Por Etevaldo Amorim
![]() |
| Canoa de tolda carregada de lenha (tonelada). Foto: Edgar de Cerqueira Falcão, 1939. |
Há pessoas ou coisas que, por razões que não sabemos, são fadadas ao infortúnio. Um ponto comercial que não progride, independentemente do ramo de atividade ou do seu proprietário; veículo que frequentemente se envolve em acidente; indivíduo suscetível a se envolver em situações difíceis e inusitadas; e outras tantas circunstâncias em que o azar parece predominar, conduzindo tudo ao maior fracasso.
É precisamente o caso de uma canoa chamada “Palestina”, do
porto de Pão de Açúcar. Segundo o escritor pão-de-açucarense Gervásio Francisco
dos Santos, em seu livro UM LUGAR NO PASSADO, eram duas as embarcações com esse
nome, ambas de propriedade do Sr. Ananias: a Primeira Palestina e a Segunda
Palestina.
Segundo Aldemar de Mendonça, no dia 6 de
janeiro de 1929, nas proximidades da serra da Tabanga, defronte a cidade de
Traipu, afundou-se a canoa “Palestina” do Sr. Ananias de Tal, falecendo uma
pessoa.
Já no dia 13 de outubro de 1943, contrariando o ditado que
diz que “o raio não cai duas vezes no mesmo lugar”, outro desastre se
deu, no mesmo local, desta feita com a canoa “Segunda Palestina”.[i]
A canoa saíra do porto de Pão de Açúcar no dia 12, às 19:00
horas, horário propício para a navegação rio abaixo, quando o vendo abranda. Viajou
toda a noite sem novidade. Ao meio-dia, entretanto, ao bordejar junto à Tabanga,
famosa pelos ventos fortes e irregulares, a canoa virou, submergindo.
Diz a reportagem do jornal Gazeta de Alagoas, de 16 de
outubro de 1943:
“A Tabanga é uma alta serra que se recorta soberbamente em
frente à referida cidade alagoana. Ali a profundidade do rio é de 90 pés. A
embarcação fluvial trazia carregamento de toneladas e, decerto, a uma virada
mais forte, as águas invadiram o seu interior.”
Das vinte e duas pessoas a bordo (entre tripulantes e
passageiros), sete pereceram, sendo cinco mulheres e dois homens.
Entre os passageiros estava o Sr. Mário de Mendonça Mendes,
ex-prefeito de Marechal Floriano[ii]
e então prefeito de Traipu[iii].
Ele regressava de uma reunião de prefeitos e autoridades do cooperativismo.
Salvou-se milagrosamente, reagindo contra a impetuosidade das águas, pois não
sabia nadar.
A reportagem conclui:
“O povo de Traipu prestou todos os possíveis auxílios de
salvamento, notando-se a atuação dos Srs. José Matos, Suplente de Delegado de
Polícia; José Teodoro, Guarda Sanitário; e Dr. Zaneli do Couto Malta[iv],
Promotor Público.”
__
Anos depois, em 1949, o nome do ex-prefeito de Traipu Mário Mendes
aparece entre as vítimas fatais das fortes chuvas que se abateram sobre Maceió.[v]
Iniciando na noite da segunda-feira, 16 de maio de 1949, em plena semana santa,
as chuvas caíram por 70 horas ininterruptas até que, na
madrugada da quinta-feira, 19 de maio, Maceió foi atingida por uma das suas
maiores tragédias. Mário Mendes, sua esposa, sra. Doralice Barros Mendes,
e cinco filhos menores, Mariuze, Verônica, Marize, Viviane e Mário Ney, foram
soterradas.[vi]
![]() |
| O Sr. Mário Mendes. Foto: Gazeta de Alagoas. |
___
Alguém por certo diria: era seu destino morrer sob as águas. Sobreviveu
ao naufrágio no rio São Francisco, mas sucumbiu às chuvas torrenciais da tragédia
de 1949, em Maceió.
___
NOTA:
Caro
leitor,
Deste
Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de
informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita
pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência
bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse
para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior
proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a
citação das referências. Isso é correto e justo.
[i]
Fonte: jornal A Noite, RJ, 19 de outubro de 1943.
[ii]
Marechal Floriano Peixoto. Denominação do município de Piranhas, imposta pelo
Decreto-Lei Federal nº 1686, de 17/10/1939, assim permanecendo até o advento da
Lei nº 1473, de 17/09/1949, que lhe restituiu o antigo nome.
[iii]
Mário de Mendonça Mendes, nomeado prefeito de Traipu pelo Interventor Federal
Ismar de Góis Monteiro, em substituição ao prefeito Gonçalo de Menezes Tavares.
Prestou juramento em 18 de setembro de 1943. Fonte: Diário de Notícias (RJ), 12
de setembro de 1943. Era jornalista e caixa da Caixa de Crédito Agrícola de Alagoas. Filho
de Manoel Ferreira Mendes e Rosa Cândida de Mendonça.
[iv]
Dr. Zaneli do Couto Malta, filho do ex-governador de Alagoas Joaquim Paulo
Vieira Malta e de Zelina Rodrigues do Couto (irmã do fotógrafo Zenóbio
Rodrigues do Couto, autor da famosa foto dos revoltosos do Forte de Copacabana,
em 1922).
[v]
Gazeta de Alagoas, 20 de maio de 1943.
[vi]
PINTO, Edberto Ticianeli. A cabeça d’água de 1949 em Maceió. Site História de
Alagoas, 24 de maio de 2015.


Mais um fato histórico do passado nos é singelamente revelado de forma a compreendermos como aconteceu ,onde e em quais circunstâncias ?!
ResponderExcluirInteressante, curioso (por duas vezes, e no mesmo ponto geográfico) e trágico fato.
ResponderExcluir