terça-feira, outubro 14

PERSONALIDADES PÃO-DE-AÇUCARENSES – MONSENHOR LANDIM

 

Por Etevaldo Amorim

O Monsenhor Landim. Foto: acervo de Aldemar de Mendonça



JOSÉ ALVES FERREIRA LANDIM é, pode-se dizer, um pão-de-açucarense acidental. Nasceu na pequena cidade alagoana situada à margem esquerda do rio São Francisco, em 3 de maio de 1887, onde seu pai exercia o cargo de Promotor Público.


O Dr. Vicente de Leirins Ferreira Landim, pernambucano, que ingressou na Faculdade de Direito do Recife em 1881, colando grau em 5 de novembro de 1885, fora nomeado para o Termo de Pão de Açúcar, para ali viajando no dia 28 daquele mesmo mês e ano.[i] Em 1886, casou-se com a srta. Maria Bernardina Alves Cavalcante, continuando em Pão de Açúcar. Entretanto, ali pouco se demora, posto que, em dezembro de 1888, já estava na Comarca de Anadia-AL.[ii] Faleceu em Natal-RN em 14 de julho de 1935.


Eram seus avós paternos José Eduardo de Souza Landim e Joaquina das Mercês Ferreira Landim e, maternos, Maria Joaquina Cavalcanti e Manoel Alves de Souza Cavalcanti.


Pão de Açúcar à época do nascimento de Mons. Landim. Foto: Adolpho Lindemann, 1888.


Acompanhando seu pai nas constantes mudanças de comarca, pelos Estados do Amazonas, Pará, Ceará e Alagoas, finalmente fixou residência em Pau d’Alho (PE). Foi ali que despertou no pequeno José a vocação para os caminhos religiosos.[iii]


Sua carreira eclesiástica começou aos 13 anos, ingressando no Seminário de Olinda em 5 de fevereiro de 1900, onde fez os cursos secundário e superior (filosofia, direito canônico e teologia), recebendo a tonsura clerical (19 de novembro de1905)[iv], as ordens menores (1907), subdiaconato (1908), diaconato e presbiterato (1909).


Como diácono, pregou no Tríduo Solene pela Schola Cantorum, nas comemorações da Assunção de Nossa Senhora, no curso teológico do Seminário Episcopal, no dia 15 de agosto de 1909.[v]


A sua promoção de diácono a presbítero se deu no dia 21 de novembro de 1909, em solenidade realizada na Matriz de Santo Antônio, presidida por Dom Luiz Raimundo da Silva Brito, Arcebispo de Olinda e Recife entre 1901 e 1915. Ele governou a arquidiocese antes da incorporação oficial da sede de Recife como sede metropolitana em 1918.[vi]


Iniciou o serviço eclesiástico como Coadjutor da Freguesia de Brejo de Deus (1910), em seguida foi Capelão em Recife (1911), Vigário de Amaragi (no interior) e Coadjutor da Matriz de Boa Vista (1912 1915); Secretário do Bispado, Diretor do Colégio Diocesano e do jornal “Alto Sertão”, na cidade de Floresta (1916)[vii], no mesmo ano assumindo o vicariato em Triunfo e a direção do ginásio local. Ali também dirigiu o semanário Folha do Sertão, que se publicava em Triunfo, pertencente à Diocese de Floresta.[viii]


Em 1919, era Secretário do Bispado de Pesqueira-PE[ix]. Foi nesse ano que o Papa Bento XV concede-lhe o título de Monsenhor Camareiro. No ano seguinte, era diretor do Grêmio Arcoverde, de Pesqueira, que publicava um jornalzinho de nome O Grêmio.[x] Ali também foi diretor do jornal Era Nova, fundado por Dom José Ferreira Lopes.[xi]


Vai para a Diocese de Nazaré da Mata (1921), como Vigário da Freguesia de Queimadas, dali se transferindo para a Diocese de Natal, onde chegou em 31 de agosto de 1923, em companhia de Dom José Pereira Alves. No ano seguinte, seus pais foram morar com ele.


Seu apostolado nesta cidade inicia-se como Capelão do Colégio Santo Antônio, seguindo-se a mesma função no Colégio Imaculada Conceição (1924) e Vigário da Paróquia de Nossa Senhora da Apresentação (1925).


Quatro anos depois, o Papa Pio XI confere-lhe a honraria de Monsenhor Prelado Doméstico. É constituído Visitador Diocesano (1931), no decurso da administração do Bispo D. Marcolino Dantas (V. “DANTAS, Dom Marcolino Esmeraldo de Souza”, Século XIX). Mons. Landim lecionou no Seminário de São Pedro, no Atheneu Norte-rio-grandense e em outras escolas locais. Vigário em Estância-PE (1951), retornou dois anos depois e reassumiu as funções de Capelão do Colégio Imaculada Conceição, simultaneamente tornando-se consultor diocesano.


Foi ele, ainda, o primeiro Vigário da Paróquia do Tirol. Durante o papado de João XXIII, tornou-se Monsenhor Protonotário Apostólico.


Foi ainda fundador da Academia Potiguar de Letras, cujo ato se realizou no Externato São Luiz, situado na Rua José de Alencar, em Natal, no dia 2 de setembro de 1956, tendo sido seu presidente por mais de oito anos. Tomou posse da Cadeira nº 4, patrocinada pelo Cônego Pedro Paulino, no dia 25 de abril de 1957.[xii]


Foi membro da Academia Alagoana de Letras; do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte; do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e da Associação de Imprensa de Pernambuco[xiii].


Deixou diversas obras como “Flores do Campo”, “Trilos”, “Perene Arrebol”, “Meus Quatro Lustros de Levita e Sacerdote”, “Biografia do Padre João Maria”, “Lei de Caim”, “Sob a poeira dos caminhos”, “Minha Família”, “Aspectos Baianos”, “Padre Landim e Padre João Maria”. Por vezes utilizava-se do pseudônimo de “Lúcio”.


É autor do Hino Diocesano do Centenário (Diocese de Nazaré da Mata-PE), cantado pela primeira vez em 7 de setembro de 1922, com música do professor Eustórgio Wanderley.[xiv] De sua autoria é, também, o hino à padroeira do Recife, Nossa Senhora do Carmo, com música do religioso carmelita Frei Carmelo Codinach.[xv]


Em 1922, foi candidato a membro da Academia Brasileira de Letras, na vaga de Dom Silvério Pimenta, bispo de Mariana.[xvi] Foi eleito o escritor cearense Gustavo Barroso, que usava o pseudônimo de “João do Norte”, com 23 votos. Em segundo lugar ficou o historiador Rocha Pombo. Em terceiro lugar, Mário de Lima, 2 votos. O Padre José Landim obteve o voto do pernambucano Marechal Dantas Barreto, ocupante à época da Cadeira 27.[xvii] Outro concorrente, Otto Prazeres, não recebeu votos.


No dia 4 de março de 1923, no Recife, esteve presente na cerimônia de sagração episcopal de Dom José Pereira Alves, bispo de Natal, ao lado do também monsenhor e pão-de-açucarense José de Freitas Machado (Mons. Freitas).[xviii]


O Padre José Landim jovem.


Foi também redator de A ORDEM, jornal religioso da Arquidiocese de Natal. Escreveu diversos artigos no Diário de Pernambuco, Jornal Pequeno e Jornal do Recife.


Sob os cuidados médicos do Dr. Helen Costa, faleceu em Natal, na Casa de Saúde São Lucas, às 17:30 h do dia 9 de julho de 1968.


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É Patrono da Cadeira nª 48 da Academia de Letras de Pão de Açúcar – ALEPA, fundada em 24 de março de 2018, ocupada pelo acadêmico Yvan Silva Fialho.


NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.

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Fonte: Gladisson Roberto Barbosa de Fontes e Silva. AMARAGI – DO BARONADO AO ANO 2000. Disponível em: http://amaraji-dobaronatoaoano2000.blogspot.com/2013/03/>.



[i] Jornal do Recife, 29 de novembro de 1885.

[ii] Cidade do Rio-RJ, 29 de dezembro de 1888.flo

[iii] Diário de Natal-RN, 10 de julho de 1968.

[iv] A Província, 17 de novembro de 1905.

[v] Jornal Pequeno, Recife, 11 de agosto de 1909.

[vi] Diário de Pernambuco, 9 de novembro de 1909.

[vii] O Semeador, Maceió-AL, 5 de dezembro de 1916.

[viii] Jornal do Recife, 20 de agosto de 1918.

[ix] Jornal Pequeno, 7 de maio de 1919.

[x] Jornal do Recife, 18 de novembro de 1920.

[xi] Revista Maria, Ano VIII, nº 8, agosto de 1920.

[xii] O Poty, 2 de setembro de 1956.

[xiii] Jornal Pequeno, 9 de outubro de 1951.

[xiv] Jornal Pequeno, 19 de setembro de 1922.

[xv] Jornal do Recife, 12 de setembro de 1919.

[xvi] Jornal Pequeno, 2 de novembro de 1922.

[xvii] O Paiz, RJ, 9 de março de 1923.

[xviii] Jornal Pequeno, 5 de março de 1922.

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia