sábado, novembro 1

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MEIRUS, O CAMPO ALEGRE DAS FLORES

 Por Etevaldo Amorim

 

Igreja de N. S. da Luz, em Meirus, Pão de Açúcar-AL

Afinal, é Meirus ou Campo Alegre?


As referências mais antigas tratavam o lugarejo, ora como Campo Alegre, ora como Meirus; e até como Campo Alegre dos Meirus e Campo Alegre das Flores.


É um desses casos em que, ignorando a tradição e o costume do povo, decide-se por impor outros nomes a lugares que já os têm desde tempos imemoriais.


Bem, pelo menos neste caso, deu-se fim a essa duplicidade de denominação. Desde 1992, passou a ser definitivamente Meirus, por Decreto Legislativo de autoria do vereador José Roberto Almeida da Silva (Beto de Meirus), aprovado na Câmara de Vereadores na Legislatura 1989-1992.


Depois de cumprir os muitos mandatos que lhe confiou o povo daquele importante povoado, Beto de Meirus é hoje artista reconhecido: poeta e artesão.

 

A ORIGEM DO NOME

 

A planta chamada Meirus, na lagoa próxima ao povoado. Foto: Cícero Almeida da Silva (Palega)

A foto acima, feita pelo amigo Cícero Almeida da Silva (Palega), mostra uma planta conhecida na região pelo nome indígena de Meru, que deu origem ao nome do povoado.


O fato de estar ambientada, e em grande quantidade, na lagoa próxima ao povoado, pode ter concorrido para que seu nome fosse usado como referência do lugar e usado assim, no plural: “é lá nos Merus”, “vou para os Merus”, “espere lá nos Merus”... Meirus, como é comumente escrito, pode ser uma corruptela de Meru.


Trata-se de uma planta aquática, da família Cannaceae, cujo nome científico é Canna glauca, recebendo outros nomes populares, a depender da região: Maracá, Caetê-imbiri, Piriquiti e Meru[i].


É muito valorizada tanto pela sua beleza em paisagismo quanto por sua capacidade de purificação da água em sistemas de biofiltragem (tratamento de esgoto). Nativa do Brasil, sua distribuição se estende desde o Pantanal até o Nordeste, sendo adaptada a áreas alagadas (pântanos, brejos e ao redor de rios e lagos, lagoas).


A CAPELA DE N. S. DA LUZ

A praça central de Meirus, vendo-se ao fundo a igreja de N. S. da Luz.


Fato marcante da sua história foi a doação feita por Dona Anna Theresa de Jesus, constituindo patrimônio da Capela ali existente, sob a invocação de Nossa Senhora da Luz. O registro consta do Livro do ano de 1863, fls. 24, do Cartório do 1º Ofício, que transcrevo com a ortografia da época:


“Escriptura de doação que faz D. Anna Theresa de Jesus de um pedaço de terra à Capella de N. S. da Luz de Campo Alegre.


Saibam quantos esta virem que sendo no anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de Mil, Oitocentos e Sessenta e Quatro, aos vinte e seis dias do mês de fevereiro, nesta Villa de Pão d’Assúcar, Comarca de Mata Grande, Província das Alagoas, na rua da Praia, em casa de residência da Senhora Anna Theresa de Jesus, onde eu, tabelião, fui vindo para passar esta escriptura, na presença das testemunhas abaixo firmadas, compareceu a mesma D. Anna Theresa de Jesus, moradora nesta Villa, acompanhada de um tabelião, do que Dou Minha Fé, e pela mesma D. Anna Theresa de Jesus foi dito, perante mim e testemunhas, que de sua própria e boa vontade faz doação de cincoenta braças de terras de comprimento com quarenta de largura à Capella de Nossa Senhora da Luz de Campo Alegre, deste Município, cuja demarcação do referido terreno é do modo seguinte: da porta principal da sobredita capella se medirá, em linha recta para cima, trinta e cinco braças; do mesmo pondo se medirá, para baixo, quinze braças. Assim como com o sobredito ponto para o Norte se medirá dezoito braças; e, para o Sul, vinte e duas braças, e desse modo para demarcação o mencionado terreno por ella doado à referida Capella. Disse mais que a administração do terreno doado por ella ficará a seu cargo e, por sua morte, passará a seu herdeiro primogênito, e assim se obrigará com primogênito deste, cuja regra se guardará restrictamente para sempre. Disse mais que o aforamento do terreno pertencente à mesma Capella será de sessenta réis por palmo, anualmente, cuja quantia será augmentada assim que julgar conveniente a competente administradora. Disse mais que fazia a doação desse terreno no valor de cincoenta mil réis e que, pela presente, daria em favor da mesma Capella ---(ilegível) testemunhas Pedro Soares de Mello Alvino Cesão[ii] e José Rodrigues Delgado Gomes, que esta assignão a rogo da doadora, Francisco Rodrigues de Mello, Mariano Joaquim Cavalcante[iii]. Nesta Villa de Pão d’Assúcar, em vinte e cinco de fevereiro de mil, oitocentos e sessenta e quatro.”

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Dona Anna Theresa de Jesus era irmã do Cel. Anacleto de Jesus Maria Brandão e, portanto, tia do bispo Dom Antônio Brandão e do historiador Moreno Brandão.


Do seu casamento com Bento José Rodrigues Delgado, tiveram as filhas Clarinda Maria da Conceição e Maria do Espírito Santo. Esta última era casada com Antônio Duarte de Albuquerque (filho de Manoel Duarte de Albuquerque e Antônia Rodrigues do Bonfim). Estes Duarte de Albuquerque eram proprietários, por volta de 1857, de uma parte das terras do Itororó.


Dona Anna Theresa de Jesus e seu marido Bento José Rodrigues Delgado também eram donos de parte das terras da Lagoa de Pão de Açúcar.[iv]


A dita capela, segundo Aldemar de Mendonça, teria sido construída em 1714, por iniciativa do missionário português Frei José de S. Jerônimo. Entretanto, carta do correspondente do Jornal do Penedo, que se assinava por “Epaminondas”, datada de 30 de setembro de 1878, diz:


“ENFERMO. Do povoado Campo Alegre, deste termo, chegou ultimamente nesta cidade o Reverendo Frei José de S. Jerônymo, que se acha prostado de gravemente doente; e pelo seu estado melindroso é muito duvidoso que se restabeleça. O Reverendo Frei José há muitos anos que reside naquele povoado, onde sempre teve uma vida bastante regular, e estava construindo ali uma espaçosa capela dedicada a N. S. da Luz, que já vai bastante adiantada. Fazemos votos ao Altíssimo pelo restabelecimento de tão respeitável e virtuoso franciscano.”


Hormino Lyra[v], conterrâneo com origens no povoado Lagoa de Pedra, assim se refere a Meirus, em seu conto ASSASSÍNIO DE UM BANDIDO, publicado na revista Fon-Fon, Ano XVII. Nº 9, Rio de Janeiro, 3 de março de 1923, p. 3:


“Havia ao norte de Pão de Açúcar, pitoresca cidadezinha alagoana à margem do São Francisco, e distante doze quilômetros da mesma cidade, lugarejo aprazível denominado Meirus, com as suas palhoças, tijupás[vi], choupanas, casas de barro, pau-a-pique; umas cobertas com telhado de colmo[vii], outras, com telhado de telha vã[viii].


Nesse lugarejo aparecera velho religioso, Frei José de São Jerônymo, que ali se sentira bem, muito feliz, pois gozavam os olhos em rever todos os dias aquele delicioso pedaço de terra brasileira, recanto abençoado das Alagoas, que lhe lembrava um painel antigo, presépio encantador.

Com o auxílio dos habitantes dali, dos das suas cercanias, revolveu erigir lá uma capela, onde dizia as missas, e pregava ao modesto e meigo rebanho, cujas almas cândidas, como brancas pombas, feitas de piedade e de fé, criam piamente na lealdade, no saber do bom velhinho, criam ardorosamente nas verdades da religião.


Morou frei José ainda muitos anos no referido lugarejo, ao qual batizara de Campo Alegre, que hoje é povoação, tendo já, como base de progresso industrial, grande máquina de extrair a semente da penugem algodoeira, ou, como se diz vulgarmente, de descaroçar algodão.”


Em 1859, quando da visita a Propriá, Estado de Sergipe, o Imperador D. Pedro II, assistiu a um Te Deum, oficiado pelo Rev. vigário Nunes, o da Villa Nova, Rev. Manoel Francisco de Carvalho. O coro era composto dos Revs. Frei Simplicio da Santíssima Trindade, Frei José da Piedade e Frei José de S. Jeronymo. (fonte: Correio da Tarde, RJ, 11 de novembro de 1859).


Frei José de São Jerônymo faleceu em 1883. O Jornal do Penedo de 14 de julho, publicou esta nota:


“AGRADECIMENTO. A Ordem 3ª de São Francisco nesta cidade, juntamente com o seu Co-Comissário, Padre Tertuliano José dos Santos Patury, cordialmente agradecem aos reverendos Senhores Vigário da Freguesia, Cônego Manoel Antônio do Valle, Dr. Theotônio Ribeiro e Padre Simplício do Rosário o obséquio de, gratuitamente, se prestarem ao enterramento e visita solene do Rev. Padre Ex-Definidor e Guardião do mesmo convento, Frei José de S. Jerônymo, cuja morte sempre será sentida, não só por seus irmãos como pelo povo em geral.

Penedo, 10 de julho de 1883.”


Frei José fora eleito guardião do convento de Santa Maria dos Anjos, em Penedo, em 1875, com a incumbência do comissariado da Ordem Terceira, até 1877, já com o convento em vias de extinção.


Em 1903, vinte anos depois da morte de Frei José, segundo nota no jornal A Fé Christã, de 20 de junho, ainda se projetava concluir as obras da capela de “Campo Alegre dos Meirus”.


A pequena igreja, que foi visitada pelo bispo Dom Antônio Brandão, quando da sua visita a Pão de Açúcar em 22 de setembro de 1904[ix], recebeu também a marca da violência do bando de Lampião, que derrubou o sino com portentoso tiroteio. Este sino se encontra exposto no Museu Xucurús, em Palmeira dos Índios.


Aliás, o bando de cangaceiros também dizimou rebanhos inteiros de proprietários locais. Além disso, ateou fogo na fábrica a vapor de descaroçar algodão, de propriedade do Sr. João Pereira de Mello (Pereirinha), no dia 15 de janeiro de 1927.


Para proteger o algodão colhido, os moradores o estocaram na igreja, supondo que o famigerado cangaceiro não o incendiasse sob um teto sagrado. De fato, não o fez; mas retirou tudo para fora e ateou fogo. Cícero Almeida conta que, ainda durante a década de 1960, podia-se notar a mancha escura no chão, vestígio da fogueira sinistra de Lampião.


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EDUCAÇÃO

Alunos formados defronte à Escola Anna Thereza de Jesus, em Meirus. 1979.


Pela Resolução 1.074, de 20 de julho de 1889, assinada pelo Vice-Presidente, no Exercício da Presidência da Província, Dr. Manoel[x]Messias de Gusmão Lyra, foi criada a cadeira mista no povoado Meirus, sendo sua primeira professora a Srª Elysa Gaston Leite.[xi]


Por volta de 1894, era professor primário o Sr. Laurentino Irineu de Oliveira Maciel (avô materno de seu Dema).


Em 1916, segundo o Relatório dos Presidentes dos Estados Brasileiros – 1890-1930, lá estava o professor Ernesto Pereira de Mello. Mais tarde, entre 1929 e 1937, lecionava a professora Maria da Glória Lyra.[xii]


Pelo Decreto nº 651, de 11 de abril de 1913, assinado pelo Governador Clodoaldo da Fonseca, e pelo Secretário Tertuliano de Menezes Michell, foram criadas trinta e seis escolas subvencionadas no Estado de Alagoas, entre as quais as de Torrões e Campo Alegre. (Revista Comercial de Alagoas, nº 5, Maio-Junho de 1913.)


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ATIVIDADE AGRÍCOLA E INDUSTRIAL

Fábrica de descaroçar algodão, incendiada por Lampião em 1927,.


Meirus era centro produtor e beneficiador de algodão, o “ouro branco” da época. Demonstração da pujança do arrojado povoado é a nota publicada na Tribuna Popular, de Penedo, em 1º de novembro de 1899, pelo grande comerciante Manoel Francisco Pereira:


“AVISO. Para os devidos fins, faço ciente ao público ter-me associado ao meu sogro – Pedro Alves da Silva, sob a firma Pereira & Comp., para compras de algodão nos Meirus e Torrões, sendo ele encarregado naquele povoado e, no último, o nosso empregado Sr. Ismael  Pereira de Mello.

“Para qualquer negócio tendente ao que fica explicado, poderão os interessados dirigirem-se ao abaixo firmado, a cargo de quem fica a direção da casa.

Pão de Açúcar, 1º de outubro de 1899.

(a(a) Manoel Francisco Pereira.”

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MELHORAMENTOS.

 

Na década de 1960, durante o governo do Major Luiz Cavalcante, Meirus recebeu energia elétrica fornecida pela CHESP, cuja inauguração se deu no dia 30 de junho de 1967.


No dia 2 de outubro de 1971, foi assentada defronte a capela de Nossa Senhora da Luz a estátua do Padre Cícero, esculpida pelo pão-de-açucarense João Damasceno Lisboa.



Na gestão do prefeito Eraldo Lacet Cruz, foi construído um Postos de Saúde e instalada uma Estação Repetidora de TV na Serra de Meirus, bem como a instalação de TVs públicas na praça central do povoado.


Duante a gestão do prefeito Antônio Carlos Lima Rezende (Cacalo), Meirus foi beneficiado com um sistema de abastecimento de água, para atender também o vizinho povoado de Rua Nova.


Na gestão do prefeito Jorge Dantas, Meirus passou por um processo de intensa urbanização, tendo suas ruas e praças recebido pavimentação a paralelepípedo; aliás, produzidos ali mesmo pelos cantareiros locais, e assentados em regime de mutirão.


E muito mais se espera do povoado Meirus, berço de gente ativa e trabalhadeira, para ainda mais engrandecer o município de Pão de Açúcar.

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Assentamento da estátua do Pe. Cícero. 01/10/1971. À esquerda, o Sr. Humberto Machado conversa com o vereador José Roberto Almeida da Silva. Foto: Arquivo da Prefeitura. 

O Prefeito Augusto Machado assiste ao assentamento da estátua do Pe. Cícero. 1971.

Detalhe do povoado Meirus em 1971.


NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.

 



[i] Informações coligidas com a cooperação dos colegas Engenheiros Agrônomos Élcio Lins e Jussara Moreira.

[ii] Avô materno de Bráulio Cavalcante.

[iii] Avô paterno de Bráulio Cavalcante.

[iv] Fonte: SANTOS, Eduardo Padilha dos. Os Duarte de Albuquerque e Rodrigues Delgado — Pão de Açúcar — AL. Notas Históricas e Genealógicas — Edição 4–2017, por: Maria das Graças Alves.

[v] Poeta, romancista e ensaísta, HORMINO ALVES LYRA nasceu em Pão de Açúcar, Alagoas, em 3 de agosto de 1877. Filho de Higino da Rocha Lyra e Francisca Cavalcanti Alves, era irmão do ex-Prefeito Manoel Alves Lyra e do Monsenhor Lyra, que dá nome a uma escola no Povoado Lagoa de Pedra.

Fez seus estudos secundários no Ginásio São João em Penedo, onde exerceu as funções de censor e lecionou como substituto de várias cadeiras.

Em princípio, pensou dedicar-se à vida eclesiástica. Entretanto, não obstante a sua crença religiosa, percebeu que não tinha vocação para o sacerdócio. Prestou, então, concurso para a Fazenda e para os Correios e Telégrafos. Aprovado em ambos, preferiu o segundo, sendo admitido como Telegrafista.

Escreveu para vários jornais e revista como O Malho e Revista da Semana.

Suas principais obras são: Dona Ede (romance), em 1913; O 14 (contos), também em 1913; O Barão do Triunfo, 1941, separada da Imprensa Nacional (memória); Crisol (poesia), 1960. Troveiro, 1960 (poesia).

Foi casado, em primeiras núpcias, com Alayde Vaz Ribeiro (filha de João Vaz Ribeiro e Ana Braga Ribeiro) e, em segundas núpcias, com Marieta de Mello Carvalho (filha do Coronel Augusto Álvaro de Carvalho e de D. Maria Luiza de Mello Carvalho), falecida em 5 de janeiro de 1961. Hormino Lyra faleceu no rio de Janeiro em 13 de setembro de 1970.

[vi] Tijupá, palavra de origem tupi, referia-se a uma pequena cabana ou choupana utilizada como abrigo temporário.

[vii] É uma cobertura feita com materiais naturais como palha de junco, sapé, centeio ou palmeira, dispostos em feixes e compactados em camadas espessas.

[viii] Telhado de telha vã é um tipo de cobertura em que as telhas são instaladas diretamente sobre as ripas, sem o uso .de forro ou laje por baixo, deixando a parte interna da estrutura aparente

[ix] A Fé Christã, Penedo-AL, 15 de outubro de 1904.

[x] Jornal do Penedo, 14 de setembro de 1889.

[xi] Jornal do Penedo, 17 de agosto de 1889. Elysa Gaston, casada com Bellarmino Elvídio Leite, foi jubilada em 1910 quando lecionava em Ipióca, município de Maceió. Faleceu em Maceió no dia 14 de dezembro de 1912.

[xii] Almanak do Ensino do Estado de Alagoas – 1937.

sábado, outubro 25

O PRIMEIRO POÇO ARTESIANO EM PÃO DE AÇÚCAR

 

Por Etevaldo Amorim

 

Perfuração de um poço. Foto ilustrativa. Fonte: DNOCS

Os poços artesianos são fontes de abastecimento independentes e seguras, constituindo-se em alternativa importante para amenizar os efeitos da escassez de água.


Trata-se de um tipo de poço tubular profundo. O termo "artesiano" geralmente se refere àqueles casos em que a pressão natural da água faz com que ela jorre espontaneamente na superfície, sem a necessidade de bomba (poço jorrante ou surgente). No entanto, o termo "artesiano" é também empregado em poços profundos que precisam de bombeamento. O nome deriva da região de Artois, na França, onde os primeiros poços desse tipo foram registrados em 1126.


Os primeiros poços tubulares do Brasil foram perfurados entre 1845 e 1846, em Fortaleza, no Ceará. A iniciativa ocorreu durante uma grande seca, e os poços foram construídos pela empresa Armstrong and Sons. Mas a sua utilização se intensificou a partir da criação, em 21 de outubro de 1909, da Inspetoria de Obras Contra as Secas – IOCS, que depois, em 1919, passou a ser chamada de Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS e, em 1945 transformou-se, através do Decreto-Lei nº 8.486, em Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS, autarquia federal atualmente vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional.


Em Pão de Açúcar, no dia 10 de setembro de 1911, há 114 anos portanto, chegava uma comissão da Inspetoria de Obras Contra as Secas. Composta pelo engenheiro civil Dr. Adalgiso Fontenelle Bezerril e dos auxiliares técnicos Guilherme Jagerfeld e Paulo Masques Lisboa, a Comissão tinha por objetivo a perfuração de poços profundos em nosso Município. Nessa época, era Intendente o Capitão Serafim Soares Pinto.


No porto, foram recebidos pelo Dr. Luiz Machado (em cuja casa ficariam hospedados), pelos coronéis Miguel Machado e Manoel Antônio Machado, acompanhados de Luiz José da Silva Mello, Manoel Rego, Perdiliano Mello, Aurélio Cavalcante (irmão de Bráulio) e Álvaro Machado.


A reportagem do jornal A Ideia, que se publicava em Pão de Açúcar, em matéria publicada no dia 17 de setembro de 1911, informa que o Dr. Bezerril, já na terça-feira (12) percorreu alguns lugares do município, escolhendo local para o início do serviço; recaindo essa escolha nas adjacências do sítio Machado.


Com efeito, conforme nota inserta n’A Ideia de 24 de setembro, seguiu para o sítio Machado a “máquina perfuradora de poços profundos”, onde foi assentada em ponto conveniente ao início da perfuração. Sob os olhares curiosos de muitos moradores das redondezas, os trabalhos foram iniciados na quinta-feira (26), diz outra nota na edição do dia 1º de outubro

O Dr. Bezerril, conseguindo se restabelecer de uma crise reumática, seguiu par Penedo no final do mês de outubro, para ali aguardar vapor para a Banhia. (A Ideia, 20 de outubro de 1911).

No dia 26 de novembro, ainda continuavam os trabalhos de perfuração, tendo atingido a profundidade de 51 metros.


Do Relatório do Ministério de Viação e Obras Públicas do ano de 1912, consta que foram perfurados dois poços em Pão de Açúcar, ambos no povoado Machado.


O primeiro. Iniciado em 1º de outubro de 1911 e figura no Relatório apresentado a esse Ministério naquele ano. Diâmetro interno, 5. 5/8” (cinco e cinco oitavos de polegada). Profundidade, 94 metros. Camadas atravessadas: argila, 2,50 m; areia 6,30 m; rocha decomposta, 1,70 m; rocha compacta, 83,50 m. Revestimento, 9 metros. Altura da coluna d’água, 10,50 m. Vazão, 5.000 litros por hora, de água salobra e gordurosa. Abandonado em 26 de março. Custo da perfuração: 4:316$400;


O segundo. Iniciado a 1º de abril e suspenso a 9 de agosto. Diâmetro interno, 5 5/8” (cinco e cinco oitavos de polegada). Profundidade, 94, 70 m; Camadas atravessadas: argila, 4 metros. Areia, 1 metro; rocha decomposta, 2 metros; rocha compacta, 87,70m. Revestimento, 15 metros. Vazão, 170 litros por hora, não sendo, porém, estável o nível. A água encontrada, bastante salgada, só serve para o gado e é retirada por uma bomba manual de 1 1/2” de diâmetro e depositada num tanque com a capacidade para 1.000 litros. Custo da perfuração 3:780$000. Obras complementares 703$800. Bomba: 460$000.


A notícia d’A Ideia se refere, provavelmente, ao primeiro, posto que o segundo foi iniciado em 1º de abril de 1912 (ano do Relatório), quando o jornal não mais circulava.


Esses poços devem ter sido perfurados pelo método de percussão, utilizado no início do século XX, que consistia em levantar e soltar repetidamente uma ferramenta pesada (trépano) que quebrava a rocha por impacto. Alternativamente, usavam-se ferramentas manuais como a barra mina em solos mais soltos, mas os equipamentos mecânicos, como as máquinas percussoras, já estavam surgindo para perfurar rochas mais duras. Os detritos eram removidos com o auxílio de baldes ou caçambas, e a água era adicionada ao poço para ajudar na remoção do material triturado. 


O pesquisador e escritor Marcelo Maciel, profundo conhecedor daquela região, afirma que esse primeiro poço foi perfurado na entrada do povoado Machado, para quem vem de Palestina (antigo Retiro); precisamente sobre o leito de um riacho que, talvez por isso, passou a ser conhecido por “riacho do Governo”.


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Sobre o Chefe dessa Comissão, o Dr. Adalgiso Barbosa Fontenelle Bezerril, temos que era filho do Cel. Francisco Fontenelle de Bezerril e de Maria da Conceição Leite Barbosa. Nasceu em Fortaleza em 24 de dezembro de 1884 e era casado com Rita Lucas Ventura.


Em fevereiro de 1904, ele, que era sobrinho do Deputado Federal Bezerril Fontenelle, foi demitido a Recebedoria do Estado do Ceará e foi trabalhar no Amazonas. Retornando ao Ceará em 1905, ingressa na Inspetoria de Obras Contas as Secas onde, somente em 1º de julho de 1917, se tornaria efetivo no cargo de Condutor de 2ª Classe.


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NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.

sábado, outubro 18

PERSONALIDADES PÃO-DE-AÇUCARENSES - MAJOR COSTA NETTO

 

Por Etevaldo Amorim

O Capitão Costa Netto. Foto: Diário da Manhã.


Embora praticamente desconhecido em sua terra natal, José Alexandre da Costa Netto é um pão-de-açucarense legítimo. Filho de José Alexandre da Costa Filho e Francelina Soares da Costa, ele nasceu no povoado Meirus no dia 24 de agosto de 1897, conforme consta no registro de nascimento (extemporâneo) feito no cartório da freguesia de Afogados, no Recife, em 17 de outubro de 1932, segundo declaração do próprio. Eram seus avós paternos José Alexandre da Costa (pernambucano) e Antônia Rosa da Costa (alagoana) e, maternos, José Thomé de Souza e Anna Rosa de Jesus.

Em 12 de novembro de 1932, já tendo ingressado na carreira militar, no Recife, casou-se com Alina Raposo da Câmara, filha de José Paulino Raposo da Câmara[i] e de Emília Raposo da Câmara. Moça muito prendada, a senhorita Alina, que estudou no Colégio Evangélico Agnes Erskine[ii], acabara de se formar no Curso de Arte Culinária do Colégio Americano Batista, onde seu pai era tesoureiro, tendo sido contemplada com um fogão a gás, em prêmio instituído pela Pernambuco Tramways[iii]. Tiveram os filhos Fernando Sylvio e Roberto Maurício.

No posto de Tenente-Coronel, faleceu no Rio de Janeiro, onde há muito tempo residia[iv], a 4 de abril de 1953, aos 54 anos, sendo sepultado no cemitério de Inhaúma.

O Capitão Costa Netto e sua esposa Alina à época do casamento. Foto: Diário da Manhã.



LIGAÇÕES COM A TERRA NATAL

Em pelo menos dois momentos, encontramos registro de sua relação com Pão de Açúcar. Em 1924, ele fez publicar uma notinha no Jornal do Recife de 22 de junho:

URGENTE. O sargento Costa Netto, do 2º Batalhão da Força Pública, precisa falar urgentemente com a Srª Maria Lyndolpha da Costa Maia (Mariazinha)[v], esposa do Sr. Lamego, de Pão de Açúcar, Alagoas, a negócios do seu interesse. (a) Costa Netto.”

A presença do sobrenome “Costa” em ambos os nomes nos ocorre fazer uma especulação: seriam eles parentes?...

Outra ocorrência foi em 2 de julho de1932, em que o jornal Diário da Manhã registra uma visita a sua terra natal:

Do município de Pão de Açúcar, no vizinho Estado de Alagoas, onde esteve em visita a pessoas de sua digna família, regressou ontem o Capitão Costa Netto, Ajudante de Ordens do Interventor Federal e um dos oficiais mais distintos da Brigada Militar do Estado.

O bravo militar, passando por Correntes, de regresso do interior alagoano, teve ensejo de assistir à organização do Comitê local de defensores da causa da Revolução.

Larga e justamente estimado entre nós, pelas suas admiráveis virtudes cívicas, qualidade morais e elevação de conduta, o capitão Costa Netto foi recebido afetuosamente pelos seus numerosos amigos.”

 

Igreja de Nossa Senhora da Luz em Meirus, Pão de Açúcar-AL

A CARREIRA MILITAR

A sua trajetória na Força Pública do Estado de Pernambuco perpassou dois dos episódios mais importantes da nossa História: a “Revolução de 1930” e o “Levante de 1935”.

Não sabemos afirmar, com precisão, o ano em que se deu o início da sua carreira militar. Pudemos constatar que, em 1919, ele ocupava o posto de 2º Sargento no 2º Batalhão da Brigada Militar de Pernambuco.[vi] Por essa época, tinha ligações com o governador Manoel Borba (Manoel Antônio Pereira Borba, 18/12/1015 a 18/12/1919).[vii]

Em 1925, o Jornal do Recife, em edição de 2 de junho de 1925, publica uma notícia envolvendo o então sargento Costa Netto:

PRISÃO DE UM MILITAR. Há dias, já, vem ocorrendo na cidade um certo rumor acerca anormalidades na Força Pública.

Chegando tais rumores até nós, procuramos saber a procedência dos mesmos. Trata-se de uma informação dada ao comandante da Força contra o sargento Costa Netto, há pouco promovido a brigada do seu Batalhão, informação na qual foi ele acusado como elemento revolucionário.

O sargento Costa Netto está preso, incomunicável, com sentinela à vista.

Por essa época, governava o Estado de Pernambuco o Dr. Sérgio Loreto, contra o qual se descobriu um “plano de sedição”, encabeçado por alguns militares que pretendiam, segundo jornais da época, prender o comandante da Força Pública, Coronel João Nunes, facilitando assim a deposição do governador.[viii]

A “REVOLUÇÃO DE 30”

12 de outubro de 1930. Massa popular fazendo declarações de solidariedade a Carlos de Lima Cavalcanti defronte o palácio do governo. Foto: revista Careta, RJ, 15/11/1930.

A chamada “Revolução de 1930” foi um movimento político-militar que pôs fim à República Velha. Embora Getúlio Vargas tenha perdido as eleições presidenciais para Júlio Prestes, a revolta armada garantiu sua ascensão à chefia do Governo Provisório e marcou o início da Era Vargas.

A chamada “política do café-com-leite”, sustentada pela tradicional alternância de poder entre as oligarquias de São Paulo (café) e Minas Gerais (leite) foi quebrada pelo presidente (paulista) Washington Luís, que apoiou a candidatura de outro paulista, Júlio Prestes, para sucedê-lo, preterindo a candidatura do mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada.

Em resposta ao rompimento da aliança, Minas Gerais uniu-se ao Rio Grande do Sul e à Paraíba para formar a Aliança Liberal. A chapa de oposição lançou Getúlio Vargas, então governador gaúcho, como candidato à presidência, tendo João Pessoa, presidente da Paraíba, como vice.

Júlio Prestes venceu as eleições, mas a Aliança Liberal alegou fraude eleitoral. A tensão se intensificou após o assassinato do vice de Vargas, João Pessoa,

O movimento revolucionário, iniciado em 3 de outubro, culminou com o golpe militar em 24 de outubro de 1930, quando os chefes das forças armadas depuseram o presidente.

Com a deposição de Washington Luís e o impedimento da posse de Júlio Prestes, uma junta militar (composta pelo general Augusto Tasso Fragoso, o almirante José Isaías de Noronha e o general João de Deus Mena Barreto) assumiu o poder provisoriamente. Posteriormente, Vargas foi alçado à presidência, assumindo como chefe do Governo Provisório.

Em Pernambuco, o presidente (equivalente a governador) era Estácio Coimbra, ex-Presidente da República (no governo Arthur Bernardes).

Leal a Washington Luiz, negou-se a apoiar o novo regime, sendo obrigado a deixar o governo e exilar-se em Portugal.

Nesse contexto, que passaria a ser conhecido por “REVOLUÇÃO DE 1930”[ix], Costa Netto tomou parte de um Grupo de militares e civis que se incumbiram da missão de assaltar o Quartel da Soledade e efetuar a prisão do Coronel Wolmer da Silveira (comandante da Força Pública), do Tenente-Coronel Theóphanes Torres; do Tenente-Coronel Poggi de Figueiredo e do Major Figueiredo.

Em Pernambuco, o movimento irrompeu 1 hora e cinco minutos do sábado, dia 4 de outubro. Ali, no momento em que se resolveu dar ataque decisivo ao Quartel de Cavalaria, diz o Diário de Pernambuco:

Chefiados pelo capitão[x] revolucionário Costa Netto, os revoltosos sustentaram o assédio durante cerca de duas horas de fogo continuado, com metralhadoras de fogo pesado. Mais ou menos 16 horas o Quartel de João de Barros rendia-se.”

INSTALA-SE O GOVERNO REVULUCIONÁRIO EM PERNAMBUCO.

Costa Netto à frente em recepção a Juarez Távora (de pé ao centro), tendo à sua direita Carlos de Lima Cavalcanti). Foto: Diário da Manhã.


No dia 8 de outubro, os jornais destacam a composição do “Governo Revolucionário” em Pernambuco:

Como governador civil, o Dr. Carlos de Lima Cavalcanti, nomeado pelo próprio General Juarez Távora, chefe das “forças revolucionárias do Norte do Brasil”. Costa Netto aparece como Ajudante de Ordens do Interventor.

Foi esta a notícia estampada no jornal Diário de Pernambuco de 7 de outubro daquele ano:

“De ordem do general Juarez Távora, chefe das Forças Revolucionarias do Norte do Brasil, assumiu o Governo do Estado o dr. Carlos de Lima Cavalcanti que lavrou as seguintes nomeações:

Secretário da Justiça e Instrução Primária: Dr. Artur de Sousa Marinho; Secretário da Fazenda, Agricultura e Obras Públicas: Dr. Edgar Teixeira Leite; Chefe de Polícia: Dr. Adolfo Ciríaco da Cruz Ribeiro; Oficial de Gabinete do governador: Dr. Adolfo Celso Uchôa Cavalcanti; Prefeito da Capital: Dr. Lauro Borba; Administrador das Docas do Porto: Dr. Antônio de Gois Cavalcanti; Comandante da Força Pública: tenente-coronel Antônio Muniz de Farias; Ajudante de Ordens do governador: capitão José Alexandre da Costa Netto; diretor do Departamento de Saúde · Assistência: dr. Antônio Gonçalves Lima; diretor da Escola Normal Oficial: dr. Luis de Barros Freire; diretor do Ginásio Pernambucano: dr. Newton da Silva Maia; diretor da Policia Marítima: sr. Amaro Pontual Ferreira.

O telegrafista Antônio Emiliano de Almeida Braga passou a dirigir os serviços do Telégrafo Nacional, até a normalização da ordem. Foram, ainda, nomeados delegados de polícia da capital os senhores Pedro Eloy Pereira Calado e Aluísio Ferreira Baltar.”

Fotografia apanhada no Palácio do Governo, logo após a chegada do general Juarez Távora. Ao centro, o general Juarez Távora, ladeado pelos drs. Carlos de Lima Cavalcanti e Antenor Navarro, respectivamente interventores federais em Pernambuco e Paraíba; Dr. Edgard Teixeira Leite, Secretário da Agricultura; Dr. Arthur Marinho, Secretário da Justiça; Coronel Muniz de Farias, Comandante da Brigada Militar; Dr. Carlos Romero, delegado geral de polícia; Dr. Odon Bezerra, Secretário do Interior da Paraíba; Dr. Arruda Falcão; Dr. Adolpho Celso e Capitão Costa Netto (de pé à direita), secretário e ajudante de ordens do Dr. Carlos de Lima Cavalcanti; Capitão Pinto Pessoa; Sr. Caio de Lima Cavalcanti, diretor do Diário da Manhã. Foto: Diário da Manhã, 23 de fevereiro de 1931.



Nessa condição, acompanhou e representou o Interventor em diversas ocasiões, como: festividades na cidade de Jaboatão pela vitória da “Revolução”; Inauguração do Conservatório Pernambucano de Música, em 19 de janeiro de 1931; velório do Interventor da Paraíba Antenor Navarro, em 2 de maio de 1932[xi]; passagem em revistas às tropas que embarcavam para combater os “revoltosos” de São Paulo, em 1932; representando o Interventor quando da passagem de Assis Brasil por Recife. 1933,[xii] além de outras.


Em 1931, quando Carlos Lima Cavalcanti sofreu uma tentativa de deposição, ele estava lá para resistir. Desde a tarde de 28 de outubro corria um boato de que oficiais do 21º Batalhão de Caçadores estariam se rebelando contra o Interventor.

Ao lado do Tenente Ismael Lima e um pelotão de soldados, Costa Netto ocupou o Teatro Santa Isabel, “magnífico ponto estratégico contra o edifício da Câmara dos Deputados e a Chefatura de Polícia, esta tomada pelos rebeldes desde o início do movimento e aquela servindo, há um ano, de Quartel General da Região Militar.”[xiii]

Durante o dia e a noite do dia 29 e o dia de 30, com três metralhadora e vários civis, sustentaram mais de trinta horas de fogo cerrado.

Em 1932, passou a integrar o COMITÊ CENTRAL REVOLUCIONÁRIO assim composto: Muniz de Farias, Nestor Diógenes, José de Sá, José Maria Carneiro de Albuquerque Mello, Livino Pinheiro, Massilon Souto, Francisco Martins Veras, José Alexandre da Costa Netto, Alípio Pereira de Souza, Osmundo Borba, Jarbas Peixoto, Elyseo Pio, Renato Carneiro da Cunha, Aluízio Moura e Antônio Lumack do Monte.[xiv]


Costa Netto (de farda) com o Comitê Revolucionário. Foto: Diário da Manhã.


Em 1933, foi suspenso do cargo de Ajudante de Ordens do Interventor. (Diário da Manhã, 31 de dezembro de 1933).

Por Ato de 13 de setembro de 1933, e acatando proposta do Coronel Juranyr Mamede, comandante da Brigada Militar, o Interventor Lima Cavalcanti promoveu ao posto de Major, o Capitão JOSÉ ALEXANDRE DA COSTA NETTO.


O documento de recomendação do Jurandir Bizarria Mamede, publicado na Revista da Polícia, foi redigido nos seguintes termos:


Brigada Militar do Estado de Pernambuco, Comando Geral, Quartel do Derby, 13 de setembro de 1933.  Do Comando Geral da Brigada Militar ao Senhor Interventor Federal no Estado:


I.                        O capitão José Alexandre da Costa Netto é possuidor de virtudes militares e de qualidades pessoais que o recomendam à confiança de seus superiores e ao respeito de seus subordinados;

II.                     No exercício do cargo de comandante do 3º Batalhão, que vem exercendo desde 26 de dezembro de 1932, com dedicação e zelo, tem revelado exata compreensão dos seus deveres de chefe, a par de notáveis qualidades de espírito militar, que o destacam como um dos oficiais de mais valor desta corporação;

III.                  Por tais razões, proponho a Vossa Excelência a sua promoção ao posto de major, na vaga existente. Saúde e fraternidade. (a) Coronel Jurandir Bizarria Mamede – Comandante Geral.”

 

Diz o Diário da Manhã, de 14 de setembro daquele ano:


“O Major Costa Netto é um antigo servidor da Brigada Militar. Excluído dali, no velho regime das oligarquias, por motivo injustificável, depois de ter dado as melhores provas de aptidão, disciplina e lealdade, regressou às atividades da vida civil, onde conquistou o mais honroso conceito, pela sua conduta de cidadão honesto, trabalhador e dedicado aos interesses que lhe eram confiados.


Vitoriosa a Revolução, para a qual concorreu com a bravura pessoal e o devotamento cívico peculiares às suas atitudes, quer como conspirador, quer com um dos heróis das barricadas da Soledade, voltou a pertencer à Brigada Militar, sendo nomeado pelo Sr. Lima Cavalcanti para o posto de Capitão.


Ajudante de Ordens da Interventoria e, há pouco tempo, investido no comando do 3º Batalhão da Força Pública, revelou sempre qualidades que o impuseram à confiança dos seus superiores, ao apreço dos companheiros de farde e à estima da soldadesca.”


Por Ato nº 1882, de 30 de dezembro de 1933, atendendo a solicitação do Comandante-Geral Interino da Brigada Militar, o Interventor dispensou o Major Costa Netto do cargo de Ajudante de Ordens da Interventoria, nomeando em seu lugar, por Ato seguinte, o Cap. José Pedro da Silva. (Jornal do Recife, 3 de janeiro de 1934.


Em 14 de janeiro de 1936 o jornal Diário da Manhã publica um Ofício do General Manoel Rabelo, ex-comandante da 7ª Região Militar dirigido ao Dr. Andrade Bezerra, Governador Interino do Estado de Pernambuco na época da rebelião.


No citado expediente, o General apresenta louvores pela “meritória e brava atitude com que se portaram” os comandantes da Força Pública, inclusive o Major Costa Netto pela “rebatida rápida, inteligente e enérgica de Vitória para Jaboatão”.


 

O LEVANTE DE 1935


A década de 1930 foi marcada pela radicalização ideológica em todo o mundo, com o avanço do fascismo, sobretudo na Alemanha e na Itália, e a crescente influência da União Soviética.


No Brasil, aconteceu o Levante de 1935, que a historiografia oficial denomina Intentona Comunista.


O levante, organizado pela Ação Nacional Libertadora e pelo PCB (Partido Comunista do Brasil), ocorreu em novembro de 1935, com insurreições planejadas em Natal (RN), Recife (PE) e Rio de Janeiro (RJ). O 29º BC havia sido transferido para Recife para substituir o 21º BC, que havia se rebelado em 1931 e foi enviado a Natal.


A revolta em Pernambuco eclodiu em 24 de novembro, após a sublevação de Natal. Partes da guarnição do 29º BC se rebelaram em conjunto com outros civis armados, que atacaram delegacias em Recife e Olinda.


Os tenentes Adhemar Monteiro, Alberto Besouchet[xv] e Sylo Meireles[xvi], veteranos das revoltas tenentistas da década de 1920, com fortes laços com Luís Carlos Prestes, além de Lamartine Coutinho e Gregório Bezerra, tiveram papel de destaque na organização do levante no 29º BC, segundo registros históricos.


De um trabalho de Natanael Sarmento, “ÀS ARMAS, CAMARADAS! II - A REVOLUÇÃO COMUNISTA DE 1935 EM PERNAMBUCO”, retiramos esse trecho que menciona a participação do nosso conterrâneo:

O tenente Alberto Besouchet.


“Sylo Meireles e Alberto Besouchet marchavam em direção ao Sertão. Em sentido contrário, do Sertão para o litoral, deslocava-se o 3º Batalhão da Brigada Militar, para combater os revolucionários. Havia rumores das simpatias do Major Comandante desse Batalhão pela causa dos rebeldes. No encontro das tropas, inevitável o tiroteio. Com inferioridade, em soldados e armamentos, Sylo Meireles e comandados são feitos prisioneiros. Consta que o Major Costa Neto já sabia, a caminho, do malogro da Revolução, e que seu ataque aos rebeldes foi bastante contido, porquanto detinha homens e armas para chaciná-los, se quisesse. O Major Costa Neto tratou os prisioneiros com a dignidade, com a largueza dos poucos, que sabem vencer. O Tenente Besouchet[xvii], embora ferido, escapou, sem rendição, consequentemente, salvou-se, da prisão.”


Costa Netto vinha de Caruaru comandando uma coluna de 400 soldados.[xviii] Já o Jornal do Recife, de 28 de novembro de 1935, diz que ele vinha de Vitória (atual Vitória de Santo Antão).

O tenente Sylo Meireles.


Na Força Pública do Estado de Pernambuco, destacou-se entre os revoltosos o Coronel Antônio Muniz de Farias, ligado diretamente à ANL. E foi exatamente em auxílio a Muniz de Farias que Costa Netto se tornou participante desse importante episódio da vida nacional.


Na madrugada do dia 17 de fevereiro de 1936, Muniz foi encontrado na casa de Nelson Guedes Tenório Cavalcanti, coletor federal, na rua Sebastião Alves, nº 90, em Casa Amarela. Ali ficara por cerca de vinte dias. Antes, estivera escondido por mais de um mês na casa do Tenente-Coronel Costa Netto, na Rua José Soriano, 1216, em Olinda. No dia seguinte, COSTA NETO foi preso.

Mandado de Prisão Preventiva contra Costa Netto. Fonte: Arquivo Nacional.


A consequência imediata foi a cassação de sua patente, conforme noticiou o Jornal do Brasil, em 14 de fevereiro de 1937.


"Recife, 13. Por ato de ontem o governo cassou a patente de Tenente-Coronel ao oficial JOSÉ ALEXANDRE DA COSTA NETO, preso em consequência do movimento revolucionário de novembro de 1935."


Cassada a patente do Tenente-Coronel José Alexandre da Costa Neto.


“O Governador do Estado, tendo em vista o disposto na Emenda nº 2 da Constituição Federal e considerando as declarações que o Tenente- Coronel da Brigada Militar José Alexandre da Costa Neto, reformado administrativamente em 2 de março do ano passado, prestou perante o presidente do inquérito instaurado sobre o movimento revolucionário de 1935 e das quais se evidencia a participação daquele militar nos preparativos do mesmo movimento, entendendo-se com o ex-major da reserva da citada Brigada, Braz Calmon de Oliveira e Silva, a quem se refere o Decreto de 14 de julho de 1936,

DECRETA

Art. 1º Fica para todos os efeitos e de acordo com o estabelecido na Emenda nº 2 da Constituição Federal, cassada a patente do Tenente-Coronel José Alexandre da Costa Netto, reformado administrativamente em março do ano passado.

Art. 2º Revogam-se as disposições em contrário.

(a) Carlos de Lima Cavalcanti.”[xix]


Logo depois, em 19 de fevereiro de 1936, o Governador Lima Cavalcanti, baixou o Ato nº 365:


“Ato nº 365. O Governador do Estado resolve, de acordo com a proposta do Comandante Geral da Brigada Militar, exonerar do comando do 3º Batalhão da mesma Brigada o Tenente-Coronel JOSÉ ALEXANDRE DA COSTA NETTO, e suspendê-lo do exercício das funções do seu posto, até decisão final do inquérito a que está sendo submetido.”[xx]


Transferido para a reserva,[xxi] e em virtude do Estado de Sítio, é ouvido, juntamente com outros militares e civis, na “prisão especial” em que se achava detido.[xxii]


Em 20 de setembro de 1937, foi posto em liberdade em virtude habeas corpus impetrado ao Supremo Tribunal Militar.[xxiii]

Telegrama determinando a soltura de Costa Netto. Fonte: Arquivo Nacional.


Quase um ano depois, em 2 de setembro de 1938, incurso no processo nº 214, Costa Netto foi julgado por um seu homônimo, o Coronel Costa Netto (Luiz Carlos da Costa Netto), do Tribunal de Segurança Nacional. Junto a ele estavam, Epiphânio Bezerra, Raymundo Paes Barreto, Sebastião Accioly de Lima Lopes, Antônio Wanderley Bosford, Gregório Lourenço Bezerra, Pascáscio Souza Fonseca, Moysés de Souza Maia, Nelson Tenório Cavalcanti, João Dias de Mello, Antônio Muniz de Farias e José Caetano Machado e Maria Medina Machado, companheira deste.


À exceção de João Dias de Mello, que foi condenado a dois anos de prisão, os demais foram absolvidos. (Jornal do Comércio, 3 de setembro de 1938.)


Na acusação atuou o procurador Gilberto Goulart de Andrade[xxiv] e, na defesa, o Dr. Valdemar Medrado Dias, [xxv]advogado Ex-ofício.


Em sua defesa, foi alegado:


“Que o ex-tenente-coronel Costa Netto, da Forca Pública do Estado, combateu o movimento de 1935, sendo preso por ter homiziado o ex-coronel da mesma Força, Muniz de Farias, e que o dito Costa Netto, com a coluna que comandara, capturou o revoltoso Sylo Meireles e outros”. Diário da Manhã, 15 de julho de 1937”.[xxvi]


***   ***


Em janeiro de 1946, por Ato do Interventor Federal José Neves Filho, e tendo em vista um Acórdão proferido pelo Tribunal de Apelação, o ex-tenente coronel José Alexandre da Costa Netto foi reincluído no serviço ativo da Força Policial, “ficando sem nenhum efeito o Ato nº 448, de 2 de março de 1935 e o Decreto nº 20, de 12 de fevereiro de 1937”.


Ao mesmo tempo, em Ato nº 179, de 18 de janeiro, o transferiu para a Reserva em vista de contar com mais de trinta anos de serviço.


Somente em 7 de junho de 1960, sete anos depois do seu falecimento, o governador do Estado de Pernambuco, Cid Sampaio, anulou o Ato nº 179 que o tinha transferido para a reserva.[xxvii]


Não sabemos o efeito prático dessa decisão. Talvez uma reparação moral, ou uma retificação na pensão à viúva.

 

 

Costa Netto (direita) recepcionando o ministro polonês Thadeo Grabowski (ao centro). Foto: Diário da Manhã.

Costa Netto (direita) com o Interventor (centro) e outros militares. Foto: Diário da Manhã.

Costa Netto (direita) a bordo do navio Príncipe Robert. Foto: Diário da Manhã.


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NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.



[i] O Sr. Paulino foi batizado na Igreja Presbiteriana pelo Reverendo Juventino Marinho, este mesmo que missionou na Igreja Presbiteriana de Pão de Açúcar, em 1891.

[ii] A Províndia, Recife, 3 de dezembro de 1920.

[iii] The Pernambuco Tramways & Power Company Limited foi uma empresa inglesa criada em 24 de janeiro de 1913, em Londres, com a finalidade de instalar e operar linhas de bondes elétricos no Recife, Pernambuco.

[iv] MENDONÇA, Aldemar de. MONOGRAFIA DE PÃO DE AÇÚCAR, 1976.

[v] Maria Lindolpha da Costa Maia (filha de João Teóphilo da Costa e Laura Lindolpha da Costa). Nasceu em Limoeiro em 1887. Seu esposo, José da Silva Maia Filho, conhecido por Lamêgo Maia, é pai do Sr. Elísio da Silva Maia (filho de mãe diferente).

[vi]  Jornal do Recife, 31 de agosto de 1919.

[vii] Jornal do Recife, 31 de agosto de 1919.

[viii] Jornal do Recife, 17 de abril de 1925.

[ix] Revolução de 1930 foi, na verdade, um golpe de Estado que derrubou o presidente Washington Luís, impediu a posse de Júlio Prestes e levou Getúlio Vargas ao poder. O movimento foi articulado por estados como Minas Gerais e Rio Grande do Sul e marcou o fim da Primeira República, iniciando a chamada “Era Vargas”.

[x] A essa altura, o então sargento fora promovido ao posto de Capitão. (Diário da Manhã, 15 de outubro de 1930).

[xi] A Província, 3 de maio de 1932

[xii] O Radical, RJ.22 de abril de 1933.

[xiii] CAMPELO, Samuel. CENAS DE TRAGÉDIA EM OUTUBRO DE 1931. Diário da Manhã, 5 de novembro de 1931. Samuel Rodrigues Carneiro Campelo (Escada, 12 de setembro de 1889 - Recife, 10 de janeiro de 1939) foi um advogado, teatrólogo, jornalista e cronista brasileiro. Cursou Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito do Recife, que concluiu em 1912. Era Administrador do Teatro Santa Isabel na ocasião.

[xiv] Diário da Manhã, Recife-PE, 9 de junho de 1932.

[xv] Alberto Bomílcar Besouchet nasceu em Florianópolis/SC, em 11 de dezembro de 1910. Filho de Julia Bomílcar Besouchet (1870-1918), natural do estado do Ceará, e do oficial do Exército, Helvécio Renato Besouchet (1870-1960), alagoano de Penedo.

[xvi] Sylo Furtado Soares de Meireles nasceu em Ribeirão (PE) no dia 23 de outubro de 1900, filho de Francisco Ribeiro Soares de Meireles e de Rosa Furtado Soares de Meireles. Faleceu no Rio de Janeiro no dia 3 de julho de 1957.

[xvii] PEREIRA, Marco Antônio Machado Lima. Alberto Bomílcar Besouchet: tensões e conflitos na trajetória de um militante antifascista (1935-1938).

[xviii] Jornal Pequeno, 27 de novembro de 1935.

[xix] Diário da Manhã, 13 de fevereiro de 1937.

[xx] Jornal Pequeno, 20 de fevereiro de 1936.

[xxi] Diário da Manhã, Recife-PE, 2 de março de 1936.

[xxii] Diário da M, Recife-PE, 5 de março de 1936.

[xxiii] JORNAL DO RECIFE, 21 de setembro de 1937.

[xxiv] Gilberto Amorim Goulart de Andrade, de tradicional família alagoana, filho de Eusébio Francisco Goulart de Andrade e Amélia Amorim. Nasceu em Maceió em 27 de abril de 1892 e faleceu no Rio de Janeiro em 6 de junho de 1949. Era sobrinho dos poetas José Maria Goulart de Andrade e Aristeu de Andrade e tio do jornalista e apresentador de TV Luis Filipe Goulart de Andrade.

[xxv] Nasceu no Rio de Janeiro em 16 de novembro de 1893 e ali faleceu em 10 de janeiro de 1978. Filho de João Joaquim Fernandes Dias e Maria Medrado.

[xxvi] https://www.dhnet.org.br/mercia/gregorio/documentos/gregorio_tsn_apl_181.pdf

[xxvii] Diário de Pernambuco, 8 de junho de 1960.

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia