sexta-feira, abril 11
POETAS PÃO-DE-AÇUCARENSES: BEM-GUM
PÃO
DE AÇÚCAR
Bem-Gum[i]
Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.
D’um balcão de janela eu velo o seu dormir.
Nas tuas ermas ruas, somente o pó existe,
O pó que o vendaval deixou no chão cair.
Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste
Ao teu profundo sono num divino sorrir.
Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,
Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.
Assim, amortecida, tu guardas teus mistérios.
Teus jardins se parecem com vastos cemitérios,
Por onde as brisas passam em brando sussurrar.
Aqui e ali tu tens um alto campanário,
Que dá maior relevo ao pálido cenário
Do teu calmo dormir em noite de luar.
____
CIDADE
Bem Gum
Cidade, colmeia humana, aonde o luxo e o prazer
Têm lugar de desdém para a miséria e a fome.
Aonde, ao relento, dorme o pária sem pão, sem nome,
E o nababo indolente tem sereno adormecer.
Cidade, centro onde a honra caminha pra fenecer,
Dominada pelo vício, que aos poucos lhe carcome,
Cidade, onde o proletário, na fábrica, se consome,
Para mais o argentário subir e enriquecer.
Cidade, ruas festivas, igrejas e lupanares,
Pináculos de arranha-céus dispersos, cruzando os ares,
E casebres, moradias do pequeno, do ninguém.
Cidade, luz, vaidade, encantamento, alegria,
Amor, desprezo, miséria, ingratidão, nostalgia,
Cidade, berço do riso e da lágrima também.
[i] Ben-Gum, pseudônimo de José Mendes Guimarães – “Zequinha Guimarães”. Poeta, vereador, comerciante.
Nasceu em Pão de Açúcar,
em 25 de setembro de 1899. Filho de João Mendes Guimarães e Maria Cândida de
Andrade Freitas, tinha como avós paternos: José Mendes Guimarães e Joanna Maria
de Jesus e, maternos: o Cap. Miguel de Freitas Machado e Cândida Delfina de
Andrade.
Ficando órfão de mãe aos sete anos, seu pai o levou para morar em Sergipe, tendo ali permanecido até os 10 ou 11 anos, voltando então à sua cidade natal para a companhia dos avós maternos, ali permanecendo até 1917. Trabalhou como caixeiro na loja de tecidos de um tio materno. Nesse período, passou um ano (provavelmente 1912), estudando no Colégio Salesiano, no Recife.
Voltando para Pão de Açúcar, passa a trabalhar na mesma loja de tecidos, que seria adquirida algum tempo depois (1924 ou 1925), em sociedade com outro empregado da casa.
Em 1927, já agora único proprietário da loja, trabalhava também no Cartório de Registro Civil.
Desistindo de suas funções no cartório, voltou-se para o trabalho rural em sua modesta propriedade e para o pequeno estabelecimento comercial. Ali mesmo residia, no pavimento superior.
Mais tarde, volta a viver, agora por quatro anos, no Recife. Finalmente, regressa em 1921 a Pão de Açúcar, onde iria residir e ser comerciante. Vereador no final da década de 1940 e início da década de 1950.
Foi casado com Rosa Pires de Carvalho, com quem teve os filhos Maria, Paulo, Miriam e Péricles. Faleceu em Pão de Açúcar, no dia 21 de
fevereiro de 1968.
É Patrono da cadeira nº
22 da ALEPA – ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DE PÃO DE AÇÚCAR. Tem sonetos
publicados da p. 11 a 36 do livro Pão de Açúcar. Cem Anos de Poesia. Coletânea,
Maceió: Ecos Gráfica e Editora, 1999.
sábado, abril 5
LIMOEIRO – UM POUCO MAIS DE HISTÓRIA
Por Etevaldo
Amorim
Depois do nosso artigo
LIMOEIRO – UMA PEQUENA HISTÓRIA, publicado neste Blog há mais de dez anos, em 30
de março de 2015, conseguimos reunir mais algumas informações, de modo a ampliar
o nosso conhecimento sobre aquela importante localidade, situada à margem
esquerda do Rio São Francisco, no município de Pão de Açúcar, Alagoas.
A história de Limoeiro pode
estar associada a sua capela, marca da formação católica dos seus fundadores,
no último quartel do Século XVIII. Não por acaso ara chamado “Capela de Frei
Valença” (provavelmente em referência ao religioso que a construiu), segundo
informa Antônio Xavier de Assis, em seu precioso Esboço Histórico e Geográfico
do Baixo São Francisco.[i]
Feita sob invocação de
Jesus, Maria e José, a casa de orações teve iniciada a sua construção em 1782,
vindo a ser concluída em 1787, conforme anotação existente na madeira do coro
da igreja.[ii] Segundo Vieira de
Carvalho, teria sido construída pelos avós do pardo Manoel de Jesus Barbosa, tendo
João Carlos de Mello lhe constituído um patrimônio de seis vacas e uma légua de
terras.
O templo, originalmente
sem torres, passou a ter uma, não sabemos quando. Anos depois, ganhou a segunda
torre, do lado direito, cuja construção se fez por iniciativa e esforços do
Padre Fernando Vieira[iii], natural daquela vila.
Diz, ainda, Vieira de
Carvalho em 1854:
“A povoação do Limoeiro é
situada sobre um terreno quase férreo. Contará 30 casas (se tantas), mas
estende-se muito sobre por diversas
moradas interiores. Tem sua capela de invocação de Jesus, Maria e José e todo
esse outeiro é uma mina dessa pedra esverdeada.”
“A povoação é fartíssima
em criação de aves e os ovos vendem-se de 3 a 4 por 20 réis. A várzea e lagoa
do Araticum é o lugar deste rio onde tenho visto mais caça. Creio que é aí o
viveiro d’onde saem todos os voláteis que povoam ambas as margens. Os patos,
garças marrecões, diferentes gaivotas, marrecas, grajaus, paturis, etc, voam de
fazer rumor e anuviam o ar! O grajá tem o bico de tartaruga.”
“Continuam pela povoação
do Limoeiro os lugares Tapera – nome tirado do seu riacho, Jacarezinho, São
Tiago, com sua lagoa...”
Curiosa essa última
citação, pois não há, entre o Limoeiro e o Jacarezinho, lugar algum com a
denominação de “Tapera”; tampouco riacho. O que há, segundo o nosso
conhecimento e de pessoas que ali têm propriedades, é o riacho dos Tapuios, nas
imediações da fazenda Santa Maria.
O engenheiro Halfeld, autor
do “Atlas e relatório concernente a exploração do rio S. Francisco: desde a
cachoeira da Pirapora até ao Oceano Atlântico”, elaborado entre 1851 e 1854, também
menciona e registra no mapa essa localidade “Tapera”, como se pode ver na
figura abaixo.
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Detalhe do Mapa de Halfeld. |
Nota-se, junto à “Tapera”,
a representação de um riacho. E a ilha era denominada “do Jacarezinho”, sendo a mais próxima do Limoeiro chamada simplesmente “Ilha de Areia”. Mais
abaixo, o morro do Morim (que Halfeld chama de Merim ou Muniz), seguindo-se o
Cajueiro, a Restinga e, finalmente, a Lagoa Funda (atual Belo Monte).
Segundo o IBGE, em divisão administrativa referente ao ano de 1911, Limoeiro já constituía um dos distritos do município, destacando-se do da Sede. E pela Lei Provincial nº 973, de 8 de junho de 1886, foi constituído em Distrito Judiciário, sendo instalado em 1º de janeiro de 1887.
Um evento significativo
na sua história foi a visita do Imperador D. Pedro II que, quando da sua viagem
à Cachoeira de Paulo Afonso. No dia 23 de outubro de 1859 ele anotou no seu
diário:
“Às 11 ½, defronte do
Limoeiro, tendo andado de Pão de Açúcar 3 léguas em rio. Toda a digressão gasta
10 minutos. Tem 50 casas, uma capela menos má e um oratório; é juizado de paz e
não há ai nenhuma autoridade policial, mas um fiscal; pertence à freguesia de
Pão de Açúcar.”
Nota-se que a passagem
por Limoeiro se deu quando do retorno do Imperador da visita às cachoeiras. A
capela é a mesma de hoje, ainda desprovida das torres. Quanto ao oratório, a
que se refere S. M., não se tem notícia. A menos que se referisse à igrejinha
do morro do Morim.
Dez anos depois outra
autoridade, desta feita o Presidente da Província José Bento da Cunha
Figueiredo Junior, também em viagem à Cachoeira, por lá passou com enorme
comitiva. Um integrante, o Sr. Abílio Coutinho, nos deixou a mais antiga imagem
da nossa Vila, em tomada feita no dia 6 de janeiro de 1869.
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Limoeiro, 1869, vendo-se a pequena capela. Foto: Abílio Coutinho. |
Para não ser confundido
com outro Limoeiro (o de Anadia), era comumente identificado por “Limoeiro de
Pão de Açúcar”. Mas, para dissipar qualquer possibilidade de confusão,
revolveram mudar o nome. Tanto que, pelo Decreto Estadual nº 2.526, de 10 de
julho de 1939, passa a ter a nova denominação de Alecrim, segundo Aldemar de
Mendonça. Já segundo o IBGE, pelo Decreto Estadual nº 2.435, de 30 de novembro
de 1938.
Só em 1994, pela Lei
Municipal Nº 083, de 18 de abril, por iniciativa do Vereador Antônio Goes
(natural de Limoeiro), o Distrito de Alecrim voltou a denominar-se Limoeiro.
Em 3 de maio de 1886, na
Assembleia Legislativa Provincial de Alagoas, entra em discussão o Projeto de
Lei nº 1, de autoria do Deputado Aprígio Gonçalves de Andrade, que visava
suprimir o Distrito de Paz de Entre-Montes e restaurava o de Limoeiro.
Pela Lei Provincial nº
973, de 8 de junho de 1886, foi criado o distrito judiciário de Limoeiro, sendo
instalado em 1º de janeiro de 1887.
No tempo em que o
comércio se fazia pelo rio, Limoeiro servia de porto para localidades mais
afastadas, a que os nativos denominavam “Centro”, em contraposição àquelas situadas á beira do rio. Era o caso
de Jacaré, Guaribas (atual Monteirópolis) e Retiro (atual Palestina).
Mercadorias eram transportadas em carros-de-boi. Por ali saiam algodão em rama
e também lã, produzida pela fábrica de seu Mário Vieira, localizada ao lado sul
da igreja. Os restos dessa usina, conhecida como “vapor”, ainda podiam ser
vistos nos idos da década de 1960/70, onde a meninada se divertia em animadas brincadeiras.
Limoeiro também ostentava
uma feira livre. Na verdade, era um galpão localizado no cruzamento das ruas
Bráulio Cavalcante (Rua de Baixo) e Mário Vieira, defronte o casarão dos
Amorim, onde é hoje o Clube. Seus alicerces ainda podiam ser vistos até o ano
de 1966, quando o prefeito Ronalço dos Anjos tomou a providência de aparar os
bicos de pedras, propiciando melhor tráfego de pessoas e carros-de-boi.
No dia 18 de fevereiro de
1951, durante a gestão do governador Arnon de Mello, foi inaugurado o prédio da
Escola Rural da Vila Alecrim, depois denominada Escola Isolada de Alecrim.
Essa Escola foi reformada,
em 1964, quando o governador do Estado era o Major Luis (Luis de Souza
Cavalcante). Possuía apenas uma sala de aula e uma residência para a
professora, tendo no meio um espaço para recreio. Após a reforma, uma segunda
sala de aula ocupou o lugar o espaço para recreio, e este foi construído em
anexo. Essa área de recreio tinha outras utilidades, desde simpes reuniões até
bailes com os melhores sanfoneiros da época.
Cada sala tinha uma porta
e três ou quatro janelas venezianas; piso de cimento queimado e teto de telhado
aparente, com telhas do tipo francesa.
A escola recebeu
mobiliário novo. Um “quadro-negro”, que na verdade era verde, ocupava quase
toda a parede anterior da sala. Possuía uma borda inferior que aparava o pó do
giz utilizado. Sobre ela se repousava um estojo com os bastões de giz, cuja
tampa corrediça, provida de uma flanela, servia de apagador.
Na parece posterior
(fundo), duas estantes baixas, com postas corrediças, constituía uma pequena
biblioteca, onde se encontravam obras da literatura infantil: “Aladim e a
Lâmpada Maravilhosa”, “Ali-Babá e os 40 ladrões”, “Simbá, o Marujo”...
Os recursos para a
reforma vieram de um convênio co MEC – Ministério da Educação e Cultura com a
USAID - United States Agency for International Development (Agência dos Estados
Unidos para o Desenvolvimento Internacional).
Durante a gestão do
Prefeito Antônio de Freitas Machado (17.06.1953 a 07.07.1953), foi concluída a construção
da rodovia Retiro (hoje Palestina) a Limoeiro.
Em 23 de fevereiro de
1953, foi criada a Agência dos Correios[iv], funcionando inicialmente
num prédio de portas arqueadas, esquina das ruas Bráulio Cavalcante e Mário
Vieira, onde outrora funcionara uma loja de tecidos do Sr. Alberto Soares
Vieira[v].
O seu primeiro Agente foi
José Carlos de França[vi]. Depois veio Virgílio da
Silva Filho, conhecido por Virgilinho[vii], posteriormente removido
para a APT de Delmiro Gouveia. Sucedeu-lhe o funcionário Heraldo de Campos
Lisboa[viii]. Em seguida, assumiu a Agência o Sr. Lindauro
Costa[ix] que, com a colaboração do
seu filho Luis Costa, a fez funcionar com zelo e dedicação. A mala postal era
transportada nas embarcações do rio São Francisco, pelo vapor Comendador
Peixoto ou pela lancha Tupan.
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Heraldo de Campos Lisboa e Romélia Soares da Costa com o filhinho Sidraque Costa Lisboa, em 1944. |
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Virgílio da Silva Filho "Virgilinho". Foto capturada do blog Amigos de Delmiro Gouveia. |
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O Sr. Lindauro Costa. |
Já na década de 1970, com
a instituição do Código de Endereçamento Postal – CEP, a Agência recebe o
código 57405-000. Instalara-se agora num casarão fronteiro à antiga sede, de
propriedade do Município e onde antes funcionava a Casa de Força. Deixando de
ser uma Agência regular da ECT, passou para a administração municipal, na
Gestão do Prefeito Antônio Gomes Pascoal, o “Dr. Pascoal”, e por iniciativa e
esforços do Vereador local Elias Silva Oliveira, o “Elias da Lavanderia”. A
responsável pela Unidade Postal era a servidora Marli dos Anjos.
Em 30 de março de 1958,
foi inaugurado o serviço de Iluminação Elétrica na vila Alecrim. Algum tempo
depois, esse serviço foi extinto. O serviço voltou a funcionar de modo
intermitente, durante a década de 1960. Finalmente, em 1976, chega a iluminação
a energia gerada na hidrelétrica da CHESF.
Em 1958 foi publicada a
2ª edição da obra escrita por Padre Teotônio Ribeiro, Cônego honorário da Sé de
Olinda e doutor em Cânones pela Universidade Gregoriana de Roma, denominada
“Esboço biográfico do Dr. Francisco José Correia de Albuquerque” Presbítero
Secular do Hábito de São Pedro. Era conhecido vulgarmente por Santo Padre
Francisco. Nascido, talvez, em 1757, em Penedo-AL.
Sobre Limoeiro (hoje
Alecrim), onde foram desatendidas umas tantas suas admoestações, depois de
sacudir o pó das alpargatas:
“Fica-te pó, que te não
quero comigo levar nas alpargatas. Por ambição e inveja principiaste e por
inveja e ambição hás de acabar. Quem aqui vier morar, não haverá de medrar”.
Depois de muito esperar, finalmente chega, em 1976, a energia elétrica “de Paulo Afonso’ em Limoeiro. Em seguida, lá por meados da década de 1980, chegou também a água encanada, por iniciativa da Fundação SESP.
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Limoeiro, 1976. Foto: Etevaldo Amorim |
FUTEBOL
A prática do futebol era
frequente entre os limoeirenses e despertava enorme interesse. No decorrer da
década de 1960, até início da década de 1970, Limoeiro formou um time bastante
competitivo. Aliás, além da prática esportiva propriamente dita, o futebol
concorria muito para a integração entre as comunidades. Em geral, havia dois
jogos, com ida e volta. Se as duas contendas resultassem em empate, havia um
terceiro jogo, chamado “negra”, em campo neutro. Assim o timo do Limoeiro jogou
contra agremiações de Jacaré dos Homens, Belo Monte, Capelinha (Major Isidoro),
Lagoa Primeira (Gararu) e Propriá.
Certa vez, tendo-se
contratado um caminhão que levaria o time para um jogo em Jacaré dos Homens, receberam
a notícia de que o carro havia quebrado. Para não faltar ao compromisso, foram
a pé. Apesar da caminhada de cerca de 23 km, conseguiram ganhar o jogo. E
voltaram a pé.
__________________
Bibliografia
AMORIM, E. A. (2004).
TERRA DO SOL, ESPELHO DA LUA. Maceió: ECOS GRÁFICA.
VIEIRA DE CARVALHO, J. R.
(1859). VIAGEM À CACHOEIRA DE PAULO AFONSO. REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO BRASILEIRO, Tomo XXII .
Figura 2 Limoeiro em
1968. Entre as velas da canoa de tolda aparecem os dois prédios que serviram de
sede à Agência dos Correios. Em primeiro plano, fundos do casarão que foi
utilizado a partir de 1970 e, mais acima, o primitivo prédio de portas arqueadas.
Foto: Jim Squires.
Figura 3 Limoeiro, 1981.
A primeira Sede da AP de Alecrim (prédio da esquina, à esquerda) e a segunda,
no casarão ao fundo, próximo ao rio. Fonte: filme Super 8 – Alecrim, povo
marginalizado, de Érico Melo Abreu.
Figura 4 Limoeiro, 1970.
Inauguração da nova sede dos Correios. Hasteando a bandeira o Prefeito Antônio
Gomes Pascoal. A sua direita, a nova funcionária Marli dos Anjos e o Vereador
Elias Silva Oliveira. Foto: acervo da Prefeitura Municipal.
Figura 5 Fala o Prefeito
Antônio Gomes Pascoal, tendo à sua direita a funcionária Marli dos Anjos. O
Vereador Elias Silva Oliveira segura o microfone. Foto: acervo da Prefeitura
Municipal.
Figura 6 Outro flagrante
da solenidade de inauguração. Foto: acervo da Prefeitura Municipal.
Figura 7 Virgílio da
Silva Filho – “Virgilinho”. Foto capturada do blog Amigos de Delmiro Gouveia.
Heraldo de Campos Lisboa
e sua esposa Romélia Soares da Costa Lisboa
com o filho Sidraque
Costa Lisboa_1944. Foto: acervo de Heraldo Lisboa Neto.
Figura 8 O Sr. Lindauro
Costa.
[i]
Esboço Histórico e Geográfico do Baixo São Francisco. Edição póstuma, em
fac-simile, Aracaju-SE, 2020.
[ii]
Informação do Sr. Fernando José dos Santos, “Fernando de Jorde”, filho
Jordelino José dos Santos e Hermelina Carmelita dos Santos, “dona Melina”.
[iii]
Pe. Fernando Soares Vieira. Filho de Pedro Soares Vieira e Maria Custódia
Bezerra Vieira, nasceu em Limoeiro, município de Pão de Açúcar, Alagoas, em 24
de abril de 1905 e faleceu em Delmiro Gouveia em 1º de outubro de 1999. Foi o 9º
Padre da Paróquia de Água Branca, de 1950 a 1951. Ingressou no Seminário em 17
de abril de 1917, recebendo o diaconato em 23 de novembro de 1928. Chegou à
Capela do Rosário, em Delmiro Gouveia, então pertencente à Paróquia de Água
Branca, em 20 de março, onde viveu seu sacerdócio durante 54 anos, vindo a
falecer no dia 01 de Outubro de 1999. Na Vila da Pedra não só foi responsável
pela criação da Paróquia como construiu a Igreja nova, onde foi sepultado como
sempre desejou. Fonte: Site da Igreja de São Critóvão de Delmiro Gouveia.
[iv]
CARDOSO, Aldo de Sá. Contribuição para a história dos Correios de Alagoas,
separata da Revista do IHGAL, v. XXVIII, ano 1968, Maceió.
[v]
Filho de Pedro Soares Vieira e Maria Custódia Bezerra Vieira.
[vi]
Diário Oficial, 21 de fevereiro de 1957, p. 4033.
[vii]
Diário Oficial, 1º de outubro de 1956. Filho de Virgílio da Silva e Maria
Felicidade Silva. Faleceu em Palmeira dos Indios, em 19 de abril de 2016.
[viii]
Diário Oficial, 19 de fevereiro de 1957, p. 3872. Em 1959 já havia falecido,
deixando a viúva a professora Romélia Soares da Costa Lisboa e filhos – Diário
Oficial, 25 de março de 1959, p. 6496. Segundo o limoeirense José Damasceno (Zé
de Alfredo), sua morte se deu por afogamento. Numa de suas viagens de Pão de
Açúcar a Limoeiro, a canoa virou nas proximidades da Fazenda Belém.
[ix]
Lindauro Costa. Filho de Antônio Luiz da Silva (Antônio de Severo) e Maria
Custódia da Silva (dona Caboca), nasceu em Limoeiro em 1915. Casado com
Salvelina Vieira Melo Costa, com quem teve os filhos Luis, Lindalvo e Sinval.
Foi, por muitos anos, responsável pela agência dos Correio em Limoeiro (Alecrim) até 1970, quando a
agência fechou, passando a ser lotado na agência de Belo Monte. Militante
político de esquerda, chegou a ser preso e processado durante o período da
ditadura militar. Faleceu em Maceió no dia 9 de fevereiro de 2003, sendo
sepultado no dia seguinte, na Vila Limoeiro.
sábado, março 29
PERSONALIDADES PÃO-DE-AÇUCARENSES – DR. LUIZ MACHADO
Por Etevaldo Amorim
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O Dr. Luiz Machado |
O Dr. Luiz Machado de Andrade,
médico, produtor rural, Intendente, Deputado Estadual, nasceu em Pão de Açúcar no
dia 18 de setembro de 1879. Filho de Miguel de Freitas Machado e Cândida
Delfina de Andrade. Eram seus avós paternos: José de Freitas Machado e Maria
Pastora de Jesus e, maternos: Ten-Cel José Gonçalves de Andrade e Cândida
Delfina do Coração de Jesus.
Foi
casado com Maria José Machado de Andrade, “Mariinha”, e (filha de Francisco de
Freitas Machado e Maria José Monteiro Machado, que faleceu aos 46 anos de
idade, no Hospital de Doenças Nervoss, no Recife, no dia 26 de março de 1936),
com quem teve os filhos Miguel e Luiz.
Depois de
iniciar seus estudos em Pão de Açúcar, foi para o Recife, em 1895.[i]
No ano seguinte, ele e seu irmão José de Freitas Machado pedem para ser
inscritos no Instituto Benjamim.[ii]
Com efeito, em 16 de outubro de 1897, o Instituto publica Edital no Diário de
Pernambuco avisando que as provas seriam realizaas no dia 18 daquele mês e ano.
O nome de Luiz Machado de Andrade consta para exames de Geometria e
Trigonometria. O de seu irmão José de Freitas Machado, em História Universal.
Em 1898, muda-se
para Salvador, ingressando na primeira série do Curso de Farmácia da Faculdade
de Medicina da Bahia,[iii]
passando depois para o Curso de Medicina.
Colou
grau em 1903, defendendo a tese: ETIO-PATOGENIA DO IMPALUDISMO NO BAIXO SÃO
FRANCISCO.
Na edição
do dia 15 de dezembro de 1903, o jornal Correio do Brasil, órgão Democrata de
propriedade de Freire, Costa & Cia, e administrado por Laureano J. F.
Oliveira, publica um convite para a colação de grau, assinado por oito
doutorandos, entre eles o Dr. Luiz Machado.
“Será
para nós motivo de grande prazer e honra o comparecimento de V. Exª com a Exmª
família à cerimônia solene de colação de grau aos doutorandos de 1903, às 12
horas do dia 15 do corrente mês, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina,
assistindo antes à missa que, em ação de graças, será rezada no Mosteiro de São
Bento, às 10 horas do dia supremencionado.
Esperamos,
confiantes, que V. Exª não se escusará de atende a esta solicitação, o que será
motivo para muito nos penhorar.
Bahia, 5
de dezembro de 1903.
Alípio
Maia Gomes, Alvim Martins Horcades, Alpheu Bicca de Medeiros, Manoel Joaquim
Alves Feitosa, Paulo Bernardes, Delphim Paiva de Lima Junior, Francisco da
Costa Fernandes e Luiz Machado de Andrade.” (Alípio Maia Gomes e Manoel Joaquim
Alves Feitosa eram também alagoanos).”
Neste
ano, em que ingressou no curso de Farmácia o seu irmão José de Freitas Machado,
a Escola se achava em intensa agitação, em virtude de protestos dos estudantes
contra a reforma do ensino, levada a efeito pelo Decreto nº 3.890, de 1º de
janeiro daquele ano (a chamada “Reforma Epitácio Pessoa”) e pelo regulamento
das faculdades de medicina.
Ele,
então, somando-se a muitos dos seus colegas do 6º Ano, assina o manifesto
intitulado “AO PAÍS E À IMPRENSA”, publicado na gazeta O TEMPO, em 17 de junho.
Segunda-feira,
17 de junho – Saiu à luz, através da gazeta O TEMPO, o alentado manifesto da
Corporação Acadêmica de Medicina e de Farmácia da Bahia, dirigido “ao País e à
Imprensa”:
“Quando
levados pela força imperioza das circunstancias e pelos impulsos intimos da
consciencia vimo-nos na dura necessidade de abrir franca divergencia com o sr.
dr. José
Olympio
de Azevedo, director da Faculdade de Medicina e de Pharmacia da Bahia, bem
longe estavamos de presumir que surgissem commentarios tentando desnaturar a
feição verídica dos factos e sopitar a voz suprema da verdade.
No
emtanto, e sem embargo de muitos nos fazerem a devida justiça, houve quem
articulasse contra nós acusações que accarretariam grandes responsabilidades,
si não fossem infundadas, si não tivessem uma base completamente aerea.
Retardamos
o mais possivel a explicação de nossa atitude correcta, serena e defensiva para
não cercear ou aniquilar de todo o conceito apparente de que gosa o sr. dr.
director, mas, dado o primeiro passo e com o desenrolar dos acontecimentos que
tem occorrido nesta capital, para convencermos de modo inconcusso a opinião
publica de que estamos
amparados
pelo direito, organisamos este trabalho que nada mais é do que um conjuncto de
provas irrefragaveis e esmagadoras contra s.s., ao mesmo tempo que uma
justificativa da posição stoica, nobre e digna de applausos da mocidade
academica da Bahia.
Não nos
emprestem intenções que não temos. Não nos arvoramos em tribunal de accusações
desarrazoadas e injustas.
Pugnamos
pela reivindicações dos nossos direitos postergados, luctamos em prol do nosso
futuro que se nos antolha ameaçados.
Vai aqui
a exposição dos factos com a critica fiel e imparcial, por isso que adoptamos a
divisa; Scribitur nom solum ad narrandum, sed ad probandum.
No dia 4
do mez presente os alumnos dos diversos cursos de nossa Faculdade querendo
testemunhar o intraduzível reconhecimento que impunha o brilhante desempenho da
incumbência comettida ao distincto academico Alvim Martins Horcades, de
apresentar ao Congresso Nacional o seu protesto contra a reforma do ensino,
ultimamente decretada, resolveram fazer-lhe, como realmente o fizeram, a
manifestação simples e sincera que o publico apreciou e o colega commovido
recolheu ao coração.
O sr. dr.
director que aliás havia tido conhecimento do facto, mas que é indifferente a
semelhantes expansões, porque não sabe, e nem póde produzil-as, estribado na
autoridade que lhe deu o officialiusmo ultrajou ostensivamente á mocidade,
marcando ponto nas aulas, batendo-lhe brutal e grosseiramente as portas da
secretaria, quando incorporada lhe fora pedir a relevação das faltas. Assim
feriu s.s., quando devia animal-os os seus sentimentos sagrados, justos e
incontestáveis, necessarios e essenciaes.
Dahi a
reacção que surgiu, fructo também de um acervo de injustiças praticadas por
s.s., que de rasão gelada e senso esteril, não soube ou não quis contemporizar,
fazendo côro com as nossas alegrias, pois que seus interesses assim não o
reclamavam.
Nunca se
mencionou uma ação de tamanha gravidade, que ficasse impune e os moços que
fazem jus a essas condescendências, não pela edade e pelos sentimentos, não
podiam, não deviam deixar passar sem correção tão grande injuria atirada
publicamente ás suas faces.
E se
alliarmos ao que fica expendido que s.s é a negação absoluta do typo que
concebemos de um chefe, se advirtimos que é inteiramente destituído de um
coração amorável e de uma alma enthusiasta, que são as raizes moraes, como um
cerebro activo e uma cabeça equilibrada sãos as raízes intellectuaes de um bom
director, teremos sobejamente demonstrado e comprovado a asserção dos nossos
telegramas expedidos aos srs. Presidente da Republica, Ministro do Interior, ao
Congresso Nacional, ao Paiz e á Federação Academica.
Na
verdade, de longa data se vinha formando no espirito da mocidade academica a
convicção, ora radicada e profunda, da incapacidade daquelle que o poder
supremo encarregava de dirigil-a e guial-a.
Naturalmente
bondosa e compassiva, hesitava até então entre o dever que a impellia a
apresental-a aos olhos da Nação, tal qual era, e a conveniencia naturalmente
respeitosa ao poder constituido de não passarem do recinto protector da
Faculdade os seus erros, as suas culpas. Quando, porém, o coração do Sr. Dr.
Director se revelou inacessivel a qualquer magnanimidade a alma da mocidade
vibrou e compreendeu que a generosidade era intempestiva e criminosa para com
aquelle que não sabia dispensal-a.
Então,
venceu a idéa do dever durante tanto tempo sofreado, e a demissão do
funccionario incompetente se impoz como uma necessidade inadiavel e atal D’ahi
os telegrammas e a energia de seus termos, que reverte em um acto, talvez não
muito curial mas sobretudo justificavel attribulados como nos achavamos pelos
desvios de urbanidade e dureza na applicação da lei, rudes demonstrações de
excesso de autoridade.
Chamamol-o
de incompetente e vamos proval-lo. Antes, porém, de fazel-o, pedimos ao Sr. Dr.
Director que lance a vista para o grande numero de assignaturas abaixo afim de
convencer-se de que não somos um pequeno grupo nem tão pouco uns transviados:
representamos, ao contrario, a quase unanimidade da Escola, os ellementos que
constituem a sua existencia, a sua força e a sua gloria.
Os
alumnos Alarico Nunes Pacheco, José Gomes da Maia Monteiro, Climerio Ribeiro
Guimarães, Eunisio Eunapio da Conceição, José Araujo Domingos Carneiro, José
Ignacio da Silva, Antonio José de Farias Costa, Perillo de Assis Benjamin,
Antonio Ramos Carvalho Duarte, João José de Medeiros, João Petronillo Ribeiro e
outros requereram á Directoria da Faculdade matricula no segundo anno do curso
de Pharmacia, visto como tinham as matriculas constitutivas pelo antigo
regulamento do 1º anno medico.
Pagas as respectivas
taxas na Alfandega Federal e satisfeitas as demais exigencias da lei, foram
matriculados sendo seus nomes lançados nos livros de termos que assignaram.
Tempo
depois, quando por diversas vezes haviam elles assistido as aulas e respondido
ás chamadas, foram, com surpresa geral mandados vir á secretaria, onde do Dr.
Director receberam sem despacho os alludidos requerimentos, com observações de
que haviam sido annulladas as suas matriculas!
Ainda
mais: aos alumnos do 5º anno medico com o curso de pharmacia completo, exigido
pelo regulamento em vigor, foi sem contestação conferido o gráo de
pharmaceutico.
Entretanto,
aos estudantes matriculados no mesmo curso, aos quaes faltava somente pharmacia
galenica para competal-o de accordo ainda com o mesmo regulamento, exigio o Dr.
Director não sé exame da alludida materia, como o de therapeutica, privando-os
assim das regalias que a lei lhes conferia e que a propria Directoria concedera
aos alumnos do 5º anno.
A
desorientação do Dr. Director era manifesta, e só uma severa punição a s.s
seria bastante para compensar os prejuízos causados.
Por
occasião da abertura da inscripção para os exames da 2ª epoca que deviam
realisar nesta Faculdade, ao Sr.Dr. Director foi apresentado um requerimento em
que sollicitava
inscripção
para os exames da 1ª serie de odontologia, s.s baseado não sabemos em que
dispositivo do novo código, lançou um indeferido formal naquelle requerimento,
cujo autor não se conformando com essa illegal recusa recorreu para o Exmo. Sr.
Ministro do Interior que sabiamente o attendeu, ordenando áquelle funccionario
que mandasse proceder aos exames requeridos.
Encerrados,
entretanto, como estavam, os trabalhos, da 2ª epoca, nova mesa examinadora,
teve de se organisar, de modo que assistimos, há pouco, o curioso espetaculo de
exames fora das epocas legaes!
Alliem-se
a esta estravagante scena os prejuisos experimentado pelo infeliz estudante,
victima da ignorancia de um Director hesitante, a cuja intelligencia os textos
claros e precisos da lei se afiguram mythos nebulosos, enigmas indecifraveis.
Vejamos
agora como o Sr. Dr. Director torceo os termos da lei em beneficio de pessoas
de suas famílias.
O art. 12
das disposições transitorias do ultimo regulamento das Faculdades de Medicina:
“Aos alumnos de 1900 é garantido o direito de prestarem exames no começo do
corrente anno lectivo, observando-se o processo do regulamento que baixou com o
decreto nº 1482, de 24 de Julho de 1893.
É claro
que o legislador assim estabelecendo procurou respeitar os principios de
equidade, e direitos legitimamente adquiridos.
Não
podia, pois, esse despositivo aproveitar, estender os seus beneficos effeitos
áquelles que não se tivessem matriculados naquella ou em data anterior. O Sr.
Dr. Director, porem, que toda vez que seus interesses entram em jogo,
interpreta a lei a seu modo, não conhecendo ou não querendo conhecer o brocardo
juridico de que interpretatio cessat inclaris, não hesitou em consentir dous
moços a sua pessôa ligados pelos laços de parentesco e que acabaram de concluir
os seus preparatorios, prestassem exame de Historia Natural Medica
conjuntamente com os alumnos de 1900, aos quaes concedia a lei este favor,
abrindo-lhes assim passagem contra a expressa vontade do reformador, para o 2º
anno do curso medico e pharmaceutico.
Mas, ao
mesmo tempo que o Dr. Director procurava, illudindo a lei, beneficiar os seus
parentes, prejudicava-os e a um grande numero de outros estudantes.
Assim é
que aos alumnos que lhe requeriam exames de Historia Natural Medica e Chimica
Inorganica, materias pertencentes ao primeiro anno de medicina e pharmacia, que
elles, apezar de matriculados não haviam conseguido fazer no anno de 1900,
resolvia que nenhuma necessidade havia de exames de Chimica Inorganica, visto
como esta cadeira, a semelhança da de Physica, fora supressa, quando a verdade
era que apenas ficava annexa á de Chimica Medica, pelo novo regulamento creado.
Os damnos
resultantes desta decisão do dr. director são incalculáveis.
A esses
desditosos estudantes será forçosamente negado o direito de requererem na
primeira epocha inscripção para os exames do segundo annno, porque quando mesmo
o director lhes permitta prestarem o exame da alludida materia no fim do
corrente anno, ficam impossibilitados de fazer os do segundo visto como o novo
regulamento expressamente prohibe que se façam, numa só epocha, materias que
constituem mais de uma serie.
Mas não
parou ahi a cerebrina hermeneutica do dr. Director de torcer os textos da lei
em beneficio de pessoas de suafamília.
O codigo
do ensino estatue: Art. 237. Cada estabelecimento de ensino superior terá um
secretario, um bibliothecario, amanuenses, conservadores, auxiliares e bedeis,
em numero marcado pelos regulamentos especiaes, e um porteiro.
Art. 238.
São funccionarios providos por decreto o secretario, o sub-secretario, e, por
portaria do ministro, os amanuenses.
Art. 241.
Ao director compete nomear e dimettir os demais empregados indicados no art.
237.
O dr.
director, porem, entendeu que muito obscuras eram, as disposições
regulamentares, e baixou uma portaria nomeando seu genro para o cargo de
sub-bibliothecario da Faculdade!
Felizmente,
o sr. ministro do interior não deixou sem reparo o acto illegal do pouco
escrupuloso funccionario, fazendo-o sciente de que só ao governo aquella
nomeação competia. Este facto escandaloso e immoral, e a justa censura a elle
infligida pelo ministro vem exuberantemente provar que o prestigio que no
momento actual empresta esta autoridade ao sr. director e a confiança, que lhe
diz merecer, não passam de simples deferencia para com o funccionario publico
investido de um cargo superior.
Um facto
que não póde passar sem reparo é o seguinte: Em um dos ultimos dias santos o
Sr. Dr. Director compareceu á Escola para dar a sua aula de chimica. Alli
chegando mandou proceder a chamada, apresentando-se então um numero limitado de
estudantes, e aos ausentes foram impiedosamente marcadas as faltas.
Não lhe
censurariamos agora a conducta, nem trariamos o facto á discussão, se S.S.,
depois de procurar um pretexto futil, não se houvesse levantado sem fazer a
prelecção.
Ainda
mais, S. S. retirou-se, e á 1 hora da tarde, quando vinha, em cumprimento de
seus deveres, o Dr. Nina Rodrigues encontrou trancadas as portas da Faculdade.
Mais
ainda; por muito tempo os alumnos matriculados que eram reprovados em Novembro
pagavam na segunda epoca 100$; felizmente o Sr. Ministro pôz um paradeiro a tão
grande absurdo, fazendo ver que só deviam contribuir com 50$000.
Não é só
isto; o Sr. Dr. Jose Olympio interceptou a remessa da representação dos lentes
da Escola, não obstante a expressa disposição do art. 3º do Codigo do Ensino,
que reza: “incumbe ao Director resolver acerca dos requerimentos e
representações, cujo assumpto for de sua competencia e encaminhar os outros,
segundo a especie, ao governo ou á congregação Tambem uma representação dos
estudantes da Faculdade, na qual estes protestavam contra as intrucções
baixadas por S. S. e dirigida á congregação, parece que ficou archivada na
Secretaria, pois que até esta data não chegou a seu destino.
Agora uma
nota comica. Para se avaliar da perspicacia do Sr. Dr. Director basta lembrar o
seguinte facto. = Á secretaria da Faculdade compareceu um estudante do 1º anno
pedindo para falar ao Dr. Director.
Levado à
presença deste, o academico ponderou-lhe que no dia anterior lhe havia sido
marcada falta nas aulas, ás quaes não tinha de fato comparecido, porquanto
estava convencido de que nesse dia não funccionaria a Faculdade, visto como era
santificado.
“Menino,
o senhor sabe que a Egreja está separada do Estado?
Mas nesse
caso, doutor, objectou-lhe o estudante, porque motivo mandou o senhor fechar a
Escola na quinta e sextafeira da Paixão, relevando assim as faltas dos alumnos?
O dr.
José Olympio permaneceu durante algum tempo pensativo; depois ergueu lentamente
a cabeça e collocando a mão no hombro do teimoso estudante, com o semblante
risonho e enthusiasmado, respondeu-lhe:
Menino,
você dá para advogado. Vá estudar direito que ha de fazer figura.
Eis ahi a
serie de erroneas interpretações dadas pelo sr. dr. director á nova reforma do
Ensino, esse monstruoso edifício como a de Jerichó esbarrondam-se por si mesmo,
ao som estridente das trombêtas da logica e da razão.
Ao ver
descer das altas regiões do poder, esse monstro formidável, o sr. dr. director
tremeu e o aterrou a idéa de que podia ser por elle tragado. De uma única
salvação lembrouse então. Executar ferrenhamente certas disposições draconianas
daquella reforma inconstitucional, exagerando-as até o absurdo com as
instrucções que baixou para verificação da frequencia dos alumnos nas aulas
theoricas e praticas da Faculdade.
E tanto é
verdade que era o terror de ser tragado pelo monstro que impellia s. s. a agir
de modo tão estranho, que por occasião da abertura dos cursos, e
particularmente a um distincto cathedratico, confessava, em radical antagonismo
com o que apparentava, ser inteiramente contrario a nova reforma de Ensino.
Não foi
esse o procedimento do Exmo. Sr. Visconde de Alvarenga, que de identico lugar
se demettio na Eshola do Rio, por incompatibilidade de regimen.
Mas ainda
não é tudo; S. S. foi medroso, foi desleal.
Assim é
que após a sessão realisada a 28 de Fevereiro ultimo, e na qual a congregação
da Faculdade manifestou-se abertamente contraria áquella reforma, S. S.
transmettio ao Ministro do Interior um telegramma publicado na imprensa desta
capital e concebido nestes termos mais ou menos: “Li perante congregação pontos
mais importantes nova reforma, sem ter havido contestação parte lentes.” Dias
depois S. S. recebia um desmentido cathegorico com a representação dos
professores desta Faculdade e da qual foi relator o illustrado e provecto
mestre o Sr. Dr. Antonio Pacifico Pereira, esse vulto eminente que paira no
bando sagrado de nossas sanctas recordações, e que por longos annos foi o
pharol magestoso que illuminava o futuro de nossa Faculdade, hoje tão negro e
tristonho, porque sobre elle projecta-se desanimadora e carregada sombra.
Contraste
terrivel entre a direcção dada á nossa Faculdade por aquelle respeitavel
professor e a que actualmente lhe dá o Dr. José Olympio; naquella, a
severidade, mas a severidade justa; nesta o rigor, mas o rigor a que não
preside o direito; naquella a firmeza das convicções, a inquebrantabilidade do
caracter e a sabedoria; nesta a dubiedade, a hesitação e a incompetencia.
Contraste
terrivel!!
Vamos
terminar. Antes, citemos um facto altamente significativo.
Quando na
penultima congregação o Sr. D. Director communicava aos illustrissimos
professores da Faculdade os acontecimentos ultimamente ocorridos, gelido
silencio acolheo as suas palavras, prova evidente e cabal de que os distinctos
medicos alli reunidos contristadoramente desesperavam da salvação moral de S.
S.
Mas não
queria ceder ainda o Sr. Dr. Director.
Em sua
imaginação doentia afigurava-se-lhe que a distincta congregação o poderia
salvar e mais de uma vez implorou-lhe o seu auxilio, o socorro de suas palavras
animadoras. Mas S. S. estava condemnado. Não havia salvação possivel.
Comprehenderam-no os illustres clinicos e calaram-se. Era a sentença do Dr.
Director. Desfilavam ainda do vasto salão da congregação os distinctos mestres
e já S. S. agonisava, debatendo-se nas garras de uma morte moral inevitavel, a
que o tinham arrastado as suas injustiças, os seus erros, a sua incompetencia,
a sua falta de generosidade para com esta briosa mocidade que durante tanto
tempo o amparou com o bordão forte de sua benevolencia, e que o poderia acatar
e venerar, enchendo-lhe de alegria a velhice, se S.
S. não
fosse inteiramente refractario a tudo quanto é justo, santo e luminoso.
Agora,
julgue-nos a opinião publica. Sub judice lis est.
Assinam:
Joaquim
F.C Lins Sobrinho
Boaventura
dos Santos Cajueiro
João F.
Santos Brandão
Carlos
Costa Rodrigues
Francisco
da Costa Fernandes
José
Domingos de Barros
Pharmaceutico
Adolpho Rabello
Paulo A
de Carvalho
Joaquim
da Cunha Fontenelle
Pharmaceutico
Dario Peixoto
Pedro
Rodrigues de Vasconcellos
Lamberto
Reis de Athaide
Pharmaceutico
Jeronimo Sodré Filho
Ruffo
Galvão
Hebreliano
Mauricio Wanderley
Celestino
Bourroul
Ovidio
Pires de Campos
Luiz
Dutra Guimarães
João
Alves da Costa
Pharmaceutico
David Bastos
Waldimir
Borges Castello Branco
Luiz
Gonzagas de Souza Góes
Clinio
Antonio de Jesus Junior
José
Souto Maior
Arthur
Lavigne de Lemos
Manuel de
Toledo Silva
Paula
Buarque
Pharmaceutico
Sabino Filho
Octavio
Brandão
Adolpho
Brazil Vianna
Flavio
Gouveia
Antonio
Borja
Romualdo
Luiz de Almeida
Francisco
Clementino C. da Cunha
Ezequiel
Antunes de Oliveira
José
Varandas de Carvalho Junior
Octavio
Joaquim Tosta da Silva
Alberto
Moreira Rabello
José
Ignacio da Silva
Joaquim
Brazil de H. Cavalcante
Pharmaceutico
Leite Belém
Leone
Herbster Menescal
Manoel
Tavares da Costa
Antonio
Raposo Pinto
Raul
Moreira Fragoso
João
Ayaro
Jovenal
Santos
Bernardino
Antonio de Souza
Alvim
Martins Horcades (salvo a parte que lhe é referente)
Januario
Gomes de O. Carvalho
Joaquim
Martagão Gesteira
Pedro
Fontes
João José
de Medeiros
Luiz
Tavares Sobrinho
Joaquim
Ribeiro da Frota
Alberto
Ferreira Freitas
Agenor de
Meirelles
Alvaro
Madureira de Pinho
José
Augusto de Azevedo
Doutorando
Alvaro da Silva Rego
Agenor
José da Silva
Francisco
D. Paraiso Cavalcante
Victoriano
José de S. Freire
Manoel
Antonio
Pharmaceutico
Carlos Lopes
Januario
Cicco
Antonio
Carlos S. de Avellar
João
Capitulino Sampaio
Antonio
de Castro Contreiras
Militão
Francisco de Almeida
João
Soares da Costa Filho
Pharmaceutico
Fabio David
Rodopiano
Neves da Silva
Peryllo
de Assis Beijamin
João
Rollemberg Junior
Gabriel
F. Bittencourt
Manuel
Moreira
Pharmaceutico
Manuel Guedes da C. Goudinho
Jozé
Paraizo Galvão
Manuel
Muniz Ferreira
Pharmaceutico
David Bastos
Pharmaceutico
Heraclito de O. Sampaio
José de
Souza Maciel
Abdon
Henriques de Sá
Lindolpho
Brandão
Pharmaceutico
Albano P. Franco
Fernando
Espinheira da Costa
José
Teixeira de Vasconcellos
Pharmaceutico
Domingos Candido de Oliveira
José
Rodrigues Mauricio
Belmiro
de Lima Valverde
Benedicto
A. Pereira Filho
Basilio
Torreão Franco de Sá
Jusselino
Monteiro Filho
Adolpho
Luiz do Rego
Carlos
Pirajá Martins
José
Rodrigues Pinheiro
Francisco
Acciolle M. Soares
Climerio
Ribeiro Guimarães
Luiz Machado de
Andrade
Oscar
Claudio de Oliveira
José
Carneiro de Albuquerque”.
No
noticiário do dia, 27 de junho, lê-se no Jornal da Bahia, em “Declarações” /
Faculdade de Medicina – “O abaixo assignado declara, que tendo assignado um
papel pedindo férias e ausente da Capital, não tendo, portanto, conhecimento do
que ali se tem passado, acompanha os seus collegas da 6.ª serie em suas
resoluções.
Villa de
S. Francisco, 21 de Junho de 1901
Olympio
Augusto da Silva Miranda.
Alumno da
2.ª serie medica”
OBS.
Mantida a ortografia da época.
Por conta
desse episódio, ele e outros formandos tiveram seus diplomas retidos[iv],
os quais só foram liberados no ano seguinte, após recurso por eles impetrado e
por decisão do Presidente da República, Rodrigues Alves.
*** ***
Foi
Intendente do Município de De 07/01/1907 a 07/01/1909. Além de Intendente, foi
Deputado à Assembleia Estadual na legislatura 1915/16, pelo Partido Democrata.[v]
Faleceu
em Pão de Açúcar em 1º de outubro de 1940.
Do livro
MONOGRAFIA DE PÃO DE AÇÚCAR, de Aldemar de Mendonça, extraímos o artigo que o
jornalista Dr. Adherbal de Arecippo escreveu a seu respeito:
“Gente do
meu tempo – Um dos homens de vida mais moderada que eu conheci em Pão de
Açúcar, foi, sem dúvida, o Dr. Luiz, membro da família Machado, a mais
tradicional dali. Nunca se sentiu atraído pelos ambientes agitados, jamais a
política partidária o conquistou, em tempo algum preocupou-se com a notoriedade
científica, nem mesmo ambicionou certo destaque no centro social onde vivia.
Doutorado em medicina, pela respeitável Faculdade da Bahia, no ano de 1903, de
começo ainda clinicou, para em seguida, devotar-se aos labores de uma fazenda
de gado e a direção de uma máquina de descaroçar algodão. O seu belo anel de
grau, como sempre o via, era trazido dependurado á argola da corrente do
relógio.
Tinha uma
maneira toda sua de vestir-se: calças e colete brancos, paletó de paxá preto ou
cor de cinza, e cobria-se com o chapéu “duro”, calçando botinas pretas.
Fumava
bastante e, de noite, toda a sua distração consistia em debruçar-se na janela,
ali ficando por vários quartos de hora, acendendo um cigarro, de vez em quando.
Há muitos anos distanciado da clínica, nunca deixou, porém, de atender ao
doente que lhe procurasse, sem distinção de cor ou de posição social.
Também
não cobrava, nem um tostão, pelos serviços médicos. Naquele tempo, quando quase
não se falava em laboratório de pesquisas clínica, admirava-se a facilidade com
que o dr. Luiz Machado conseguia buscar ou descobrir a origem de uma febre,
mesmo as que se manifestavam de forma fora do comum.
É pena
que o Dr. Luiz, muito depressa, houvesse abandonado a clínica, e teria ele
deixado um nome imorredouro no seio da sociedade pão-de-açucarense, com
irradiação pelos municípios vizinhos, à maneira de como já está formado um
excelente conceito, naquela redondeza, o seu jovem conterrâneo Djalma
Gonçalves.
Deixou o
Dr. Luiz Machado um nome digno, e parece que estou a vê-lo receitando a minha
saudosa irmã, Amabilia, de um distúrbio intestinal com as recomendações do uso
do leite condensado, o qual, naquele tempo, era o que existia de melhor, como
também a lhe sarjar um abscesso no braço.
E a conta
por esses serviços? Certamente foi recebida no céu e, com certeza, já está ele
liberto dos sofrimentos que experimentou nos seus últimos anos de existência”.
Sobre ele
também falou o conterrâneo Gervásio Francisco dos Santos, em seu UM LUGAR NO
PASSADO:
“... Como
médico, nunca se negou aos chamados mais longínquos, dessas ou daquelas pessoas
que o procuravam, sabendo assim honrar o juramento que prestou para o exercício
da profissão. Não viveu da medicina, graças às qualidades de industrial e
fazendeiro.
Era ainda
presidente do Banco Agrícola S/A e do Tiro de Guerra nº 656, que na época era
uma sociedade de caráter cívico”.
O Dr.
Luiz Machado foi presidente do Tiro de Guerra nos anos de 1929/1930/1931.
Durante
gestão do Cel. Manoel Antônio Machado na Intendência, ele foi membro do
Conselho Municipal, ao lado de Manoel Soares de Campos, Aprígio Antônio de
Carvalho, José Vieira dos Anjos, João Pereira de Mello, José Venustiniano
Cavalcante e João Gomes de Carvalho Mello.
Criada a
Secretaria da Agricultura do Estado de Alagoas, pelo Decreto nº 556, de 5 de
julho de 1913 e regulamentado pelo Decreto nº 582, de 14 de agosto do mesmo
ano, Tendo como primeiro Secretário o Dr. Ignácio Uchôa de Albuquerque
Sarmento, o Dr. Luiz Machado foi indicado Inspetor Agrícola no 10ª Distrito,
abrangendo Pão de Açúcar e Belo Monte.[vi]
O Dr. Luiz faleceu em Pão de Açúcar no dia 1º de outubro de 1940. Em sua homenagem, pela Lei Municipal nº 148, de 12 de novembro de 1949, denominou-se uma rua da cidade, que vai da Av. Bráulio Cavalcante até a Praça São Pedro, popularmente conhecida por “Beco da Prefeitura”.
*** ***
NOTA:
Caro leitor,
Deste Blog, que tem como tema
“HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes.
Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta
documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão,
solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer
trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo
também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é
correto e justo
[i]
Jornal do Recife, 29 de dezembro de 1895.
[ii]
Constant. Diário de Pernambuco, 21 de novembro de 1896.
[iii]
Jornal de Notícias (BA), 13 de dezembro de 1898.
[iv]
Tiveram os diplomas retidos: Drs. Manoel Joaquim Alves Feitoza, Joaquim de
Carvalho Ramos, Alvim Martins Horcades, Delphim de Paiva Lima, Gabriel
Fortunato Bittencourt, Manoel Tavares da Costa, Raul Elysio Botelho, Pedro
Fontes, Luiz Machado de Andrade, Paulo Ananias do Carvalho, Lamberto Reis do
Athayde, Francisco Xavier Carneiro do Albuquerque, Alipio Maia Gomes e Armando
Bello Barbedo, Alcides Codeceira, Pedro Fontes, Raul Botelho.
[v]
A Rua, RJ, 15 de novembro de 1914.
[vi]
Almanak Laemmert, 1914.
A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR
PÃO DE AÇÚCAR
Marcus Vinícius*
Meu mundo bom
De mandacarus
E Xique-xiques;
Minha distante carícia
Onde o São Francisco
Provoca sempre
Uma mensagem de saudade.
Jaciobá,
De Manoel Rego, a exponência;
De Bráulio Cavalcante, o mártir;
De Nezinho (o Cego), a música.
Jaciobá,
Da poesia romântica
De Vinícius Ligianus;
Da parnasiana de Bem Gum.
Jaciobá,
Das regências dos maestros
Abílio e Nozinho.
Pão de Açúcar,
Vejo o exagero do violão
De Adail Simas;
Vejo acordes tão belos
De Paulo Alves e Zequinha.
O cavaquinho harmonioso
De João de Santa,
Que beleza!
O pandeiro inquieto
De Zé Negão
Naquele rítmo de extasiar;
Saudade infinita
De Agobar Feitosa
(não é bom lembrar...)
Pão de Açúcar
Dos emigrantes
Roberto Alvim,
Eraldo Lacet,
Zé Amaral...
Verdadeiros jaciobenses.
E mais:
As peixadas de Evenus Luz,
Aquele que tem a “estrela”
Sem conhecê-la.
Pão de Açúcar
Dos que saíram:
Zaluar Santana,
Américo Castro,
Darras Nóia,
Manoel Passinha.
Pão de Açúcar
Dos que ficaram:
Luizinho Machado
(a educação personificada)
E João Lisboa
(do Cristo Redentor)
A grandiosa jóia.
Pão de Açúcar,
Meu mundo distante
De Cáctus
E águas santas.
______________
Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)
(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937
(+) Maceió (AL), 07.05.1976
Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.
*****
PÃO DE AÇÚCAR
Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.
Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.
Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,
O pó que o vendaval deixou no chão cair.
Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste
O teu profundo sono num divino sorrir.
Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,
Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.
Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.
Teus jardins se parecem com vastos cemitérios
Por onde as brisas passam em brando sussurrar.
Aqui e ali tu tens um alto campanário,
Que dá maior relevo ao pálido cenário
Do teu calmo dormir em noite de luar.
____
Ben Gum, pseudônimo de José Mendes
Guimarães - Zequinha Guimarães.
PUBLICAÇÕES

Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia