terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

A PARÓQUIA DE PÃO DE AÇÚCAR – O QUINTO VIGÁRIO

 

Por Etevaldo Amorim

 

PE. JOSÉ SOARES PINTO

 


O Padre José Soares Pinto

O quinto vigário da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, de Pão de Açúcar, foi nomeado no dia 3 de outubro de 1910, tomando posse em 11 daquele mês e ano.

Era filho do Capitão José Soares Pinto e de Rosa Maria Dória; esta, filha de Bernardo Machado da Costa Dória e de Maria das Dores da Costa Dória.


Sendo sua mãe natural do povoado Mocambo, município de Porto da Folha, Estado de Sergipe, situado na margem oposta do rio São Francisco, e sendo comum naquele tempo as primíparas terem seus filhos sob os cuidados da mãe, nasceu a 8 de fevereiro de 1884 naquele pequeno lugarejo fronteiriço ao morro do Farias, acidente geográfico de Pão de Açúcar e referência natural dos que por ali navegavam.


Em 1902, ainda aos 18 anos, iniciou seus estudos no recém-criado Seminário de Alagoas, fundado pelo bispo D. Antônio Brandão, instalado a 15 de fevereiro daquele mesmo ano, funcionando provisoriamente na cidade de Alagoas (hoje Marechal Deodoro). O jornal penedense A Fé Cristã, em sua edição de 22 de novembro, noticia a presença, naquela cidade sanfranciscana, dos seminaristas daquela cidade que, oriundos do Seminário de Maceió, que para ali retornavam para passar férias, entre eles José Soares Pinto.[i]


No dia 10 de novembro de 1907, então com 23 anos, em Ato do bispo D. Antônio Brandão, o então Diácono recebeu o grau de Presbítero, juntamente com Júlio Albuquerque e Affonso Tojal.[ii]

Já ordenado, achava-se em Pão de Açúcar quando foi chamado para ocupar a Freguesia em Maceió, durante a ausência do Cônego Machado e de seu coadjutor,[iii] e já em 20 de maio de 1909 tomou posse como vigário da Freguesia de Nossa Senhora Mãe do Povo, em Jaraguá.[iv] Foi nomeado vigário de Pão de Açúcar e 13 de outubro de 1910.

No seu longo paroquiato, muitas foram as atividades religiosas, dentre as quais as santas missões, como estas que se realizaram de 30 de abril a 6 de maio de 1936, pregadas pelos capuchinhos Frei Antônio e Frei Damião. Foram presididas pelo Vigário Pe. Soares Pinto, que foi auxiliado pelos padres Jasson Souto e José Meira.[v] Foram realizadas ali 6.000 comunhões, 1.081 crismas, e algo em torno de 35 casamentos. Houve também imponente procissão fluvial no rio São Francisco.

A estas, por certo, sucederam-se outras, embora pouco noticiadas, talvez ofuscadas pela outra vocação do Padre, a política; esta sim de grande notoriedade.

O Padre Pinto, como era popularmente chamado, faleceu no Rio de Janeiro a 2 de fevereiro de 1939.


Falecia, longe de seus conterrâneos. O Monsenhor Achilles Mello, vigário de Madureira, seu primo, que o acolheu no Rio de Janeiro para onde fora em busca de tratamento, faz publicar no jornal A Noite, edição daquele mesmo dia 2 de fevereiro, uma nota de falecimento, convidando os amigos para o seu sepultamento, às 16:00 horas, no cemitério de Jacarepaguá, saindo o cortejo da sua residência, à rua Cândido Benício, 698.


Atores

O Padre Soares Pinto com um grupo de teatro amador de Pão de Açúcar, em 1916.
Fonte: Pão de Açúcar, História e Efemérides, Aldemar de Mendonça.


A morte o levou aos 55 anos, interrompendo uma trajetória de intensa atividade, tanto na prática religiosa como na atividade política. Difícil dizer em qual delas foi mais efetivo. Fiquemos, então, com esses breves traços sobre a vida dessa personalidade pão-de-açucarense, que foi um dos mais destacados clérigos de Alagoas, estando à frente da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus durante 29 anos.


Sobre sua personalidade, aqui vai transcrito o que publicou o jornalista Dr. Adherbal de Arecippo, em crônica do jornal “Gazeta de Alagoas”, de 21 de novembro de 1954:


“Agrada-me, no instante em que escravo, recordar um sacerdote com quem tive contato durante todo o período da minha adolescência e começo da mocidade. E parece que estou a vê-lo e a ouvir a sua voz “cheia” e dicção bem clara, que hoje diríamos “voz microfônica”.

O padre José Soares Pinto dirigiu a freguesia de Pão de Açúcar, pelo espaço de 29 anos, consagrando-se aos misteres do sacerdócio católico mantendo uma linha de comportamento moral digna de encômios.

Era um servidor abnegado da missão que vinha desempenhado, desde 13 de outubro de 1910, para deixa-la a 27 de outubro de 1939, quando se transportou para o outro lado da vida.

Ainda recordo, como se fosse agora, os exercícios da Via-Sacra, as solenidades do “mês de maio” e as magníficas noitadas com que o Padre Yô-Yô rendia a mais profunda e respeitosa homenagem ao Padroeiro da cidade. Naquelas noites, a Imagem do Coração de Jesus como que se tornava humana e parecia abençoar a quantos se regozijavam com a sua festa. E em todas essas solenidades, ali me encontrava e me esforçava para conquistar o castiçal, de vela acesa, a fim de acompanhar a procissão, junto a charola. Era uma vida que dava o Padre Yô-Yô aquela oração: “Deus e Senhor nosso, protegei a vossa igreja”, pois a sua microfônica voz completava a imponência da prece, de par com a acústica do templo:

O meu saudoso pai, que em Pão de Açúcar pontificava no Juizado de Direito, não se cansava de elogiar a uma das grandes qualidades de que era dono o vigário daquela paróquia; a elevada atenção e piedade com que ele atendia aos moribundos que necessitavam e pediam a sua assistência espiritual, nos últimos instantes da existência humana.

Para qualquer que fosse o povoado, a qualquer hora do dia, da noite, pela madrugada adentro, o Padre Pinto, pertencente a uma das melhores famílias da cidade, mandava selar um dos seus cavalos e rumava em pleno verão ou debaixo de chuva, de moda a chegar ao lar do enfermo, para prepara-lo, convenientemente, a receber, com resignação o término da jornada terrena.

Era um trabalho que aquele sacerdote católico, falecido aos 55 anos, realizava com o mais puro sentimento cristão. E creio que só isso bastou para ele conseguir a sua entrada no reino do céu.

Em algumas das missas cantadas, foi o meu extremoso pai o ensaiador e dirigente da orquestra a convite daquele digno e saudoso padre. E lembro-me de uma delas, a qual foi cantada a “Missa do Coração de Jesus”, da autoria do querido genitor.

Quantas recordações:

Padre aos 23 anos. Os 32 que passou, consagrando-os á sua religião, serviu naturalmente de exemplo para quantas o sucederam nas freguesias de Jaraguá e Pão de Açúcar.

A última vez que o visitei, estava enfermo e se preparava para rumar ao sul, em busca da saúde, a qual já se encontrava praticamente perdida. E o fato é que ele não voltou mais.

Naquela visita recordamos o passado, as solenidades da igreja, o convite que me fizera para aprender a ajudar a missa. E, de tanto relembrar, ele chorou.

Abraçamo-nos, o padre Pinto viajou e não nos vimos mais.”

 

Sobrado do Barão de Piaçabuçu

O Padre Soares Pinto junto a diversas personalidades pão-de-açucarenses: Da esquerda para a direita: Juca Feitosa, Manoel Rego, Vieira Damasceno, Luiz Menezes da Silva Tavares, o homenageado Dr. Paes Barreto, Padre Pinto, João Domingos, Álvaro Machado, Ermínio Veríssimo e Manoel Santana. Na sacada do sobrado está D. Maria Cândida, neta do Major João Machado, Barão de Piaçabuçu.

No Livro nº 05, da Paróquia de Pão de Açúcar, contém uma nota de significativa importância. Ali, o vigário de Belo Monte, que substituía o titular da paróquia, anotou o fato contristador:


“Aos dois de fevereiro de mil, novecentos e trinta e nove, no Rio de Janeiro, em Madureira, Freguesia de São Luiz de Gonzaga, na residência do Monsenhor Achilles Mello, vigário da Paróquia, faleceu piedosamente, confortado com todos os sacramentos que a Santa Igreja concede in articulo mortis, o Revmº Vigário desta Paróquia de Pão de Açúcar, o sempre saudoso Pe. José Soares Pinto, que, aos seus últimos momentos, ainda pronunciou palavras de saudades para sua cara Paróquia. Ao seu funeral compareceram muitas pessoas, inclusive alguns Sacerdotes que o acompanharam até o Cemitério de Jacarepaguá, onde está sepultado em túmulo, e mais uma vez foi encomendada a sua alma. E para constar mandei fazer este assento que assino. O vigário encarregado, Pe. Jasson Souto”


Padre José Soares Pinto

Padre Pinto acompanha distribuição de víveres para os flagelados da enchente de 1919, em Pão de Açúcar.


Para saber mais sobre o Padre José Soares Pinto, acesse o Blog do Etevaldo ou o site História de Alagoas.



[i] A Fé Crhistã, 11 de janeiro de 1902, p. 3

[ii] GUTENBERG, 10 de novembro de 1907, p. 2.

[iii] GUTENBERG, 24 de janeiro de 1908

[iv] GUTENBERG, 20 de maio de 1909.

[v] Diário da Manhã, Recife-PE, 21 de maio de 1936.

5 comentários:

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia