quinta-feira, 25 de junho de 2020

MISSÕES DA MARINHA NO BAIXO SÃO FRANCISCO


Por Etevaldo Amorim

O Comando da Força Patrulha do Nordeste, pela Ordem de Movimento nº 1/1960, planejou a Comissão ao rio São Francisco, de acordo com o Programa Geral de Adestramento, e seguindo determinações do Terceiro Distrito Naval. A missão dessa Comissão era “Fazer o reconhecimento da costa e do Rio São Francisco até Piranhas, a fim de obter informações sobre a barra, condições de navegabilidade e informações regais sobre a região do Baixo São Francisco”.

Formou-se, então, um Grupo Patrulha composto pela Corveta Caboclo e pelos navios-patrulha Piraju (R-53) e O Pirambu (R-54), sob o comando do Capitão-de-Fragata Júlio César de Sá Carvalho[i]. Partiram de Natal-RN para o Recife-PE no dia 15 de janeiro, às 16:40 h. O Pirambu (R-54), por necessitar de reparos, só partiu no dia 17.

No dia 19, a Caboclo e o Piraju levantaram âncoras para Maceió pelas 19:00 h, chegando ao seu destino no dia 20, às 18:15 h, onde aguardou o Pirambu, que ao Grupo só se reuniu no dia 22.

Em Maceió, no dia 23, às 16:00 horas, foi inaugurada uma Exposição sobre assuntos da Marinha, no Teatro Deodoro, organizado pela Capitania dos Portos local. Ao evento compareceram o Governador do Estado, Muniz Falcão, e muitas outras autoridades.

No intuito de analisar as condições da barra do São Francisco e enchente do rio, foi chamado a Maceió o prático da Barra, Sr. Nilo José Bezerra, que declarou que “no fundo da barra, nas condições de preamar, atingia de 10 a 11 pés, mas que no percurso até Penedo as condições de navegabilidade eram melhores devido à enchente do rio”. Nessas condições, decidiu-se que a corveta Caboclo permaneceria na Capital alagoana. Ressalte-se aí a inestimável colaboração do Capitão dos Portos de Alagoas, Cap. de Corveta Jorge Manoel da Purificação[ii].

No dia 24, o Sub-Grupo, composto pelo Piraju (capitânia) e Pirambu, partiu para a barra levando a bordo os Sr. Ordener Cerqueira[iii], professor da Faculdade de Odontologia; Arnoldo Jambo[iv], diretor do Jornal de Alagoas; Sósthenes Jambo[v], repórter do mesmo jornal; e Taoguro Vianna, repórter fotográfico.
O Navio Patrulha Piraju (R53) no porto de Piranhas, 1960.
Logo atrás, a lancha do 2º Ten. Absalão. Foto: Revista Ma-
rítma Brasileira, 1962

Em Penedo, a chegada dos navios coincidiu com a realização da Festa de Bom Jesus dos Navegantes, tendo o Piraju acompanhado a procissão como guarda de honra da barca que conduzia a imagem.

À noite, o Comandante e os Oficiais da Força-Tarefa compareceram a um jantar oferecido pelo prefeito Dr. Hélio Nogueira Lopes[vi], no Tênis Club da cidade. Compareceram o Secretário de Segurança (representando o Governador do Estado), o Engenheiro Presidente da Comissão do Vale do São Francisco, o Capitão dos Portos e outras autoridades locais. Uma sessão especial no Cine São Francisco e um baile encerraram as atividades daquele dia.

No dia 25, um programa de visitação da cidade, começando pela Residência da Comissão do Vale do São Francisco, dirigida pelo Dr. Olavo de Freitas Machado, que ofereceu importantes informações acerca da Região e designando o prático da Comissão, Sr. Antônio Lira de Morais para acompanhar a viagem até Piranhas. A oficialidade da Patrulha participou de almoço na residência do Comendador José da Silva Peixoto.
O navio Piraju fundeado no porto de Pão de Açúcar-AL, 1960.
À direita, o morro do Cavalete e uma canoa. Foto: Diário de
 Notícias, RJ, 10 de fevereiro de 1962.

Enfim, no dia 26 de janeiro de 1960, partiu a frota diretamente para Piranhas, tencionando visitar as cidades na volta. Seguiram com eles dois repórteres e dois fotógrafos da imprensa de Maceió e de Penedo, além do Dr. Olavo de Freitas Machado[vii], que desembarcaria em Traipu. Acompanhou um dos navios a lancha do Agente da Capitania de Neópolis-SE, Segundo-Tenente Absalão da Costa. 


Em Propriá-SE, permaneceram por cerca de uma hora para receber o Prefeito João de Aguiar Caldas e outras autoridades. Por volta das 18:30 h, chegaram a Pão de Açúcar e foram recebidos por diversas pessoas, inclusive o prefeito Elpídio Emídio dos Santos[viii], no Clube da cidade.[ix] Durante um coquetel, o Comandante travou produtiva conversa com o Sr. Clodoaldo Martins, da Comissão do Vale do São Francisco. Na ocasião, discursou o Padre Luiz Ferreira Neto, que lembrou a histórica viagem do Imperador D. Pedro II, havia pouco mais de cem anos. (Sósthenes Jambo, no diário de Pernambuco, 12/02/1960)

No dia seguinte, em virtude de avaria do Pirambu, seguiu o Piraju com destino a Piranhas. Ali foram efusivamente recebidos e o Diretor da Estrada de Ferro Paulo Afonso disponibilizou um trem especial para um grupo de Oficiais, Sargentos e Praças visitarem as instalações da CHESF.

Vista da cidade de Propriá-SE, em 1960, feita a partir do Piraju
No porto, a lancha Tupan, da empresa de Sebastião e Luiz
Barreto. Foto: Revista Marítima Brasileira, 1962.

No dia 28, partiu de novo o Piraju com destino a Pão de Açúcar, chegando por volta das 16:00 horas. Ali visitaram as instalações do hospital do SESP. No dia seguinte, os Comandantes e Oficiais foram recebidos pelo Prefeito para um almoço. Às 16:00 h partiram para Propriá-SE, onde chegaram às 16:60 h. A cidade estava em festa e o Prefeito, acompanhado de autoridades, foram a bordo para dar as boas-vindas. À noite, um jantar e um baile. No dia seguinte, banquete na Prefeitura. 
Pouco depois, visitaram Porto Real do Colégio, onde receberam novo almoço. O Engenheiro Agrônomo da Residência da C. V. S. F, Dr. Otávio Tavares Vieira[x], ofereceu informações e publicações de grande valia ao Comandante da Força. A presença da frota em Propriá também coincidiu com a Festa de Bom Jesus dos Navegantes, tendo delas também participado.

Penedo e seu movimentado porto, visto do navio Piraju, em 1960.
Foto: Revista Marítima Brasileira, 1962.

A barra do rio São Francisco. Foto: Revista Marítima Brasileira, 1962.

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Em 1965, outra missão da Marinha percorreu o Rio São Francisco. Um acontecimento trágico marcou a sua passagem por Pão de Açúcar. Às 23:00 do dia 16 de março, uma segunda-feira, quando retornava para bordo com outros marinheiros, o Segundo-Sergento Pedro de Moraes afogou-se nas águas do ria “por motivo de emborcamento da canoa”, como informa o Serviço de Documentação da Marinha.

O Boletim Nº 16, do Ministério da Marinha, de 16 de abril de 1965, noticia o seu falecimento, cuja comunicação foi feita pelo Rádio (prefixo 171 045Z) do próprio navio-patrulha Piraju, no dia seguinte ao fato. Iniciadas as buscas no dia 17, sob a coordenação do Cabo Manoel Araújo, o seu corpo somente foi encontrado no dia 18, quarta-feira. Naquele mesmo dia, regressou o Piraju à sua sede em Natal-RN.

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Em 1967, nova Missão da Marinha brasileira se faria realizar no rio São Francisco. Aproveitando as cheias, único período em que se permitia a navegação de navios de maior calado que as habituais lanchas, aqui retornou o Navio-Patrulha Piraju.
O Piraju, agora sob o prefixo J28 navegando entre Penedo-AL
e Neópolis-SE.

Partindo do Recife, onde recebeu cerca de cinco toneladas de gêneros, medicamentos e material escolar, no dia 3 de fevereiro seguiu para Maceió e dali para Penedo, onde iniciou efetivamente a Missão, visitando 12 localidades do Baixo São Francisco, sob o comando do Capitão-Tenente Adhemar Garcia de Paiva Filho[xi].

Assim, precisamente no dia 7 de fevereiro, uma terça-feira de carnaval, a equipe do Piraju atendia a população de Curralinhos[xii], no município de Poço Redondo, no Estado de Sergipe, de onde partiu, sob forte vento, em marcha reduzida.

A equipe médica desta Missão atendeu 1.404 pessoas, realizou 420 extrações dentárias nas localidades de Piranhas-AL, Curralinhos-SE, Ilha do Ferro-AL, Bonsucerro-SE, Pão de Açúcar-AL, Mocambo-SE, Caiçara-SE, Santiago-AL, Jacarezinho-AL, Limoeiro-AL, Barra do Ipanema-AL, Ilha do Ouro-SE, Belo Monte-AL, Propriá-SE e Penedo-AL.

O navio cruzou a barra, adentrando ao mar no dia 11 de fevereiro, às 17:00 horas.

O navio Piraju em Curralinho (Poço Redondo-SE), em 1967.
Foto: Revista da Marinha
O Piraju atracado no porto de Curralinho (Poço Redondo-SE).
Foto: Revista da Marinha
Povoado Curralinho (Poço Redondo-SE). Moradores em fila
para receber donativos. Foto: Revista da Marinha.

***

A segunda viagem daquele ano teve início no porto de Natal, de onde partiu de novo o Piraju no dia 6 de março, com destino ao Recife, onde recebeu material para assistência às populações não atendidas na vez anterior.
Curralinho (Poo Redondo-SE), em 1967. Foto gentilmente
cedida pelo Com. Alberto do Valle Rosauro de Almeida.
Curralinho em 2006. Foto: Marcelo Lyra.

As duas equipes de dentistas e uma de médico atenderam 1.278 pessoas, apesar dos boatos de que o intuito da missão era “esterilizar” homens e mulheres. Telegrama transcrito do informativo “Notícias da Marinha”, de 24 de março daquele ano, diz o seguinte:

“COMISSÃO PREJUDICADA TOATOS ESPALHADOS PRINCIPAMMENTE MARGEM SERGIPE RESPEITO EMPREGO VACINAÇÃO ORDENADA MINISTRO ROBERTO CAMPOS FINS TORNAR HOMENS ET MULHERES ESTÉREIS PT LOCALIDADE LAGOA PRIMEIRA VG GRANDE NÚMERO DE HABITANTES FUGIU DA CIDADE AO AVISTAR O NAVIO PT

Episódios como este, verificado na pequena localidade de Lagoa Primeira, no município de Gararu-SE, eram comuns na época. Não se tratava de qualquer represália à ação da Marinha, ou qualquer manifestação política ou ideológica, já que vivámos em pleno Regime Militar, mas resultado da ignorância de boa parte da população.

As campanhas de vacinação contra a varíola enfrentavam frequentemente essa resistência. Em tempos de pouca informação, os boateiros disseminavam a ideia de que a vacina era para “capar” os homens, o que levou muitos deles a se embrenhar mato a dentro ao menor sinal de um carro ou de uma lancha estranha. Conta-se que um deles chegou a se esconder dentro de um espesso calumbi, muito comum na beira do rio, sendo necessário desbastar o mato a foice para retirá-lo.

Mas, no geral, a comunidade ribeirinha reagia bem à presenta da Marinha. Em Limoeiro, por exemplo, pouco depois do carnaval, numa tarde (provavelmente no dia 9 de fevereiro de 1967), chegava o Piraju, baixando âncoras ao largo do rio. A canos de “seu” Agnelo, conduzida por Zé de Atanázio, foi ao seu encontro. Logo desembarcaram os homens do navio e se puseram a trabalhar.

O atendimento médico e a distribuição de medicamentos, gêneros e material didático teve lugar no Grupo Escolar, sob a orientação de “seu” Lindauro, liderança política do lugar. O gabinete dentário foi instalado na casa de “dona” Nita (Neuza Amorim), cujos procedimentos basicamente se reduziam a extrações. Algumas pessoas chegaram a ficar banguelas e outras até passaram mal, com hemorragias e, pior, sem qualquer assistência, pois os dentistas já tinham ido embora.

Os mantimentos eram doados pela “Aliança para o Progresso”, do Governo americano e os remédios praticamente se resumiam a umas pílulas grandes, de cor vermelha, basicamente vermífugos. Enfim, era tudo uma grande novidade.

O Capitão-de-Mar e Guerra Alberto do Valle Rosauro de Almeida[xiii], que depois foi Chefe do Centro de Ensino de Ciências Sociais da Escola Naval, no Rio de Janeiro, comandava o Piraju na sua última Missão ao São Francisco, em janeiro de 1968. Ele relata:

“Em Piranhas, após uma navegação muito perigosa, atravessando corredeiras sob a orientação segura do “Seu” Quinca[xiv], chegamos à tarde e lá pernoitamos. Na época, a única comunicação do outras localidades era através do rio, pois não havia estradas. Também não havia eletricidade e as poucas notícias ehegavam uma ves por semana pela lancha Tupan ou através de rádios de pilha (quando havia pilhas), em AM. A população, na maioria, receava a volta de Lampião. Achava que Getúlio Vargas era ainda o Presidente da República. Lembro-me de um senhor que me pediu notícias do Imperador.”

Registre-se, por fim, que foram essas as oportunidades que, sob o Regime Republicano, navios de guerra adentraram o São Francisco até Piranhas.[xv]
***
Adaptado do livro TERRA DO SOL ESPELHO DA LUA, AMORIM, Etevaldo Alves. ECOS, Maceió, 2004.

NOTA:
Caro leitor,
Este Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, exibe postagens com informações históricas resultantes de pesquisas, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso algumas delas seja do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo. Segue abaixo, como exemplo, a forma correta de referência:
Sugestão de registro de referência:
AMORIM, Etevaldo Alves. MISSÕES DA MARINHA NO BAIXO SÃO FRANCISCO. Maceió, junho de 2020. Disponível em: http://blogdoetevaldo.blogspot.com/2020/06/missoes-da-marinha-no-baixo-sao.html. Acesso em: dia, mês e ano.



[i] Júlio César de Sá Carvalho nasceu em Três Lagoas, Estado do Mato Grosso do Sul, a 29 de maio de 1917. Filho de José Ribeiro de Sá Carvalho e Irinéa Fontoura de Carvalho. Foi transferido para a Reserva por força do ATO INSTITUCIONAL Nº 1, de 9 de abril de 1964.
[ii] Jorge Manoel da Purificção. Assumira o posto em 15 de setembro de 1958. Em 1956, já tinha comandado o Piraju.
[iii] Ordener Cerqueira.  Dentista, professor da Faculdade de Odontologia de Alagoas. Filho de Manoel Vieira de Cerqueira e Antônia da Costa Cerqueira.
[iv] João Arnoldo Paranhos Jambo nasceu em Maceió no dia 7 de janeiro de 1922. Era filho do despachante Alfredo da Silva Jambo e de Elita Paranhos Jambo.
[v] Hermano Sósthenes Paranhos Jambo. Irmão de Arnoldo Jambo. Foi diretor-executivo do jornal Terra Livre, editado em São Paulo.
[vi] Nasceu em Penedo - AL a 10/11/1922 e faleceu em Maceió - AL a 17/05/2020, vítima da Covid-19. Deputado estadual¸ Secretário de Estado da Saúde, médico, prefeito. Filho de Edmundo Lopes e Elisa Nogueira Lopes.
[vii] Engenheiro Agrônomo, nascido em Pão de Açúcar-AL a 13 de dezembro de 1926. Filho de Júlio de Freitas Machado e Tercília de Freitas Machado. Diplomado pela Escola Agronômica da Universidade da Bahia. Pós-graduação: Engenharia Rural, no Centro de Estudos e Treinamento de Engenharia Rural, São Paulo.
[viii] Prefeito de Pão de Açúcar no período de 05/02/1956 a 31/01/1961. Nasceu em Jacaré dos Homens (então município de Pão de Açúcar) no dia 23 de maio de 1909. Filho de Horesmídia Maria da Conceição.
[ix] Revista Marítima Brasileira, 1962.
[x] Otávio Tavares Vieira, filho de Maria Rosa Tavares Vieira (Sinharinha Tavares) e Octávio Soares Vieira. Nasceu em Pão de Açúcar no dia 11 de outubro de 1924. Formado pela Escola Agronômica da Bahia, em 17 de dezembro de 1951.
[xi] Filho de Adhemar Garcia de Paiva e Célia de Castro Caldas. Faleceu no Rio de Janeiro, aos 57 anos, no dia 14 de dezembro de 1994. Casou-se em 1961 com a Miss Guanabara e Miss Brasil 1960, Gina MacPherson.
[xii] CALHEIROS, Celso. São Francisco na Agenda de Dilma, su2011.
[xiii] Filho de Alberto Gonçalves Rosauro de Almeida e de Eunice Guimarães do Valle.
[xiv] Joaquim Bezerra da Silva, conhecido por “seu Quinca”, nasceu em Curralinho (Poço Redondo-SE), a 18 de agosto de 1910. Era filho de Teotônio Martins Bezerra e Adelaide Lucas de Souza. Foi casado com Maria José Santos, natural de Pão de Açúcar, que adotaram como filho José Bezerra (Zé de Quinca). Foi Comandante-Prático da Lancha Tupan, fazendo a linha Penedo-Piranhas desde 7 de julho de 1956 até 1979. Era muito popular e amplamente respeitado pelas suas maneiras cordiais e também pela sua extrema habilidade na navegação.
[xv] Correio da Manhã, RJ, 7 de fevereiro de 1960.

terça-feira, 16 de junho de 2020

A ADUTORA DA BACIA LEITEIRA DE ALAGOAS

Por Etevaldo Amorim
O ano era 1960. Enquanto Jânio Quadros (PTN), empunhando sua "vassoura moralizadora", era alçado à Presidência da República, superando Henrique Teixeira Lott (PSD), em Alagoas o pleito de 3 de outubro consagrava a vitória da Chapa Luiz Cavalcante/Teotônio Vilela, para Governador e Vice-Governador do Estado.
Tomando posse a 31 de janeiro do ano seguinte, o “Major Luiz” empreenderia, em termos estruturais, uma Gestão digna de registro. Em seu Governo foram criados diversos Órgãos: PRODUBAN - Banco da Produção do Estado de Alagoas, IPASEAL – Instituto de Pensões e Aposentadorias dos Servidores do Estado de Alagoas; CASEAL – Companhia de Armazéns e Silos do Estado de Alagoas; CODEAL – Companhia de Desenvolvimento de Alagoas; FASA – Fundação de Assistência Social de Alagoas; e CASAL – Companhia de Águas e Saneamento de Alagoas.
Criada pela Lei n. 2.491, de 19 de dezembro de 1962, a CASAL – Companhia de Abastecimento D’Água e Saneamento do Estado de Alagoas teria papel fundamental na implantação dos Sistemas Coletivos de Abastecimento de Água.
O Sistema Coletivo da Bacia Leiteira foi o primeiro desses Sistemas, cujo projeto básico foi elaborado, em 1964, pelos Engenheiros João Geraldo e Aurino, do SESP- Serviço Especial de Saúde Pública[i]. Aliás, foi o Senador Rui Palmeira que apresentou projetos e estudos iniciais, bem como incluiu no Orçamento Geral da República os primeiros recursos, ainda em 1957[ii].
No âmbito da SUDENE, o Projeto já se achava contemplado desde 1962. Matéria do Jornal do Brasil, edição de 22 de abril de 1962, destaca a manifestação do Governador de Alagoas, de que estaria confiante na ação da SUDENE, acentuando que “Nela deposito grandes esperanças, principalmente em face da atuação do Sr. Celso Furtado”. Ressalte-se que, a essa altura, o Presidente Jânio Quadros já havia renunciado, sendo sucedido pelo Vice-Presidente João Goulart, que fora eleito pela coligação (PSD/PTB/PST/PSB/PRT), oposta à do seu principal concorrente Milton Campos (UDN/PR/PL/PTN). Àquela época, votava-se também para Vice-Presidente.
Com efeito, no dia 17 de dezembro de 1964, foi assinado um convênio entre a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste e a CASAL – Companhia de Água e Saneamento de Alagoas, cujo objeto era o abastecimento de água da Bacia Leiteira alagoana, constituída por doze municípios, no valor de 119 milhões de Cruzeiros (a moeda da época).
A obra seria executada pela CASAL – Companhia de Abastecimento de Água e Saneamento do Estado de Alagoas, vinculada à SVOP – Secretaria de Viação e Obras Públicas do Estado de Alagoas, com a cooperação dos seguintes Órgãos: Ministério Extraordinário de Coordenação dos Organismos Regionais (a cargo do Gal. Cordeiro de Farias); F-SESP – Fundação Serviço Especial de Saúde Pública; SUDENE – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste; DNOS – Departamento Nacional de Obras e Saneamento; DNOCS – Departamento Nacional de Obras contra as Secas, CAENE – Companhia de Águas e Esgotos do Nordeste; e Comissão do Vale do São Francisco.
Iniciando sua atuação em 1963, sua primeira Diretoria era assim constituída: Diretor-Presidente: Benício Valente Monte[iii].  Diretor Administrativo: Antônio Magalhães Pontes; Diretor-Técnico: Engº Márcio Barbosa Callado. Superintendente: Engº Paulo Jorge Lopes Costa.
Com um rebanho estimado em 150 mil cabeças de gado holandês, e com uma produção de 100 mil litros diários, a Região, habitada por 150 mil pessoas, não dava conta do escoamento da produção. Diz a matéria do Diário de Pernambuco, edição de 18 de dezembro de 1964:
“A falta de industrialização e de consumo in natura, em proporções de absorver a produção, são aspectos negativos para os seus criadores. Em face disso, está sendo estudada a possibilidade de ser instalada uma fábrica de leite em pó, ali, com o que muito se beneficiariam todos os criadores e a própria Região.”

O PROJETO
Um primeiro Ramal beneficiaria as cidades de Belo Monte, Jacaré dos Homens, Batalha, Major Isidoro e Cacimbinhas, com derivação para São Marcos (Major Isidoro) e Jaramataia. O primeiro trecho, de 22 km, levaria água a Jacaré dos Homens.
A captação, em Belo Monte, se faria através de três conjuntos de moto-bombas com 150 HP, cada. Na operação, apenas dois conjuntos funcionariam, ficando o outro pronto para qualquer emergência, como forma de evitar eventual suspensão do serviço. A sucção seria feita à margem do rio, a uma profundidade de seis metros e também a uma distância de 160 metros do leito, através de três galerias de tubos instalados em forma de drenos. A água captada se elevaria a uma altura manométrica de 60 m. (m. c. a = metros de coluna d'água)
A Estação de Captação sendo construída. Foto CPDOC/FGV
A Estação de Captação pronta para funcionar. Foto: CPDOC/FGV

Ainda na cidade de Belo Monte, à esquerda do conjunto de captação, estaria o primeiro grupo de reservatórios, em número de quatro, com capacidade individual de 750 mil litros, totalizando assim três milhões de litros.
Do sistema fariam parte, ainda, a casa de bombas com três conjuntos de moto-bombas e com capacidade individual de 200 HP, e a Sub-Estação de força.
Da Estação de Tratamento a água seria recalcada para uma distância de 11.650 metros em altura manométrica, chegando a atingir a altura de 105 metros, onde se projeta um reservatório intermediário com capacidade de um milhão e quinhentos mil litros em idênticas condições técnicas do primeiro reservatório.
Dessa etapa até a cidade de Jacaré dos Homens, onde seria construída a central distribuidora da Região, cobrir-se-á um percurso de 10 mil e 630 metros, com altitude manométrica quase idêntica à da primeira parte da rede de tubulação. O conjunto de reservatório da parte central seria constituída de quatro depósitos com capacidade global de 5 milhões de litros, volume bastante para o abastecimento da Região.
REDE DE TUBULAÇÃO
A rede de tubulações de toda adutora, cobrindo as doze cidades do plano original, atingiria uma extensão de 132 km, e em condições de ampliar os serviços à proporção que fosse necessário.
A rede-tronco, entre Belo Monte (à margem do rio) e Jacaré dos Homens atingiria um percurso de 25 km, quase todo em linha reta. (nos seis últimos quilômetros o projeto original teve que ser alterado para contorno das montanhas elevadas).
Belo Monte. Rede de Distribuição partindo da Estação de Captação.
Ao centro, o coronel Engº Wilson Santa Cruz Caldas, Diretor de
Obras e Planos  da  Comissão  do Vale do São Francisco, que visitou
 a obra  em final  de dezembro de 1965 a início de janeiro de 1966.


Rede de Distrituição. Trecho Belo Monte-Jacaré dos Homens. 
O Governador, engenheiro Luiz Cavalcante, e o Presidente da CASAL
Sr. Benício Monte. Foto CPDOC/FGV
Jacaré dos Homens, 1966. Foto CPDOC/FGV
A tubulação da adutora-tronco, formada de tubos com tamanho médio de quatro a seis metros, com 450 milímetros de diâmetro interno. Nas partes altas da rede seriam instaladas “ventosas” para extrair bolsas de ar que se formam quando as bombas estão funcionando, e nas partes baixas, registros de descarga para lavagem dos tubos. Tal rede permitiria o recalque de 684 mil litros de água horários, e em sete horas de funcionamento da Adutora toda a Região estaria abastecida.[iv]
Autoridades observam o conjunto de bombas.

REDE COMPLEMENTAR
Projetava-se para Jacaré dos Homens a condição de centro do Sistema. Dali sairiam dois Ramais: um em demanda a Batalha, Major Isidoro, São Marcos e Cacimbinhas. Outro para Monteirópolis, Olho D’Água das Flores, São José da Tapera, Olivença e Santana do Ipanema.
A OBRA
Segundo reportagem de Alberto Jambo no Diário de Pernambuco, edição de 28 de novembro de 1965, já se achava concluída a montagem da rede de distribuição de água até a cidade de Jacaré dos Homens, obra executada pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas e integrante do Programa Coletivo de Construção do Serviço de Abastecimento de Água da Região da Bacia Leiteira de Alagoas.
Achava-se concluída também a concretagem da tubulação e iniciava-se a concretagem da laje da Casa de Bombas, em Belo Monte, serviço esse executado pela Equipe da Fundação SESP.
Orçado em Sete Milhões de Cruzeiros. Já foram gastos Três Bilhões na primeira etapa.
Só em 1965, para o trecho Belo Monte-Jacaré dos Homens, foi investido 1,5 bilhão de Cruzeiros, segundo informação do Engº Wilson Santa Cruz Caldas, Diretor de Planos e Obras da Comissão do Vale do São Francisco.[v]
Além disso, havia o caráter social do empreendimento, pois todos os operários foram homens tirados da própria Região e instruídos para o serviço, envolvendo mais de 200 chefes de família. À frente do Serviço esteve o engenheiro Josué Palmeira, jovem de 27 anos, formado pela Escola de Engenharia de Alagoas e que dedicou todo o seu entusiasmo e conhecimento a serviço de uma causa.[vi]
O Engenheiro Josué Palmeira Magalhães, conhecido por “Dr. Jota”, acabou se tornando muito popular na Região. Tendo a seu cargo a locação da mão-de-obra, recebia enorme demanda por colocação nas frentes de serviço. Os potenciais operários, originários principalmente de Jacaré dos Homens e Belo Monte, com seu povoado Restinga, vinham também de Limoeiro, localidade mais populosa situada a 5 km, pertencente ao município de Pão de Açúcar. O ano de 1965 não foi “bom de chuva”, como dizem os sertanejos. A estiagem comprometeu as lavouras e aquela obra se constituiu, assim, um alento para mitigar os seus efeitos.
Dr. Josué Palmeira Magalhães - Dr. Jota
Foto: Revista CASAL 55 anos.
Setembro-2017. Cortesia Diego Barros.

Em março de 1966, o Marechal Cordeiro de Farias, Ministro Extraordinário para a Coordenação dos Organismos Regionais (MECOR, depois transformado em Ministério do Interior), visitou as obras em Belo Monte.[vii]
Belo Monte, 1966. O Vice-Governador Teotônio Vilela, Mal.
Cordeiro de Farias, o Dep. Segismundo Andrade. O Senador
Rui Palmeira um pouco mais à frente, à direita. Foto/CPDOC.
O Senador Rui Palmeira, o Superintendente da Comissão do
Vale do São Francisco, João Gomes Sobrinho e o Dep. Segis-
mundo Gonçalves de Andrade. Belo Monte. Foto CPDOC/FGV
Belo Monte, 1966. Rui Palmeira, Segismundo Andrade, Teotônio
Vilela e o Mal. Cordeiro de Farias no "Porto do Cal".
Autoridades, técnicos e operários observam a água jorrando. Da esquerda para a direita, o Sr. José Correia de Amorim, Prefeito de Batalha; Antônio Figueiredo, Prefeito de Jacaré dos Homens; o Sr. Durval Nery de Araújo, de Jacaré dos Homens. Ao centro, de capacete,  o Sr. Benício Monte e a seu lado o Interventor Federal no Estado de Alagoas, Gal. João Batista Tubino.










Para a inauguração, anunciava-se a presença do Marechal Castelo Branco, que ocupava a Presidência da República após o Golpe Militar de 1964. Entretanto, quando da sua visita a Alagoas, as condições das estradas, devido às fortes chuvas, não lhe permitiram viajar ao Sertão. A obra acabou por ser inaugurada 12 de setembro daquele ano, com a presença do Interventor Federal General João Batista Tubino.[viii] O Sistema completo foi inaugurado em 1971[ix].
Iniciava-se, assim, de forma efetiva e economicamente importante, o aproveitamento das aguas do rio São Francisco. Para demonstrar esse fato, o Dr. Márcio Barbosa Callado (em Sistema Coletivo da Bacia Leiteira: Um ponto de inflexão na concepção das grandes adutoras), relata:
“O Vice-governador Teotônio Vilela, em visita à Bacia Leiteira, foi até a margem do rio e nos chamou a atenção:
- Falta uma placa...
A placa da obra lhe foi mostrada, ao que retrucou:
- Essa é a placa do Major - a placa alusiva à Obra -. A placa que falta é outra:
RIO SÃO FRANCISCO – NÃO É PROIBIDO USAR
O rio São Francisco foi reconhecido, definitivamente, como manancial capaz de mitigar a sede dos sertanejos.”

À esquerda, o Sr. José Correia de Amorim (Yoyô), prefeito de
 Batalha; ao centro, o Sr. Antônio Figueiredo, prefeito de Jacaré
dos Homens; o Gal. Batista Tubino e o Sr. Benício Monte.
À esquerda, de perfil, o Sr. Antônio Figueiredo, prefeito
 de Jacaré dos Homens; a seu lado,  o Gal. Batista Tubino (atrás deste, o Sr. Virgínio),
seguido do Sr. José Correia de Amorim - Yoyô, prefeito de
 Batalha.  À Direita, o Sr. Benício
Monte  e à sua direita, ao fundo, o soldado Trindade. Foto CPDOC/FGV.
Informações José Ciro Machado Souto. Belo Monte: 1966.
O Gal. Tubino abrindo o registro geral.
NOTA:
Caro leitor,
Este Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, exibe postagens com informações históricas resultantes de pesquisas, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso algumas delas seja do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo. Segue abaixo, como exemplo, a forma correta de referência:
Sugestão de registro de referência:

AMORIM, Etevaldo Alves. A ADUTORA DA BACIA LEITEIRA DE ALAGOAS. Maceió, junho de 2020. Disponível em: http://blogdoetevaldo.blogspot.com/2020/06/a-adutora-da-bacia-leiteira-de-alagoas.html. Acesso em: dia, mês e ano.


[i] Callado, M. B; Callado, N. H. SISTEMA COLETIVO DA BACIA LEITEIRA: UM PONTO DE INFLEXÃO NA CONCEPÇÃO DAS GRANDES ADUTORAS.
[ii] Diário de Notícias, RJ, edição de 13 de agosto de 1966.
[iii] Benício Valente Monte. Nasceu a 22 de agosto de 1914, filho de José Ventura Monte e Adélia Valente Monte. Em 16 de abril de 1938, casa-se com Hilda Carmelita de Pereira, filha de Joaquim Pereira da Silva e de Maria Belarmina Pereira. Ela que dá nome a uma rua no bairro Petrópolis, em Maceió. Em 16 de maio de 1964, contrai segundas núpcias com Maria de Lourdes Sá Pinto, filha de Antônio Pinto Junior e Adelaide de Sá Pinto.
[iv] Diário de Pernambuco, 10 de julho de 1966.
[v] Diário de Pernambuco, 6 de janeiro de 1966.
[vi] Engº JOSUÉ PALMEIRA MAGALHÃES (Dr. Jota), Chefe da Equipe Técnica. Nascido em 19/12/1937 e falecido em 12/12/2002, natural de Limoeiro de Anadia, Estado de Alagoas, filho de José Emídio de Magalhães e de Júlia Palmeira.
[vii] Diário de Pernambuco, de 18 de março de 1966.
[viii] General João José Batista Tubino, Interventor Federal que governou Alagoas de 31 de janeiro de 1966 a 15 de agosto de 1966. Nasceu em Santana do Livramento-RS em 24 de junho de 1905 e faleceu no Rio de Janeiro, 11 de maio de 1982.
Em 3 de outubro de 1965 houve eleição direta para governador em onze estados, todavia o resultado em Alagoas foi invalidado ante a ausência de vitória por maioria absoluta de votos segundo previa a Emenda Constitucional nº 13 de 8 de abril de 1965 e como a Assembleia Legislativa declinou em resolver a contenda em um primeiro momento, o presidente Castelo Branco nomeou o General João Tubino para administrar o Estado  até que os deputados estaduais elegessem Lamenha Filho como novo governador. O General Tubino tomou posso no dia 28 de janeiro de 1966, perante o Ministro da Justiça, Men de Sá. Lamenha   tomou posse no dia 17 de setembro de 1966.
[ix] Callado, M. B; Callado, N. H. SISTEMA COLETIVO DA BACIA LEITEIRA: UM PONTO DE INFLEXÃO NA CONCEPÇÃO DAS GRANDES ADUTORAS.

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia