domingo, janeiro 19

PÃO DE AÇÚCAR PERDE MAIS TERRITÓRIO

Por Etevaldo Amorim                                                                                                                                 

Setenta anos depois de ceder parte do seu território para a formação do município de Piranhas, Pão de Açúcar volta a perder parcela significativa de seus domínios. Dessa feita, para constituir o Município de São José da Tapera, com área de 490,880 km².

 

Segundo as referências mais antigas, o importante povoado era conhecido sob a denominação de São José. Já em meados do século XX, galgou a condição de Distrito, criado sob o nome de São José da Tapera pela lei nº 1.473, de 17 de setembro de 1949, subordinado ao município de Pão de Açúcar.

 

De um esboço histórico encontrado no Site do IBGE, temos que a colonização de São José da Tapera foi iniciada em 1900, na fazenda existente no local onde hoje situa a cidade. Era uma propriedade agrícola pertencente à família Maciano. Próximo à fazenda, residia Antônio Francisco Alves, conhecido como Antônio Massuá.

 

Anos depois, procedente de Pão de Açúcar, chegou à região Afonso Soares Vieira, instalando ali uma casa de comércio. Ao mesmo tempo, foi criada uma feira de grande aceitação pelos moradores das localidades circunvizinhas. A iniciativa fez com que a presença de agricultores de outros municípios conhecesse a fertilidade das terras locais, incentivando-os a instalar propriedades no novo núcleo que ali se formava.

 

Começaram então a proliferar casas de taipa (taperas) e, em seguida, foi construída uma capela dedicada a São José. Aproveitaram a existência das edificações simples, batizando o local com o nome de São José da Tapera.


Para a sua emancipação, que se deu obviamente por interesses políticos, destacou-se o esforço do cidadão Eloy Rodrigues Lima.

 

Eloy Rodrigues Lima. Foto cedida por José Cícero Correia.

Eloy é filho de Manoel Rodrigues Lima e Maria Victória de Jesus (casada, Maria Victória Lima). Nasceu na Ilha do Ouro, município de Porto da Folha, Estado de Sergipe  no dia 5 de novembro de 1905.[i]

 

Casou-se com Francina Vieira Lima (06/06/1910-23/08/2006 - filha de Manoel Antônio Vieira e Amélia de Souza Vieira) e foi morar em Tapera. Trabalhava justamente na loja de tecidos e mercearia do senhor Afonso Soares Vieira, a que se refere o esboço histórico do IBGE. Tornou-se o primeiro Prefeito do novo Município. Entretanto, veio a falecer no dia 21 de julho de 1959.

Eloy Rodrigues Lima no Tiro de Guerra 656, em Pão de Açúcar. Foto: acervo Etevaldo Amorim.


O então Distrito foi elevado à categoria de Município com a denominação de São José da Tapera, pela Lei Estadual nº 2.084, de 24 de dezembro de 1957, desmembrado de Pão de Açúcar, sendo instalado em 1º de janeiro de 1959.

 

Em divisão territorial datada de 1º de julho de 1960, o município é constituído do distrito sede, assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007.

 

Sobre a emancipação política de São José da Tapera, há uma fotografia que, embora não se apresente em boa definição, permite identificar a maioria das pessoas que dela fazem parte, bem como evidenciar a importância do fato que ela representa.

 

A foto é um registro de uma visita ao Vice-Governador, no Exercício do Cargo de Governador, o Dr. Sizenando Nabuco[ii], em “AGRADECIMENTO PELA EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DE SÃO JOSÉ DA TAPERA.

 

A delegação era composta por pessoas da própria localidade e de Pão de Açúcar: Pedro Soares Vieira (seu Pedrito, de Pão de Açúcar), José de Oliveira Fontes, Antônio de Souza Barros, Lucilo J. Ribeiro, Eriberto O. Pereira, Giseldo Vieira Lima, Profªs Eulina Paiva Mazoni (de Pão de Açúcar), Creusa Vieira Lima, Ivanise Duarte (de Pão de Açúcr). LEI Nº 2.084, DE 24 DE DEZEMBRO DE 1957. Gov. Dr. Sizenando Nabuco, Deputado Teotônio Vilela, Dep. Augusto Machado e Plácido Alvim.


Tomemos como referência o Vice-Governador Dr. Sizenando Nabuco, ao centro. Dele para a esquerda: Dep. Augusto de Freitas Machado; Pedro Soares Vieira (Pedrito); não identificado; não identificado; Lucilo José Ribeiro (que viria a ser Prefeito na década de 1970). Dele para a direita; Profªs Eulina Paiva Mazoni; Creuza Vieira Lima (filha de Eloy Rodrigues Lima) e Ivanise Duarte. Os dois últimos são: Giseldo Vieira Lima (filho de Eloy Rodrigues Lima) e o jornalista Plácido Alvim (Plácido Feliciano Alvim, jornalista, Diretor da Gazeta de Alagoas; depois, Deputado Estadual). Não identificados: José de Oliveira Fontes; Eriberto O. Pereira; Antônio___ Souza Barros (que viria a ser Prefeito). Foto: acervo de José Cícero Correia (de São José da Tapera).


CHEGA A VEZ DE GUARIBAS

 

O povoado Guaribas, que já fora alçado à condição de Distrito pela Lei Estadual nº 2.090, de 28 de março de 1958, com terras desmembrado do Distrito de Jacaré dos Homens ganha status de Município pela Lei Estadual nº 2.250, de 15 de junho de 1960, confirmado pela lei estadual nº 2.909, de 17 de junho de 1958, desmembrado de Pão de Açúcar, sendo instalado em 13 de agosto de 1960, com área de 86, 605 km².

 

Segundo o IBGE, em divisão territorial datada de 31 de dezembro de 1963, o município é constituído do distrito sede, assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007.

 

Monteirópolis, vendo-se ao fundo a igreja de São Sebastião. Foto: IBGE.

JACARÉ DOS HOMENS DEIXA PÃO DE AÇÚCAR

 

No dia 9 de novembro de 1957 – O Distrito de Jacaré dos Homens, que, em 17 de setembro de 1949, foi elevado à condição de vila por força da Lei 1.473, alcançou autonomia administrativa através da Lei 2.073, sendo instalado oficialmente em 1° de janeiro de 1959, desmembrado de Pão de Açúcar, com área de 187,521 km², aproximadamente, envolvendo o território do atual município de Palestina.

 

Segundo nos contava o Dr. Francisco Araújo Dantas (Dr. Chico), por muitos anos Promotor de Justiça na Comarca de Pão de Açúcar, numa Sessão em que se discutia o Projeto que propunha a emancipação política de Jacaré dos Homens, estava na tribuna o Deputado Estadual e ex-Prefeito Augusto de Freitas Machado. Dizia ele:

 

- O povo de Pão de Açúcar não deseja essa emancipação; o povo de Pão de Açúcar prefere que Jacaré dos Homens continue pertencendo ao nosso território; o povo de Pão de Açúcar... etc. etc.

 

Pedindo um aparte, um Deputado favorável às pretensões de Jacaré dos Homens, interpelou Augusto Machado nos seguintes termos:

 

- Deputado, o Senhor diz a todo momento que “o povo de Pão de Açúcar” diz isso e isso; “o povo de Pão de Açúcar” quer isso e aquilo... O Senhor parece não ter vontade própria. O Senhor mais parece um MENINO DE RECADO!!!!

 

Foi então que Augusto Machado retrucou:

 

- Nobre Deputado, eu quero lembrar que estou aqui como representante do povo de Pão de Açúcar. Foi ele que me mandou para aqui. É por isso que eu, durante toda a minha atividade política, não tenho sido outra coisa, senão MENINO DE RECADO DO POVO DA MINHA TERRA!!!

 

O Deputado Augusto Machado ainda apresentou, ao Supremo Tribunal Federal, uma arguição de inconstitucionalidade da Lei 2.073. O Tribunal, porém, tendo como relator o Ministro Lafayette de Andrada[iii], rejeitou a impugnação, mantendo os efeitos da referida Lei estadual.



Jacaré dos Homens




 Agradecimentos a Mirian Vieira Lima, filha de Eloy Rodrigues Lima, pelas informações prestadas.

 ***   ***

NOTA:

 

Caro leitor,

 

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo. Tratamento de imagem: Vívia Amorim.

 

 



[i] Era primo, por parte de mãe, do Sr. Agnelo Tavares Amorim, do Limoeiro (pai do autor destas notas).

 

[ii] Sizenando Nabuco de Melo (1906-1989). Vice-governador no exercício do cargo, assumiu o Governo do Estado devido ao impedimento do governador Muniz Falcão, decretado pela Assembleia Legislativa Estadual, de 15 de setembro de 1957 a 24 de janeiro de 1958, quando Muniz Falcão foi absolvido pelo Tribunal Misto de desembargadores e deputados estaduais, reassumindo o governo.

 

[iii] Antônio Carlos Lafayette de Andrada (Barbacena, 23 de março de 1900 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1974). Era filho do embaixador José Bonifácio de Andrada e Silva e da embaixatriz Corina Lafayette de Andrada. Pelo lado paterno era neto do senador Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e pelo lado materno era neto do conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira. Era bisneto de José Bonifácio de Andrada e Silva, o “Patriarca da Independência”. Fonte: Jornal do Commércio, RJ, 16 de julho de 1959.

 

 

 




Um comentário:

  1. E assim nasceram mais vizinhos de nossa querida Pão de Açúcar. Melhor para todos, melhor para essas novas cidades, pois a concentração do Poder tb concentra riquezas

    ResponderExcluir

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

PUBLICAÇÕES
Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia