Por Etevaldo Amorim
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Capela da Santa Cruz, Pão de Açúcar-AL. Foto: Marcos Braga. |
Quem vai a Pão de Açúcar pela AL-130, ao se aproximar da
descida para a cidade, depois de muitas subidas e descidas avista, à margem
esquerda da rodovia, uma pequenina capela voltada para Oeste.
Encontrar cruzes e igrejinhas à beira da estrada é muito
comum. Uma homenagem a alguém, o pagamento de uma promessa feita a um santo
qualquer, são motivos para se erigir essas pequenas estruturas que se tornam,
muitas vezes, alvos de peregrinação.
A capelinha da Santa Cruz tem uma história singular e trágica.
Aldemar de Mendonça, em seu Monografia de Pão de Açúcar, registra que, num
lugar denominado Brocotó, localizado nas confrontações com as nascentes Funil e
Bezerra, ao pé da Serra de Pão de Açúcar (Meirus), duas famílias se
desentenderam e chegaram a uma grande desavença, a ponto de seus chefes jurarem
que, no dia em que se encontrassem, fosse onde fosse, “um dos dois deixaria
de viver”.
Um deles era mascate. Negociava com tecidos, levando
mercadorias de Pão de Açúcar para os lugares circunvizinhos. Numa dessas
viagens, seguia com seu animal carregado e, ao passar pelo local onde se acha
edificada a capela, ali estava, de tocaia, o seu inimigo. Este lhe desfechou um
tiro, mas errou o alvo.
Mesmo sem ter sido ferido, jogou-se ao chão, fazendo-se de morto, o que ensejou a aproximação do seu agressor, armado de um facão, pronto para o golpe fatal. Foi então que o agredido, ao senti-lo bem próximo, aplicou-lhe um tiro certeiro, matando-o instantaneamente.
Marcado pela tragédia, o local recebeu uma cruz, “ao pé da
qual foi afixada uma caixa de madeira, destinada a recolher os óbolos dos
fazedores de promessas” diz Aldemar de Mendonça.
E foi exatamente a partir desse dinheiro ali depositado que
se projetou construir a capela. Encarregou-se desse empreendimento o Sr. Manoel
Soares Pinto e seu filho José Soares Pinto.
Já tendo a quantia julgada suficiente para a construção, o
Sr. Manoel Soares Pinto contratou um pedreiro que se achava de passagem por Pão
de Açúcar, pelo preço de trezentos mil réis.
Entretanto, diz o renomado historiados patrício: “faltando
um dia para iniciar a obra, o tal pedreiro desapareceu. E o Sr. Manoel Soares
Pinto, julgando-se responsável pelo logro, resolveu fazer às suas expensas, a
capela da Santa Cruz, isto mais ou menos no ano de 1880. O altar, que é o mesmo
que ainda permanece lá, foi construído por um marceneiro da família Pedral.”
Em pesquisas sobre esse assunto, logramos encontrar uma carta
do correspondente que se assina por Epaminondas (provavelmente um falso nome), publicada
no Jornal do Penedo, de 11 de outubro de 1878. Diz a carta textualmente:
“CAPELA. A meia légua daqui e no centro está sendo
construída, no lugar denominado Cruz do Marcos, uma capelinha dedicada ao
símbolo da Redenção – a SANTA CRUZ.
É encarregado dessa obra o Sr. Manoel Soares Pinto[i]
e seu filho José Soares. As despesas são feitas à custa de esmolas, que há
muitos anos os fiéis que ali fazem promessas e romarias depositam sobre um
cofre de madeira, não obstante este, por muitas vezes, ter sido encontrado com
a fechadura e roubado por mãos sacrílegas.
O Sr. Soares Pinto e seu filho, pela obra pia e caridosa de
que estão encarregados, tornam-se dignos dos mais sérios encômios.”
Confrontando-se esse relato com o de Aldemar de Mendonça, e
sabendo agora que o lugar era conhecido por “CRUZ DO MARCOS”, conclui-se que se
trata do agressor, que ao final se tornou vítima.
O correspondente do Jornal do Penedo lembra que a cruz,
fincada no local do triste episódio, é o ‘símbolo da Redenção”. “A Cruz, que
para os cristãos representa o sacrifício de Jesus Cristo, a sua vitória sobre o
pecado e a morte, e a abertura do caminho para a salvação eterna e
reconciliação com Deus. A cruz, outrora um instrumento de morte cruel,
transformou-se num sinal universal de esperança, amor e a derrota definitiva do
mal.”
É possível que venha daí o nome da fazenda situada nas
proximidades: REDENÇÃO.
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NOTA:
Caro
leitor,
Deste
Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de
informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita
pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência
bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse
para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior
proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a
citação das referências. Isso é correto e justo.
[i]
Manoel Soares Pinto, português, falecido em 1894, casado com Maria Carolina
Soares Pinto e pai de José Soares Pinto (este, pai de extensa prole, na qual se
inserem: o Padre José Soares Pinto, Afonso Soares Pinto, Gilberto Soares Pinto),
etc.
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