Por Etevaldo Amorim
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Bráulio Cavalcante, 1912. |
O nosso sempre lembrado
e cultuado Bráulio Cavalcante, orgulho dos pão-de-açucarenses, demonstrou seu
talento e sensibilidade na forma de belos poemas, muitos dos quais já
publicados aqui no Blog. Vários deles estão nas páginas de diversos jornais, em
diferentes partes do país.
Trazemos agora mais
um, que talvez tenha sido o último a ser escrito, antes que a violência
política viesse a ceifar a sua vida, ainda tão jovem e tão promissora.
Trata-se de um
soneto intitulado “RIO BRANCO”, que encontrei publicado no jornal amazonense
CORREIO DO NORTE, numa referência ao notável diplomata brasileiro José Maria da
Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, que falecera a 10 de fevereiro
daquele ano. Um mês depois, o jovem tribuno e poeta seria assassinado em Maceió
(10 de março de 1912).
RIO BRANCO
Lavra do Norte ao Sul do Brasil,
em torva onda,
Rumorejando, o rio cruel do
Desconforto...
- É o choro perenal que desce,
que esbarronda
À passagem feral daquele Grande
Morto!...
Tem agora o Brasil a quadra amarga,
hedionda,
Para os escampos Céus, já volve
o olhar absorto,
E não tem, lá do Azul, ninguém
que lhe responda,
Que lhe dê lenitivo ou lhe mande
um conforto...
Paranaguá, depois Lafayette e
Carvalho,
Tombam no infindo horror, pelo
transe profundo...
- Corifeus do Dever, da Paz e do
Trabalho!
Em vão fizeste, oh Morte, o
pérfido massacre!
- Washington, Liverpool –
conhece. Todo mundo-
Oiapoque, Berlim, Berna e os
limites do Acre!
Foi essa uma das tantas homenagens de que foi alvo o ilustre brasileiro, enormemente prestigiado em razão dos seus notáveis feitos e prol da diplomacia brasileira.
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Cortejo fúnebre do Barão do Rio Branco - Rua Senador Eusébio, Rio de Janeiro. Foto O Malho |
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Guardadas as devidas proporções, e considerando a sua vida breve, Bráulio também foi muito prestigiado.
Dois dias antes da
sua formatura pela Faculdade de Direito do Recife, ele recebeu uma homenagem do
escritor alagoano Graciliano Ramos (então com 19 anos) que, sob o pseudônimo de
Soeiro Lobato, dedicou-lhe este poema, que foi publicado na revista O MALHO
(Ano X, nª 482, Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1911):
A ARANHA
(A
Braulio Cavalcante)
Diedi
parimente retta ad un bel ragno che tappezzava
una delle mie pareti.[i]
Silvio Pellico – Le mie prigioni
Em dias de verão, na minha
alcova cheia
Da luz do sol, que, lado a lado, a doira e banha,
Minha antiga inquilina, uma peluda aranha,
Entre a parede e o teto o seu vulto passeia.
É uma amiga pontual. Sempre
arrepiada e feia,
Ergue e balança no ar a sua forma estranha,
Sobe, desce e no fio as pernas emaranha,
Enquanto vai tecendo a complicada teia.
Não lhe tenho aversão, não me
aborreço dela,
Pois vive egoisticamente a preparar a tela
Que treme semelhando uma diáfana rede.
Mesmo um facto anormal dá-se às
vezes comigo:
Fico inquieto em não vendo o velho inseto amigo
Sempre no seu lugar – o canto da parede.
Pernambuco (Soeiro Lobato)
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O jovem Graciliano Ramos de 19 para 20 anos. Foto: www.graciliano.com.br |
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Bráulio Guatimozim Cavalcante.
Filho do Capitão José Venustiniano Cavalcante e de D. Maria Olympia. Nasceu em
Pão de Açúcar-AL, no dia 14 de março de 1887, na casa nº 23 da rua da Matriz
(hoje Avenida Bráulio Cavalcante, nº 209). Faleceu em 10 de março de 1912, na
Praça dos Martírios, em Maceió, de um ferimento penetrante na linha axilar
posterior direita, no quarto intercostal, recebido quando realizava um comício
em prol das candidaturas do Cel. Clodoaldo da Fonseca e do Dr. Fernandes Lima.
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NOTA:
Caro leitor,
Deste Blog, que
tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações
históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em
geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica.
Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em
qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas
fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências.
Isso é correto e justo.
[i] Também prestei atenção a uma linda aranha que estava cobrindo uma das minhas paredes. Silvio Pellico – "Le mie prigioni" (As Minhas Prisões) é uma obra de memórias autobiográficas do escritor italiano Silvio Pellico, publicada em 1832, que relata a sua experiência como prisioneiro político da República de Veneza e mais tarde do Império Austríaco, após a sua prisão pela sua atividade na Carbonaria. O livro descreve os seus sofrimentos, mas também a sua redescoberta da fé e a sua educação religiosa, e tornou-se um fenómeno literário na Europa, com mais de cinquenta edições em italiano até 1842.
Tudo que se tem dito do nosso conterrâneo Braúlio Cavalcante enobrece ainda mais a sua trajetória histórica e honrada, engrandecendo em muito a nossa tão promissora literatura
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