quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

A PARÓQUIA DE PÃO DE AÇÚCAR – O SEGUNDO VIGÁRIO

Por Etevaldo Amorim

 

PE. JOSÉ CASTILHO DE OMENA.

 

Diocese da Barra

O Pe. José Omena. Foto: Revista Vida Doméstica

O segundo vigário da Freguesia do Sagrado Coração de Jesus, de Pão de Açúcar, nasceu em Alagoas (atual Marechal Deodoro), a 17 de março de 1882, onde foi batizado na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, a 28 de maio de 1882, pelo então vigário Antônio Manoel de Castilho Brandão.

Com o nome de batismo de José Wenceslau de Omena[i], o filho do professor Miguel Wenceslau de Omena e Eugênia Maria de Omena tinha por avós paternos: Carlos José de Omena e Ana Francisca de Leão; e, maternos: Manoel Fernandes de Medeiros e Mariana Francisca de Borges. Seu pai, além de professor, foi também membro do Conselho Municipal de Maceió, pelo Partido Democrata.[ii]

Eram seus irmãos: o Dr. Miguel Omena, advogado e militante político na era Maltina, assassinado em Ponta Grossa-PR no dia 21 de agosto de 1911 (para saber mais clique aqui); o padre João Edmundo de Omena, que faleceu em 1891 quando era vigário de São Lourenço da Mata, em Pernambuco; Olympia, que faleceu em 1913; Pedro Venceslau de Omena, major-médico do Exército, falecido em 11 de fevereiro de 1920; Ana Amélia, casada com o Major Benigno Mello, que foi Administrador do Mercado Público de Maceió; Maria Pastora; Maria Emília, casada com o comerciante português Manuel da Silva Nogueira; Eugênia de Omena Filha; Deomídia; e Antônio Venceslau de Omena, advogado formado pela Faculdade do Recife, que também morreu assassinado em Jaraguá, na noite de 13 de março de 1888, por Alfredo Torres, filho de Justino da Silva Torres, por motivos de ciúme.

Igreja Matriz de N. S. da Conceição, Marechal Deodoro-AL,
onde foi batizado o menino José Omena.
Foto: https://www.historiadealagoas.com.br/marechal-deodoro-a-antiga-vila-da-madalena-do-sumauma.html


***   ***

 

Ordenado pelo bispo D. Antônio Brandão em 1904, foi nomeado para a Paróquia de Pão de Açúcar em 30 de abril de 1906, tomando posse a 3 de maio do mesmo ano.

Em 5 de maio, o jornal A Fé Christã, já informava a sua passagem por Penedo, demandando Pão de Açúcar, a fim de ser investido no seu cargo, assinalando que se tratava de “um sacerdote moço, inteligente e piedoso”, que há pouco havia atuado na paróquia de Jaraguá, havendo-se muito bem.

Uma das primeiras atividades do novo pároco foi participar da Festa de Santo Antônio, em Jacaré, no dia 13 de junho de 1906, uma quarta-feira, onde assistiu monsenhor Freitas em missa cantada, cujo sermão foi desenvolvido pelo Padre Antônio Soares de Mello, pároco de Belo Monte.[iii]

Em seguida, durante a festa do Coração de Jesus, foi instalado o Apostolado da Oração, precisamente a 22 de junho de 1906, com a presença do bispo de Alagoas, Dom Antônio Brandão, que celebrou o primeiro pontifical, ocupando a tribuna um dos maiores oradores sacros do nosso Estado, o Cônego João Machado de Mello. Entre as nove fundadoras destacavam-se: Ana Rosa Souto Canuto, Presidente; Maria Amélia Fialho[iv], Secretária; e Maria Oliva de Mello Pinto[v], Tesoureira.

No dia 28 de novembro daquele mesmo ano, em celebração bastante concorrida, o Pe. Omena recebeu o Pe. José dos Anjos, que ali rezou a sua primeira missa.[vi]

A 21 de janeiro de 1907, o vigário de Pão de Açúcar participa das comemorações do primeiro aniversário de instalação do Apostolado do S. Coração de Jesus, em São Brás,[vii] congregação fundada pelo vigário Pe. José Dionísio de Medeiros. Na ocasião, o Pe. Omena oficiou o sermão em missa solene.

O dinamismo que marcou a sua passagem foi observado pela imprensa da época. O jornal A Fé Christã, de Penedo, em edição de 16 de junho de 1906, assim se manifestou:

 

PÃO DE AÇÚCAR. Essa localidade está passando por uma transformação digna de nota.

O espírito religioso que ali estava arrefecido há tantos anos, agora com a chegada do novo pároco, o Padre José Omena, que há sido vantajosamente auxiliado pela bondade e zelo do Monsenhor José de Freitas. Tem tomado um impulso admirável.

A importante cidade, uma das mais importantes da margem do S. Francisco, privada há vinte e tantos anos do exercício do Mês Mariano, teve agora a felicidade de ver reencetado o belo e universal tributo às glórias de Maria Santíssima.

Os dois ilustres sacerdotes, desde que ali chegaram, têm movimentado as práticas religiosas e vivem diariamente entregues aos trabalhos do confessionário. No dia da festa de maio compareceu ao banquete eucarístico o elevado e significativo número de duzentas pessoas entre homens, mulheres e crianças!

Informa-nos que foi um ato deslumbrante e edificante.

No dia 22, haverá a festa do Coração de Jesus, orago da freguesia. Há indizível animação e regozijo.

O povo de Pão de Açúcar, identificado com o novo estado de coisas, exulta de contentamento pela nova era de felicidade que se lhes depara.

Nós também de coração nos regozijamos com o progresso religioso de Pão de Açúcar, essa importante localidade pela qual temos grande afeição.”

 

Da mesma forma, quando da sua retirada da Paróquia, recebeu o Pe. Omena essa significativa referência no jornal O Monitor, editado em Penedo, de propriedade do professor e historiador Moreno Brandão, em 25 de janeiro de 1909:

 

Recebemos e agradecemos uma brilhante polianteia[viii], na qual são dignamente celebrados os méritos do piedoso ex-pároco de Pão de Açúcar, Pe. José Castilho de Omena, a quem deve a religião naquela freguesia os mais belos exemplos de suave bondade evangélica.

Efetivamente, a passagem do jovem e virtuoso sacerdote pela vigararia da bela cidade sanfranciscana ficará eternamente assinalada por atos imorredouros nas crônicas locais, não sendo, portanto, de estranhar que os sentimentos dos pão-de-açucarenses se expressassem para com o simpático e bondoso cura de uma forma tão eloquente e justa.

Estivemos naquela terra, depois de prolongada ausência, e pudemos apreciar, não só os benefícios feitos à matriz completamente remodelada, como também o muito acatamento que de todos merecia o Pe. Castilho de Omena.

Subscrevemos, portanto, cordialmente todos os conceitos da bem escrita e bem impressa polianteia.”

 

Coube a ele, ainda, importantes obras de remodelação da Matriz.[ix]

O segundo vigário esteva à frente da Paróquia até 4 de janeiro de 1909, estabelecendo entre os seus paroquianos elos de profunda amizade, a exemplo do Capitão Manoel Rego, em cujo álbum encontramos uma foto, já esmaecida, e que nos foi cedida pela sua neta Juraci Rego, a quem, mais uma vez agradecemos.

Quando foi removido para uma paróquia na Bania, assumiu interinamente o Pe. José Soares Pinto, cuja provisão foi lida em 17 de janeiro daquele ano.

Naquele Estado, já no ano seguinte, já era vigário da paróquia do “Porto de Santa Maria” (atual Santa Maria da Vitória).

Entre 1911 e 1917, vigário da paróquia de Santana dos Brejos (atual Santana).

Entre 1917 e 1926, vigário da paróquia de São José do Riacho da Casa Nova (atual Casa Nova), da diocese de Barra do Rio Grande.

Em 1931, era vigário da catedral do Bom Jesus, na cidade de Barra do Rio Grande, atual Barra.

Estando na Barra, nos primeiros dias do mês de dezembro de 1929, como Secretário-Geral do Arcebispado e Fiscal do governo no Colégio Santa Eufrásia, o Padre Omena comemorou suas bodas de prata, em “grande banquete... que ofereceu aos seus amigos e autoridades”, conforme notícia do jornal A Noite, de 10 de dezembro de 1929.

Em 1917, já como Cônego, era capelão da Igreja de São José, da Companhia União Mercantil, em Fernão Velho.

Em 1932, era vigário da Paróquia de Bebedouro, em Maceió.

Em sua homenagem, há duas ruas com seu nome em Maceió: uma no bairro do Barro Duro e outra no Distrito de Fernão Velho. Empresta seu nome também a um Centro de Educação Especial, em Viçosa.

Depois de cumprir sua gloriosa jornada, plenamente reconhecida por todos nos lugares por onde passou, ali faleceu em 29 de setembro de 1952, sendo sepultado no cemitério Santíssimo Sacramento, onde está o mausoléu de religiosos.[x]


Diocese da Barra-Bahia

O túmulo do Pe. José Omena no cemitério Santíssimo
Sacramento, na cidade da Barra-Bahia.


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Durante esse paroquiato, foi Coadjutor o Pe. José Moreira Pimentel, que nasceu a 11 de novembro de 1881, em Viçosa-AL, onde foi batizado no dia 11 de dezembro do mesmo ano.

Era filho de Nuno Moreira Pimentel e Maria Rosa dos Santos Pimentel. Seus avós paternos eram: Nuno Moreira Pimentel e Maria Rosa Chaves Pimentel; e, maternos: José de Paiva Coelho e Maria de Sá Santa Rosa.

***   ***

 

NOTA:

 

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.

 



[i] O nome “Castilho” talvez tenha sido adotado após a sua ordenação por Dom Antônio Manoel de CASTILHO Brandão.

[ii] Cruzeiro do Norte, Maceió-AL, 28 de outubro de 1892.

[iii] A Fé Christã, Penedo, 23 de junho de 1906.

[iv] Maria Amélia Gonçalves Fialho, filha de José Targino Gonçalves Fialho e Maria Rosa de Mello. Nasceu no Recife em 1874 e faleceu no Rio de Janeiro a 9 de dezembro de 1968. Foi casada com João Gomes de Carvalho Mello, com que teve dez filhos, entre estes: João Fialho de Mello e Durval Fialho de Mello.

[v] Filha do Major Achilles Balbino de Leles Mello e de Maria Idalina de Souza, e esposa do Cap. Serafim Soares Pinto.

[vi] A Fé Christã, Penedo-AL, 1º de dezembro de 1906.

[vii]  A Fé Christão, Penedo-AL, 26 de janeiro de 1907.

[viii] Antologia de obras de um homem ilustre, organizada em sua homenagem. Antologia referente a algum evento notável.

[ix] O Monitor, Penedo, 25 de janeiro de 1909.

[x] OLIVEIRA, Paulo. A VELHA NECRÓPOLE DA BARRA. MEUS SERTÕES, 27 de setembro de 2017. Disponível em https://meussertoes.com.br/2017/09/27/a-velha-necropole-de-barra/.

  

10 comentários:

  1. Ser de Pão de Açúcar e conhecer a parte desconhecida da nossa história através deste blog é um prazer imenso.
    Obrigada, Etevaldo!

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  2. Mais um belo passeio pela rica história de nossa terra. Desta feita, pude relembrar os nomes de alguns antepassados meus. Parabéns, meu amigo

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  3. Etevaldo, Idalina e o Major Achilles Balbino, eram neus tataravós.

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  4. Etevaldo, sou Tida Monte e gostei de saber mais sobre meus antepassados, pois o casal Idalina e o Major Achilles Balbino, são meus tataravós maternos.

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  5. É sempre uma viagem fantástica ao passado,que ajuda a entender o presente.

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  6. É bom saber a historia de Pão de Açúcar dos antepassados desta bela cidade .

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  7. Minha bisavó Maroca Fialho. Nuno Moreira Pimentel deve ser pai também do maestro Braulio Pimentel, nascido em 1926.

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  8. Parabéns por mais uma publicação contando histórias.

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  9. Parabéns Etevaldo, pela riqueza de detalhes de como descreve a história.

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  10. Parabéns Etevaldo, por nos proporcionar tantos conhecimentos enriquecedores super detalhado, da nossa querida Pão de Açúcar.
    Obrigada por tanto!

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia