Por Etevaldo Amorim
|  | 
| Perfuração de um poço. Foto ilustrativa. Fonte: DNOCS | 
Os poços artesianos são fontes de abastecimento independentes
e seguras, constituindo-se em alternativa importante para amenizar os efeitos
da escassez de água. 
Trata-se de um tipo de poço tubular profundo. O termo
"artesiano" geralmente se refere àqueles casos em que a pressão
natural da água faz com que ela jorre espontaneamente na superfície, sem a
necessidade de bomba (poço jorrante ou surgente). No entanto, o termo
"artesiano" é também empregado em poços profundos que precisam de
bombeamento. O nome deriva da região de Artois, na França, onde os primeiros
poços desse tipo foram registrados em 1126.
Os primeiros poços tubulares do Brasil foram
perfurados entre 1845 e 1846, em Fortaleza, no Ceará. A iniciativa ocorreu
durante uma grande seca, e os poços foram construídos pela empresa Armstrong
and Sons. Mas a sua utilização se intensificou a partir da criação, em 21 de
outubro de 1909, da Inspetoria de Obras Contra as Secas – IOCS, que depois, em
1919, passou a ser chamada de Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas –
IFOCS e, em 1945 transformou-se, através do Decreto-Lei nº 8.486, em
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS, autarquia federal
atualmente vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional.
Em Pão de Açúcar, no dia 10 de setembro de 1911, há 114 anos
portanto, chegava uma comissão da Inspetoria de Obras Contra as Secas. Composta
pelo engenheiro civil Dr. Adalgiso Fontenelle Bezerril e dos auxiliares
técnicos Guilherme Jagerfeld e Paulo Masques Lisboa, a Comissão tinha por
objetivo a perfuração de poços profundos em nosso Município. Nessa época, era
Intendente o Capitão Serafim Soares Pinto.
No porto, foram recebidos pelo Dr. Luiz Machado (em cuja casa
ficariam hospedados), pelos coronéis Miguel Machado e Manoel Antônio Machado, acompanhados
de Luiz José da Silva Mello, Manoel Rego, Perdiliano Mello, Aurélio Cavalcante
(irmão de Bráulio) e Álvaro Machado. 
A reportagem do jornal A Ideia, que se publicava em Pão de
Açúcar, em matéria publicada no dia 17 de setembro de 1911, informa que o Dr.
Bezerril, já na terça-feira (12) percorreu alguns lugares do município,
escolhendo local para o início do serviço; recaindo essa escolha nas
adjacências do sítio Machado.
Com efeito, conforme nota inserta n’A Ideia de 24 de setembro,
seguiu para o sítio Machado a “máquina perfuradora de poços profundos”,
onde foi assentada em ponto conveniente ao início da perfuração. Sob os olhares
curiosos de muitos moradores das redondezas, os trabalhos foram iniciados na
quinta-feira (26), diz outra nota na edição do dia 1º de outubro
O Dr. Bezerril, conseguindo se restabelecer de uma crise reumática,
seguiu par Penedo no final do mês de outubro, para ali aguardar vapor para a
Banhia. (A Ideia, 20 de outubro de 1911).
No dia 26 de novembro, ainda continuavam os trabalhos de
perfuração, tendo atingido a profundidade de 51 metros.
Do Relatório do Ministério de Viação e Obras Públicas do ano de 1912, consta que foram perfurados dois poços em Pão de Açúcar, ambos no povoado Machado.
O primeiro. Iniciado em 1º de outubro de 1911 e figura no
Relatório apresentado a esse Ministério naquele ano. Diâmetro interno, 5. 5/8”
(cinco e cinco oitavos de polegada). Profundidade, 94 metros. Camadas
atravessadas: argila, 2,50 m; areia 6,30 m; rocha decomposta, 1,70 m; rocha
compacta, 83,50 m. Revestimento, 9 metros. Altura da coluna d’água, 10,50 m.
Vazão, 5.000 litros por hora, de água salobra e gordurosa. Abandonado em 26 de
março. Custo da perfuração: 4:316$400;
O segundo. Iniciado a 1º de abril e suspenso a 9 de agosto.
Diâmetro interno, 5 5/8” (cinco e cinco oitavos de polegada). Profundidade, 94,
70 m; Camadas atravessadas: argila, 4 metros. Areia, 1 metro; rocha decomposta,
2 metros; rocha compacta, 87,70m. Revestimento, 15 metros. Vazão, 170 litros
por hora, não sendo, porém, estável o nível. A água encontrada, bastante
salgada, só serve para o gado e é retirada por uma bomba manual de 1 1/2” de
diâmetro e depositada num tanque com a capacidade para 1.000 litros. Custo da
perfuração 3:780$000. Obras complementares 703$800. Bomba: 460$000.
A notícia d’A Ideia se refere, provavelmente, ao primeiro, posto
que o segundo foi iniciado em 1º de abril de 1912 (ano do Relatório), quando o
jornal não mais circulava.
Esses poços devem ter sido perfurados pelo método de percussão,
utilizado no início do século XX, que consistia em levantar e soltar
repetidamente uma ferramenta pesada (trépano) que quebrava a rocha por
impacto. Alternativamente, usavam-se ferramentas manuais como a barra mina
em solos mais soltos, mas os equipamentos mecânicos, como as máquinas
percussoras, já estavam surgindo para perfurar rochas mais duras. Os
detritos eram removidos com o auxílio de baldes ou caçambas, e a água era
adicionada ao poço para ajudar na remoção do material triturado. 
O pesquisador e escritor Marcelo Maciel, profundo conhecedor
daquela região, afirma que esse primeiro poço foi perfurado na entrada do
povoado Machado, para quem vem de Palestina (antigo Retiro); precisamente sobre
o leito de um riacho que, talvez por isso, passou a ser conhecido por “riacho
do Governo”.
***   
Sobre o Chefe dessa Comissão, o Dr. Adalgiso Barbosa
Fontenelle Bezerril, temos que era filho do Cel. Francisco Fontenelle de
Bezerril e de Maria da Conceição Leite Barbosa. Nasceu em Fortaleza em 24 de
dezembro de 1884 e era casado com Rita Lucas Ventura.
Em fevereiro de 1904, ele, que era sobrinho do Deputado
Federal Bezerril Fontenelle, foi demitido a Recebedoria do Estado do Ceará e
foi trabalhar no Amazonas. Retornando ao Ceará em 1905, ingressa na Inspetoria
de Obras Contas as Secas onde, somente em 1º de julho de 1917, se tornaria
efetivo no cargo de Condutor de 2ª Classe.
***   ***
NOTA:
Caro
leitor,
Deste
Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de
informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita
pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência
bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse
para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior
proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a
citação das referências. Isso é correto e justo.
 
Mais um resgate importante da nossa história. Parabéns, meu confrade Etevaldo, por mais esta publicação!
ResponderExcluirUma ótima matéria que esclarece a historia da necessidade de se construir poços artesianos e alguns açudes no interior de Pão de açúcar. O município foi uma das grandes vítimas das constantes secas periódicas a exemplo das medonhas secas de 1877 / 1898 / 1907 e mais drasticamente 1932
ResponderExcluirInteressante matéria. Ter água potável sempre foi um sonho e um desafio para o povo de nossa região. Sei que na parcela de terras da fazenda Machado, herdada por tia Rosiete, tem um poço artesiano com essas características.
ResponderExcluir