sexta-feira, 11 de outubro de 2013

SILOGISMO

Rosália Sandoval
                         (retribuindo ao ilustre poeta Olympio Fernandes)

“Que é a vida? — indaguei ao potentado
que milhões e milhões vive a ganhar.
Disse-me ele, num sorriso apalermado:
— “Gozar! Gozar!, Gozar!

Interroguei ao pobre: “Que é a vida?”
Ele me respondeu quase a chorar:
— “Bem o saber, oh alma entristecida...
— “Lutar! Lutar! Lutar!”

E ao poeta que afina a terna lira,
pergunto: — “Que é a vida?” — Ele a cantar
responde como a aragem que suspira:
— “Amar! Sofrer! Sonhar!”
___________
Colhida do jornal Gutenberg, Maceió, 23 de agosto de 1908.


segunda-feira, 30 de setembro de 2013

BRÁULIO X BRAYNER – A PENA E A ESPADA

Etevaldo Amorim¹

Publicado no nº 2 da Revista do Arquivo Público do Estado de Alagoas, cujo lançamento se deu na tarde do dia 27 próximo passado, no Museu Palácio Floriano Peixoto. À solenidade compareceram, entre outras autoridades, o Diretor do APA, Dr. Marcos Vasconcelos Filho e o Dr. Álvaro Antônio Melo Machado, Secretário-Chefe do Gabinete Civil.

O Diretor do APA, Marcos Vasconcelos Filho.

O Dr. Álvaro Antônio Melo Machado, Secretário-Chefe do Gabinete Civil. Foto: Agência Alagoas.





RESUMO

Dois homens, de convicções bem diferentes, são levados pelo destino a um encontro fatal na Praça dos Martírios, palco de um dos mais importantes acontecimentos da história de Alagoas. Braulio Cavalcante e o Tenente Brayner. Cem anos são passados, mas aqueles fatos adquiriram tal magnitude, que nos impõe a tarefa, quase dever, de registrá-los para conhecimento desta geração e das gerações futuras.

sábado, 7 de setembro de 2013

A POESIA DE SABINO ROMARIZ

DE LARVA EM AVE

Sabino Romariz

Eu me vou transformar em vala tenebrosa,
Triste vala comum, quando cadáver for,
Na corola gentil de aromática rosa,
Ou no caule hibernal de uma esquálida flor.

Em lírio, talvez, de feição caprichosa,
Mais roxo q’a saudade e mais triste q’a dor,
Que do sono e da paz do cemitério goza,
Uma vala comum sob um céu multicor.

Então, pela tardinha, ao frouxo sol do ocaso,
Qual macerado olhar, bem de lágrimas raso,
Ao despertar da lua e quando tomba o sol.

Aos lampejos do luar pelas ínvias estradas
Eu poderei soltar canções apaixonadas
Carne livre do mal, ditoso rouxinol.
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Retirado do jornal A Flor, Penedo-AL, 20 de outubro de 1909.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

THEOPHANES BRANDÃO

          COROA DE ESPINHOS

                                                      Theophanes Bandão

Na granja de minha alma apenas mora
A lágrima de sangue vegetando
E desferindo cânticos eu ando
— Um crepúsculo eterno à luz d’Aurora.

Qu’estes sorrisos pálidos agora,
São d’alvas ilusões um triste bando,
Que neste coração murcharam quando
O amor batendo as asas foi-se embora!

Vai-me fugindo um resto de conforto,
Eu já não sinto mais, quase que morto,
Trinar um’ave em meus beirais mesquinhos.

E minha alma a bater de porta em porta,
Aos corações de bem piedade exorta,
Mostrando um peito cravejado d’espinhos!

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Retirado do GERMINAL, Penedo, 30 de dezembro de 1909.  

AS ESTAÇÕES

                                       Theophanes Brandão

Quando a menina corre pelos prados
Atrás das borboletas... primavera!
O amor corre a teus pés, lança-lhe flores,
E aos seus ouvidos diz baixinho: — ESPERA!

Quando a menina no verão ardente,
Mira a rolinha que o pombinho chama,
Ao sol poente, quando a brisa geme,
O amor a c’roa e diz baixinho: — AMA!

E no outono da vida a flor é fruto,
Sombria a mata, a lua é tão saudosa,
A moça é terna, seu amante abraça,
O amor diz baixinho aos seus ouvidos: — GOZA!

O inverno chega quando tudo é calmo;
O sol da vida já não mais aquece:
Da mulher a beleza é já fanada,
Ela é tão só! E o amor diz baixinho: — ESQUECE!

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Retirado de GERMINAL, Penedo-AL, 19 de dezembro de 1909.


DILÚVIO DE LÁGRIMAS

                                             Theophanes Brandão

Quem pode amar, se tem despedaçado
O peito pela mágoa a mais profunda,
Mágoa tão grande que a alma inteira inunda,
Como um dilúvio todo ensanguentado?

Se tem o coração de lado a lado
Ferido pela lança aguda e fria
Da mais antiga e estúpida agonia
E à nostalgia vive condenado?

Se em lágrima de fel se despedaça,
E vê como entre rolos de fumaça,
Desvanecer-se a antiga fantasia?

Quem pode assim, quem pode, quando
A vida foge e a morte vem chegando
Solene; triste; trágica e sombria?
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Retirado de O CRUZEIRO, Penedo, Alagoas, 28 de agosto de 1909.

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A AGONIA DO BOÊMIO

(Ao poeta Costa e Silva)

                        Theophanes Brandão¹

Um verso por um pão, dúzias de rimas,
Grita o boêmio, a cara dos burgueses,
Há nelas, a granel, vícios franceses.
Devassidões excêntricas e opimas.

Volúpia própria de diverso clima,
Verdadeiras cantaridas, às vezes,
Vermelhos e picantes estremezes,
Do que a velhice mais moderna estima.

Chocarrices faceiras, voluptuosas,
Serpentes negras abraçando rosas,
Ações trincando o defendido pomo

Rendilhado à linguagem mais devassa,
Tudo isso por um pão quase de graça;
Mas venha o pão que, há dias, que não como.
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Retirado de O CRUZEIRO, Penedo(AL), 30 de setembro de 1909.
____________
¹ Theophanes Martins Brandão foi professor do colégio D. Pedro II, no Rio de Janeiro e autor de belos poemas, dentre os quais se destaca o denominado Trevas e Sóis. Filho de Manoel Martins Brandão e Maria Lusia Brandão, nascem em Porto Real do Colégio, Estado de Alagoas, no dia 27 de dezembro de 1875. Faleceu em Penedo no ano de 1954.

Teophanes Brandão - fonte: Casa do Penedo. Gentil oferta do historiador David Roberto Bandeira.

Revista FON FON, Rio de Janeiro, 25 de abril de 1925. O professor Theophanes Brandão durante a Conferência que proferiu no Centro Alagoano, no dia 19 de abril de 1925, com o tema Os dez mandamentos cívicos” ou “O decálogo da mocidade” 

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

NA PRAIA DA MINHA TERRA

                              Agrippino Ether

Ainda os vejo lá:
            os capacetes agitando,
            coqueiros do Sobral,
soldados,
                        de atalaia,
                                  guardando
                                        enfileirados
A enorme vastidão daquela praia.

O coqueiral!...
             De um lado —Jaraguá;
             do outro lado, tão bonita!
                        a cismar,
de verde toda enfeitada,
             naquela curva infinita,
             —a Pajuçara, sentada
na orla branca do mar.

No meio dessa esplêndida paisagem,
miragem,
             onde cantaram sereias,
              onde rolaram fetiches,
sobre o lençol tão branco das areias,
a reticência negra dos trapiches...

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Publicado na revista Fon Fon, Rio de Janeiro,
23 de janeiro de 1932.


Prof. Agrippino Ether. Foto disponível em:
 

AGRIPINO ALVES ETHER

(São Luís do Quitunde, segundo a informação da AAL. Solange Lages, no discurso de posse, pois o sucedeu, afirma ter nascido em Maceió AL 21/7/1886 (segundo Adalberto Marroquim), ou 23 ou 26/7/1885 ou 1887 - Rio de Janeiro RJ 23/10/1954) Jornalista, professor, dentista, advogado. Filho de Olímpio Dias Ferreira Ether e Francelina Alves Ether. Estudou no Colégio 24 de Fevereiro, depois no Seminário de Olinda e posteriormente no de Maceió, onde terminou o Curso de Filosofia. Bacharelou-se em Letras, no Liceu Alagoano, e logo depois, seguiu para a Bahia. Diplomado em Odontologia (1909), pela Faculdade de Medicina da Bahia. Retorna a Maceió, onde instala sua clínica, tendo sido o primeiro gabinete eletrodentário de Maceió. Mantém, contudo, sua atividade de jornalista, tendo sido um dos fundadores de O Semeador. Por razões políticas muda-se para o Rio de Janeiro. Forma-se em Direito, pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro (1930). Professor catedrático da Faculdade Fluminense de Medicina e da Faculdade Nacional de Odontologia. esta última da então Universidade do Brasil. Membro-fundador da AAL, sendo o primeiro ocupante da cadeira 28, da qual o poeta Franco Jatobá é o patrono. Secretario Geral do Instituto Brasileiro de Estomatologia (1935/36). Professor honorário da Faculdade de Farmácia e Odontologia de Manaus. Faleceu, repentinamente, quando tinha sido escolhido paraninfo pelos doutorando da Faculdade Fluminense de Medicina. Pertenceu a sociedades científicas nacionais e internacionais. Um dos membros fundadores a Academia Brasileira de Odontologia. Patrono da cadeira n. 97 da Academia Brasileira de Medicina Militar. Dirigiu a revista Brasil Odontológico. Publicou: Inverno, 1920 (palestra literária); Ninféia, 1920 (palestra literária); Homenagem à Memória de Rui Barbosa. Discursos Pronunciados na Academia Alagoana de Letras, Maceió, 1923; Rui Barbosa, 1923 (estudo crítico); Cinzas (poesia); Mentira (poesia); Rictus Faciais no Crime; Moldagem em Prótese Buco-Facial, Rio de Janeiro, Ed. Pongetti, 1935; Silêncio, Rio de Janeiro, Empresa Número, 1931; Escute, Rio de Janeiro, Ed. Borsoi, 1938; Infecções em Foco, Revista Brasil Odontológico, 1925; O Molar dos Seis Anos, conferência na Associação Médica Cirúrgica de Alagoas, 1922; O Mercúrio nas Obturações Metálicas, Revista Brasil Odontológico, 1925; Odontologia ou Estomatologia, tese ao 2o. Congresso Odontológico Latino-Americano, Buenos Aires, 1925; A Luta Contra a Tuberculose, Revista Brasil Odontológico, 1925; Glândulas Endócrinas, livreto, 1926; As Infecções Dentárias. Brasil Odontológico, 3 (1-2): 5, jul. ago. 1926; O Câncer, Tese ao 3o. Congresso Latino-Americano de Odontologia, 1929; Pulpectomia versus Despulpação, Brasil Odontológico, 10(10); 170-172, abr. 1930 ; Um Dente Infectado Como Causa de Êxito Letal, Revista Farmacêutica Odontológica, (3):1/3, out., 1934; Com a .Vida Médica., livreto, 1934; Moldagem, 1935; Antro de Highmore, Revista de Farmácia e Odontologia, 1937; Fraturas Mandibulares, Revista Farmácia e Odontologia, p. 179, palestra no Curso de Preparação da Reserva Odontológica (1942-43); A Diafanização nos Domínios da Anatomia Patológica, Revista Farm. Odont. (88): 1-6, junho, 1948; A Diafanização: Sua Importância e o que a Mesma Nos Revela, (trabalho apresentado à Academia Brasileira do Odontologia (1952). In Agripino Ether (Necrológio), Revista do Sindicato dos Odontólogos do Rio de Janeiro, (2):32-42, out./nov. , 1954. Traduziu: Profilaxia do Câncer de Darier, Lemaitre e Monier, 1925; Cirurgia Oral de Francisco Pucci, 1929; Atlas Anatômico de Baillères, 1929. Teria deixado inéditos: Ururbu e Florilégio.

 
Fonte: BARROS, Francisco Reynaldo Amorim de. ABC DAS ALAGOAS. Disponível em: http://www.abcdasalagoas.com.br/public_html/verbetes


sábado, 10 de agosto de 2013

DIA DOS PAIS

O HERÓI

                              Judas Isgorogota¹

"— Papai, o que é um herói?
Eu pergunto por que tenho grande vontade
De ser herói também ...
Será que posso ser herói sem entrar numa guerra?
Será que posso ser herói sem odiar os homens
E sem matar alguém?"

O homem, que já sofrera as mais fundas angústias
E as mais feias misérias,
Trabalhando a aridez de uma terra infecunda
Para que não faltasse o pão no pequenino lar;

O homem, que as mais humildes ilusões perdera
No seu cotidiano e ingrato labutar;
Aquele homem, ao ouvir a pergunta do filho:
— "Papai, o que é um herói?"
Nada soube dizer, nada pôde explicar...

Tomou de uma peneira
E cantando saiu, outra vez, a semear!
______________

¹ Pseudônimo de Agnelo Rodrigues de Melo, poeta e Jornalista brasileiro. Nasceu em Lagoa da Canoa, Alagoas em 15 de setembro de 1901. Viveu em Maceió, mudou-se aos 23 anos para o Rio de Janeiro e depois para São Paulo onde ganhou projeção internacional e veio a falecer em 1979. Era casado com Nazira César de Melo, com que teve uma filha chamada Rima, nascida em São Paulo, a 24 de outubro de 1934. Publicou 15 livros de poesias, uma novela e cinco de poesias infantis. Parte de sua obra poética traduzida para vários idiomas (francês, inglês, alemão, espanhol, italiano, húngaro, árabe, checo e lituano). Com toda essa bagagem é quase um desconhecido em sua terra. O poeta teve uma filha à qual deu o nome de Rima Augusta.

sábado, 3 de agosto de 2013

POEMAS


                Jorge de Lima


Remédios,
Carrapetas,
Taramelas,
E há a cana que dá tudo,
Porque dá ao homem triste dessas terras
A alegria cor de brasa da embriaguêz
E o esquecimento cor de cinza que vem dela.
______________

Publicado na revista O Malho-RJ, 20/07/1933.

sábado, 20 de julho de 2013

SANTOS DUMONT

Há 140 anos, nascia Alberto Santos Dumont.

A homenagem deste Blog ao “pai da aviação”. Ele nasceu em Palmira, Minas Gerais (hoje denominada Santos Dumont) e faleceu em Guarujá em 23 de julho de 1932, aos 59 anos.

Ei-lo conduzindo o seu Demoiselle até a Issy-les-Moulineaux, sudoeste de Paris, às margens do rio Sena. Foto: Revista Careta, RJ, 2 de julho de 1909.

 O seu Demoiselle. Careta, RJ, 02.07.2909.
O aeroplano Demoiselle decolando em Issy-les-Moulineaux. Careta, RJ, 02.07.1909.

O Demoiselle em pleno vôo. Revista Illustração Brasileira, RJ, 15.10.1909.

                    Santos Dumont em sua última foto. Revista Careta, RJ, 24 de dezembro de 1932.
 
 Cortejo fúnebre de Santos Dumont na Praça da República, Rio de Janeiro.(Revista Careta, 24/12/1932).
 
 Esquife de Santos Dumont conduzido por Cadetes da Escola Militar. (Revista Careta, 24/12/1932).
 
Outro aspecto do cortejo. (Revista Careta, 24/12/1932).

Monumento e túmulo de Santos Dumont, mandado construir pelo próprio, no cemitério São João Batista, onde repousam também os restos mortais de seus pais: Francisca e Henrique Dumont.(Revista O MALHO, 17/12/1932).
 

terça-feira, 18 de junho de 2013

MEU ENCONTRO COM...

MAJOR LUIZ

Por Etevaldo Amorim

Da escola, na verdade uma banca de estudos – espécie de cursinho para o Exame de Admissão ao Ginásio, que tinha como professor o meu bom e velho amigo Lindalvo Costa — ouvimos um barulho de lancha chegando ao porto. Não era o horário das lanchas que faziam a linha Penedo-Piranhas. Logo soubemos que nela chegara o ex-governador Luiz Cavalcante.

Desembarcou acompanhado apenas de um assessor e logo foi cercado por um grande número de meninos e meninas, e até moças, que o conheciam muito bem, já que alguns anos atrás ele visitara o Limoeiro como Governador do Estado. Naquela ocasião, com uma grande comitiva, distribuiu muitos presentes: brinquedos para as crianças, cortes de chita para as senhoras... depois foi embora no velho navio Comendador Peixoto, que já dava seus últimos apitos. Agora, num belo dia do ano de 1968, retornava como Deputado Federal.

Subiu do “porto de baixo” direto para a Rua do Meio. Conversou um pouco com Seu Josias, um carpinteiro que improvisava uma oficina à sombra do oitão da Igreja. Trocou com ele algumas palavras, numa prosa que parecia ser de dois homens do mesmo nível. Lembro-me bem desta frase:

— “Então o senhor é o carapina daqui, heim?!!!.

Seu Josias sorriu e ele se voltou para nós. Reuniu a meninada, e iniciou uma espécie de olimpíada de brincadeiras (corridas de saco, adivinhações, etc.) com as quais premiava os vencedores. Ficamos assim por algum tempo até juntar todos na alta calçada da casa de Seu Juca para uma fotografia. Algum tempo depois, ele nos mandou a fotografia que tiramos juntos e que segue abaixo.

Já na descida para o porto de baixo, sentou-se na calçada da casa de Seu João Gringo, sempre cercado da garotada. O sol já pendia para o poente e já fazia sombra naquele local. Dali se avistava o nome daquela rua, inscrita na própria parede do prédio dos Correios, na esquina do lado oposto: — RUA MÁRIO VIEIRA — . Ele, então, lançou a pergunta:

— Quem é Mário Vieira?

Ninguém respondeu. Fiquei meio tímido, mas tomei coragem e falei:

— Mário Vieira era um homem daqui do Limoeiro, que foi político e morreu assassinado há muitos anos...

O Major, satisfeito e sorridente, disse-me:

— Muito bem, garoto! Então você conhece a história da sua terra...

Eu poderia não saber de qualquer outra história daquela antiga vila em que passei a morar a partir de 1964, vindo de Campinas, onde nasci. Mas aquela história eu conhecia muito bem. Meu pai me contava que, em janeiro do ano de 1936, durante a Festa dos padroeiros do lugar (Jesus, Maria e José), um grupo de policiais das Volantes (forças que combatiam os cangaceiros), procedentes de Belo Monte, ali chegaram e começaram a desacatar algumas pessoas do lugar. Admoestado por Seu Mário Soares Vieira, que acabara de chegar a cavalo do então povoado São José da Tapera, um deles lançou mão de um fuzil e disparou contra ele a queima-roupa. Em seguida saiu atirando a esmo, atingindo mais duas pessoas, entre estas o garoto Jonas, irmão de meu pai.

Luiz de Souza Cavalcante, embora já General do Exército, continuava sendo chamado de Major Luiz, o mesmo nome com que era tratado ao entrar para a política depois de um bom trabalho à frente da Companhia de Estradas de Rodagem, atual DER. Foi governador, vindo depois a ser, sucessivamente Deputado Federal e Senador pelo partido do Governo, a ARENA – Aliança Renovadora Nacional, depois mudado para PDS – Partido Social Democrático. Malgrado suas posições políticas, tinha um comportamento pessoal bastante afável, o que o tornava muito popular entre a população mais humilde.


Dedico este simples artigo ao meu prezado amigo e colega Engº Agrônomo Hibernon Cavalcante, sobrinho do “Major”.

O Deputado Federal Luiz Cavalcante em Limoeiro (Pão de Açúcar), 1968.

Revendo documentos antigos nos arquivos da minha mãe, encontrei esta foto do Major, distribuída durante a sua visita como Governador. Nela se lê a inscrição: SIMBOLO DA PAZ E DO PROGRESSO. Data de Nascimento:  18 DE JUNHO DE 1913. Noto que, justo hoje, faz CEM ANOS do seu nascimento.



quinta-feira, 13 de junho de 2013

PENSAR EM TI

                                          André Papini Goes¹

“Isso é amor e desse amor se morre”
                                  Gonçalves Dias

Pensar em ti é cantar um hino santo,
É tornar-me risonho quando choro,
É, acordado, sonhar com o teu encanto,
É admirar-te porque mais te adoro.

É da ave ouvir o sonoroso canto,
É sentir da rosa o sublime odoro,
É da virgem beijar o sacro manto,
Aos pés do altar em que contrito exoro.

Pensar em ti é viver num paraíso,
É existir perecendo de saudade,
É lembrar quanto é belo o teu sorriso.

É ver a sã visão da castidade,
É ouvir o brando tilintar d’um guiso.
Pensar em ti é voar à eternidade.
....    ....    ....
Publicado no jornal O Progresso, Penedo-AL,
24 de outubro de 1926.
____________________
¹ ANDRÉ PAPINI GOES, político “penedense”, embora tenha nascido em Brejo Grande, Estado de Sergipe, a 18 de outubro de 1908. Filho de Manoel da Cunha Goes, ainda jovem foi trabalhar no comércio de Penedo, onde funda com seus colegas uma associação de classe da qual se torna um dos diretores.
Com 21 anos, muda-se para o Rio se Janeiro, onde trabalha em banco particular. Logo regressa a Alagoas. Em Maceió, passa a ser auxiliar de gabinete do interventor Hermilo de Freitas Melro, cargo que também ocupa quando da interventoria de Tasso de Oliveira Tinoco. Em 1932, integra um batalhão de voluntários da Polícia Militar de Alagoas, que foi lutar contra os constitucionalistas de São Paulo.
De retorno a Maceió, atua no Departamento Geral de Estatísticas do Estado e, posteriormente, no Departamento de Assistência aos Municípios, bem como no Departamento de Assistência ao Cooperativismo. Entre 1938 e 1940, secretaria, em Porto Alegre, o Departamento de Estatística do Rio Grande do Sul. Retorna, em 1943, para Maceió, mas logo depois passa a estudar na Faculdade de Direito do Recife, onde se forma em 1947². Como estudante, participou de congressos nacionais da UNE – União Nacional dos Estudantes, como representante de Alagoas. Secretaria o Jornal de Alagoas e, em seguida, passa a ser diretor do A Voz do Povo, jornal do Partido Comunista.
Eleito, em 19 de janeiro de 1947 Deputado Estadual, pelo Partido Comunista do Brasil, juntamente com José Maria Cavalcante e Moacir Andrade. Em 1948, os três foram cassados. Papini passa a viver no Recife onde advoga, principalmente em defesa dos operários. Aprovado em concurso, torna-se Fiscal do Imposto de Consumo, tendo trabalhado em João Pessoa, Manaus e Maceió, onde foi lotado na Contadoria Seccional do Ministério da Fazenda. Transferido para o Rio de Janeiro, foi assessor do diretor de rendas internas, do Ministério da Fazenda, cargo que ocupava quando veio a falecer, a 7 de julho de 1966.
___________
Fonte: ABC das Alagoas, Francisco Reynaldo Amorim de Barros.
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² Foram colegas de André Papini: Jacques Azevedo, Djalma Souto Maior Paes, Kerginaldo Rodrigues de Carvalho, Pedro Viana Neto, Sebastião Marinho Muniz Falcão, Natanael Bezerra Vale, Luiz Alves Pinto, Danilo de Carvalho Lima, Aluisio Alves, Antônio Meira Bastos, Helio Gazzaneo e Nelson Deodato Fernandes de Negreiros.

Fonte: Revista MOCIDADE, Maceió, Janeiro de 1948.

sábado, 8 de junho de 2013

SONETO DO AMOR PERDIDO

                        Massilon Ferreira da Silva¹

Tanto tempo esperei falar-te, e agora
Que estás aqui não sei o que dizer-te.
Era tão grande o medo de perder-te,
Que te fui perdendo pela vida afora.

O tempo que cuidou de aproximar
Nossos caminhos, de igual modo fez,
Como num sonho, o encanto se quebrar.
E assim fazendo te perdi de vez.

E agora, ao fim de tanto tempo,
Vejo, do alto do meu desalento,
Que a todo tempo te busquei a esmo.

Tanto te amava e tanto de queria,
Tanto te achava e tanto te perdia,
Que não te vi morrer em mim mesmo.
____________
¹ É advogado. Nascido em Pão de Açúcar-AL a 6 de março de 1954.

domingo, 26 de maio de 2013

DIVINA MENTIRA

                                        Judas Isgorogota¹

 Pobrezinha da mãe que teve um filho poeta
E o viu cedo partir para as bandas do mar,
Nunca mais que ele volte à mansão predileta,
Nunca mais que ela deixe, um dia, de chorar!…

 É como a água de um lago, inteiramente quieta,
A alma de toda mãe que vive a meditar:
— O mais leve sussurro é-lhe um toque de seta,
— A mais leve impressão basta para a assustar!…

 Eu, por sabê-la assim, quando lhe escrevo, digo:
 “— Minha querida mãe, não se aflija comigo.
E eu vou passando bem… Jesus vela por mim…”

 É que assim ela, a humana expressão da bondade,
Contente por saber que vou sem novidade,
Jamais há de pensar que eu vá mentir-lhe assim!…


Judas Isgorogota. Acervo de Herman Fonseca de Melo, neto do poeta.


¹ Pseudônimo de Agnelo Rodrigues de Melo, poeta e Jornalista brasileiro. Nasceu em Lagoa da Canoa, Alagoas em 15 de setembro de 1901. Viveu em Maceió, mudou-se aos 23 anos para o Rio de Janeiro e depois para São Paulo onde ganhou projeção internacional e veio a falecer em 1979. Publicou 15 livros de poesias, uma novela e cinco de poesias infantis. Parte de sua obra poética traduzida para vários idiomas (francês, inglês, alemão, espanhol, italiano, húngaro, árabe, checo e lituano). Com toda essa bagagem é quase um desconhecido em sua terra.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A NOTÍCIA DA ABOLIÇÃO (REEDIÇÃO)


Etevaldo Amorim *

Os jornais são sempre uma boa fonte de pesquisa para quem se interessa em desvendar os segredos do passado. Simples episódios noticiados rotineiramente podem se transformar em peça chave para dirimir qualquer dúvida do pesquisador. Do mesmo modo, a narrativa pormenorizada de um fato oferece ao leitor a possibilidade de compreender melhor a história e tirar dela os melhores ensinamentos.
Assim se dá com o jornal O Trabalho, fundado em Pão de Açúcar no dia 4 de junho de 1882, por Achilles Mello e Mileto Rego. Folheando suas páginas, pode-se saber, com riqueza de detalhes, o modo como os pão-de-açucarenses ficaram sabendo da assinatura da Lei Áurea pela Princesa Izabel.
Os repórteres do jornal misturavam-se à multidão que aguardava a chegada do navio naquela manhã do dia 22 de maio de 1888. Quase 10:00 horas, todos os olhares se voltam para o morro do Faria, onde o rio altera levemente o curso para a esquerda. Eis que surge o vapor Maceió, da Companhia Pernambucana, atraindo a atenção de todos, desejos de confirmar a notícia que circulava oficiosamente, inclusive por cartas procedentes de Penedo, de que a Princesa Regente havia assinado a tão esperada Lei desde o dia 13 daquele mês.
O tempo que levou o vapor para cumprir o percurso até o porto, pouco mais de quatro quilômetros, parecia uma eternidade, tal era a ansiedade dos que ali esperavam a comunicação oficial do fato político que se tornaria um dos mais importantes de todo o Século XIX no Brasil. Entre passageiros e cargas, desembarca também a mala do Correio.
Em frente à Travessa da Matriz, no local que corresponde hoje ao Iate Clube Pão de Açúcar, explodem no ar diversas girândolas, mandadas soltar pelo Juiz Municipal Dr. Luiz Gonzaga de Almeida Araújo. Pouco mais abaixo, na saída da então denominada Travessa Gutemberg (atualmente João Antônio dos Santos, mas que já se chamou João Pessoa e José da Silva Maia), mais foguetes patrocinados pelos pretos saudavam a chegada do vapor.
O foguetório, ainda que intermitente, durou até a noite. Às dezenove horas, na Casa da Câmara, que funcionava no mesmo sobrado em que se hospedou D. Pedro II em 1859, reuniram-se as autoridades judiciárias, o Presidente da Câmara e um grande número de pessoas, inclusive muitos negros, acompanhados de uma animada banda marcial.
O Presidente da Câmara, Sr. Manoel Themóteo de Amorim pediu silêncio e leu o telegrama que recebeu do Presidente da Província, Manuel Gomes Ribeiro (Barão de Traipu), que, como 1º Vice-Presidente, sucedera Antônio Caio da Silva Prado, que deixou Alagoas para presidir a Província do Ceará. A mensagem, que reproduzia Circular enviada a todas as Províncias pelo Ministro da Agricultura - Deputado Rodrigo Augusto da Silva,confirmava que fora sancionada a Lei que concedia liberdade plena a todos os escravos brasileiros. Ao terminar a leitura, irromperam em aplausos e vivas aos Deputados, à Princesa Regente e ao Ministério de 10 de Março. Esse Gabinete, o penúltimo do Império, que chefiava o Governo no Sistema Parlamentarista de então, era composto pelo Ministro da Fazenda, Senador João Alfredo Correia de Oliveira, que o presidia; pelo Deputado José Fernandes da Costa Pereira, Ministro do Império; pelo Deputado Antônio Ferreira Vianna, Ministro da Justiça; Deputado Rodrigo Augusto da Silva, Ministro da Agricultura; Senador Luiz Antônio Vieira da Silva; Senador Thomaz José Coelho de Almeida, Ministro da Guerra e Senador Antônio da Silva Prado, Ministro dos Estrangeiros.
Em meio a esta cerimônia, uma cena comovente: Havia na Câmara um quadro com os retratos do Deputado Joaquim Nabuco e do Dr. José Mariano. Um dos pretos quis saber quem eram e, quando lhe disseram que eram os dois famosos abolicionistas pernambucanos, ajoelhou-se diante do quadro e, na sua linguagem rude, agradeceu-lhes o benefício que fizeram a ele e a todos os que há pouco viviam sob o jugo da escravidão.
Dali saíram todos em passeata a percorrer as ruas da cidade. Muitas casas reforçavam a iluminação demonstrando regozijo e apoio à manifestação, enquanto outras permaneciam em penumbra, evidenciando franca oposição.
Em frente ao sobrado onde morava o Dr. Jovino da Luz, uma pequena parada para ouvir dele uma bela poesia. Este foi um dos mais importantes intelectuais de Pão de Açúcar. Na época com trinta e três anos, além de poeta, já era doutor em Filosofia pela Universidade Gregoriana de Roma. Logo depois o cortejo pára em frente à casa do Dr. Francisco José da Silva Porto, digno Juiz de Direito da Comarca, ele que fora nomeado em 18 de junho de 1883 pelo Presidente da Província Dr. Euthíquio Carlos de Carvalho Gama. Ouviram dele um eloqüente discurso que terminou dando vivas à Princesa Regente, aos Conselheiros Dantas e João Alfredo e a Joaquim Nabuco.
Entrando pela Travessa da Matriz (hoje Rua Padre José Soares Pinto), outra parada para ouvir a fala do Juiz Municipal, que fez uma retrospectiva da luta abolicionista iniciada em 1830 com a proibição do tráfico negreiro. Depois de percorrer outras artérias da jovem cidade (Pão de Açúcar fora guinada a essa condição em 1877), a passeata seguiu pela Rua do Comércio (hoje Av. Bráulio Cavalcante) para ouvir mais um discurso, desta vez do Capitão João Alves Feitosa Franco.
Por fim, em frente à redação do jornal O Trabalho, na Travessa Gutemberg nº 12-A, ouviu-se novo discurso do Juiz Municipal Dr. Gonzaga Araújo, que ressaltou o papel da imprensa na luta contra a escravidão. Foram então lembrados os nomes de Joaquim Nabuco, Quintino Bocaiúva, José do Patrocínio e outros. Falou ainda o Professor Soares de Mello, assegurando que a verdadeira liberdade da Nação brasileira se conquistava naquela data, pois que se tornavam todos os homens iguais perante a Lei.
Dali foram todos para a Rua da Praia (Av. Ferreira de Novaes) onde se concentravam os festejos dos pretos. Deram vivas ao Imperador, à Princesa Regente, ao Gabinete de 10 de Março e aos abolicionistas de um modo geral. Os negros, como que para retribuir o apoio das autoridades e de todos os partidários da sua causa, ofereceram-lhes um bem preparado chá, de que todos compartilharam com incontida satisfação.
Já passava das dez horas da noite quanto terminou essa pequena cerimônia. Então os libertos, e somente eles, começaram a tradicional dança do Côco, que demorou até as cinco da manhã.
O jornal também noticia, por seu correspondente, o reflexo da boa nova em Traipu. Naquela vila, que logo se tornaria cidade, havia apenas quarenta e um escravos. Mesmo assim, sabedores de que estava sendo discutido o Projeto que culminaria na Lei Áurea, retiraram-nos para fora da vila, tencionando mantê-los por mais tempo sob seu domínio.
Recebida a notícia oficial da promulgação da Lei de 13 de Maio, o Juiz Municipal Dr. Miguel de Novaes Mello, que viria a ser, em 1892, o primeiro Prefeito de Pão de Açúcar, tratou de divulgá-la a todos os habitantes de sua jurisdição.
A exemplo do que ocorreu em Pão de Açúcar, os abolicionistas locais organizaram uma passeata, com banda de música e cerca de seiscentas pessoas. Durante a caminhada, alguns discursos: do Dr. Juiz de Direito da Comarca, além dos doutores Manoel Leopoldino Pereira Netto, Octaviano Rodrigues de Carvalho, Florentino de Barros Abreu e Araújo Jorge; do Capitão Mariano Joaquim Cavalcante e do Alferes Manoel Firmino Menezes Mattos.
Ao passar pela casa do Capitão Henrique Méro, a passeata, com a bandeira imperial à frente, foi saudada por uma salva de vinte e um tiros. Todos pararam para ouvi-lo.
Tal como fizeram os negros e abolicionistas destas duas pequenas localidades alagoanas, muitas outras, em todos os recantos do País, festejaram com todo o entusiasmo a libertação total dos escravos. E levaram dias e dias, pela dificuldade de comunicação. Como vimos, só nove dias depois se soube, de forma oficial, da assinatura da Lei. A rigor, demorou mais tempo do que a própria tramitação do Projeto no Congresso: três dias no Senado e dois dias na Câmara. O próprio Vice-Presidente Manoel Gomes Ribeiro, em relatório à Assembléia Provincial - relata:
“Este memorável acontecimento foi recebido em quase todos os pontos da Província com as maiores expansões de júbilo, tocando ao delírio o regozijo popular nesta capital, onde durante oito dias não cessaram as manifestações de contentamento, sendo sempre entusiasticamente saudados o Imperador, a augusta Princesa Imperial Regente, o Ministério e os mais salientes propugnadores da abolição.
Cabendo-me a gloriosa tarefa de pôr em execução na Província a áurea Lei, apenas tive conhecimento oficial de sua promulgação, dirigi-me por ofício ao Juiz de Direito e Câmara da Capital e por telegrama aos Juízes e Municipalidades das demais comarcas para que tivesse ela imediata publicidade e produzisse logo seus humanitários efeitos.
Assim, em toda a Província, conforme os intuitos da Lei, entraram sem grande demora na comunhão dos cidadãos brasileiros os 15.269 indivíduos que, em face da nova matrícula, ainda permaneciam em lastimável cativeiro.”
Alegra-nos saber que a sociedade brasileira (e alagoana, em particular) soube comemorar condignamente um fato de tamanha magnitude. A Lei 3.353, de 13 de maio de 1888 pôs fim a um período vergonhoso da história do Brasil. Com ela puderam obter a liberdade cerca de 720 mil escravos em todo o País. As conseqüências, seja do ponto de vista social, seja sob o aspecto econômico são dignas de estudo e de reflexão. Mas, esse já é outro assunto.

(*) É autor do livro Terra do Sol, Espelho da Lua. Este artigo foi publicado no caderno Saber do jornal Gazeta de Alagoas em 03 de maio de 2008.

Joaquim Nabuco

José Mariano

Jornal O Trabalho



Pão de Açúcar, 1888. Fotos: Adolpho Lindemann.
COLEÇAO PRINCESA ISABEL: FOTOGRAFIA DO SECULO XIX
Bia Correa do Lago, Pedro Correa do Lago


A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

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Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia