Por
Etevaldo Amorim
D. Pedro II aos 34 anos. |
A
viagem do Imperador Dom Pedro II às províncias do Norte foi objeto de decisão
governamental, exposta durante a “Fala do Trono”, no encerramento da 3ª Sessão
Legislativa da 10ª Legislatura da Assembleia Geral, no dia 11 de setembro de
1859.
O
Imperador assim anunciou a sua viagem:
“Para melhor conhecer as províncias do meu
Império, cujos melhoramentos morais e materiais são alvo de meus constantes
desejos e dos esforços do meu governo, decidi visitar as que ficam ao norte da
do Rio de Janeiro, sentindo que a estreiteza do tempo que medeia entre as
sessões legislativas me obrigue a percorrer somente as províncias do Espírito Santo,
Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba, reservando a visita a outras
para mais tarde.”
Após
a visita à Bahia, onde deixou a Imperatriz Tereza Cristina em companhia de
parte de sua comitiva, partiu para a foz do rio São Francisco no dia 12 de
outubro daquele ano, transpondo a barra no dia seguinte.
Já
no dia 17 de outubro, antes de adentrar o território pão-de-açucarense, nas
imediações do Belo Monte e da Ponta da Júlia, uma fazenda situada na margem
direita, o vapor Pirajá, em que viajava o Imperador, encalhou por duas vezes.
Só depois, já pelas 5:12 h, registra o Imperador[i]:
“... estávamos inteiramente safos da
coroa, quase defronte o Cajueiro”[ii],
agora definitivamente em águas de Pão de Açúcar.
Limoeiro, 1869, vendo-se a capela à direita. Foto: Abílio Coutinho. |
Dom
Pedro não registra, nessa ocasião, sua passagem pelo Limoeiro, mas um viajante[iii]
que o acompanhava aponta que, às 5 ¾ h (17:45h), passava o Pirajá pela
importante povoação:
“O Limoeiro é apenas notável pela possessão
de uma bela fazenda pertencente ao morgado da Torre na Bahia. Pouco adiante, e
do mesmo lado, descobre-se uma linda perspectiva de dois morros que,
inteiramente iguais em seus ângulos, deixam uma aberta por onde se avistam
vários serros, saindo uns por detrás dos outros, e alguns em direções
paralelas. Denomina-se o mais notável Morro do Faria.”
De
fato, ao se transpor os morros do Faria e Surubim, fronteiros e semelhantes,
vislumbra-se um belo panorama. A partir do Cavalete, vê-se uma sucessão de
morros, na margem esquerda, que assumem diferentes tonalidades, indo até
próximo da Ilha do Ferro.
Outro
relato, feito pelo correspondente do jornal Correio Mercantil, em edição do dia
5 de novembro de 1859, descreve a passagem pela primeira localidade no
território de Pão de Açúcar:
“Às 5 ¾ passa o vapor pelo Limoeiro, pequeno
povoado em seguida ao da Lagoa Funda, e que tem na ponta um morro. Nesse povoado
há plantações de arroz e milho. Defronte, do outro lado, levantam-se também
nuvens de areia, que o vento conduz a seu bel prazer; aí há um belo casal
de uma fazenda de Sergipe que pertence
ao Morgado da Torre da Bahia.”
O
morro a que se refere o jornalista é o Morro do Murim, que tem no alto uma
capela sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário. As plantações avistadas
estavam, por certo, situadas na Lagoa da Igreja, patrimônio de “Jesus, Maria e
José”, padroeiros do lugar.
Já
o “casal”, a que também se refere o autor do relato, o faz no sentido de
“lugarejo, pequeno povoado". Trata-se da fazenda Araticum que, na verdade,
pertencia ao Morgado do Porto da Folha[iv]. Abrangia
uma imensa área de 26 a 28 léguas de margem, desde as Intãs até o riacho Xingó
Grande, chegando a ter 12 léguas de fundo nos lugares mais largos, e meia légua
nos mais estreitos.
Essas
terras foram dadas em sesmaria e pertenceram ao Mestre-de-Campo do Terço da
Cavalaria da cidade da Bahia, Pedro Gomes Ferrão Castello Branco, por mercê de
D. Maria I, em 1860. Sucedendo-lhe seus filhos Antônio e Alexandre, estavam
elas sob a administração de D. Maria Joaquina Gomes Castello Branco, que viria
a falecer em 1861, e teve como herdeiro o Barão de Cajahyba (Alexandre Gomes
Ferrão d’Argollo), um dos heróis da independência da Bahia. Extinto o morgado,
foram as terras adquiridas, em 1864, pelo Capitão Luiz da Silva Tavares.
Muitos
anos depois, pelo entrelaçamento com as famílias Brito, Seixas e Dória, a
imensa possessão foi desmembrada, formando as fazendas Júlia, Belém, Caiçara,
Jaciobá, Niterói (antiga Tapera), Saco Grande...
Tendo
passado pelas administrações do Tenente-Coronel João Fernandes da Silva
Tavares, Cel. Manoel Lino da Silva Tavares, Dr. José Luiz da Silva Tavares (Dr.
Zeca) e Dr. Etelvino Tavares de Menezes, o Araticum pertence hoje a herdeiros
do Sr. Elpídio Emídio dos Santos, ex-prefeito de Pão de Açúcar.
A Fazenda Araticum, fronteira a Limoeiro. Foto do acervo do Dr. Luiz Menezes da Silva Tavares, cedida por Mirya Tavares. |
Prossegue
o correspondente, reiterando a referência aos morros do Faria (AL) e Surubim
(SE):
“Adiante, desse mesmo lado, há uma vista
linda, proveniente de dois morros que, inteiramente iguais em suas pontas,
deixam uma aberta pela qual se avistam vários serros saindo uns detrás dos
outros e alguns paralelos; um desses, o mais notável, chama-se morro do Faria.”
Retomemos,
então, o relato de D. Pedro:
“Cheguei por volta das 8 à Vila do Pão de
Açúcar. Receberam-me com muito entusiasmo e um anjinho entregou-me a chave da
vila. Defronte desta povoação há uma grande coroa de areia que me cansou
atravessar e, com a luz dos foguetes, que não têm faltado por todo o rio,
parecia o rio gelado.”
Descendo
num improvisado ancoradouro, “que
arranjaram com algumas tábuas e coqueiros”, ao som de rebecas e outros
instrumentos, o Imperador foi conduzido à Casa da Câmara, sob o canto do Hino
da Independência.
“O Juiz de Direito disse-me que ainda não
tinha aberto segunda vez o júri este ano nos dois termos da Comarca por ter
estado doente. O juiz Municipal recita uns versos que junto”.
“Quando S. M. entrou em Palácio –
confirma o viajante – o Dr. Juiz
Municipal Francisco Antônio Pessoa de Barros[v],
beijando-lhe a mão, e depois de haver pedido vênia, recitou a seguinte poesia:
“Augusto filho de tão grande Pai,
Ilustre Neto de imortais Avós,
Um voto livre de adesão ao trono,
Monarca sábio, recebei de nós.
Erguei-vos povos, que o Monarca é nosso.
Curvai-lhe as frontes, que seu peito
nobre
Contém virtudes, sentimentos grandes,
Que são riquezas que só tem o pobre.
Ei-lo descido do soberbo trono,
Transpondo os mares que na barra morrem;
Ei-lo conosco pelo céu trazido
Por estas águas que vaidosas correm.”
“A Câmara Municipal, precedida por um menino
vestido de anjo, veio logo ao encontro de S. M, acompanhando-o depois para a
casa que brilhantemente lhe havia preparado. Durante o trajeto, não cessaram os
vivas e os foguetes. Era uma explosão do maior e mais puro regozijo, porquanto
partia de um povo não acostumado aos festejos das Cortes, muitas vezes, talvez,
menos sinceros.” “Depois de haver S.
M. dado beija-mão a toas as pessoas que se apresentaram a cumprimenta-lo,
chegou várias vezes à janela para agradecer as ovações que o povo, apinhado,
lhe fazia. Às dez horas, recolheu-se ao seu aposento.”
Pão de Açúcar, 1869, vendo-se em primeiro plano o sobrado em que se hospedou D. Pedro II. Foto: Abílio Coutinho. |
O
velho sobrado da Rua da Frente, que fora propriedade do Major João Machado de
Novaes Mello, onde funcionava a Casa da Câmara, mas que também servia de
residência dos juízes, transformou-se em aposento real. Dom Pedro, então,
agradecido pela hospitalidade do “Barão
de Piaçabuçu”, presenteou-o com uma linda bandeja de oro, toda feita de
esterlinos, ligadas as moedas umas às outras, obra de delicada manufatura e de
grande beleza artística, segundo refere Renato de Alencar, (Revista da Semana
02/02/1952).
Esta
joia passou para o domínio de seu filho, o Dr. Miguel de Novaes Mello, que fora
Juiz de Direito de Penedo e primeiro Intendente de Pão de Açúcar. “Sua esposa, Dona Rosa de Albuquerque Novaes[vi],
perdeu de vista muita coisa vinda daqueles tempos românticos e felizes, no
tumulto de inventários e partilhas, e de novas núpcias. E a bandeja de
esterlinos encantou-se...” (idem).
Dom
Pedro, entretanto, não deixaria de comentar:
“Senti muito calor esta noite. É verdade que
também o colchão é de paina, mas creio que também o tem sido nos outros lugares
e nunca suei como esta noite”.
Pode-se
bem imaginar o qual difícil foi acomodar toda essa gente e, particularmente,
algumas das maiores celebridades da história brasileira. Era, de fato, um
acontecimento ímpar e quu marcaria a vida da pequena Vila, de moradias tão
humildes e ocupadas por gente tão simples. As autoridades locais, a exemplo do
Promotor Dr. José Antônio de Mendonça[vii],
tiveram que se esmerar na recepção e abrigaram em suas casas os componentes
mais distintos da comitiva imperial.
O Almirante Tamandaré. |
O
Vice-Almirante Marques Lisboa[viii]
e outras pessoas de maior destaque foram hospedadas na casa do Dr. Miguel Alves
Feitosa, um competente e abnegado médico que, a despeito de todas as
dificuldades, salvava vidas por aqueles sertões. Era, no dizer de Abelardo
Duarte, “curiosa e originalíssima figura
de cirurgião e clínico”. Realizava intervenções cirúrgicas em campo aberto,
à vista de todos, nas feiras e noutras aglomerações, onde quer que fosse
necessária a sua atuação.
Dentre
essas pessoas, achava-se o Chefe-de-Divisão Barroso[ix], que
se destacaria na célebre e decisiva “Batalha do Riachuelo”, que teve como palco
o rio Paraná, durante a Guerra do Paraguai. Ali, em 11 de junho de 1865,
comandando a esquadra brasileira, derrotou as forças paraguaias, capitaneadas
por Inácio Meza.
O Almirante Barroso. |
Já
o Juiz de Direito Dr. João Paulo Monteiro de Andrade[x]
hospedou o Conselheiro Dantas[xi],
Presidente da Província de Alagoas.
Pão
de Açúcar tinha, então, na não muito precisa avaliação do Imperador, “de 1.000 a 2.000 habitantes e a
municipalidade renderá 200 a 300 mil reis por ano. O juiz de direito Monteiro
de Andrade, que também é o de Mata Grande, passa por Chefe do Partido Liberal
extremo. O Municipal é alheio a partidos e o promotor, da família Mendonça, No
Penedo não havia á venda arroz descascado, que, todavia se encontra em Pão de
Açúcar.”
No
dia seguinte, 18 de outubro, terça-feira, o Imperador acordou antes das cinco
horas e, logo às seis, já estava a percorrer a Vila. Esse breve passeio, que
não levou mais que cinquenta minutos, serviu para emitir uma rápida impressão:
“A matriz e pequena, mas decente, só tem
inteiramente pronta a capela-mor, o resto acha-se coberto. Há uma bela rua
direita longa e muito larga; outra perpendicular, também direita, porém menos
longa e larga. Só vi uma casa de sobrado, a da Câmara, onde me hospedei. O nome
da Vila não é bem cabido, pois que o morro é antes um mamilo pedregoso do que
um pão de açúcar.”
O
viajante, atento, ainda registra:
“Sua Majestade, acompanhado de sua comitiva e
de muitas outras pessoas distintas, percorreu de manhã toda a vila do Pão de
Açúcar, mandou entregar 600:000 reis para os pobres e embarcou às 7 horas no
meio das mais significativas demonstrações de apreço, dedicação e lealdade
prestadas por toda a população.”
“A Vila de Pão de Açúcar, pertencente à
Província das Alagoas, está assente em um alto, ao qual precede um extenso
areal, talvez de 400 braças de comprimento. tem cerca de 1.800 almas e o Termo,
7.000. aí há somente uma capela, e está arruinada, sob a invocação do Coração
de Jesus. Mas se está edificando uma outra em lugar marcado pelo digno e
piedoso missionário frei Caetano de Messina, dedicado a Nossa Senhora das
Dores. O cemitério é pequeno e cercado de pedras. Depois de Propriá, é a vila
de maior importância do Rio São Francisco. Exporta algum algodão produzido nas
serras e é um entreposto de comércio acima do rio”.
“Perto da vila há grandes lagoas, que
fertilizam o terreno, que dá com facilidade milho, feijão e arroz, em
quantidade superior ao seu consumo. Tem duas escolas primárias, uma para o sexo
masculino e outra para o feminino. O caráter da gente é brando e afável; as
mulheres ocupam-se em fazer varandas de rendas para redes, de belíssimo gosto e
perfeito trabalho. Nos meses de fevereiro a março há grande abundância de
cágados, que então torna-se o principal alimento de quase toda a gente. E
quando o rio está baixo, a água é excelente; mas logo que enche, fica barrenta
e má. Para se beber, costumam deitar dentro da vasilha que a contém um pouco de
pedra hume, que imediatamente precipita as matérias em suspensão e a purifica.
Esta água o rio, bebida quando ela está aquecida pelo sol, cerra logo o peito e
produz um defluxo bem desagradável, que lentamente cede ao tratamento adequado.”
“Dá nome à vila um morro escalvado que se
eleva em forma de pão de açúcar à sua direita subindo o rio.”
“Uma mulher dessa povoação, ouvindo falar que
o vapor imperial era de 40 cavalos, perguntou, com toda a ingenuidade: ‘mas
aonde é a estrabaria em que eles estão?!”.
***
***
Zarpava
o Pirajá rumo a Piranhas (demandando a cachoeira de Paulo Afonso), a uma
velocidade quatro milhas e meia por hora. No trajeto, Dom Pedro, que preferia
viajar sentado sobre a caixa das rodas, notava, nas imediações das Traíras,
plantações de arroz em ambas as margens, permeadas por “algumas árvores de verde-escuro”, enquanto conferia as cotas no “mapa de Hlafeld que, de Pão de Açúcar até
Piranhas, é cópia feita às pressas pelo Boulanger[xii]”,
posto que o mapa completo e relatório só seriam editados no ano seguinte.
Às
8:00 horas, um pequeno incidente: faíscas da chaminé, produzidas pelo carvão de
má qualidade, utilizado para alimentar o vapor, causaram um pequeno incêndio no
toldo das bandeiras, mas foi logo debelado, utilizando-se água depositada nas
talhas. Curioso é que não se o tenha feito com água do próprio rio, farta por
todos os lados, gastando-se a de beber. Talvez tenha aí prevalecido a herança
portuguesa. De todo modo, o Imperador, precavido, trazia para si a água de
Vichi[xiii],
por certo receoso de contrair alguma das enfermidades comumente transmitidas
pela água do São Francisco.
Afora
isso, a viagem prosseguia normalmente. Às 9:00 horas passava pelo morro do
Bonito e, às 9 e meia, Dom Pedro anota em seu diário:
“Vejo pela primeira vez as pedras do rio,
saindo da margem direita, do Bebedor, e havendo também do lado da margem
esquerda. Não há baixios no rio desde Pão de Açúcar até estas pedras. O vento é
fraco e o sol fortíssimo. Na altura da Ilha do Ferro, veem-se plantações, tanto
na ilha como na margem das Alagoas, as duas continuam a não apresentar-se
estáveis como entre Propriá e Traipu; o rio vai-se estreitando.”
DE VOLTA A PÃO DE AÇÚCAR
22
DE OUTUBRO.
“Às 5 horas largou o Pirajá de defronte do
Armazém[xiv]
e chegamos ao Pão de Açúcar depois das 7. Logo que avistaram o vapor soltaram,
do alto do morro desse nome, foguetes ao ar, que produziram belo feito, assim
como os que de diversos pontos, estando todas as casas da vila iluminadas.”
“A galeota encalhou antes de chegar ao
desembarque, mas por fim saltei em terra na areia e ofereceram-me um cavalo.
Segui nele com as pernas encolhidas por caisa dos estribos muito curtos, até a
Casa da Câmara, por entre imensa gente, e ao som do hino, tocado e cantado, da
Independência, composto na Bahia.”
“Vieram as meninas e meninos das duas aulas
de primeiras letras com flores e poesias, e o Juiz Municipal poetizava
novamente. Não é bem uma nova poesia que junto com as quadras dos meninos. Um
menino, que me apareceu na sala, deu-me um sagui muito enraçado.”
“Esquecia-me de dizer que na viagem tivemos
bastante vento, que tornou o rio quase um mar buliçoso, mostrando o Pirajá
desejos de dançar, e que o Ajudante de Ordens do Presidente, explicando-lhe as
qualidades do cavalo, disse-lhe que o animal tinha esquipado, mas não tinha
obras baixas. Chamam quartau, entre o fino e o de carga.”
23
DE OUTUBRO
“Acordei às 5 e tenho estado a escrever. Vou
agora dar um passeio até acima do Pão de Açúcar, ouvir missa e visitar as
aulas, deixando esta povoação depois do almoço, às 10 horas”. Continuo a escrever do Pirajá, onde
embarquei às 9 ½ . A vista do Alto do Pão de Açúcar é bonita. Antes da missa
fui às aulas e durante aquela a música tocou muito mal a ária de La tremenda
ultrice spada”.
“Não me parecem mal os professores, ainda que a
mestra[xv]
ma afigure vaidosa nos seus modos, ainda que noto falta de uniformidade nos
livros que usam, copiando-se nas aulas de meninas, traslado em inglês; e
estando estas divididas entre Grécia e Tróia. Há uma menina bem esperta, que é
a eu tem dado vivas, e leu como outras, e fez sofrivelmente a conta de
multiplicar, que é a em que se acham as adiantadas, apesar de anos de aula.
Também respondem satisfatoriamente bem, como outras, às perguntas do catecismo.
Há 39 matriculadas e de frequência 25 a 26. Na de meninos um mais esperto
dividiu sofrivelmente, e os que levam o fizeram do mesmo modo. O professor tem
apenas 1 mês de serviço e pediu há pouco que lhe mandassem exemplares do
catecismo. Os meninos e meninas que tenho examinado têm sido designados por mim.”
Pela
frequência com que assim procedia, nota-se que Dom Pedro Ii dispensava uma
especial atenção ao ensino. Conta-se que, numa dessas visitas, chegando sem
qualquer aviso, surpreendeu a professora em plena sessão de “argumento” (ou
“arguição”, como se chamava). Palmatória em punho, ela segurava a mão de um
menino e inquirira raivosa:
-
“Vamos, seu arrelaxado: substantivo
vareia ou num vareia?!”
*** ***
Dom
Pedro II deixou Pão de Açúcar às 10 horas, com destino à Ilha de São Pedro
Dias, a famosa ilha dos Índios Xocó, então sob a catequese de Frei Doroteo de
Loreto. Antes, porém, já a bordo do Pirajá, desenhou a imponente Serra do Meirus,
reproduzindo fielmente o seu perfil.
E
como última anotação em seu diário sobre a passagem por Pão de Açúcar, ele diz:
“Às 11 ½, defronte do Limoeiro, tendo andado
de Pão de Açúcar 3 léguas em rio. Toda a digressão gasta 10 minutos; Tem 50
casas, uma capela menos má e um oratório; é juizado de paz e não há nenhuma
autoridade policial, mas um fiscal; pertence à freguesia de Pão de Açúcar.”
Perfil da Serra do Meirus. Desenho de Dom Pedro II, feito do porto, ao partir. |
*** ***
***
NOTA:
Caro
leitor,
Deste
Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de
informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita
pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência
bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse
para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior
proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a
citação das referências. Isso é correto e justo.
[i]
No Pirajá, além do Imperador, viajavam: o Visconde de Sapucaí (depois Marquês –
Cândido José de Araújo Vianna, e que dá nome à Avenida onde desfilam as escolas
de samba do Rio de Janeiro, e que havia sido presidente da Província das
Alagoas de 14 de fevereiro de 1828 a 1º de janeiro de 1829); o Conselheiro Luiz
Pedreira; o conselheiro Antônio Manoel de Mello; o médico Dr. Francisco Manoel
de Abreu; Dr. Ferreira Jacobina; e o cônego Antônio José de Mello – capelão,
além de João de Almeida Pereira Filho. Em uma canoa grande que trazia a reboque,
viajavam também: O Chefe-de-Divisão Francisco Manoel Barroso; o comandante
superior Barão de Jequiá; o Comendador Manoel Sobral Pinto; o Barão de Atalaia;
o Capitão-de-fragata Antônio Carlos Figueira de Figueiredo, capitão do porto de
Maceió; José Correia da Silva Titara; Dr. Manoel Rodrigues Leite Oiticica; Dr.
Joaquim Serapião de Carvalho; 1º tenente Eusébio José Antunes, secretário da
Estação Naval de Pernambuco; 1º tenente Domingos José da Fonseca; 1º tenente
Manoel Antônio Vital de Oliveira, comandante do Iate Paraibano; 2º Augusto Neto
de Mendonça; Avelino de Alcântara Taveiros; Dr. Pedro Eunápio da Silva Deiró,
correspondente do Jornal do Comércio e o Dr. Francisco José da Rocha, redator
em chefe do Jornal da Bahia.
[iii]
Trata-se de Bernardo Xavier Pinto de Souza, português naturalizado, proprietário
da Tipografia e Livraria B. X. Pinto de Souza, que se identificava com as
iniciais “P. de S.”.