domingo, 13 de janeiro de 2019

ARAÚJO BIVAR


Por Etevaldo Amorim

MANOEL ALVES D’ARAÚJO BIVAR era filho de Américo Alves d’Araújo Bivar e Ritta Martins (Rita Leopoldina de Bivar). Nasceu no dia 15 de novembro de 1885 e foi batizado em 11 de julho de 1886, na Catedral de Maceió.[i]
O poeta Araújo Bivar
Não foi fácil identificar os seus dados biográficos, em virtude do aparecimento de mais de um “Manoel Bivar”. Mas, ele próprio o distingue dos outros quando, em protesto publicado no jornal Evolucionista, contra O Malho, pelo fato de aquela revista ter ridicularizado um poema supostamente de sua autoria, esclarece que havia em Maceió mais duas pessoas com nome semelhante: Manoel Souto Bivar (telegrafista), Manoel Costa Bivar (jornalista e deputado), e ele, Manoel d’Araújo Bivar.
Fez seus cursos de Preparatórios em Maceió, onde ainda residia em 1907, compondo a Diretoria da Sociedade Caritativa Mortuária Auxiliadora dos Cristãos. Participou ainda da Sociedade Literária Dias Cabral e da Escola Literária Cyridião Durval, do Lyceu Alagoano, bem como da Sociedade Literária Aristeu de Andrade.
Com vinte e seis anos, já residindo no Rio de Janeiro, casou-se, a 20 de julho de 1912, com a Srtª Maria Jacome de Araújo Maia (filha de Antônio Jácome de Araújo e Joanna Jácome de Araújo), viúva de Álvaro Maia e irmã do poeta Gonçalo Jacome (este funcionário dos Correios).
Em 1913, participava do Club Waldemar, atuando em saraus e recitando Remembrança, conto romano em verso[ii] e, por volta de 1920, participava dos eventos do programa “Brasil Falado”, promovido pelo Club Endiabrados de Ramos.[iii] Em 1921, publica o livro de poemas Exomologese. Foi Secretário da Revista A Crítica e colaborou para o hebdomadário Ilustração Moderna.
Em 1922, ele, que era praticante de condutor de trem, foi efetivado na Estrada de Ferro Central do Brasil.[iv]
Em 1923, compôs, com Jayme de Vasconcellos, a valsa Retraída, interpretada pelo seu colega de Central do Brasil, Noé Abalo.[v] Nesse mesmo ano, em 28 de novembro, proferiu Conferência na Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, discorrendo sobre o tema “A música, a dança e a poesia”.[vi]
A 4 de outubro de 1924, profere Conferência, na Associação Cristã Feminina, sob o tema “Música, Dança e Poesia”.
Araújo Bivar, em Conferência na Associação Cristã Feminina.
A mesma revista, na edição de 6 de dezembro daquele ano, publica uma caricatura sua, feita por um dos mais reconhecidos  desenhistas da imprensa brasileira: o seu amigo ÁLVARUS, como o próprio Álvaro Cotrin (Rio de Janeiro: 1904-1985) o define em sua dedicatória.
Araújo Bivar em caricatura de "ÀLVARUS". Ilustração Moderna.
Acometido por doença cardíaca, Araújo Bivar faleceu a 5 de julho de 1925, às 20:35 h, na residência do seu médico e amigo Dr. Emygdio de Barros, na Rua Dias da Cruz, nº 229, no Rio de Janeiro. Foi sepultado às 17:00 h, no Cemitério de Inhaúma.[vii]

Noticiando a sua morte, a revista Ilustração Moderna assim o definiu: "Poeta dos mais vibrantes, sentia-se nos seus versos as várias metamorfoses épicas e liricas, vibrava-se; havia um induzível arrebatamento ao lê-lo. Morreu como morrem os artistas: heroicamente humilde."
Em justa homenagem, foi dado o seu nome a uma importante via pública do bairro da Pajuçara, ligando as ruas Dr. Zeferino Rodrigues à Almirante Mascarenhas.


POEMAS

ÚLTIMO SOPRO
(A Olavo Bilac)

Quando a morte quebrou serena o tênue fio
Que te sustinha preso a dúbia luz da vida
Correu por todo o espaço um ríspido arrepio
Como um seco estalar de lira bipartida.

Vibrou na Natureza um surdo murmúrio
De espanto, que se avulta em fúria mal contida
O vento soluçou nostálgico, sombrio,
E a chuva foi do céu a lágrima sentida.

Agora que ascendeste à vida do mistério,
Vae as estrelas ver de perto os claros sóis,
As transfigurações do páramo sidério

Que foram do teu verso os mágicos faróis
No dia em que desceste ao pó de um cemitério
Subiste como um Deus à luz dos arrebóis.

________
28/12/1918. Fon-Fon, Ano XIII, Nº 2. 11/01/1919.


A IMORTALIDADE DA ARTE

Ao culto espírito de “ALVARUS”

A fornalha trepida, o caldeirão fumega
cheio me metal rubro, ardente, derretido,
a oficina faz crer vulcânico brasido
onde o vapor sufoca e desnorteia e cega.

Um operário vem, vermelho da refrega,
solta da cremalheira o grande tacho erguido
e empurra-o na carreta e o bronze refundido
nos tacelos de gesso aos poucos descarrega.

Alguns minutos mais e a forma despedaça
E a figura aparece em plena majestade,
Semideusa da forma, da beleza e graça.

Morre o Artista, mas toda a sua humanidade
fica naquela estátua erguida numa praça,
onde vai ver passar o tempo, a eternidade.
____________
Extraído da revista Ilustração Moderna, RJ, 12 de agosto de 1924.

MALDADE DIVINA

Dentro da seda fina e leve de  um vestido,
de vidrilhos, e gases e rendas enfeitado,
adivinho o mais branco e o mais aprimorado
corpo grego de deusa em mármore esculpido.

Por um poder oculto eu me sinto impelido
a cair aos seus pés de ninfa, ajoelhado,
Prometheu da volúpia eu fico acorrentado
ao meu próprio desejo, atônito, adormecido.

Deus me fez um grande mal: abriu as portas do ouro
da morada divina, as célicas alturas
e espalhou pelo mundo o mágico tesouro.

De mulheres da moda, as deusas, das loucuras,
que em vez de estarem lá, no céu, no excelso coro,
andam soltas aqui, tentando as criaturas.

­______________
Transcrito da revista Ilustração Brasileira, 30/09/1924.
________

Sugestão para o registro de referência:
AMORIM, Etevaldo Alves. ARAÚJO BIVAR. Maceió, janeiro de 2010. Disponível em: http://www.blogdoetevaldo.blogspot.com.br/. Acesso em: dia, mês e ano.



[ii] O Paiz, 4 de janeiro de 1913.
[iii] A Ração, 23 de março de 1920.
[iv] A Noite, RJ, 31 de outubro de 1922.
[v] O Jornal, 13 de fevereiro de 1923.
[vi] O Jornal, 27 de novembro de 1923.
[vii] A Noite, RJ, 6 de julho de 1925.

Um comentário:

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia