sexta-feira, abril 11

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POETAS PÃO-DE-AÇUCARENSES: BEM-GUM

 

PÃO DE AÇÚCAR

Bem-Gum[i]

Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

D’um balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas, somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.

 

Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

Ao teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.

 

Assim, amortecida, tu guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios,

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.

 

Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

 

____

 

CIDADE

 

Bem Gum

 

Cidade, colmeia humana, aonde o luxo e o prazer

Têm lugar de desdém para a miséria e a fome.

Aonde, ao relento, dorme o pária sem pão, sem nome,

E o nababo indolente tem sereno adormecer.

 

Cidade, centro onde a honra caminha pra fenecer,

Dominada pelo vício, que aos poucos lhe carcome,

Cidade, onde o proletário, na fábrica, se consome,

Para mais o argentário subir e enriquecer.

 

Cidade, ruas festivas, igrejas e lupanares,

Pináculos de arranha-céus dispersos, cruzando os ares,

E casebres, moradias do pequeno, do ninguém.

 

Cidade, luz, vaidade, encantamento, alegria,

Amor, desprezo, miséria, ingratidão, nostalgia,

Cidade, berço do riso e da lágrima também.

 

 




[i] Ben-Gum, pseudônimo de José Mendes Guimarães – “Zequinha Guimarães”. Poeta, vereador, comerciante.

Nasceu em Pão de Açúcar, em 25 de setembro de 1899. Filho de João Mendes Guimarães e Maria Cândida de Andrade Freitas, tinha como avós paternos: José Mendes Guimarães e Joanna Maria de Jesus e, maternos: o Cap. Miguel de Freitas Machado e Cândida Delfina de Andrade.

Ficando órfão de mãe aos sete anos, seu pai o levou para morar em Sergipe, tendo ali permanecido até os 10 ou 11 anos, voltando então à sua cidade natal para a companhia dos avós maternos, ali permanecendo até 1917. Trabalhou como caixeiro na loja de tecidos de  um tio materno. Nesse período, passou um ano (provavelmente 1912), estudando no Colégio Salesiano, no Recife.

Voltando para Pão de Açúcar, passa a trabalhar na mesma loja de tecidos, que seria adquirida  algum tempo depois (1924 ou 1925), em sociedade com outro empregado da casa.

Em 1927, já agora único proprietário da loja, trabalhava também no Cartório de Registro Civil.

Desistindo de suas funções no cartório, voltou-se para o trabalho rural em sua modesta propriedade e para o pequeno estabelecimento comercial. Ali mesmo residia, no pavimento superior.

Mais tarde, volta a viver, agora por quatro anos, no Recife. Finalmente, regressa em 1921 a Pão de Açúcar, onde iria residir e ser comerciante. Vereador no final da década de 1940 e início da década de 1950. 

Foi casado com Rosa Pires de Carvalho, com quem teve os filhos Maria, Paulo, Miriam e Péricles. Faleceu em Pão de Açúcar, no dia 21 de fevereiro de 1968.

É Patrono da cadeira nº 22 da ALEPA – ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DE PÃO DE AÇÚCAR. Tem sonetos publicados da p. 11 a 36 do livro Pão de Açúcar. Cem Anos de Poesia. Coletânea, Maceió: Ecos Gráfica e Editora, 1999.

 

sábado, abril 5

LIMOEIRO – UM POUCO MAIS DE HISTÓRIA

 

Por Etevaldo Amorim


Depois do nosso artigo LIMOEIRO – UMA PEQUENA HISTÓRIA, publicado neste Blog há mais de dez anos, em 30 de março de 2015, conseguimos reunir mais algumas informações, de modo a ampliar o nosso conhecimento sobre aquela importante localidade, situada à margem esquerda do Rio São Francisco, no município de Pão de Açúcar, Alagoas.


A história de Limoeiro pode estar associada a sua capela, marca da formação católica dos seus fundadores, no último quartel do Século XVIII. Não por acaso ara chamado “Capela de Frei Valença” (provavelmente em referência ao religioso que a construiu), segundo informa Antônio Xavier de Assis, em seu precioso Esboço Histórico e Geográfico do Baixo São Francisco.[i]


Feita sob invocação de Jesus, Maria e José, a casa de orações teve iniciada a sua construção em 1782, vindo a ser concluída em 1787, conforme anotação existente na madeira do coro da igreja.[ii] Segundo Vieira de Carvalho, teria sido construída pelos avós do pardo Manoel de Jesus Barbosa, tendo João Carlos de Mello lhe constituído um patrimônio de seis vacas e uma légua de terras.


O templo, originalmente sem torres, passou a ter uma, não sabemos quando. Anos depois, ganhou a segunda torre, do lado direito, cuja construção se fez por iniciativa e esforços do Padre Fernando Vieira[iii], natural daquela vila.


Diz, ainda, Vieira de Carvalho em 1854:


“A povoação do Limoeiro é situada sobre um terreno quase férreo. Contará 30 casas (se tantas), mas estende-se muito sobre  por diversas moradas interiores. Tem sua capela de invocação de Jesus, Maria e José e todo esse outeiro é uma mina dessa pedra esverdeada.”


“A povoação é fartíssima em criação de aves e os ovos vendem-se de 3 a 4 por 20 réis. A várzea e lagoa do Araticum é o lugar deste rio onde tenho visto mais caça. Creio que é aí o viveiro d’onde saem todos os voláteis que povoam ambas as margens. Os patos, garças marrecões, diferentes gaivotas, marrecas, grajaus, paturis, etc, voam de fazer rumor e anuviam o ar! O grajá tem o bico de tartaruga.”


“Continuam pela povoação do Limoeiro os lugares Tapera – nome tirado do seu riacho, Jacarezinho, São Tiago, com sua lagoa...”


Curiosa essa última citação, pois não há, entre o Limoeiro e o Jacarezinho, lugar algum com a denominação de “Tapera”; tampouco riacho. O que há, segundo o nosso conhecimento e de pessoas que ali têm propriedades, é o riacho dos Tapuios, nas imediações da fazenda Santa Maria.


O engenheiro Halfeld, autor do “Atlas e relatório concernente a exploração do rio S. Francisco: desde a cachoeira da Pirapora até ao Oceano Atlântico”, elaborado entre 1851 e 1854, também menciona e registra no mapa essa localidade “Tapera”, como se pode ver na figura abaixo.


Detalhe do Mapa de Halfeld. 

Nota-se, junto à “Tapera”, a representação de um riacho. E a ilha era denominada “do Jacarezinho”, sendo a mais próxima do Limoeiro chamada simplesmente “Ilha de Areia”. Mais abaixo, o morro do Morim (que Halfeld chama de Merim ou Muniz), seguindo-se o Cajueiro, a Restinga e, finalmente, a Lagoa Funda (atual Belo Monte).


Segundo o IBGE, em divisão administrativa referente ao ano de 1911, Limoeiro já constituía um dos distritos do município, destacando-se do da Sede. E pela Lei Provincial nº 973, de 8 de junho de 1886, foi constituído em Distrito Judiciário, sendo instalado em 1º de janeiro de 1887.


Um evento significativo na sua história foi a visita do Imperador D. Pedro II que, quando da sua viagem à Cachoeira de Paulo Afonso. No dia 23 de outubro de 1859 ele anotou no seu diário:


“Às 11 ½, defronte do Limoeiro, tendo andado de Pão de Açúcar 3 léguas em rio. Toda a digressão gasta 10 minutos. Tem 50 casas, uma capela menos má e um oratório; é juizado de paz e não há ai nenhuma autoridade policial, mas um fiscal; pertence à freguesia de Pão de Açúcar.”


Nota-se que a passagem por Limoeiro se deu quando do retorno do Imperador da visita às cachoeiras. A capela é a mesma de hoje, ainda desprovida das torres. Quanto ao oratório, a que se refere S. M., não se tem notícia. A menos que se referisse à igrejinha do morro do Morim.


Dez anos depois outra autoridade, desta feita o Presidente da Província José Bento da Cunha Figueiredo Junior, também em viagem à Cachoeira, por lá passou com enorme comitiva. Um integrante, o Sr. Abílio Coutinho, nos deixou a mais antiga imagem da nossa Vila, em tomada feita no dia 6 de janeiro de 1869.

Limoeiro, 1869, vendo-se a pequena capela. Foto: Abílio Coutinho.


Para não ser confundido com outro Limoeiro (o de Anadia), era comumente identificado por “Limoeiro de Pão de Açúcar”. Mas, para dissipar qualquer possibilidade de confusão, revolveram mudar o nome. Tanto que, pelo Decreto Estadual nº 2.526, de 10 de julho de 1939, passa a ter a nova denominação de Alecrim, segundo Aldemar de Mendonça. Já segundo o IBGE, pelo Decreto Estadual nº 2.435, de 30 de novembro de 1938.


Só em 1994, pela Lei Municipal Nº 083, de 18 de abril, por iniciativa do Vereador Antônio Goes (natural de Limoeiro), o Distrito de Alecrim voltou a denominar-se Limoeiro.


Em 3 de maio de 1886, na Assembleia Legislativa Provincial de Alagoas, entra em discussão o Projeto de Lei nº 1, de autoria do Deputado Aprígio Gonçalves de Andrade, que visava suprimir o Distrito de Paz de Entre-Montes e restaurava o de Limoeiro.


Pela Lei Provincial nº 973, de 8 de junho de 1886, foi criado o distrito judiciário de Limoeiro, sendo instalado em 1º de janeiro de 1887.


No tempo em que o comércio se fazia pelo rio, Limoeiro servia de porto para localidades mais afastadas, a que os nativos denominavam “Centro”, em contraposição  àquelas situadas á beira do rio. Era o caso de Jacaré, Guaribas (atual Monteirópolis) e Retiro (atual Palestina). Mercadorias eram transportadas em carros-de-boi. Por ali saiam algodão em rama e também lã, produzida pela fábrica de seu Mário Vieira, localizada ao lado sul da igreja. Os restos dessa usina, conhecida como “vapor”, ainda podiam ser vistos nos idos da década de 1960/70, onde a meninada se divertia em animadas brincadeiras.


Limoeiro também ostentava uma feira livre. Na verdade, era um galpão localizado no cruzamento das ruas Bráulio Cavalcante (Rua de Baixo) e Mário Vieira, defronte o casarão dos Amorim, onde é hoje o Clube. Seus alicerces ainda podiam ser vistos até o ano de 1966, quando o prefeito Ronalço dos Anjos tomou a providência de aparar os bicos de pedras, propiciando melhor tráfego de pessoas e carros-de-boi.


No dia 18 de fevereiro de 1951, durante a gestão do governador Arnon de Mello, foi inaugurado o prédio da Escola Rural da Vila Alecrim, depois denominada Escola Isolada de Alecrim.


Essa Escola foi reformada, em 1964, quando o governador do Estado era o Major Luis (Luis de Souza Cavalcante). Possuía apenas uma sala de aula e uma residência para a professora, tendo no meio um espaço para recreio. Após a reforma, uma segunda sala de aula ocupou o lugar o espaço para recreio, e este foi construído em anexo. Essa área de recreio tinha outras utilidades, desde simpes reuniões até bailes com os melhores sanfoneiros da época.


Cada sala tinha uma porta e três ou quatro janelas venezianas; piso de cimento queimado e teto de telhado aparente, com telhas do tipo francesa.


A escola recebeu mobiliário novo. Um “quadro-negro”, que na verdade era verde, ocupava quase toda a parede anterior da sala. Possuía uma borda inferior que aparava o pó do giz utilizado. Sobre ela se repousava um estojo com os bastões de giz, cuja tampa corrediça, provida de uma flanela, servia de apagador.


Na parece posterior (fundo), duas estantes baixas, com postas corrediças, constituía uma pequena biblioteca, onde se encontravam obras da literatura infantil: “Aladim e a Lâmpada Maravilhosa”, “Ali-Babá e os 40 ladrões”, “Simbá, o Marujo”...


Os recursos para a reforma vieram de um convênio co MEC – Ministério da Educação e Cultura com a USAID - United States Agency for International Development (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional).


 

Durante a gestão do Prefeito Antônio de Freitas Machado (17.06.1953 a 07.07.1953), foi concluída a construção da rodovia Retiro (hoje Palestina) a Limoeiro.


Em 23 de fevereiro de 1953, foi criada a Agência dos Correios[iv], funcionando inicialmente num prédio de portas arqueadas, esquina das ruas Bráulio Cavalcante e Mário Vieira, onde outrora funcionara uma loja de tecidos do Sr. Alberto Soares Vieira[v].

Limoeiro, 1968. Entre as duas velas da canoa estão os dois prédios que serviram de sede à Agência dos Correios. Em primeiro plano, fundos do casarão que foi utilizado a partir de 1970 e, mais acima, o primitivo prédio de portas arqueadas. Foto: Neide Alves Melo.

Limoeiro, 1981. A primeira sede da AP de Limoeiro (prédio da esquina, à esquerda) e a segunda, no casarão ao fundo, próximo ao rio. Frame do filme em Super-8 "Alecrim, povo marginalizado", de Érico Melo Abreu.

Limoeiro, 1970. Inauguração da nova sede dos Correios. Hasteando a bandeira, o prefeito Antônio Gomes Pascoal. À sua direita, a nova funcionária Marli Oliveira dos Anjos e o vereador Elias Silva Oliveira. Para a esquerda deste: Dona Helena, Dona Maria do Ouro, Manoel Messias Santos (Mané Prefeito), Natalício, não identificada e seu Zé Lima (José Lima Sobrinho). Para a direita do Prefeito Pascoa: duas pessoas não identificadas, Seu Zé de Atanázio (José de Melo) com sua filha Maria à frente, Zezinho de seu Fernando, Tonho Vitô (Antônio Silva Oliveira), seu pai João Vitô, seu Abinha (Djalma Castro) e Ana Deyse Souza. Foto: acervo da Prefeitura Municipal. 


O seu primeiro Agente foi José Carlos de França[vi]. Depois veio Virgílio da Silva Filho, conhecido por Virgilinho[vii], posteriormente removido para a APT de Delmiro Gouveia. Sucedeu-lhe o funcionário Heraldo de Campos Lisboa[viii].  Em seguida, assumiu a Agência o Sr. Lindauro Costa[ix] que, com a colaboração do seu filho Luis Costa, a fez funcionar com zelo e dedicação. A mala postal era transportada nas embarcações do rio São Francisco, pelo vapor Comendador Peixoto ou pela lancha Tupan.

Heraldo de Campos Lisboa e Romélia Soares da Costa com o filhinho Sidraque Costa Lisboa, em 1944.

Virgílio da Silva Filho "Virgilinho". Foto capturada do blog Amigos de Delmiro Gouveia.

O Sr. Lindauro Costa.


Já na década de 1970, com a instituição do Código de Endereçamento Postal – CEP, a Agência recebe o código 57405-000. Instalara-se agora num casarão fronteiro à antiga sede, de propriedade do Município e onde antes funcionava a Casa de Força. Deixando de ser uma Agência regular da ECT, passou para a administração municipal, na Gestão do Prefeito Antônio Gomes Pascoal, o “Dr. Pascoal”, e por iniciativa e esforços do Vereador local Elias Silva Oliveira, o “Elias da Lavanderia”. A responsável pela Unidade Postal era a servidora Marli dos Anjos.


Em 30 de março de 1958, foi inaugurado o serviço de Iluminação Elétrica na vila Alecrim. Algum tempo depois, esse serviço foi extinto. O serviço voltou a funcionar de modo intermitente, durante a década de 1960. Finalmente, em 1976, chega a iluminação a energia gerada na hidrelétrica da CHESF.


Em 1958 foi publicada a 2ª edição da obra escrita por Padre Teotônio Ribeiro, Cônego honorário da Sé de Olinda e doutor em Cânones pela Universidade Gregoriana de Roma, denominada “Esboço biográfico do Dr. Francisco José Correia de Albuquerque” Presbítero Secular do Hábito de São Pedro. Era conhecido vulgarmente por Santo Padre Francisco. Nascido, talvez, em 1757, em Penedo-AL.


Sobre Limoeiro (hoje Alecrim), onde foram desatendidas umas tantas suas admoestações, depois de sacudir o pó das alpargatas:


“Fica-te pó, que te não quero comigo levar nas alpargatas. Por ambição e inveja principiaste e por inveja e ambição hás de acabar. Quem aqui vier morar, não haverá de medrar”.

Depois de muito esperar, finalmente chega, em 1976, a energia elétrica “de Paulo Afonso’ em Limoeiro. Em seguida, lá por meados da década de 1980, chegou também a água encanada, por iniciativa da Fundação SESP.

Limoeiro, 1976. Foto: Etevaldo Amorim


FUTEBOL


A prática do futebol era frequente entre os limoeirenses e despertava enorme interesse. No decorrer da década de 1960, até início da década de 1970, Limoeiro formou um time bastante competitivo. Aliás, além da prática esportiva propriamente dita, o futebol concorria muito para a integração entre as comunidades. Em geral, havia dois jogos, com ida e volta. Se as duas contendas resultassem em empate, havia um terceiro jogo, chamado “negra”, em campo neutro. Assim o timo do Limoeiro jogou contra agremiações de Jacaré dos Homens, Belo Monte, Capelinha (Major Isidoro), Lagoa Primeira (Gararu) e Propriá.


Certa vez, tendo-se contratado um caminhão que levaria o time para um jogo em Jacaré dos Homens, receberam a notícia de que o carro havia quebrado. Para não faltar ao compromisso, foram a pé. Apesar da caminhada de cerca de 23 km, conseguiram ganhar o jogo. E voltaram a pé.

 

Limoeiro, 1966/67. Jogo Limoeiro x Jacaré dos Homens. Em pé: Zé de Jaime, Raimundo, Juca, Tunino (Antônio Tirri), Zé de Atanázio, Milton de Valdevino, João de Alfredo (João Almeida Damasceno) e Ivanir Silva (juiz do jogo). Agachados: Cheiroso (José de Castro), Zé Fofinho, Quinca (Joaquim Almeida Damasceno), Manoel Goes (Mané Soldado) e Tonho Vitô.

 

Limoeiro, provavelmente em 1970. Em pé: Zé Mendes, Zé do Cajueiro, Arnaldo Mendes, Milton de Valdevino, Lindalvo e Cheiroso (José de Castro). Agachados: Nantes Rocha, Juca, Manoel Goes, Tonho Vitô e Luizinho (Luis Costa).

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Bibliografia

 

AMORIM, E. A. (2004). TERRA DO SOL, ESPELHO DA LUA. Maceió: ECOS GRÁFICA.

VIEIRA DE CARVALHO, J. R. (1859). VIAGEM À CACHOEIRA DE PAULO AFONSO. REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO, Tomo XXII .

 

 

 


 

 

Figura 2 Limoeiro em 1968. Entre as velas da canoa de tolda aparecem os dois prédios que serviram de sede à Agência dos Correios. Em primeiro plano, fundos do casarão que foi utilizado a partir de 1970 e, mais acima, o primitivo prédio de portas arqueadas. Foto: Jim Squires.

 

 

 

Figura 3 Limoeiro, 1981. A primeira Sede da AP de Alecrim (prédio da esquina, à esquerda) e a segunda, no casarão ao fundo, próximo ao rio. Fonte: filme Super 8 – Alecrim, povo marginalizado, de Érico Melo Abreu.

 

 

 

Figura 4 Limoeiro, 1970. Inauguração da nova sede dos Correios. Hasteando a bandeira o Prefeito Antônio Gomes Pascoal. A sua direita, a nova funcionária Marli dos Anjos e o Vereador Elias Silva Oliveira. Foto: acervo da Prefeitura Municipal.

 

 

Figura 5 Fala o Prefeito Antônio Gomes Pascoal, tendo à sua direita a funcionária Marli dos Anjos. O Vereador Elias Silva Oliveira segura o microfone. Foto: acervo da Prefeitura Municipal.

 

 

Figura 6 Outro flagrante da solenidade de inauguração. Foto: acervo da Prefeitura Municipal.

 

 

Figura 7 Virgílio da Silva Filho – “Virgilinho”. Foto capturada do blog Amigos de Delmiro Gouveia.

 

 

Heraldo de Campos Lisboa e sua esposa Romélia Soares da Costa Lisboa

com o filho Sidraque Costa Lisboa_1944. Foto: acervo de Heraldo Lisboa Neto.

 

 

Figura 8 O Sr. Lindauro Costa.

 

 

 

 



[i] Esboço Histórico e Geográfico do Baixo São Francisco. Edição póstuma, em fac-simile, Aracaju-SE, 2020.

[ii] Informação do Sr. Fernando José dos Santos, “Fernando de Jorde”, filho Jordelino José dos Santos e Hermelina Carmelita dos Santos, “dona Melina”.

[iii] Pe. Fernando Soares Vieira. Filho de Pedro Soares Vieira e Maria Custódia Bezerra Vieira, nasceu em Limoeiro, município de Pão de Açúcar, Alagoas, em 24 de abril de 1905 e faleceu em Delmiro Gouveia em 1º de outubro de 1999. Foi o 9º Padre da Paróquia de Água Branca, de 1950 a 1951. Ingressou no Seminário em 17 de abril de 1917, recebendo o diaconato em 23 de novembro de 1928. Chegou à Capela do Rosário, em Delmiro Gouveia, então pertencente à Paróquia de Água Branca, em 20 de março, onde viveu seu sacerdócio durante 54 anos, vindo a falecer no dia 01 de Outubro de 1999. Na Vila da Pedra não só foi responsável pela criação da Paróquia como construiu a Igreja nova, onde foi sepultado como sempre desejou. Fonte: Site da Igreja de São Critóvão de Delmiro Gouveia.

[iv] CARDOSO, Aldo de Sá. Contribuição para a história dos Correios de Alagoas, separata da Revista do IHGAL, v. XXVIII, ano 1968, Maceió.

[v] Filho de Pedro Soares Vieira e Maria Custódia Bezerra Vieira.

[vi] Diário Oficial, 21 de fevereiro de 1957, p. 4033.

[vii] Diário Oficial, 1º de outubro de 1956. Filho de Virgílio da Silva e Maria Felicidade Silva. Faleceu em Palmeira dos Indios, em 19 de abril de 2016.

[viii] Diário Oficial, 19 de fevereiro de 1957, p. 3872. Em 1959 já havia falecido, deixando a viúva a professora Romélia Soares da Costa Lisboa e filhos – Diário Oficial, 25 de março de 1959, p. 6496. Segundo o limoeirense José Damasceno (Zé de Alfredo), sua morte se deu por afogamento. Numa de suas viagens de Pão de Açúcar a Limoeiro, a canoa virou nas proximidades da Fazenda Belém.

[ix] Lindauro Costa. Filho de Antônio Luiz da Silva (Antônio de Severo) e Maria Custódia da Silva (dona Caboca), nasceu em Limoeiro em 1915. Casado com Salvelina Vieira Melo Costa, com quem teve os filhos Luis, Lindalvo e Sinval. Foi, por muitos anos, responsável pela agência dos Correio  em Limoeiro (Alecrim) até 1970, quando a agência fechou, passando a ser lotado na agência de Belo Monte. Militante político de esquerda, chegou a ser preso e processado durante o período da ditadura militar. Faleceu em Maceió no dia 9 de fevereiro de 2003, sendo sepultado no dia seguinte, na Vila Limoeiro.

sábado, março 29

PERSONALIDADES PÃO-DE-AÇUCARENSES – DR. LUIZ MACHADO

 

Por Etevaldo Amorim

 

O Dr. Luiz Machado


O Dr. Luiz Machado de Andrade, médico, produtor rural, Intendente, Deputado Estadual, nasceu em Pão de Açúcar no dia 18 de setembro de 1879. Filho de Miguel de Freitas Machado e Cândida Delfina de Andrade. Eram seus avós paternos: José de Freitas Machado e Maria Pastora de Jesus e, maternos: Ten-Cel José Gonçalves de Andrade e Cândida Delfina do Coração de Jesus.

 

Foi casado com Maria José Machado de Andrade, “Mariinha”, e (filha de Francisco de Freitas Machado e Maria José Monteiro Machado, que faleceu aos 46 anos de idade, no Hospital de Doenças Nervoss, no Recife, no dia 26 de março de 1936), com quem teve os filhos Miguel e Luiz.

 

Depois de iniciar seus estudos em Pão de Açúcar, foi para o Recife, em 1895.[i] No ano seguinte, ele e seu irmão José de Freitas Machado pedem para ser inscritos no Instituto Benjamim.[ii] Com efeito, em 16 de outubro de 1897, o Instituto publica Edital no Diário de Pernambuco avisando que as provas seriam realizaas no dia 18 daquele mês e ano. O nome de Luiz Machado de Andrade consta para exames de Geometria e Trigonometria. O de seu irmão José de Freitas Machado, em História Universal.

 

Em 1898, muda-se para Salvador, ingressando na primeira série do Curso de Farmácia da Faculdade de Medicina da Bahia,[iii] passando depois para o Curso de Medicina.

Colou grau em 1903, defendendo a tese: ETIO-PATOGENIA DO IMPALUDISMO NO BAIXO SÃO FRANCISCO.

 

Na edição do dia 15 de dezembro de 1903, o jornal Correio do Brasil, órgão Democrata de propriedade de Freire, Costa & Cia, e administrado por Laureano J. F. Oliveira, publica um convite para a colação de grau, assinado por oito doutorandos, entre eles o Dr. Luiz Machado.

 

“Será para nós motivo de grande prazer e honra o comparecimento de V. Exª com a Exmª família à cerimônia solene de colação de grau aos doutorandos de 1903, às 12 horas do dia 15 do corrente mês, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina, assistindo antes à missa que, em ação de graças, será rezada no Mosteiro de São Bento, às 10 horas do dia supremencionado.

 

Esperamos, confiantes, que V. Exª não se escusará de atende a esta solicitação, o que será motivo para muito nos penhorar.

 

Bahia, 5 de dezembro de 1903.

 

Alípio Maia Gomes, Alvim Martins Horcades, Alpheu Bicca de Medeiros, Manoel Joaquim Alves Feitosa, Paulo Bernardes, Delphim Paiva de Lima Junior, Francisco da Costa Fernandes e Luiz Machado de Andrade.” (Alípio Maia Gomes e Manoel Joaquim Alves Feitosa eram também alagoanos).”

 

 

Neste ano, em que ingressou no curso de Farmácia o seu irmão José de Freitas Machado, a Escola se achava em intensa agitação, em virtude de protestos dos estudantes contra a reforma do ensino, levada a efeito pelo Decreto nº 3.890, de 1º de janeiro daquele ano (a chamada “Reforma Epitácio Pessoa”) e pelo regulamento das faculdades de medicina.

 

Ele, então, somando-se a muitos dos seus colegas do 6º Ano, assina o manifesto intitulado “AO PAÍS E À IMPRENSA”, publicado na gazeta O TEMPO, em 17 de junho.

Segunda-feira, 17 de junho – Saiu à luz, através da gazeta O TEMPO, o alentado manifesto da Corporação Acadêmica de Medicina e de Farmácia da Bahia, dirigido “ao País e à Imprensa”:

“Quando levados pela força imperioza das circunstancias e pelos impulsos intimos da consciencia vimo-nos na dura necessidade de abrir franca divergencia com o sr. dr. José

Olympio de Azevedo, director da Faculdade de Medicina e de Pharmacia da Bahia, bem longe estavamos de presumir que surgissem commentarios tentando desnaturar a feição verídica dos factos e sopitar a voz suprema da verdade.

No emtanto, e sem embargo de muitos nos fazerem a devida justiça, houve quem articulasse contra nós acusações que accarretariam grandes responsabilidades, si não fossem infundadas, si não tivessem uma base completamente aerea.

Retardamos o mais possivel a explicação de nossa atitude correcta, serena e defensiva para não cercear ou aniquilar de todo o conceito apparente de que gosa o sr. dr. director, mas, dado o primeiro passo e com o desenrolar dos acontecimentos que tem occorrido nesta capital, para convencermos de modo inconcusso a opinião publica de que estamos

amparados pelo direito, organisamos este trabalho que nada mais é do que um conjuncto de provas irrefragaveis e esmagadoras contra s.s., ao mesmo tempo que uma justificativa da posição stoica, nobre e digna de applausos da mocidade academica da Bahia.

Não nos emprestem intenções que não temos. Não nos arvoramos em tribunal de accusações desarrazoadas e injustas.

Pugnamos pela reivindicações dos nossos direitos postergados, luctamos em prol do nosso futuro que se nos antolha ameaçados.

Vai aqui a exposição dos factos com a critica fiel e imparcial, por isso que adoptamos a divisa; Scribitur nom solum ad narrandum, sed ad probandum.

No dia 4 do mez presente os alumnos dos diversos cursos de nossa Faculdade querendo testemunhar o intraduzível reconhecimento que impunha o brilhante desempenho da incumbência comettida ao distincto academico Alvim Martins Horcades, de apresentar ao Congresso Nacional o seu protesto contra a reforma do ensino, ultimamente decretada, resolveram fazer-lhe, como realmente o fizeram, a manifestação simples e sincera que o publico apreciou e o colega commovido recolheu ao coração.

O sr. dr. director que aliás havia tido conhecimento do facto, mas que é indifferente a semelhantes expansões, porque não sabe, e nem póde produzil-as, estribado na autoridade que lhe deu o officialiusmo ultrajou ostensivamente á mocidade, marcando ponto nas aulas, batendo-lhe brutal e grosseiramente as portas da secretaria, quando incorporada lhe fora pedir a relevação das faltas. Assim feriu s.s., quando devia animal-os os seus sentimentos sagrados, justos e incontestáveis, necessarios e essenciaes.

Dahi a reacção que surgiu, fructo também de um acervo de injustiças praticadas por s.s., que de rasão gelada e senso esteril, não soube ou não quis contemporizar, fazendo côro com as nossas alegrias, pois que seus interesses assim não o reclamavam.

Nunca se mencionou uma ação de tamanha gravidade, que ficasse impune e os moços que fazem jus a essas condescendências, não pela edade e pelos sentimentos, não podiam, não deviam deixar passar sem correção tão grande injuria atirada publicamente ás suas faces.

E se alliarmos ao que fica expendido que s.s é a negação absoluta do typo que concebemos de um chefe, se advirtimos que é inteiramente destituído de um coração amorável e de uma alma enthusiasta, que são as raizes moraes, como um cerebro activo e uma cabeça equilibrada sãos as raízes intellectuaes de um bom director, teremos sobejamente demonstrado e comprovado a asserção dos nossos telegramas expedidos aos srs. Presidente da Republica, Ministro do Interior, ao Congresso Nacional, ao Paiz e á Federação Academica.

Na verdade, de longa data se vinha formando no espirito da mocidade academica a convicção, ora radicada e profunda, da incapacidade daquelle que o poder supremo encarregava de dirigil-a e guial-a.

Naturalmente bondosa e compassiva, hesitava até então entre o dever que a impellia a apresental-a aos olhos da Nação, tal qual era, e a conveniencia naturalmente respeitosa ao poder constituido de não passarem do recinto protector da Faculdade os seus erros, as suas culpas. Quando, porém, o coração do Sr. Dr. Director se revelou inacessivel a qualquer magnanimidade a alma da mocidade vibrou e compreendeu que a generosidade era intempestiva e criminosa para com aquelle que não sabia dispensal-a.

Então, venceu a idéa do dever durante tanto tempo sofreado, e a demissão do funccionario incompetente se impoz como uma necessidade inadiavel e atal D’ahi os telegrammas e a energia de seus termos, que reverte em um acto, talvez não muito curial mas sobretudo justificavel attribulados como nos achavamos pelos desvios de urbanidade e dureza na applicação da lei, rudes demonstrações de excesso de autoridade.

Chamamol-o de incompetente e vamos proval-lo. Antes, porém, de fazel-o, pedimos ao Sr. Dr. Director que lance a vista para o grande numero de assignaturas abaixo afim de convencer-se de que não somos um pequeno grupo nem tão pouco uns transviados: representamos, ao contrario, a quase unanimidade da Escola, os ellementos que constituem a sua existencia, a sua força e a sua gloria.

Os alumnos Alarico Nunes Pacheco, José Gomes da Maia Monteiro, Climerio Ribeiro Guimarães, Eunisio Eunapio da Conceição, José Araujo Domingos Carneiro, José Ignacio da Silva, Antonio José de Farias Costa, Perillo de Assis Benjamin, Antonio Ramos Carvalho Duarte, João José de Medeiros, João Petronillo Ribeiro e outros requereram á Directoria da Faculdade matricula no segundo anno do curso de Pharmacia, visto como tinham as matriculas constitutivas pelo antigo regulamento do 1º anno medico.

Pagas as respectivas taxas na Alfandega Federal e satisfeitas as demais exigencias da lei, foram matriculados sendo seus nomes lançados nos livros de termos que assignaram.

Tempo depois, quando por diversas vezes haviam elles assistido as aulas e respondido ás chamadas, foram, com surpresa geral mandados vir á secretaria, onde do Dr. Director receberam sem despacho os alludidos requerimentos, com observações de que haviam sido annulladas as suas matriculas!

Ainda mais: aos alumnos do 5º anno medico com o curso de pharmacia completo, exigido pelo regulamento em vigor, foi sem contestação conferido o gráo de pharmaceutico.

Entretanto, aos estudantes matriculados no mesmo curso, aos quaes faltava somente pharmacia galenica para competal-o de accordo ainda com o mesmo regulamento, exigio o Dr. Director não sé exame da alludida materia, como o de therapeutica, privando-os assim das regalias que a lei lhes conferia e que a propria Directoria concedera aos alumnos do 5º anno.

A desorientação do Dr. Director era manifesta, e só uma severa punição a s.s seria bastante para compensar os prejuízos causados.

Por occasião da abertura da inscripção para os exames da 2ª epoca que deviam realisar nesta Faculdade, ao Sr.Dr. Director foi apresentado um requerimento em que sollicitava

inscripção para os exames da 1ª serie de odontologia, s.s baseado não sabemos em que dispositivo do novo código, lançou um indeferido formal naquelle requerimento, cujo autor não se conformando com essa illegal recusa recorreu para o Exmo. Sr. Ministro do Interior que sabiamente o attendeu, ordenando áquelle funccionario que mandasse proceder aos exames requeridos.

Encerrados, entretanto, como estavam, os trabalhos, da 2ª epoca, nova mesa examinadora, teve de se organisar, de modo que assistimos, há pouco, o curioso espetaculo de exames fora das epocas legaes!

Alliem-se a esta estravagante scena os prejuisos experimentado pelo infeliz estudante, victima da ignorancia de um Director hesitante, a cuja intelligencia os textos claros e precisos da lei se afiguram mythos nebulosos, enigmas indecifraveis.

Vejamos agora como o Sr. Dr. Director torceo os termos da lei em beneficio de pessoas de suas famílias.

O art. 12 das disposições transitorias do ultimo regulamento das Faculdades de Medicina: “Aos alumnos de 1900 é garantido o direito de prestarem exames no começo do corrente anno lectivo, observando-se o processo do regulamento que baixou com o decreto nº 1482, de 24 de Julho de 1893.

É claro que o legislador assim estabelecendo procurou respeitar os principios de equidade, e direitos legitimamente adquiridos.

Não podia, pois, esse despositivo aproveitar, estender os seus beneficos effeitos áquelles que não se tivessem matriculados naquella ou em data anterior. O Sr. Dr. Director, porem, que toda vez que seus interesses entram em jogo, interpreta a lei a seu modo, não conhecendo ou não querendo conhecer o brocardo juridico de que interpretatio cessat inclaris, não hesitou em consentir dous moços a sua pessôa ligados pelos laços de parentesco e que acabaram de concluir os seus preparatorios, prestassem exame de Historia Natural Medica conjuntamente com os alumnos de 1900, aos quaes concedia a lei este favor, abrindo-lhes assim passagem contra a expressa vontade do reformador, para o 2º anno do curso medico e pharmaceutico.

Mas, ao mesmo tempo que o Dr. Director procurava, illudindo a lei, beneficiar os seus parentes, prejudicava-os e a um grande numero de outros estudantes.

Assim é que aos alumnos que lhe requeriam exames de Historia Natural Medica e Chimica Inorganica, materias pertencentes ao primeiro anno de medicina e pharmacia, que elles, apezar de matriculados não haviam conseguido fazer no anno de 1900, resolvia que nenhuma necessidade havia de exames de Chimica Inorganica, visto como esta cadeira, a semelhança da de Physica, fora supressa, quando a verdade era que apenas ficava annexa á de Chimica Medica, pelo novo regulamento creado.

Os damnos resultantes desta decisão do dr. director são incalculáveis.

A esses desditosos estudantes será forçosamente negado o direito de requererem na primeira epocha inscripção para os exames do segundo annno, porque quando mesmo o director lhes permitta prestarem o exame da alludida materia no fim do corrente anno, ficam impossibilitados de fazer os do segundo visto como o novo regulamento expressamente prohibe que se façam, numa só epocha, materias que constituem mais de uma serie.

Mas não parou ahi a cerebrina hermeneutica do dr. Director de torcer os textos da lei em beneficio de pessoas de suafamília.

O codigo do ensino estatue: Art. 237. Cada estabelecimento de ensino superior terá um secretario, um bibliothecario, amanuenses, conservadores, auxiliares e bedeis, em numero marcado pelos regulamentos especiaes, e um porteiro.

Art. 238. São funccionarios providos por decreto o secretario, o sub-secretario, e, por portaria do ministro, os amanuenses.

Art. 241. Ao director compete nomear e dimettir os demais empregados indicados no art. 237.

O dr. director, porem, entendeu que muito obscuras eram, as disposições regulamentares, e baixou uma portaria nomeando seu genro para o cargo de sub-bibliothecario da Faculdade!

Felizmente, o sr. ministro do interior não deixou sem reparo o acto illegal do pouco escrupuloso funccionario, fazendo-o sciente de que só ao governo aquella nomeação competia. Este facto escandaloso e immoral, e a justa censura a elle infligida pelo ministro vem exuberantemente provar que o prestigio que no momento actual empresta esta autoridade ao sr. director e a confiança, que lhe diz merecer, não passam de simples deferencia para com o funccionario publico investido de um cargo superior.

Um facto que não póde passar sem reparo é o seguinte: Em um dos ultimos dias santos o Sr. Dr. Director compareceu á Escola para dar a sua aula de chimica. Alli chegando mandou proceder a chamada, apresentando-se então um numero limitado de estudantes, e aos ausentes foram impiedosamente marcadas as faltas.

Não lhe censurariamos agora a conducta, nem trariamos o facto á discussão, se S.S., depois de procurar um pretexto futil, não se houvesse levantado sem fazer a prelecção.

Ainda mais, S. S. retirou-se, e á 1 hora da tarde, quando vinha, em cumprimento de seus deveres, o Dr. Nina Rodrigues encontrou trancadas as portas da Faculdade.

Mais ainda; por muito tempo os alumnos matriculados que eram reprovados em Novembro pagavam na segunda epoca 100$; felizmente o Sr. Ministro pôz um paradeiro a tão grande absurdo, fazendo ver que só deviam contribuir com 50$000.

Não é só isto; o Sr. Dr. Jose Olympio interceptou a remessa da representação dos lentes da Escola, não obstante a expressa disposição do art. 3º do Codigo do Ensino, que reza: “incumbe ao Director resolver acerca dos requerimentos e representações, cujo assumpto for de sua competencia e encaminhar os outros, segundo a especie, ao governo ou á congregação Tambem uma representação dos estudantes da Faculdade, na qual estes protestavam contra as intrucções baixadas por S. S. e dirigida á congregação, parece que ficou archivada na Secretaria, pois que até esta data não chegou a seu destino.

Agora uma nota comica. Para se avaliar da perspicacia do Sr. Dr. Director basta lembrar o seguinte facto. = Á secretaria da Faculdade compareceu um estudante do 1º anno pedindo para falar ao Dr. Director.

Levado à presença deste, o academico ponderou-lhe que no dia anterior lhe havia sido marcada falta nas aulas, ás quaes não tinha de fato comparecido, porquanto estava convencido de que nesse dia não funccionaria a Faculdade, visto como era santificado.

“Menino, o senhor sabe que a Egreja está separada do Estado?

Mas nesse caso, doutor, objectou-lhe o estudante, porque motivo mandou o senhor fechar a Escola na quinta e sextafeira da Paixão, relevando assim as faltas dos alumnos?

O dr. José Olympio permaneceu durante algum tempo pensativo; depois ergueu lentamente a cabeça e collocando a mão no hombro do teimoso estudante, com o semblante risonho e enthusiasmado, respondeu-lhe:

Menino, você dá para advogado. Vá estudar direito que ha de fazer figura.

Eis ahi a serie de erroneas interpretações dadas pelo sr. dr. director á nova reforma do Ensino, esse monstruoso edifício como a de Jerichó esbarrondam-se por si mesmo, ao som estridente das trombêtas da logica e da razão.

Ao ver descer das altas regiões do poder, esse monstro formidável, o sr. dr. director tremeu e o aterrou a idéa de que podia ser por elle tragado. De uma única salvação lembrouse então. Executar ferrenhamente certas disposições draconianas daquella reforma inconstitucional, exagerando-as até o absurdo com as instrucções que baixou para verificação da frequencia dos alumnos nas aulas theoricas e praticas da Faculdade.

E tanto é verdade que era o terror de ser tragado pelo monstro que impellia s. s. a agir de modo tão estranho, que por occasião da abertura dos cursos, e particularmente a um distincto cathedratico, confessava, em radical antagonismo com o que apparentava, ser inteiramente contrario a nova reforma de Ensino.

Não foi esse o procedimento do Exmo. Sr. Visconde de Alvarenga, que de identico lugar se demettio na Eshola do Rio, por incompatibilidade de regimen.

Mas ainda não é tudo; S. S. foi medroso, foi desleal.

Assim é que após a sessão realisada a 28 de Fevereiro ultimo, e na qual a congregação da Faculdade manifestou-se abertamente contraria áquella reforma, S. S. transmettio ao Ministro do Interior um telegramma publicado na imprensa desta capital e concebido nestes termos mais ou menos: “Li perante congregação pontos mais importantes nova reforma, sem ter havido contestação parte lentes.” Dias depois S. S. recebia um desmentido cathegorico com a representação dos professores desta Faculdade e da qual foi relator o illustrado e provecto mestre o Sr. Dr. Antonio Pacifico Pereira, esse vulto eminente que paira no bando sagrado de nossas sanctas recordações, e que por longos annos foi o pharol magestoso que illuminava o futuro de nossa Faculdade, hoje tão negro e tristonho, porque sobre elle projecta-se desanimadora e carregada sombra.

Contraste terrivel entre a direcção dada á nossa Faculdade por aquelle respeitavel professor e a que actualmente lhe dá o Dr. José Olympio; naquella, a severidade, mas a severidade justa; nesta o rigor, mas o rigor a que não preside o direito; naquella a firmeza das convicções, a inquebrantabilidade do caracter e a sabedoria; nesta a dubiedade, a hesitação e a incompetencia.

Contraste terrivel!!

Vamos terminar. Antes, citemos um facto altamente significativo.

Quando na penultima congregação o Sr. D. Director communicava aos illustrissimos professores da Faculdade os acontecimentos ultimamente ocorridos, gelido silencio acolheo as suas palavras, prova evidente e cabal de que os distinctos medicos alli reunidos contristadoramente desesperavam da salvação moral de S. S.

Mas não queria ceder ainda o Sr. Dr. Director.

Em sua imaginação doentia afigurava-se-lhe que a distincta congregação o poderia salvar e mais de uma vez implorou-lhe o seu auxilio, o socorro de suas palavras animadoras. Mas S. S. estava condemnado. Não havia salvação possivel. Comprehenderam-no os illustres clinicos e calaram-se. Era a sentença do Dr. Director. Desfilavam ainda do vasto salão da congregação os distinctos mestres e já S. S. agonisava, debatendo-se nas garras de uma morte moral inevitavel, a que o tinham arrastado as suas injustiças, os seus erros, a sua incompetencia, a sua falta de generosidade para com esta briosa mocidade que durante tanto tempo o amparou com o bordão forte de sua benevolencia, e que o poderia acatar e venerar, enchendo-lhe de alegria a velhice, se S.

S. não fosse inteiramente refractario a tudo quanto é justo, santo e luminoso.

Agora, julgue-nos a opinião publica. Sub judice lis est.

Assinam:

Joaquim F.C Lins Sobrinho

Boaventura dos Santos Cajueiro

João F. Santos Brandão

Carlos Costa Rodrigues

Francisco da Costa Fernandes

José Domingos de Barros

Pharmaceutico Adolpho Rabello

Paulo A de Carvalho

Joaquim da Cunha Fontenelle

Pharmaceutico Dario Peixoto

Pedro Rodrigues de Vasconcellos

Lamberto Reis de Athaide

Pharmaceutico Jeronimo Sodré Filho

Ruffo Galvão

Hebreliano Mauricio Wanderley

Celestino Bourroul

Ovidio Pires de Campos

Luiz Dutra Guimarães

João Alves da Costa

Pharmaceutico David Bastos

Waldimir Borges Castello Branco

Luiz Gonzagas de Souza Góes

Clinio Antonio de Jesus Junior

José Souto Maior

Arthur Lavigne de Lemos

Manuel de Toledo Silva

Paula Buarque

Pharmaceutico Sabino Filho

Octavio Brandão

Adolpho Brazil Vianna

Flavio Gouveia

Antonio Borja

Romualdo Luiz de Almeida

Francisco Clementino C. da Cunha

Ezequiel Antunes de Oliveira

José Varandas de Carvalho Junior

Octavio Joaquim Tosta da Silva

Alberto Moreira Rabello

José Ignacio da Silva

Joaquim Brazil de H. Cavalcante

Pharmaceutico Leite Belém

Leone Herbster Menescal

Manoel Tavares da Costa

Antonio Raposo Pinto

Raul Moreira Fragoso

João Ayaro

Jovenal Santos

Bernardino Antonio de Souza

Alvim Martins Horcades (salvo a parte que lhe é referente)

Januario Gomes de O. Carvalho

Joaquim Martagão Gesteira

Pedro Fontes

João José de Medeiros

Luiz Tavares Sobrinho

Joaquim Ribeiro da Frota

Alberto Ferreira Freitas

Agenor de Meirelles

Alvaro Madureira de Pinho

José Augusto de Azevedo

Doutorando Alvaro da Silva Rego

Agenor José da Silva

Francisco D. Paraiso Cavalcante

Victoriano José de S. Freire

Manoel Antonio

Pharmaceutico Carlos Lopes

Januario Cicco

Antonio Carlos S. de Avellar

João Capitulino Sampaio

Antonio de Castro Contreiras

Militão Francisco de Almeida

João Soares da Costa Filho

Pharmaceutico Fabio David

Rodopiano Neves da Silva

Peryllo de Assis Beijamin

João Rollemberg Junior

Gabriel F. Bittencourt

Manuel Moreira

Pharmaceutico Manuel Guedes da C. Goudinho

Jozé Paraizo Galvão

Manuel Muniz Ferreira

Pharmaceutico David Bastos

Pharmaceutico Heraclito de O. Sampaio

José de Souza Maciel

Abdon Henriques de Sá

Lindolpho Brandão

Pharmaceutico Albano P. Franco

Fernando Espinheira da Costa

José Teixeira de Vasconcellos

Pharmaceutico Domingos Candido de Oliveira

José Rodrigues Mauricio

Belmiro de Lima Valverde

Benedicto A. Pereira Filho

Basilio Torreão Franco de Sá

Jusselino Monteiro Filho

Adolpho Luiz do Rego

Carlos Pirajá Martins

José Rodrigues Pinheiro

Francisco Acciolle M. Soares

Climerio Ribeiro Guimarães

Luiz Machado de Andrade

Oscar Claudio de Oliveira

José Carneiro de Albuquerque”.

 

No noticiário do dia, 27 de junho, lê-se no Jornal da Bahia, em “Declarações” / Faculdade de Medicina – “O abaixo assignado declara, que tendo assignado um papel pedindo férias e ausente da Capital, não tendo, portanto, conhecimento do que ali se tem passado, acompanha os seus collegas da 6.ª serie em suas resoluções.

Villa de S. Francisco, 21 de Junho de 1901

Olympio Augusto da Silva Miranda.

Alumno da 2.ª serie medica”

 

OBS. Mantida a ortografia da época.

 

Por conta desse episódio, ele e outros formandos tiveram seus diplomas retidos[iv], os quais só foram liberados no ano seguinte, após recurso por eles impetrado e por decisão do Presidente da República, Rodrigues Alves.

 

***   ***

 

Foi Intendente do Município de De 07/01/1907 a 07/01/1909. Além de Intendente, foi Deputado à Assembleia Estadual na legislatura 1915/16, pelo Partido Democrata.[v]

 

Faleceu em Pão de Açúcar em 1º de outubro de 1940.

 

Do livro MONOGRAFIA DE PÃO DE AÇÚCAR, de Aldemar de Mendonça, extraímos o artigo que o jornalista Dr. Adherbal de Arecippo escreveu a seu respeito:

 

“Gente do meu tempo – Um dos homens de vida mais moderada que eu conheci em Pão de Açúcar, foi, sem dúvida, o Dr. Luiz, membro da família Machado, a mais tradicional dali. Nunca se sentiu atraído pelos ambientes agitados, jamais a política partidária o conquistou, em tempo algum preocupou-se com a notoriedade científica, nem mesmo ambicionou certo destaque no centro social onde vivia. Doutorado em medicina, pela respeitável Faculdade da Bahia, no ano de 1903, de começo ainda clinicou, para em seguida, devotar-se aos labores de uma fazenda de gado e a direção de uma máquina de descaroçar algodão. O seu belo anel de grau, como sempre o via, era trazido dependurado á argola da corrente do relógio.

 

Tinha uma maneira toda sua de vestir-se: calças e colete brancos, paletó de paxá preto ou cor de cinza, e cobria-se com o chapéu “duro”, calçando botinas pretas.

 

Fumava bastante e, de noite, toda a sua distração consistia em debruçar-se na janela, ali ficando por vários quartos de hora, acendendo um cigarro, de vez em quando. Há muitos anos distanciado da clínica, nunca deixou, porém, de atender ao doente que lhe procurasse, sem distinção de cor ou de posição social.

 

Também não cobrava, nem um tostão, pelos serviços médicos. Naquele tempo, quando quase não se falava em laboratório de pesquisas clínica, admirava-se a facilidade com que o dr. Luiz Machado conseguia buscar ou descobrir a origem de uma febre, mesmo as que se manifestavam de forma fora do comum.

 

É pena que o Dr. Luiz, muito depressa, houvesse abandonado a clínica, e teria ele deixado um nome imorredouro no seio da sociedade pão-de-açucarense, com irradiação pelos municípios vizinhos, à maneira de como já está formado um excelente conceito, naquela redondeza, o seu jovem conterrâneo Djalma Gonçalves.

 

Deixou o Dr. Luiz Machado um nome digno, e parece que estou a vê-lo receitando a minha saudosa irmã, Amabilia, de um distúrbio intestinal com as recomendações do uso do leite condensado, o qual, naquele tempo, era o que existia de melhor, como também a lhe sarjar um abscesso no braço.

 

E a conta por esses serviços? Certamente foi recebida no céu e, com certeza, já está ele liberto dos sofrimentos que experimentou nos seus últimos anos de existência”.

 

Sobre ele também falou o conterrâneo Gervásio Francisco dos Santos, em seu UM LUGAR NO PASSADO:

 

“... Como médico, nunca se negou aos chamados mais longínquos, dessas ou daquelas pessoas que o procuravam, sabendo assim honrar o juramento que prestou para o exercício da profissão. Não viveu da medicina, graças às qualidades de industrial e fazendeiro.

 

Era ainda presidente do Banco Agrícola S/A e do Tiro de Guerra nº 656, que na época era uma sociedade de caráter cívico”.

O Dr. Luiz Machado foi presidente do Tiro de Guerra nos anos de 1929/1930/1931.

Durante gestão do Cel. Manoel Antônio Machado na Intendência, ele foi membro do Conselho Municipal, ao lado de Manoel Soares de Campos, Aprígio Antônio de Carvalho, José Vieira dos Anjos, João Pereira de Mello, José Venustiniano Cavalcante e João Gomes de Carvalho Mello.

Criada a Secretaria da Agricultura do Estado de Alagoas, pelo Decreto nº 556, de 5 de julho de 1913 e regulamentado pelo Decreto nº 582, de 14 de agosto do mesmo ano, Tendo como primeiro Secretário o Dr. Ignácio Uchôa de Albuquerque Sarmento, o Dr. Luiz Machado foi indicado Inspetor Agrícola no 10ª Distrito, abrangendo Pão de Açúcar e Belo Monte.[vi]

 

O Dr. Luiz faleceu em Pão de Açúcar no dia 1º de outubro de 1940. Em sua homenagem, pela Lei Municipal nº 148, de 12 de novembro de 1949, denominou-se uma rua da cidade, que vai da Av. Bráulio Cavalcante até a Praça São Pedro, popularmente conhecida por “Beco da Prefeitura”.

 

No alto, o Dr. José de Freitas Machado e o irmão Themístocles. Sentados: o Dr. Luiz, a mãe D. Cândida Delfina, o pai Cel. Miguel e a esposa do Dr. Luiz, Maria José. Na fila intermediária: os irmãos e irmãs Hermilla, Miguel, Tercília, Antônio e Maria das Dores.


***   ***

NOTA:

 

Caro leitor,

 

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo



[i] Jornal do Recife, 29 de dezembro de 1895.

 

[ii] Constant. Diário de Pernambuco, 21 de novembro de 1896.

 

[iii] Jornal de Notícias (BA), 13 de dezembro de 1898.

 

[iv] Tiveram os diplomas retidos: Drs. Manoel Joaquim Alves Feitoza, Joaquim de Carvalho Ramos, Alvim Martins Horcades, Delphim de Paiva Lima, Gabriel Fortunato Bittencourt, Manoel Tavares da Costa, Raul Elysio Botelho, Pedro Fontes, Luiz Machado de Andrade, Paulo Ananias do Carvalho, Lamberto Reis do Athayde, Francisco Xavier Carneiro do Albuquerque, Alipio Maia Gomes e Armando Bello Barbedo, Alcides Codeceira, Pedro Fontes, Raul Botelho.

 

[v] A Rua, RJ, 15 de novembro de 1914.

 

[vi] Almanak Laemmert, 1914.

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia