sábado, 25 de junho de 2011
LIMOEIRO DE OUTRORA
“FOME E MISÉRIA: RETRATO DE UM POVOADO ALAGOANO”.
Os repórteres da Gazeta, levados pelo conterrâneo Epitácio Mendes, retrataram com fidelidade a grave situação por que passava a população limoeirense, aliás, comum a todas as comunidades interioranas. Era uma tentativa de chamar a atenção das autoridades para as necessidades básicas do nosso povo. Iniciava ressaltando os seguintes aspectos: “não tem luz, cinema, loja, padaria, feira, não passa ônibus no local, a missa é celebrada de dois em dois meses e só tem uma venda, que não possui qualquer tipo de medicamento”.
A matéria traz depoimentos de personagens históricos da nossa Vila. Dona Miúda – Maria Rosa Andrade, então com 78 anos de idade, prevenida, teria já adquirido “caixão, mortalha e uma garrafa de Pitú para dar ao coveiro no dia de sua morte”. Disse ela: “Morando aqui há mais de 65 anos, sei muito bem que quem adoecer gravemente nunca conseguirá se salvar porque, além de não termos farmácia, a nossa única venda não possui nenhuma espécie de medicamento”.
Ela se referia à bodega do meu compadre Abinha (Djalma Castro). Não muito tempo antes, até 1967 mais ou menos, havia cinco bodegas: a de seu “João Gringo”, na Rua Mário Vieira; as de seu Lindauro e seu Maximino, vizinhas na Rua do Meio; a da própria Doma Miúda, na esquina da Rua do Meio com a Rua de Cima e, nesta, a do pai de Erasmo Barbosa bem defronte ao Grupo.
Lindauro Costa, liderança política do lugar, declara: “Vivemos na maior desgraça. Duas crianças morrem por mês, por absoluta falta de assistência. Das muitas campanhas realizadas para erradicar doenças, nenhuma delas ainda passou por aqui. Ninguém se lembra da gente. Só mesmo em época de eleição, pois mesmo sendo pequeno, o povoado tem 120 eleitores, afora outros em idade de tirar o título, mas sem poder se deslocar para a cidade”.
Os 50 alunos do MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização, assistiam às aulas à luz de candeeiros e placas, dada a ausência de energia elétrica, que só chegaria em 1976.
Por fim, a reportagem traz o depoimento de Seu Chico Mendes: “esperamos que, com o trabalho da Gazeta de Alagoas, as autoridades procurem tomar conhecimento de nossa existência e que algumas medidas sejam colocadas em prática, porque, se as coisas continuarem como vão, ninguém poderá precisar o nosso futuro. Queira Deus que as autoridades ouçam nosso apelo”.
A História de Limoeiro está baseada nesta igreja, cuja construção foi iniciada em 1782 e concluída em 1787, por João Carlos de Melo.Foto: Arlindo Tavares
Alunos do MOBRAL literalmente "queimando as pestanas".Foto: Arlindo Tavares
Rua do Meio (atual Jaime Silva), à direita a casa de D. Miúda. Foto: Neide Alves Melo - 1968.
Porto do Limoeiro em 1968.Foto: Neide Alves Melo.
A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR
PÃO DE AÇÚCAR
Marcus Vinícius*
Meu mundo bom
De mandacarus
E Xique-xiques;
Minha distante carícia
Onde o São Francisco
Provoca sempre
Uma mensagem de saudade.
Jaciobá,
De Manoel Rego, a exponência;
De Bráulio Cavalcante, o mártir;
De Nezinho (o Cego), a música.
Jaciobá,
Da poesia romântica
De Vinícius Ligianus;
Da parnasiana de Bem Gum.
Jaciobá,
Das regências dos maestros
Abílio e Nozinho.
Pão de Açúcar,
Vejo o exagero do violão
De Adail Simas;
Vejo acordes tão belos
De Paulo Alves e Zequinha.
O cavaquinho harmonioso
De João de Santa,
Que beleza!
O pandeiro inquieto
De Zé Negão
Naquele rítmo de extasiar;
Saudade infinita
De Agobar Feitosa
(não é bom lembrar...)
Pão de Açúcar
Dos emigrantes
Roberto Alvim,
Eraldo Lacet,
Zé Amaral...
Verdadeiros jaciobenses.
E mais:
As peixadas de Evenus Luz,
Aquele que tem a “estrela”
Sem conhecê-la.
Pão de Açúcar
Dos que saíram:
Zaluar Santana,
Américo Castro,
Darras Nóia,
Manoel Passinha.
Pão de Açúcar
Dos que ficaram:
Luizinho Machado
(a educação personificada)
E João Lisboa
(do Cristo Redentor)
A grandiosa jóia.
Pão de Açúcar,
Meu mundo distante
De Cáctus
E águas santas.
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Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)
(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937
(+) Maceió (AL), 07.05.1976
Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.
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PÃO DE AÇÚCAR
Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.
Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.
Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,
O pó que o vendaval deixou no chão cair.
Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste
O teu profundo sono num divino sorrir.
Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,
Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.
Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.
Teus jardins se parecem com vastos cemitérios
Por onde as brisas passam em brando sussurrar.
Aqui e ali tu tens um alto campanário,
Que dá maior relevo ao pálido cenário
Do teu calmo dormir em noite de luar.
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Ben Gum, pseudônimo de José Mendes
Guimarães - Zequinha Guimarães.