sexta-feira, 15 de outubro de 2010
SALVE 15 DE OUTUBRO - DIA DO PROFESSOR
Renê Barreto¹
Andava muito doente o velho professor...
Por isso ele não tinha agora o mesmo ardor
Que outrora o possuía e o animava dantes.
Às vezes, quando em aula, havia mesmo instantes
Em que inclinava a fronte - aquela fronte austera
Onde já desbotara a flor da primavera
E cochilava um pouco, involuntariamente.
O velho professor andava muito doente....
Era, porém, tamanho o bem que nos queria,
Que jamais quis pedir aposentadoria
E manter-se do Estado a custa dessa esmola...
Era sempre o primeiro a aparecer na escola
Com as suas joviais maneiras tão simpáticas
Não obstantes sentir umas dores reumáticas,
Que o faziam sofrer muito ultimamente...
O velho professor andava muito doente....
Um dia ele chegou mais tarde alguns momentos.
Trazia nas feições sinais de sofrimento...
A palidez do rosto, os olhos encovados,
Denunciavam seus pesares ignorados;
E, como pra tornar a dor mais manifesta,
Cavara-se-lhe fundo uma ruga na testa
Franzia-se-lhe o rosto numa expressão de horror...
Andava muito doente o velho professor...
A aula começou. Mas pouco depois das onze,
O velho mestre, o bom batalhador de bronze,
Que já perto de trinta anos, ou mais, havia
Que gigantesco herói, lutava dia a dia
Para a glória da Pátria e para o bem da infância,
Dando batalha ao vício e combate à ignorância,
Sentindo de uma dor agudos abrolhos,
Curvou as nobres cãs, cerrou de leve os olhos.
Fora fulgia o sol. A manhã era calma.
Risonha, a naturêza abria a sua alma,
Repleta de alegria e cheia de esplendores.
Pela janela entrava o hálito das flores.
E em toda a atmosfera, azul, lavada, fina,
Ressoava, baixinho, assim como em surdina,
O canto celestial, harmonioso e suave:
Anjos tocando em harpa alguma canção de ave.
Nisto ergueu-se um aluno, um pândego, um peralta,
Fabricou de um jornal um chapéu de copa alta
E bem devagarinho (oh! Que idéia travessa)
Chegou-se ao mestre...záz! enfiou-lhe na cabeça,
E rápido, se foi de novo ao seu lugar...
O mestre nem abriu o sonolento olhar.
E, aquele aspecto vil de truão, de improviso,
Rebentou pela aula estardalhante riso.
De súbito surgiu o diretor na sala...
Demudou-se-lhe o gesto, estremeceu a fala,
Quando ele, transformando a mansidão de boi
Em fúria de leão, nos perguntou: Quem foi?
Quem foi esse vilão que fez tal brejeirice,
Sem respeito nenhum às cãs desta velhice?!
Vamos lá! Sedes leais, verdadeiros e francos!
Dizei: Quem ofendeu estes cabelos brancos?
Mas ninguém denunciou da brincadeira o autor,
E como um clown, dormia o velho professor.
O diretor, então chegou-se junto à mesa...
Via-se-lhe no rosto incômodo, a surpresa
De que o sono do Mestre assim se prolongasse,
Curvou-se meigamente e levantou-lhe a face...
Mas recuou tremendo, aterrorado, absorto,
Aniquilado e mudo...
O Mestre estava Morto...
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¹ Educador_1872-1916.
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Extraído do livro de leitura de minha mãe: Corações de Crianças-Terceiro Livro, de Rita de Macedo Barreto.
A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR
PÃO DE AÇÚCAR
Marcus Vinícius*
Meu mundo bom
De mandacarus
E Xique-xiques;
Minha distante carícia
Onde o São Francisco
Provoca sempre
Uma mensagem de saudade.
Jaciobá,
De Manoel Rego, a exponência;
De Bráulio Cavalcante, o mártir;
De Nezinho (o Cego), a música.
Jaciobá,
Da poesia romântica
De Vinícius Ligianus;
Da parnasiana de Bem Gum.
Jaciobá,
Das regências dos maestros
Abílio e Nozinho.
Pão de Açúcar,
Vejo o exagero do violão
De Adail Simas;
Vejo acordes tão belos
De Paulo Alves e Zequinha.
O cavaquinho harmonioso
De João de Santa,
Que beleza!
O pandeiro inquieto
De Zé Negão
Naquele rítmo de extasiar;
Saudade infinita
De Agobar Feitosa
(não é bom lembrar...)
Pão de Açúcar
Dos emigrantes
Roberto Alvim,
Eraldo Lacet,
Zé Amaral...
Verdadeiros jaciobenses.
E mais:
As peixadas de Evenus Luz,
Aquele que tem a “estrela”
Sem conhecê-la.
Pão de Açúcar
Dos que saíram:
Zaluar Santana,
Américo Castro,
Darras Nóia,
Manoel Passinha.
Pão de Açúcar
Dos que ficaram:
Luizinho Machado
(a educação personificada)
E João Lisboa
(do Cristo Redentor)
A grandiosa jóia.
Pão de Açúcar,
Meu mundo distante
De Cáctus
E águas santas.
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Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)
(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937
(+) Maceió (AL), 07.05.1976
Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.
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PÃO DE AÇÚCAR
Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.
Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.
Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,
O pó que o vendaval deixou no chão cair.
Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste
O teu profundo sono num divino sorrir.
Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,
Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.
Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.
Teus jardins se parecem com vastos cemitérios
Por onde as brisas passam em brando sussurrar.
Aqui e ali tu tens um alto campanário,
Que dá maior relevo ao pálido cenário
Do teu calmo dormir em noite de luar.
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Ben Gum, pseudônimo de José Mendes
Guimarães - Zequinha Guimarães.