Por Etevaldo
Amorim
Caio Prado. (tela de Pedro Américo)
Entre 5 de setembro de
1887 e 16 de abril de 1888, foi a
Província das Alagoas presidida pelo Dr. Antônio Caio da Silva Prado.
Nomeado por Carta
Imperial de 6 de agosto de 1887[i], partiu de São Paulo para
o Rio de Janeiro no dia 27 daquele mês[ii], donde seguiu no dia 30
para Maceió, a bordo do vapor Manaus, trazendo consigo sua esposa, duas filhas,
uma professora e dois criados.[iii] Prestou juramento e
assumiu o cargo a 5 de setembro[iv] em substituição ao Bel.
José Moreira Alves da Silva, passando a residir no Palácio Episcopal, situado
na Rua de Palácio, atual Barão de Anadia.
Quando ainda nem sonhara
conhecer Alagoas, Caio Prado já tinha uma referência da longínqua província: o
Dr. Antônio Ferreira de Novaes Mello, alagoano de Pão de Açúcar, foi colega de
Turma, em 1879, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (São Paulo).
No ano seguinte, a 17 de julho, Ferreira de Novaes faleceria no pavoroso
desastre da Estrada de Ferro Paulo Afonso, em Piranhas-AL.
Por essa época,
recrudescia a campanha pelo fim da escravidão, tendo à frente órgãos da
imprensa como Lincoln e Gutemberg. A Sociedade Libertadora Alagoana, uma das
mais creditadas entidades abolicionistas de Alagoas, para festejar o 6º ano de
sua fundação e o 16º da Lei Rio Branco[v], promoveu, no dia 28 de
setembro de 1887, concorrida festa em que distribuiu 11 cartas de liberdade e
uma exposição de artefatos fabricados pelos alunos da Escola Central. O
Presidente Caio Prado compareceu e prestigiou a sessão solene.
Palácio Episcopal, residência do Presidente da Província. Foto: Luiz Lavenère. |
Já em outubro daquele ano
corria boato de que o Presidente pedira demissão. Isso se dava, segundo o
jornal Gutemberg, de 4 de outubro de 1887, em razão das manifestações do
Conselheiro Antônio da Silva Prado, seu irmão, defendendo a causa
abolicionista, confrontando o “Gabinete de 20 de Agosto”, tendo à frente o
Barão de Cotegipe. Mas ele continua.
No dia 27 de fevereiro de
1888, aconteceram em Maceió[vi] pomposas manifestações em
honra do Senador Antônio da Silva Prado, destacado líder da campanha
emancipadora em São Paulo, bem como do Presidente da Província, que saudou o
grande número de manifestantes aglomerados defronte o Palácio em emocionado
discurso, dando vivas ao Imperador e a Princesa Imperial Regente.
As convicções
abolicionistas de Caio Prado o fizeram desincompatibilizar-se com o Dr.
Clemente Mendes[vii],
Chefe de Polícia. Jornais da Capital comentavam o comprometimento do Chefe de
Polícia com os fazendeiros, fazendo a polícia sempre muito ocupada em capturar
escravos fugidos.[viii]
Um episódio verificado em
princípios de 1888, foi, talvez a gota d’água. Diz o Jornal do Comércio, do Rio
de Janeiro (12/03/1888) informa:
“Sendo apresentado ao Dr.
Caio Prado, por numerosa multidão indignada, um escravo seviciado, mandou o
Presidente tirar-lhe os ferros; concorreu pecuniariamente para a alforria do
mesmo escravo; e deu ordens prontas e enérgicas para a investigação do crime e
punição do delinquente, por não haver a polícia tomado, a tempo, a iniciativa
deste procedimento legal.”
Em sua rápida passagem
pela província, não logrou deixar grandes realizações. Governar Alagoas sob as
condições reinantes à época não era tarefa fácil. Contentou-se, portanto, em
estabelecer boas relações com a intelectualidade local, ficando também marcado
a sua predileção por cavalgadas matinais pelas ruas da Capital.
Permaneceu em Alagoas até
16 de abril de 1888, quando foi designado para presidir a Província do Ceará,
passando o cargo ao Vice-Presidente Manoel Gomes Ribeiro, futuro Barão de
Traipu.[ix]
Caio Prado, no centro, abaixado, no sítio do livreiro Gualter Rodrigues da Silva, da Libro Papelaria, no Benfica, Fortaleza-CE. Foto: arquivo Raimundo Girão. Fonte: Fortaleza em Fotos. |
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Em que pese a sua breve
governança, Caio Prado empreendeu uma grande viagem pelo interior da província,
para melhor conhecer o seu território e, principalmente, para estabelecer
contatos políticos. Para nossa felicidade, o jornal O Orbe registrou essa excursão.
Hoje, há exatos 134 anos,
transcrevemos esse relato minucioso, preservando, pela riqueza de detalhe, a
redação original, acrescendo-lhe notas informativas acerca das localidades e
personalidades ali mencionadas.
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A
VIAGEM DO EXMº SR. DR. CAIO PRADO AO SÃO FRANCISCO
No muito louvável intuito
de conhecer de visu as diferentes
localidades da Província, empreendeu Sua Excelência, o Presidente desta
Província. Dr. Caio Prado, uma viagem, seguindo por terra desta cidade à Vila
de Piaçabuçu, onde devia tomar um dos vapores fluviais até a cidade de Penedo.
Daí seguiria para Piranhas, devendo voltar pelo centro a tomar o trem da Alagoas Railway na estação da
Branquinha.
Efetivamente, Sua
Excelência levou a efeito o seu plano, daqui partindo às 10 horas do dia 23 de
outubro próximo cadente para o Trapiche
da Barra em companhia do nosso distinto amigo o Sr. Deputado Antônio
Cardoso Sobral[x],
dos doutores Oscar de Macedo[xi], secretário da
Presidência, e Sinimbu Júnior[xii]. Acompanhou também S.
Ex. ª o seu oficial ajudante de pessoa.
Dr. Oscar de Macedo Soares |
No dia seguinte, às 8
horas do dia, seguiu S. Ex. ª para o Engenho Sinimbu, propriedade do Exmº Sr. Barão
de São Miguel[xv],
que veio com alguns cavaleiros ao encontro do exmº visitante; e no referido
engenho, onde se achavam outros tantos cavaleiros e uma banda de música, foi
servido às 11 horas um profuso almoço, em que se trocaram muitos e diversos
brindes importantes.
Aqui nos é agradável
enumerar dois atos de elevada filantropia dos exmos. Srs. Barão e Baronesa de
São Miguel, que em homenagem ao Exmº Sr. Dr. Caio Prado, declararam livres e
sem condição alguma seus escravizados Claudiano e Lúcia.
No mesmo dia seguiu S.
Ex. ª do Engenho Sinimbu para a cidade de São Miguel, acompanhado de grande
número de pessoas e uma banda de música. Ao chegar à cidade, na ponte, esperava
sua excelência um seleto número de cidadãos prestimosos com outra banda de
música. Em São Miguel, ao visitar a cadeia, pôs em liberdade uma escravizada
ilegalmente presa.[xvi]
Foi esplêndida a recepção
de S. Ex. ª na futurosa São Miguel, onde o Exmº Sr. Barão ofereceu um bem
fortificante jantar de iguarias variadas.
No dia seguinte, partiu
S. Exª para Coruripe, onde já aguardava sua chegada o nosso muito respeitável
amigo, o Sr. Deputado Major José Ramalho[xvii], que com aquele trato
afável e lhano de que dão testemunhos todos que já tiveram a felicidade de ser
hospedado de tão distinto cavalheiro, proporcionou a S. Exª e a sua ilustre
comitiva todos os cômodos confortáveis durante o tempo em que todos se
demoraram na Vila de Coruripe.
A vila regurgitava de
povo, todos os cidadãos prestimosos que habitam mesmo fora, ali se acharam para
cumprimentar o Exmº Sr. Presidente da Província.
Dado o necessário repouso
ao corpo, no dia seguinte seguiu Sua Excelência para a vila de Piaçabuçu, sendo
acompanhado também pelo Sr. Major José Ramalho, que se uniu à ilustre comitiva
com o fim de visitar a importante cachoeira de Paulo Afonso.
Na vila de Piaçabuçu
aguardava a chegada de S. Exª um dos vapores fluviais – o “Guahy”, que devia
conduzir todos para a cidade do Penedo.
A bordo desse vapor
achava-se a excelentíssima família do Exmº Sr. Presidente, a qual havia seguido
por mar, acompanhada do Exmº Senhor Deputado Geral Dr. Luiz Moreira[xviii]; uma banda de música,
um grande número de cidadãos e senhoras e o Exmº S. Vice-Presidente da
Província, Capitão Manoel Gomes Ribeiro.
Antes de seguirem rio
acima, foram S. Exª e todos os visitantes obsequiados pelo Rev. Vigário daquela
vila (Piaçabuçu), o Padre José Joaquim a Rocha[xix], demonstrando todos a
satisfação do obséquio espontâneo.
Depois da demora precisa,
embarcaram e fizeram-se de viagem em busca da cidade do Penedo, onde chegaram
na tarde deste mesmo dia (27), ao troar de grandes girândolas de fotos de ar,
sendo S. Exª acompanhado até a residência do Exmº Sr. Gomes Ribeiro, onde se
devia hospedar, por um grande número de amigos do mesmo exmº sr.
Vice-Presidente, que nada poupou a fim de agasalhar principescamente ao Exm º Sr.
Dr. Caio Prado.
Sua Excelência ali
visitou todos os estabelecimentos públicos, escolas e, passando-se para Vila
Nova, examinou detidamente a bem montada fábrica de óleos.
No dia 28, às 10 horas do
dia, o vapor Sinimbu, galhardamente
embandeirado, conduzia o Exmº Sr. Dr. Caio Prado, sua excelentíssima família,
sua ilustre comitiva, major José Ramalho, o Exmº Sr. Gomes Ribeiro e sua
excelentíssima família, além de outros cidadãos prestimosos, em demanda da vila
de Piranhas.
Sua excelência saltou na
cidade de Propriá, vila do Colégio, povoação de São Brás, e às 7 horas da tarde
lançou âncora o Sinimbu no porto da Vila do Traipu.
Aí foram todos
francamente acolhidos, tendo S. Exª bonita recepção pelo Coronel José Vicente
Pereira Neto[xx],
e às 9 horas da manhã do dia seguinte, eram todos de viagem rio acima.
Depois de demorar-se Sua
Excelência em Curral de Pedras e Belo Monte o tempo preciso para visitar essas
vilas, ancora o Sinimbu na cidade de
Pão de Açúcar às 5 horas da tarde.
Já aguardava a chegada de
Sua Excelência e dos demais itinerantes o ilustre Sr. Capitão Antônio Tavares[xxi], que os recebeu com
todos os cômodos e de modo a nada faltar-lhes, sendo Sua Excelência
cumprimentado por crescido número de cidadãos da melhor sociedade daquela
florescente cidade.
Sua excelência, como em
todos os lugares onde saltara, visitou as escolas e repartições públicas,
informando-se do que melhor lhe parecia em benefício das localidades; e no
outro dia ao meio dia dava suas despedidas, chegando à nova Vila de Piranhas às
3 horas da tarde.
Tinha deste modo sua
excelência visitado os melhores lugares ribeirinhos, quer desta, quer da
Província de Sergipe.
No dia 30, pois,
achava-se Sua Excelência em Piranhas, onde foi cavalheirosamente hospedado pelo Dr. Antônio Pedro de Mendonça[xxii], muito distinto
engenheiro chefe da ferrovia de Paulo
Afonso, e filho do nosso respeitável chefe, o Excelentíssimo Sr. Senador Paes
de Mendonça.
S. Exª visitou todas as
obras de excelente e bela construção desta ferrovia com aquele cuidado preciso
que sempre mostra em ocasiões tais. O ilustre Dr. Antônio Pedro de Mendonça
ofereceu a Sua Excelência em Piranhas duas partidas, que foram concorridas pela
elite dos habitantes daquela Vila, dançando-se animadamente até a madrugada.
No dia 3 de novembro, no
trem das 5 horas e meia da manhã, partiu S. Exº para Jatobá, ponto terminal da
Estrada de Ferro, onde chegou às 12 horas; seguindo em visita às cachoeiras de
Itaparica no dia 4.
Depois de haver bem apreciado
a beleza caprichosa da natureza, que ali se ostenta gentilmente, partiu para a
estação do Sinimbu, onde chegou às 4 horas da tarde. Ali S. Exª tomou condução
e, às 7 horas do mesmo dia, apeava-se na majestosa Paulo Afonso.
Para precisamente admirar
o quanto há de sublime nesta rival da Niágara, demorou-se S. Exª todo o dia 5 e
parte do dia 6. Satisfeita a sua curiosidade de home científico, retomou a
condução em regresso para a estação do Sinimbu, onde chegou às 5 horas, e aí
pernoitou.
Em todo esse trajeto,
quer na futurosa Jatobá, quer nas cachoeiras, quer na estação do Sinimbu, foi
Sua Excelência perfeitamente hospedado pelo Dr. Antônio Pedro de Mendonça, que
se tornou incansável para que nada lhe faltasse, e a todos que o acompanhavam.
No dia imediato, às 6
horas da manhã, seguiu para a Vila de Água Branca, onde chegou às 8 horas e
meia.
Nesta importante Vila,
foi Sua. Excelência muito bem hospedado pelo distinto professor Manoel José Gomes
Calaça Junior[xxiii],
um dos ornamentos do professorado desta Província. Ali se demorou por um dia e,
no dia seguinte, às 6 horas da manhã, partiu para Paulo Afonso (atual Mata
Grande), onde chegou às 8 horas e meia do mesmo dia.
...
Uma correspondência da
cidade de Paulo Afonso (atual Mata Grande), publicada no mesmo jornal, dá conta
de como foi a recepção?
“Paulo Afonso, 12 de
novembro de 1887. No dia 8 do corrente às 8 horas da manhã, aqui chegou o Exmº
Sr. Dr. Antônio Caio da Silva Prado, digno Presidente desta Província, acompanhado
de seu secretário, do Comendador Sobral, do Alferes Peixoto, e de crescido
número de cavalheiros, que o tinham ido encontrar na Piedade, fazenda que dista
desta vila três léguas.
Sua Excº teve um
esplêndida recepção e foi hospedado em casa do capitão João Vieira Damasceno
Ribeiro, a qual se achava convenientemente preparada, visto que este distinto
cavalheiros não poupou esforços a fim de que a hospitalidade fosse a mais
confortável possível a S. Exª ; atentos os minguados recursos da localidade.
Se, porém, algumas faltas
encontrou S. Exª, entre elas não figura a falta de boa vontade.
Depois do almoço, visitou
S. Exª as aulas, a cadeia e a coletoria, encontrado na aula do sexo feminino
muito atraso, grande ignorância das alunas de 1ª classe, sobre matérias as mais
comezinhas, que deviam saber perfeitamente.
Na cadeia, disseram os
presos a Sua Excelência que nada tinham a reclamar sobre o regime; mas é
inegável que S. Exª reconheceu que ali reina a maior relaxação.
...
Às 5 horas e meia da tarde,
seguiu em demanda da vila de Santana do Ipanema, pernoitando em caminho, na
Fazenda Morcego, e chegou à mesma vila às 5 horas da tarde do dia 10.
Aqui damos lugar a uma
local do Trabalho, jornal de Pão de Açúcar, que descreve o modo pelo qual foi
Sua Excelência recebido:
“No dia 10 do vigente, às
seis horas da tarde, aqui chegou S. Exª o Sr. Dr. Antônio Caio da Silva Prado,
digno administrador da Província, vindo em regresso de sua viagem à Cachoeira
de Paulo Afonso.
Sua Excelência vinha
acompanhado de seu Secretário, o Sr. Major Sobral Pinto e o alferes ajudante de
ordens e mais amigos de Paulo Afonso.
As pessoas mais gradas
desta Vila e da situação, foram ao seu encontro, que verificou-se daqui a três
léguas.
Sua excelência
apresentou-se o Palacete que serve da Casa da Câmara, que para isto estava
preparada, toda cercada de arcadas e iluminação.
À entrada de Sua
Excelência na Vila, aquela hora suave, uma importante banda musical executou
escolhidas peças e subia ao ar repetidas girândolas de fogo. Teve lugar o
jantar naquele dia em casa do nosso amigo Capitão Mathias Monteiro da Rocha[xxiv], que apresentou uma
lauta mesa, subindo de quando em vez repetidas girândolas de fogo.
Nesta ocasião, achando-se
postada a troupe marcial, ouvia-se
com prazer os sons melodiosos de escolhidas músicas.
Às 9 horas S. Exª voltou
com seus amigos ao Palacete, onde pernoitou.
No dia seguinte, teve
lugar o almoço em casa do nosso amigo delegado de policial Alferes Luiz José
Alves da Costa[xxv],
em cujo ato orou o major Sobral Pinto, que foi correspondido por um discurso
pronunciado pelo nosso inteligente amigo
Sr. Dr. Euclides Malta, que ao concluir foi também correspondido por um
outro discurso pronunciado pelo mesmo Alferes Costa.
Às quatro horas da tarde
do mesmo dia, teve lugar o jantar também em casa do mesmo Alferes Costa, em
cujo ato o jovem Avelino da Costa Goes[xxvi] pronunciou uma bela
alocução referente à viagem, à Administração e à presença de Sua Excelência
nesta Vila, que foi correspondido por um outro discurso de S. Exª findando-se
em agradecer e dirigindo um bride a Sua Alteza Imperial Regente.
Todos esses trajetos
foram acompanhados pela música, sob a regência do jovem Júlio César Paes de
Souza[xxvii], e subindo repetidas
girândolas de fogo.
Durante o dia, S. Exª
visitou a Matriz, as repartições Geral e Provincial, o Arquivo da Câmara
Municipal e a Cadeia.
Às cinco horas e meia da
tarde, seguiu Sua Excelência sua viagem, acompanhado de seus amigos da Capital
e de Paulo Afonso e mais grande número de cavalheiros desta Vila, deixando-nos
penhorados por suas dóceis maneiras.
Havendo partido Sua
Excelência da vila de Santana do Ipanema, chegou ao povoado Sertãozinho no dia 12 às 9 horas da
manhã, donde às 2 horas da tarde seguiu para o povoado Riacho do Sertão.
Foi Sua Excelência neste
povoado obsequiado pelos nossos amigos ali residentes e pelos reverendíssimos
Frei Caetano e Frei Clementino[xxviii], que ali se acham em
Missão, construindo um importante açude. Sua Excelência visitou esta obra,
achando-a muito boa; e às 6 horas da tarde, seguiu jornada, indo em direção à
Vila da Palmeira.
Caindo a noite, e já em
hora de repouso, S. Exª pernoitou em caminho e, no dia seguinte (13), às 9
horas da manhã, descansava na Palmeira. Nesta importante Vila foi S. Exª
hospedado pelo major Sabino José de Oliveira[xxix], que esmerou-se em bem
acomodar a S. Exª e a todos que o acompanhavam.
Pela noite desse dia,
aceitando S. Exª um profuso chá que lhe ofereceu o ilustríssimo Sr. Dr. Juiz de
Direito daquela Comarca[xxx], houve depois dele um soiré, e dançou-se até meia-noite.
Às 6 horas da manhã do
dia 14 partiu S. Exª da Palmeira, chegando à Vila de Quebrangulo no mesmo dia
às 9 horas. Nesta Vila, os ilustríssimos senhores... ... hospedaram e
obsequiaram muito cavalheirosamente o Exmº Sr. Dr. Caio Prado, que às 6 horas
da tarde tomava o caminho da Vila da Assembleia (atual Viçosa), havendo
pernoitado no Engenho Baixa Funda do ilustríssimo Sr. Capitão Caetano Donato
Brandão[xxxi], sogro do major
Epaminondas Hipólito Gracindo; e daí seguiu chegando em Assembleia às 10 horas
da manhã do dia 15.
Os nossos amigos desta
Vila já aguardavam a chegada de S. Eª, e lhe haviam preparado muito boa
hospedagem em um sobrado para esse fim decorado.
Às 5 horas da tarde
partiu S. Exª em direção a Branquinha, e em caminho encontrou-se com o
Engenheiro Fiscal da Província, Dr. Francisco José Gomes Calaça[xxxii], e diversas pessoas
gradas que iam mesmo ao encontro de Sua Excelência para consigo voltarem à
estação da Branquinha, onde chegaram às 8 horas da noite.
Tomaram o trem às 8 horas
e meia e, às 11, eram chegados nesta cidade, trazendo S. Exª e sua ilustre
comitiva muito boa viagem, e deixando pelas diversas localidades que
percorreram, sinceras afeições e saudades.
*** ***
ANTONIO CAIO DA SILVA
PRADO, nasceu a 13/06/1853 em São Paulo, filho de Martinho da Silva Prado[xxxiii] e de Veridiana Valéria
da Silva[xxxiv]. Tinha como irmãos:
Ana Vicência Prado (Condessa Pereira Pinto), Anésia Prado (que se casaria com o
Dr. Elias Antônio Pacheco Chaves), Antônio da Silva Prado, Martinho da Silva
Prado e Eduardo Prado.
A 19 de maio de 1877, na
Igreja da Sé, em São Paulo, casa-se com MARIA SOPHIA RUDGE (1860-1950). Tiveram
duas filhas: Maria Sophia (que se casou com Raul Pacheco Chaves, faleceu a 3 de
setembro de 1917) e Anna Abiah. Esta última, nasceu em São Paulo a 4 de março
de 1878. Ela se tornaria “Madre Gertrudes Cecília da Silva Prado”, fundadora e
Primeira Abadessa do Mosteiro de Santa Maria, em São Paulo. No dia 14 de
outubro de 1907, ingressou na congregação das beneditinas de Starbuck
(Wornster), Inglaterra, adotando o nome de “Irmã Gertrudes”. Faleceu a 10 de
março de 1944.
Foi Redator principal do
Correio Paulistano quando esse importante órgão da imprensa paulista era
propriedade do seu irmão Antônio da Silva Prado.
Faleceu a 25/05/1889 em
Fortaleza, Ceará, vítima da febre amarela. A bordo do mesmo vapor Manaus, a
viúva desembarca no Rio de Janeiro, com suas duas filhas menores; e em
companhia do Dr. João Lopes.[xxxv]
*** ***
Transcrito do jornal O
ORBE, 20 de novembro de 1887. http://memoria.bn.br/DocReader/260959/3790;
27 de novembro de 1887. http://memoria.bn.br/DocReader/260959/3794; 30 de novembro de 1887. http://memoria.bn.br/DocReader/260959/3798; 4 de dezembro de 1887. http://memoria.bn.br/DocReader/260959/3806
*** *** ***
Caro leitor,
Este Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, contém postagens
com informações históricas resultantes de pesquisas, em geral com farta
documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão,
solicitamos que, caso algumas delas seja do seu interesse para utilização em
qualquer trabalho, que faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo
também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto
e justo.
[i]
Correio Paulistano, 11 de agosto de 1887.
[ii]
Correio Paulistano, 27 de agosto de 1887.
[iii]
Jornal do Comércio, RJ, 31 de agosto de 1887.
[iv]
Gazeta de Notícias, RJ, 22 de setembro de 1887.
[v]
Lei Rio Branco, também conhecida como Lei do Ventre Livre, foi promulgada em 28
de setembro de 1871 e determinava que os filhos de mulheres escravizadas
nascidos a partir desta data ficariam livres. José Maria da Silva Paranhos,
Visconde do Rio Branco, pai do Barão do Rio Branco.
[vi]
Jornal do Comércio, RJ, 29 de fevereiro de 1888.
[vii]
Dr. Clemente de Oliveira Mendes, nomeado por Decreto de 9 de abril de 1887,
pelo Ministro da Justiça, assumindo em 26 de julho daquele ano. Diário de
Pernambuco, 19 de abril de 1887. Natural da Bahia, era filho do Barão de
Iraripe. Formado pela Faculdade de Direito do Recife, em 1867.
[viii]
Gutemberg, 17 de setembro de 1887.
[ix]
Haviam três Vice-Presidentes:1º Manuel Gomes Ribeiro (Barão de Traipu), do
Engenho Sobrado, Termo do Penedo, 2º Bel. João Francisco Nogueira Castelo
Brando, do Engenho Campos Elíseos, Termo de Maragogi; e 3º Bel. Hermelino
Accioly de Barros Pimentel, do Engenho Várzea do Souza, termo de Camaragibe.
[x]
Comendador Antônio Cardoso Sobral. Filho do Comendador Manoel Sobral Pinto e de
D. Delfina Cardoso Sobral. Foi presidente da Sociedade Filarmônica dos
Artistas.
[xi]
Oscar de Macêdo Soares. Jurisconsulto, Auditor de Guerra (na Marinha). Formou-se
pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1886. Foi Redator do Correio
Paulistano. Secretário da Presidência da Província, cargo que assumiu em 5 de
setembro de 1887. Nasceu na fazenda Bom-Sucesso, município de Saquarema, Estado
do Rio de Janeiro, em 15/09/1863. Filho do Conselheiro Dr. Antônio Joaquim de
Macedo Soares. Faleceu no Rio de Janeiro, a 3 de agosto de 1911.
[xii]
João Lins Vieira Cansansão de Sinimbu Junior. Nasceu em Porto Alegre a 20 maio
1853, quando seu pai era Presidente daquela Província, e faleceu no Rio de
Janeiro a 25 Fevereiro 1937. Era filho de João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu
(Visconde de Sinimbu) e Valéria Touner Vogeler.
[xiii]
Dr. Francisco Luiz Correia de Andrade. Pernambucano. Publicou, em 1885, o
Código Criminal do Império do Brasil. Em 1890, foi nomeado Desembargador na
Relação do Pará.
[xiv]
Pedro da Rocha Cavalcante. Natural de São Miguel dos Campos. Em 1882, era
Presidente da Câmara Municipal de Alagoas (atual Marechal Deodoro). Faleceu a
23 de julho de 1892. Casado com Maria da Rocha Cavalcanti.
[xv]
Epaminondas da Rocha Vieira, o Barão de São Miguel. Barão sem grandeza, pelo
Reino de Portugal, título concedido em 18 de dezembro de 1878 pelo Rei D. Luís,
em atenção a valioso donativo que fez a um estabelecimento de caridade de
Setúbal. Era filho de Francisco Frederico da Rocha Vieira, de quem herdou o
Engenho Sinimbu, e de Maria Accioly. Nasceu em São Miguel dos Campos-AL, a 17
de outubro de 1836, e ali mesmo faleceu a 20 de julho de 1897. Casou-se com
Leopoldina da Rocha Vieira – baronesa de São Miguel, que faleceu em Maceió a 26
de maio de 1914, aos 75 anos.
[xvi]
Gutemberg, 30 de outubro de 1887.
[xvii]
Major José Ramalho dos Reis. Foi Deputado Estadual e Senador Estadual, além de
vereador em Coruripe.
[xviii]
Dr. Luiz Antônio Moreira de Mendonça. Foi Deputado Provincial e Deputado Geral
(Federal), pelo Partido Conservador. Em 1875, foi Procurador-Fiscal da
Tesouraria das Alagoas. Formado pela Faculdade de Direito do Recife, em 1868. Casado
com Maria Idalina Moreira de Mendonça, era pai do Engenheiro José Oscar Moreira
de Mendonça. Faleceu no dia 15 de fevereiro de 1908.
[xix]
Conhecido por Padre Rocha. Vigário da Paróquia de Piaçabuçu desde 1884. Faleceu
em 1907, quando era vigário de Santa Luzia do Norte.
[xx]
Tenente-Coronel José Vicente Pereira Netto. Chefe do Partido Conservador em
Traipu, onde também foi Juiz Substituto; e Deputado Provincial.
[xxi]
Antônio Luiz da Silva Tavares, Chefe do Partido Conservador em Pão de Açúcar.
Era filho do Capitão Luiz da Silva Tavares e de Delfina Maria da Conceição
Tavares. Casado com Marcelina Fernandes da Silva Tavares.
[xxii]
Dr. Antônio Pedro de Mendonça, filho do Cel. Jacinto Paes de Mendonça. Naquele
mesmo ano, casara-se, no Rio de Janeiro, com a srta. Antonieta Salazar de
Mendonça (filha de Miguel de Oliveira Salazar e Luiza Carlota de Sá Oliveira
Salazar). Faleceu no Rio de Janeiro, em 5 de abril de 1897.
[xxiii]
Filho de Manoel José Gomes Calaça (o Comendador Calaça) e Izabel Gomes de Sá.
Faleceu em Floresta-PE, em 5 de outubro de 1916.
[xxiv]
Cel. Mathias Monteiro da Rocha. Em 1891, era Intendente de Santana do Ipanema. Faleceu
em Penedo, em 1916.
[xxv]
Alferes Luiz José Alves da Costa. Foi também Suplente de Juiz Municipal em
Santana do Ipanema.
[xxvi]
Avelino da Costa Goes. Atuava como advogado na Comarca de Pão de Açúcar. Foi
ainda Secretário da Intendência de Traipu.
[xxvii]
Major Júlio César Paes de Souza, filho de Antônio Balduino Paes de Souza e
Maria Belmira Paes de Souza. Foi também membro do Conselho Municipal de Santana
do Ipanema em 1890, à época em que era Intendente o seu pai, Cel. Antônio
Balduino Paes de Souza. Alguns anos depois, foi sócio do seu próprio pai na
firma Balduino & Filho, e numa fábrica de sapados, com o Sr. Luiz Cardoso
Zagallo, avô do ex-jogador e ex-treinador de futebol Mário Jorge Lobo Zagallo.
[xxviii]
Deve se referir a Frei Caetano de Messina e Frei Clemente de Leonissa, que a
essa época missionavam em Palmeira dos Índios. Frei Caetano de Messina.
Missionário italiano, era Prefeito do Hospício da Penha, no Recife.
[xxix]
Major Sabino José de Oliveira. Comerciante de fazendas e miudezas, e
proprietário do engenho Salgado. Casado com Antônia de Oliveira. Em 1873, era
Suplente de Juiz Municipal nos Termos Reunidos de Palmeira e Quebrangulo. Seria
Intendente de Palmeira dos Índios, em 1894. Faleceu em 1897, em Palmeira dos
Índios, aos 79 anos.
[xxx]
Era Juiz de Direito o Bel. Frederico Ferreira França (de 1884 a 1890). Formado
pela Faculdade de Direito de São Paulo (Largo do São Francisco), tendo colado
Grau em 31/10/1878, fora colega de turma de João Lins Vieira Cansanção de
Sinimbu – Sinimbu Júnior, e contemporâneo do próprio Caio Prado, que se formou
no ano seguinte. Natural da Bahia, filho de Francisco Ferreira França e
Frabrícia Carneiro de Campos. Foi casado com Maria Gracinda Valle Ferreira
França, com quem teve a filha Auta Ferreria França. Estudante modesto, porém,
considerado entre os condiscípulos e pelos professores. De estatura inferior a
mediana, moreno, barba preta e cerrada, suíças incipientes, feição
inexpressiva, Frederico França era reconcentrado e cercava-se apenas dos seus
patrícios da Bahia, do grupo que tinha vindo do Recife já com dois anos de
curso naquela Faculdade. Fonte: A Academia de S. Paulo, Tradições e
Reminiscências.
[xxxi]
Caetano Donato Brandão. Filho de Pedro José da Cruz Brandão e de Cosma
Francisca de Melo, nasceu na Viçosa-AL a 7 de julho de 1838 e faleceu a 18 de
novembro de 1890. Casado com Laurinda Maria de Jesus,
Em 1875, era Delegado de
Polícia na Viçosa.
[xxxii]
Francisco José Gomes Calaça, filho de Manoel José Gomes Calaça (o Comendador
Calaça) e Izabel Gomes de Sá Formado pela Escola de Pontes e Calçadas, de
Paris, com bolsa do Imperador D. Pedro II. Faleceu em Maceió no dia 13 de julho
de 1920.
[xxxiii]
Martinho da Silva Prado. Formado em Direito e plantador de café, nascido em São
Paulo a 2 de fevereiro de 1912, filho de Eleutério da Silva Prado e Ana
Vicência Rodrigues de Almeida.
[xxxiv]
Veridiana Valéria da Silva Prado. Prado. Nascida a 3 de fevereiro de 1826,
filha de Antônio da Silva Prado-barão de Iguape- e Maria Cândida de Moura
Leite.
[xxxv]
João Lopes Ferreira Filho, Redator-Chefe do jornal Libertador.