sábado, outubro 25

O PRIMEIRO POÇO ARTESIANO EM PÃO DE AÇÚCAR

 

Por Etevaldo Amorim

 

Perfuração de um poço. Foto ilustrativa. Fonte: DNOCS

Os poços artesianos são fontes de abastecimento independentes e seguras, constituindo-se em alternativa importante para amenizar os efeitos da escassez de água.


Trata-se de um tipo de poço tubular profundo. O termo "artesiano" geralmente se refere àqueles casos em que a pressão natural da água faz com que ela jorre espontaneamente na superfície, sem a necessidade de bomba (poço jorrante ou surgente). No entanto, o termo "artesiano" é também empregado em poços profundos que precisam de bombeamento. O nome deriva da região de Artois, na França, onde os primeiros poços desse tipo foram registrados em 1126.


Os primeiros poços tubulares do Brasil foram perfurados entre 1845 e 1846, em Fortaleza, no Ceará. A iniciativa ocorreu durante uma grande seca, e os poços foram construídos pela empresa Armstrong and Sons. Mas a sua utilização se intensificou a partir da criação, em 21 de outubro de 1909, da Inspetoria de Obras Contra as Secas – IOCS, que depois, em 1919, passou a ser chamada de Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS e, em 1945 transformou-se, através do Decreto-Lei nº 8.486, em Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS, autarquia federal atualmente vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional.


Em Pão de Açúcar, no dia 10 de setembro de 1911, há 114 anos portanto, chegava uma comissão da Inspetoria de Obras Contra as Secas. Composta pelo engenheiro civil Dr. Adalgiso Fontenelle Bezerril e dos auxiliares técnicos Guilherme Jagerfeld e Paulo Masques Lisboa, a Comissão tinha por objetivo a perfuração de poços profundos em nosso Município. Nessa época, era Intendente o Capitão Serafim Soares Pinto.


No porto, foram recebidos pelo Dr. Luiz Machado (em cuja casa ficariam hospedados), pelos coronéis Miguel Machado e Manoel Antônio Machado, acompanhados de Luiz José da Silva Mello, Manoel Rego, Perdiliano Mello, Aurélio Cavalcante (irmão de Bráulio) e Álvaro Machado.


A reportagem do jornal A Ideia, que se publicava em Pão de Açúcar, em matéria publicada no dia 17 de setembro de 1911, informa que o Dr. Bezerril, já na terça-feira (12) percorreu alguns lugares do município, escolhendo local para o início do serviço; recaindo essa escolha nas adjacências do sítio Machado.


Com efeito, conforme nota inserta n’A Ideia de 24 de setembro, seguiu para o sítio Machado a “máquina perfuradora de poços profundos”, onde foi assentada em ponto conveniente ao início da perfuração. Sob os olhares curiosos de muitos moradores das redondezas, os trabalhos foram iniciados na quinta-feira (26), diz outra nota na edição do dia 1º de outubro

O Dr. Bezerril, conseguindo se restabelecer de uma crise reumática, seguiu par Penedo no final do mês de outubro, para ali aguardar vapor para a Banhia. (A Ideia, 20 de outubro de 1911).

No dia 26 de novembro, ainda continuavam os trabalhos de perfuração, tendo atingido a profundidade de 51 metros.


Do Relatório do Ministério de Viação e Obras Públicas do ano de 1912, consta que foram perfurados dois poços em Pão de Açúcar, ambos no povoado Machado.


O primeiro. Iniciado em 1º de outubro de 1911 e figura no Relatório apresentado a esse Ministério naquele ano. Diâmetro interno, 5. 5/8” (cinco e cinco oitavos de polegada). Profundidade, 94 metros. Camadas atravessadas: argila, 2,50 m; areia 6,30 m; rocha decomposta, 1,70 m; rocha compacta, 83,50 m. Revestimento, 9 metros. Altura da coluna d’água, 10,50 m. Vazão, 5.000 litros por hora, de água salobra e gordurosa. Abandonado em 26 de março. Custo da perfuração: 4:316$400;


O segundo. Iniciado a 1º de abril e suspenso a 9 de agosto. Diâmetro interno, 5 5/8” (cinco e cinco oitavos de polegada). Profundidade, 94, 70 m; Camadas atravessadas: argila, 4 metros. Areia, 1 metro; rocha decomposta, 2 metros; rocha compacta, 87,70m. Revestimento, 15 metros. Vazão, 170 litros por hora, não sendo, porém, estável o nível. A água encontrada, bastante salgada, só serve para o gado e é retirada por uma bomba manual de 1 1/2” de diâmetro e depositada num tanque com a capacidade para 1.000 litros. Custo da perfuração 3:780$000. Obras complementares 703$800. Bomba: 460$000.


A notícia d’A Ideia se refere, provavelmente, ao primeiro, posto que o segundo foi iniciado em 1º de abril de 1912 (ano do Relatório), quando o jornal não mais circulava.


Esses poços devem ter sido perfurados pelo método de percussão, utilizado no início do século XX, que consistia em levantar e soltar repetidamente uma ferramenta pesada (trépano) que quebrava a rocha por impacto. Alternativamente, usavam-se ferramentas manuais como a barra mina em solos mais soltos, mas os equipamentos mecânicos, como as máquinas percussoras, já estavam surgindo para perfurar rochas mais duras. Os detritos eram removidos com o auxílio de baldes ou caçambas, e a água era adicionada ao poço para ajudar na remoção do material triturado. 


O pesquisador e escritor Marcelo Maciel, profundo conhecedor daquela região, afirma que esse primeiro poço foi perfurado na entrada do povoado Machado, para quem vem de Palestina (antigo Retiro); precisamente sobre o leito de um riacho que, talvez por isso, passou a ser conhecido por “riacho do Governo”.


***  


Sobre o Chefe dessa Comissão, o Dr. Adalgiso Barbosa Fontenelle Bezerril, temos que era filho do Cel. Francisco Fontenelle de Bezerril e de Maria da Conceição Leite Barbosa. Nasceu em Fortaleza em 24 de dezembro de 1884 e era casado com Rita Lucas Ventura.


Em fevereiro de 1904, ele, que era sobrinho do Deputado Federal Bezerril Fontenelle, foi demitido a Recebedoria do Estado do Ceará e foi trabalhar no Amazonas. Retornando ao Ceará em 1905, ingressa na Inspetoria de Obras Contas as Secas onde, somente em 1º de julho de 1917, se tornaria efetivo no cargo de Condutor de 2ª Classe.


***   ***


NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.

3 comentários:

  1. Mais um resgate importante da nossa história. Parabéns, meu confrade Etevaldo, por mais esta publicação!

    ResponderExcluir
  2. Uma ótima matéria que esclarece a historia da necessidade de se construir poços artesianos e alguns açudes no interior de Pão de açúcar. O município foi uma das grandes vítimas das constantes secas periódicas a exemplo das medonhas secas de 1877 / 1898 / 1907 e mais drasticamente 1932

    ResponderExcluir
  3. Interessante matéria. Ter água potável sempre foi um sonho e um desafio para o povo de nossa região. Sei que na parcela de terras da fazenda Machado, herdada por tia Rosiete, tem um poço artesiano com essas características.

    ResponderExcluir

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

PUBLICAÇÕES
Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia