para a povoação de Entre Montes, onde formaram uma feira bem concorrida, na qual dispõe-se, nos dias de quarta-feira, grande quantidade de gêneros alimentícios.”


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Em Pão de Açúcar, no segundo dia da semana, tudo girava em torno da feira. Inteiramente ocupadas com as atividades de compra e venda, as pessoas voltavam suas atenções para a necessidade de abastecer suas dispensas com os gêneros de que precisavam. Tanto que nem as escolas funcionavam, mantendo suas aulas nos dias de sábado.


Há alguns anos, havendo outras opções de compra em supermercados e mercadinhos, essa situação se alterou, passando a ser a segunda-feira um dia útil, com aulas e tudo o mais.


O local da feita também mudou, deixando de ser na Avenida Bráulio Cavalcante, estendendo-se para a Praça do Centenário e adjacências.

 

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Um trabalho do historiador pão-de-açucarense Francisco Henrique Moreno Brandão, intitulado “ALAGOAS EM 1922 – ESTUDO HISTÓRICO, ECONÔMICO, POLÍTICO, LITERÁRIO, ARTÍSTICO E SOCIAL, PELO PROF.  MORENO BRANDÃO, publicado no Diário de Pernambuco, em 17 de setembro de 1922, nos informa os dias de feira de muitas localidades, dos mais diferentes municípios. Diz ele:


“No Estado funcionam nos dias que abaixo se mencionam as seguintes feiras:


Segunda-feira: Pão de Açúcar, Arapiraca, Sertãozinho[iii], São Miguel[iv].


Terça-feira: Piranhas.

Quarta-feira: Viçosa, Santana do Ipanema, (Camuxinga[v]), Vitória[vi] (1ª), Alagoas[vii], Palmeira de Fora[viii] (Palmeira dos Índios).


Sexta-feira: Penedo, Colégio[ix].


Sábado: Viçosa, Paulo Afonso[x], Santana do Ipanema (Quadro[xi]), Atalaia, Palmeira dos Índios, Vitória (2ª)[xii], Anadia, Canabrava[xiii], Coruripe, União[xiv], Porto Calvo, Camaragibe[xv], Junqueiro, Maragogi, São Luiz do Quitunde, Jacaré (Pão de Açúcar)[xvi], Rio Largo.


Domingo: Paraíba[xvii], Água Branca, Poço das Trincheiras, Cajueiro, Várzea do Pico[xviii], Anel[xix], Pindoba, Cacimbinhas, Pedra[xx], Limoeiro de Anadia, Murici, São José da Laje, Curralinho[xxi], Tanque D’Arca, Branquinha, Barra do Canhoto[xxii], Mar Vermelho, Lourenço de Albuquerque[xxiii], Mundaú-Mirim[xxiv], Flexeiras, Sapucaia[xxv], Belo Monte, Leopoldina[xxvi], Jundiá, Riachão do Cipó[xxvii], Arrasto[xxviii], Chã Preta, Capim[xxix], Camaçari, Boca  da  Mata.”

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NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.



[i] Massa de açúcar muito branca e consistente

[ii] Piranhas ainda pertencia ao território de Pão de Açúcar.

[iii] Atual Major Isidoro

[iv] Atual São Miguel dos Campos

[v] Bairro de Santana do Ipanema

[vi] Atual Quebrangulo

[vii] Atual Marechal Deodoro

[viii] Bairro de Palmeira dos Índios

[ix] Atual Porto Real do Colégio

[x] Atual Mata Grande

[xi] Quadro: refere-se à praça central

[xii] Refere-se a outra feira em Quebrangulo

[xiii] Atual Taquarana

[xiv] Atual União dos Palmares

[xv] Atual Matriz de Camaragibe

[xvi] Atual Jacaré dos Homens

[xvii] Atual Capela

[xviii] No município de Água Branca

[xix] Povoado de Viçosa

[xx] Atual Delmiro Gouveia

[xxi] Atual Messias

[xxii] No município de União dos Palmares

[xxiii] No município de Rio Largo

[xxiv] Atual Santana do Mundaú

[xxv] No município de Atalaia

[xxvi] Atual Colônia Leopoldina

[xxvii] No então município de Paraíba, atual Capela

[xxviii] No município de Paraíba, atual Capela

[xxix] Atual Olivença 

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

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Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


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PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

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Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia