sexta-feira, janeiro 31

EU E O RIO

Etevaldo Amorim

 

Ainda guardo na memória o dia em que o vi pela primeira vez. Porto de Propriá, manhã ensolarada de um dia qualquer de julho de 1964.


Da minha altura de criança eu contemplava, admirado, aquele mar de águas encrespadas pelo vento que soprava do litoral. Eu, que jamais vira uma corrente de água com tamanha grandeza, me senti ainda menor diante da sua imponência.


O São Francisco, que naquela margem sergipana era largo e pujante, corria veloz rumo ao oceano, cumprindo seu destino de prover a subsistência do ribeirinho e ser objeto da integração e do movimento comercial.


Vindos do Sul, nosso destino era o Sertão. Embarcamos, e lá chegamos a muito custo, após dois pernoites por falta de vento.


Fui-me ambientando àquele novo mundo. Impressionava-me a rotina dos pescadores, com seus diversos tipos de “artes”: a tarrafa, a rede, o tresmalho, o anzol (de vara e de linha), a grozeira, o jereré... lançando mão de cada uma delas de acordo com o peixe a ser pescado.


Era imensa a diversidade: desde a simples piaba, a aragu, o cari, o mandim, o capadinho, peixes miúdos e de pouco valor; até o piau, a piranha, a pirambeba, a crumatá, o pacu, a traíra, o camurupim, o surubim, o niquim, o robalo, a pilombeta, a tubarana, a matrinxã, o tubi, o sarapó... e os crustáceos camarão, pitu, ...


Divertia-me em apreciar as canoas: charitas, chatas e “de tolda”, com sua panaria multicor, a navegar rio-acima, rio-abaixo, tornando o rio uma imensa estrada colorida.


Os canoeiros, verdadeiros ases em seu ofício, exibiam extrema habilidade no manejo das escotas, no regrar os panos e na escolha do caminho a ser seguido. Se rio-acima, beirando os morros, em águas de remanso; se rio-abaixo, aproveitando justamente a maior corrente, bordejando, num zigue-zague sem fim, até o pondo almejado.


Nos pés-de-morro, o perigo iminente: as panelas d’água formadas pela forte correnteza, que a destreza dos pilotos superava sobejamente.


Não demorou muito e eu, em dias de vento brando e certo, já me iniciava na arte de navegar. Aboletado na popa da canoa de meu pai, uma “chatinha” confortável e possante, segurando firme a cana-de-leme, eu seguia rio-acima, panos cheios, em corrida ligeira e prazerosa.


Em ambos os lados, a paisagem era diversa. A alvura das coroas que apareciam, aqui e ali a cada vazante, contrastava com o tom acinzentado dos morros adjacentes.


Em terras de vazante ou nas várzeas e lagoas, imensos arrozais, a riqueza do pobre, quase sempre meeiro ou arrendatário. Do plantio, em animados batalhões, movidos a aguardente e cantoria, restava apenas o “caldeirão”, ponto mais fundo da lagoa e para onde acorriam os peixes, ali pescados à fartura.


Bandos de paturís e marrecos revoavam em estridente algazarra, quando não caíam nas arapucas armadas ao longo da vastidão de areia.


O tempo passou e eu fui levado a outras vivências, que me distanciaram das coisas do rio. E agora, tanto tempo passado, outro motivo não há, senão a saudade, pra me fazer aventurar nesta prosa improvisada, e não me furtar ao dever de render um tributo a esse rio, que ficou no passado e não é mais o mesmo.


Canoa de pescaria rio acima. Foto tomada do Morro do Morim, Limoeiro, 2004.


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NOTA

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.

sábado, janeiro 25

BANCOS EM PÃO DE AÇÚCAR

Por Etevaldo Amorim

 

A existência de instituição bancária em Pão de Açúcar remonta ao final da década de 1920, início de 1930, durante a gestão do governador Álvaro Paes.(i)


Esse foi um período de grande avanço na abertura de estradas, destacando-se as que ligaram Palmeira dos Índios a Santana do Ipanema, e esta a Pão de Açúcar, tendo à frente os prefeitos Graciliano Ramos,  Ormindo Barros e o Padre José Soares Pinto, respectivamente.


E foi justamente em viagem de inspeção das obras dessas estradas que o governador, em companhia do Dep. Carlos Pontes,(ii) participou de reunião para a criação do Banco Agrícola de Pão de Açúcar. Com capital inicial de Cinquenta Cotos de Réis, o banco se destinava a prover as necessidades dos pequenos agricultores do município.(iii)


Lauro Marques, em reportagem para o Diário de Pernambuco (16/09/1934), cita a existência do Banco Popular e Agrícola, Banco de Penedo e Agência do Banco do Brasil. Esta seria, possivelmente, apenas um Escritório de Representação, com um Correspondente.


Aldemar de Mendonça, em seu Monografia de Pão de Açúcar, menciona a existência de um BANCO POPULAR E AGRÍCOLA DE PÃO DE AÇÚCAR SOCIEDADE DE RESPONSABILIDADE LIMITADA, extinto por falência, em 1940.


BANCO MERCANTIL SERGIPENSE

O Banco Mercantil Sergipense funcionava no primeiro prédio á direita. Foto: João Lisboa, 1939.


Ainda segundo Aldemar de Mendonça, em 30 de junho de 1946, foi instalado o escritório do BANCO MERCANTIL SERGIPENSE S/A em Pão de Açúcar. Funcionava na Avenida Bráulio Cavalcante, no prédio (de propriedade da Srª Carmen de Freitas Machado) onde depois funcionou a Coletoria Estadual (entre o antigo Bar do Pinto e a loja do Sr. Manoel Leonídio). Seu gerente era o Sr. Natanael Dória.(iv)


Este banco foi fundado em 1924 e tinha como diretores, àquela época, Cel. Gonçalo Rollemberg do Prado, Dr. Júlio César Leite e Dr. Moacyr Rabelo Leite. Já em 1964, essa instituição bancária passou a se chamar Banco Mercantil do Nordeste, mantendo seu escritório em Pão de Açúcar.


O Banco Mercantil do Nordeste S/A foi o resultado da fusão com o Banco Comercial da Bahia, que incorporou o Banco Comércio e Indústria de Sergipe, mais tarde incorporado ao Banco Auxiliar de São Paulo. (Diário de Notícias, RJ, 31 de janeiro de 1966.)

 

Anúncio do Banco Mercantil Sergipense na revista Lavoura e Criação, 1948.


 

Anúncio do Banco Mercantil Sergipense no jornal Diário Carioca, 1956.



BANCO DO ESTADO DE ALAGOAS S/A


Em 16 de agosto de 1967, com a presença do governador Lamenha Filho, foi inaugurada a Agência do Banco da Produção do Estado de Alagoas, situada na avenida Bráulio Cavalcante, nº 476, onde foi, outrora, a farmácia de seu Durval Fialho e hoje abriga uma casa comercial.


Essa foi a sétima agência do BPEA no interior do Estado. Seu primeiro gerente foi o Sr. Benedito Lima dos Santos. O valor dos depósitos feitos por ocasião da instalação foi da quantia de C$ 105.000,00 (Cento e Cinquenta Mil Cruzeiros).


O Banco da Produção do Estado de Alagoas, foi fundado em 2 de julho de 1963, com um capital de Cr$ 100.000.000,00 (Cem Milhões de Cruzeiros), tendo como objetivo incentivar a economia estadual, apoiando e financiando às atividades rurais, industriais e comerciais no Estado. Constituiu-se, assim, importante agente financeiro em empreendimentos de infraestrutura e saneamento básico de Maceió e de outros municípios. Diversos conjuntos habitacionais foram construídos na capital e no interior. Esses investimentos também foram utilizados na ampliação do parque hoteleiro do Estado. Para saber mais acesse: História do Banco da Produção do Estado de Alagoas – Produban.


Durante a década de 1980, a Instituição bancária entrou em crise. O Banco apresentava um passivo a descoberto de Cz$ 16 bilhões, recursos utilizados para girar a dívida dos usineiros que era de cerca de Cz$ 100 bilhões.


Em 16 de novembro de 1988, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco do Estado de Alagoas, da Produban Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários e da Produban Crédito Imobiliário e mandou fechar as portas das 30 agências existentes na Capital e em diversas cidades do interior, deixando sem emprego os seus 1.239 funcionários.

Sede do PRODUBAN em Maceió. Foto: revista O Cruzeiro, 1967.

 

 BANCO DO BRASIL S/A


Desde meados da década de 1940, as classes produtoras de Pão de Açúcar reivindicavam a instalação de uma agência do Banco do Brasil. É o que se pode constatar numa reportarem de Escobar Filho, na revista CARIOCA, RJ, nº 484, 30 de dezembro de 1944. Francisco Escobar Filho era um funcionário federal, Fiscal do Imposto do Consumo, que atuava na região do Baixo São Francisco. Diz ele:


Os homens de Pão de Açúcar, neste momento, só estão preocupados com um coisa: com a abertura da agência do Banco do Brasil. O Sr. Marques dos Reis já recebeu o relatório do técnico bancário que foi estudar a Praça e tudo indica que a cidade será incorporada à rede do nosso principal estabelecimento de crédito.”


Em outra reportagem, no O Jornal, Rio de Janeiro, 1º de março de 1945, o mesmo jornalista volta ao assunto, informando que o Sr. Marques dos Reis, Presidente do Banco, teria prometido instalar a Agência o mais rapidamente possível, acentuando ainda que “o Banco do Brasil não é apenas um Banco, mas um sistema, cabendo-lhe incentivar os pequenos negócios, com uma descentralização que vem fortalecendo a nossa economia e assegurando o plano de formação da riqueza em que o país está empenhado.”


A promessa não foi cumprida com a velocidade prometida. Trinta anos foram necessários para que se concretizasse o sonho dos pão-de-açucarenses.


Segundo dados da inscrição do CNPJ, na Receita Federal, a agência 0960-1, da Praça de Pão de Açúcar, foi cadastrada no dia 25 de agosto de 1975.(v) Neste ano de 2025, completará 50 anos de existência oficial.

A Agência do BB em Pão de Açúcar, em sede provisória.


Suas atividades foram iniciadas no dia 29 de abril de 1976, instalada provisoriamente no nº 462 da Av. Bráulio Cavalcante, onde, por muitos anos, funcionou o Cine Globo, do Sr. José Amaral (depois Cine Avenida, de Augusto César Andrade Cruz). Seu primeiro gerente foi o Sr. Deoclécio Jorge Gonçalves, que até então era Sub-Gerente da Agência de Arapiraca.(vi) 


Da esquerda para a direita, em pé: César Pinheiro Machado; Marcos Nogueira, Jair Oliveira, Expedito, Vasconcelos, Zé Francisco, Ivete, Fernando Madeiro (Bizulêta), Érico Melo Abreu e Liude. Sentados: Enaura, Dioclécio (gerente), Stoessel (sug-gerente, um Auditor, Afrânio e Cliuton Santos.


Com a palavra o Sr. Lincoln Cavalcante, ladeado pelo Sr. Pedro Soares Vieira (Pedrito) e pelo Pe. Petrúcio. 

O Padre Petrúcio em oração pela Agência. À direita o Sr. Humberto Machado.


Fala o gerente Sr. Deoclécio Gonçalves.

O Deputado Estadual Pedro Ferreira e o Prefeito Augusto Machado.

O Dr. Francisco Araújo Dantas (Dr. Chico) enquanto falava aos presentes.

À esquerda o Prefeito Augusto Machado seguido de um Dirigente, do Sub-Gerente Stoessel e do Sr. Lincoln Cavalcante.

Provavelmente um dirigente do Banco, tendo ao lado o Sr. Humberto e o Pe. Petrúcio



O quadro de funcionários era assim composto: Deoclécio Jorge Gonçalves (Gerente), Stoessel (Sub-Gerente), Enaura, Afrânio, José Francisco Santos, Ivete, Fernando Madeiro, Eliana Silva Fialho, NIldete Mário, Érico Melo Abreu, Liude, Jair Oliveira, Vasconcelos, Meuze Cordeiro de Santana, Walcy Pinto de Gusmão e Wilson José Lisboa Lucena; além dos menores-aprendizes César Pinheiro Machado, Marcos Nogueira, Expedito e Cliuton Santos.


A agência do Banco do Brasil em Pão de Açúcar.



Alguns anos depois (1977/78), foi inaugurada a sede própria do Banco, localizada na Av. Bráulio Cavalcante, 607. Além das autoridades locais, estava presente o pão-de-açucarense Sr. José Marques Neto, Gerente do BB para a Região Nordeste - GENOR, atuante em Brasília-DF.(viii)


O prédio de dois pavimentos, que dá fundos para a Praça do Centenário, era plenamente ocupado por muitos funcionários e frequentado por grande número de clientes, sobretudo da Carteira Agrícola, em atividades de custeio e investimentos no Setor.


Além do prédio-sede, a Instituição construiu uma residência para o Gerente (na Av. Manoelito Bezerra Lima) e outra para o sub-gerente (na Av. Bráulio Cavalcante, defronte a agência). Além disso, adquiriu um terreno destinado à construção de residências para os funcionários.


O pavimento superior da Agência, por muitos anos desocupada, foi cedida à Prefeitura. Já as residências do gerente/sub-gerente a o terreno foram alienados há muitos anos.


A primeira-dama Dona Etelvina Andrade Cruz ao lado do Prefeito Eraldo Lacet Cruz. A esquerda, o Sr. José Marques Neto e o gerente Deoclécio. Ao fundo, na rua, vê-se o carro de som de Jarbas Lúcio Publicidade.


O Sr. José Marques Neto e o Deputado Federal Antônio Ferreira.
 

O Padre Petrúcio com a palavra.

O Padre Petrúcio recebe cumprimentos.


Fala aos presentes o Dr. Francisco Araújo Dantas, Promotor de Justiça da Comarca.


Fala José Marques Neto. Stoessel e Deoclécio à direita.

Com a palavra o Sr. José Marques Neto. À esquerda, o Sr. Petronilo Fonseca e, à direita, Stoessel e Deoclécio.

Ao microfone (segurado por Flávio Almeida), o gerente Deoclécio.

Outro grupo de funcionários. José Carlos Lima, Iraldo Nunes, Yvan Fialho, Enivaldo Vieira (falecido), Roberto Souza (recentemente falecido), Efraim e Meuze Cordeiro de Santana.



CAIXA ECONÔMICA FEDERAL


A Caixa chegou a Pão de Açúcar sob a forma jurídica de Posto Avançado Social (PAS). Funcionava no prédio de esquina da rua Cel. Manoel Antônio Machado com R. Prof. Antônio de Freitas Machado (antiga Dr. Paes Barreto). 

Março de 1985. Inauguração do PAS-Posto Avançado Social da Caixa. A partir da direita: Gilmar (estagiário), Diógenes (menor estagiário), Robson Tenório de Holanda (empregado, casado com a filha de Seu Deca), Virgínia (estagiária), Luiz Antônio Monteiro (falecido, ao lado de Virgínia), José Wilson de Oliveira Filho (empregado, à frente), José Ronaldo Bezerra Leite (empregado, atrás de Wilson), Ascânio Rodrigues Correia (venerável à época da Loja Maçônica Jaciobá, n° 18), José Gomes da Silva Filho (gerente, ao lado de Ascânio), Seu Ronalço (2° após o Gomes), João Amador (mãos para trás), Hermes Maia, Giusepe com seu filho Dedeu. Foto cedida por Diógenes dos Anjos.


Em março de 1985, transferiu-se para o prédio cedido pelo Município, na Av. Bráulio Cavalcante, esquina com a Rua. João Antônio dos Santos (antiga João Pessoa, antiga Lamego Maia), onde funcionou por cerca de dez anos, vindo a fechar por volta de 1995.

Nessa época, trabalhavam os funcionários: José Gomes da Silva Filho (gerente); Wildo Barbosa Graça (subgerente); Antônio Fernando Feitosa (caixa executivo); Robson Tenório de Holanda; Luiz Antônio Monteiro (falecido), José Wilson de Oliveira Filho; José Ronaldo Bezerra Leite; Gilmar (estagiário); Diógenes dos Anjos (menor estagiário); Luiz Souza Filho (Luizinho, segurança); Maria de Fátima Gerônimo (serviços gerais, esposa de Luizinho); Virgínia (estagiária).

Dezessete anos depois, em 15 de outubro de 2012, voltou a funcionar no mesmo local, durante a gestão do prefeito Jasson Silva Gonçalves. Atuavam na agência sete funcionários, sob a gerência do Sr. Elusival Silva Santos. A reinauguração contou com a presença dos Srs. Herbert Buenos Aires ( superintendente da Caixa Econômica Federal em Alagoas) e Pedro Paz (gerente de marketing).(vii)

A agência da Caixa Econômica Federal em Pão de Açúcar. Foto: ASCON/AMA - Edivânio Ferreira


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Nos últimos tempos, funcionou em Pão de Açúcar uma agência do BRADESCO, que acabou  fechando. Restam apenas  as Instituições Oficiais: o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.


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Nossos agradecimentos a Meuze Cordeiro de Santana, José Alcir dos Anjos, Yvan Fialho, Álvaro Otávio Vieira Machado, Antônio Manoel Goes e Diógenes dos Anjos pelas informações que possibilitaram enriquecer esta singela reportagem história.

Rogamos aos leitores que, porventura, tenham alguma informação adicional, que nos remeta. 

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NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo. Tratamento de imagem: Vívia Amorim.


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(i) Álvaro Corrêa Paes. nasceu em Palmeira dos Índios em 9 de novembro de 1882. Era filho de José Corrêa Paes Sarmento Júnior e de Germana Hermelinda Paes.

(ii) Carlos Pontes Marques de Almeida. Nasceu no povoado Olhos d’Água do Acioli, município de Palmeira dos Índios - AL, atual município de Igaci, no dia 27 de abril de. Faleceu no Rio de Janeiro no dia 19 de abril de 1957). Deputado estadual, advogado, jornalista. Filho de Avelino Marques de Almeida e Escolástica Pontes de Almeida (Escolástica Maria da Silva Pontes, solteira). Casado com Alzira Francisca de Miranda Pontes.

(iii) A PROVINCIA, Recife-PE, O MUNICÍPIO, 9 de julho de 1929.

(iv)  Natanael Gonçalves Dória Nasceu em Propriá-SE, em 1º de julho de 1912. Casado com Maria Rezende Dória, pai de Equinho, Yara, Maria da Gloria, e Antônio Dória Sobrinho (Cotaio).

(v) No ano seguinte, instalando-se no município de Barra do Bugres, Estado do Mato Grosso, o Banco do Brasil alcançaria a marca de mil agências.

(vi) MENDONÇA, Aldemar de. Monografia de Pão de Açúcar.

(vii) Fonte: Minuto Sertão, site da internet. FIALHO, Helio. Disponível em: https://minutosertao.cadaminuto.com.br/noticia/2012/10/11/agencia-da-caixa-sera-inaugurada-nesta-segunda-feira-em-pao-de-acucar.

(viii) José Marques Neto, conhecido por "Zé Lelé", filho de João Marques de Albuquerque e Georgina Albuquerque.

domingo, janeiro 19

PÃO DE AÇÚCAR PERDE MAIS TERRITÓRIO

Por Etevaldo Amorim                                                                                                                                 

Setenta anos depois de ceder parte do seu território para a formação do município de Piranhas, Pão de Açúcar volta a perder parcela significativa de seus domínios. Dessa feita, para constituir o Município de São José da Tapera, com área de 490,880 km².

 

Segundo as referências mais antigas, o importante povoado era conhecido sob a denominação de São José. Já em meados do século XX, galgou a condição de Distrito, criado sob o nome de São José da Tapera pela lei nº 1.473, de 17 de setembro de 1949, subordinado ao município de Pão de Açúcar.

 

De um esboço histórico encontrado no Site do IBGE, temos que a colonização de São José da Tapera foi iniciada em 1900, na fazenda existente no local onde hoje situa a cidade. Era uma propriedade agrícola pertencente à família Maciano. Próximo à fazenda, residia Antônio Francisco Alves, conhecido como Antônio Massuá.

 

Anos depois, procedente de Pão de Açúcar, chegou à região Afonso Soares Vieira, instalando ali uma casa de comércio. Ao mesmo tempo, foi criada uma feira de grande aceitação pelos moradores das localidades circunvizinhas. A iniciativa fez com que a presença de agricultores de outros municípios conhecesse a fertilidade das terras locais, incentivando-os a instalar propriedades no novo núcleo que ali se formava.

 

Começaram então a proliferar casas de taipa (taperas) e, em seguida, foi construída uma capela dedicada a São José. Aproveitaram a existência das edificações simples, batizando o local com o nome de São José da Tapera.


Para a sua emancipação, que se deu obviamente por interesses políticos, destacou-se o esforço do cidadão Eloy Rodrigues Lima.

 

Eloy Rodrigues Lima. Foto cedida por José Cícero Correia.

Eloy é filho de Manoel Rodrigues Lima e Maria Victória de Jesus (casada, Maria Victória Lima). Nasceu na Ilha do Ouro, município de Porto da Folha, Estado de Sergipe  no dia 5 de novembro de 1905.[i]

 

Casou-se com Francina Vieira Lima (06/06/1910-23/08/2006 - filha de Manoel Antônio Vieira e Amélia de Souza Vieira) e foi morar em Tapera. Trabalhava justamente na loja de tecidos e mercearia do senhor Afonso Soares Vieira, a que se refere o esboço histórico do IBGE. Tornou-se o primeiro Prefeito do novo Município. Entretanto, veio a falecer no dia 21 de julho de 1959.

Eloy Rodrigues Lima no Tiro de Guerra 656, em Pão de Açúcar. Foto: acervo Etevaldo Amorim.


O então Distrito foi elevado à categoria de Município com a denominação de São José da Tapera, pela Lei Estadual nº 2.084, de 24 de dezembro de 1957, desmembrado de Pão de Açúcar, sendo instalado em 1º de janeiro de 1959.

 

Em divisão territorial datada de 1º de julho de 1960, o município é constituído do distrito sede, assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007.

 

Sobre a emancipação política de São José da Tapera, há uma fotografia que, embora não se apresente em boa definição, permite identificar a maioria das pessoas que dela fazem parte, bem como evidenciar a importância do fato que ela representa.

 

A foto é um registro de uma visita ao Vice-Governador, no Exercício do Cargo de Governador, o Dr. Sizenando Nabuco[ii], em “AGRADECIMENTO PELA EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DE SÃO JOSÉ DA TAPERA.

 

A delegação era composta por pessoas da própria localidade e de Pão de Açúcar: Pedro Soares Vieira (seu Pedrito, de Pão de Açúcar), José de Oliveira Fontes, Antônio de Souza Barros, Lucilo J. Ribeiro, Eriberto O. Pereira, Giseldo Vieira Lima, Profªs Eulina Paiva Mazoni (de Pão de Açúcar), Creusa Vieira Lima, Ivanise Duarte (de Pão de Açúcr). LEI Nº 2.084, DE 24 DE DEZEMBRO DE 1957. Gov. Dr. Sizenando Nabuco, Deputado Teotônio Vilela, Dep. Augusto Machado e Plácido Alvim.


Tomemos como referência o Vice-Governador Dr. Sizenando Nabuco, ao centro. Dele para a esquerda: Dep. Augusto de Freitas Machado; Pedro Soares Vieira (Pedrito); não identificado; não identificado; Lucilo José Ribeiro (que viria a ser Prefeito na década de 1970). Dele para a direita; Profªs Eulina Paiva Mazoni; Creuza Vieira Lima (filha de Eloy Rodrigues Lima) e Ivanise Duarte. Os dois últimos são: Giseldo Vieira Lima (filho de Eloy Rodrigues Lima) e o jornalista Plácido Alvim (Plácido Feliciano Alvim, jornalista, Diretor da Gazeta de Alagoas; depois, Deputado Estadual). Não identificados: José de Oliveira Fontes; Eriberto O. Pereira; Antônio___ Souza Barros (que viria a ser Prefeito). Foto: acervo de José Cícero Correia (de São José da Tapera).


CHEGA A VEZ DE GUARIBAS

 

O povoado Guaribas, que já fora alçado à condição de Distrito pela Lei Estadual nº 2.090, de 28 de março de 1958, com terras desmembrado do Distrito de Jacaré dos Homens ganha status de Município pela Lei Estadual nº 2.250, de 15 de junho de 1960, confirmado pela lei estadual nº 2.909, de 17 de junho de 1958, desmembrado de Pão de Açúcar, sendo instalado em 13 de agosto de 1960, com área de 86, 605 km².

 

Segundo o IBGE, em divisão territorial datada de 31 de dezembro de 1963, o município é constituído do distrito sede, assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007.

 

Monteirópolis, vendo-se ao fundo a igreja de São Sebastião. Foto: IBGE.

JACARÉ DOS HOMENS DEIXA PÃO DE AÇÚCAR

 

No dia 9 de novembro de 1957 – O Distrito de Jacaré dos Homens, que, em 17 de setembro de 1949, foi elevado à condição de vila por força da Lei 1.473, alcançou autonomia administrativa através da Lei 2.073, sendo instalado oficialmente em 1° de janeiro de 1959, desmembrado de Pão de Açúcar, com área de 187,521 km², aproximadamente, envolvendo o território do atual município de Palestina.

 

Segundo nos contava o Dr. Francisco Araújo Dantas (Dr. Chico), por muitos anos Promotor de Justiça na Comarca de Pão de Açúcar, numa Sessão em que se discutia o Projeto que propunha a emancipação política de Jacaré dos Homens, estava na tribuna o Deputado Estadual e ex-Prefeito Augusto de Freitas Machado. Dizia ele:

 

- O povo de Pão de Açúcar não deseja essa emancipação; o povo de Pão de Açúcar prefere que Jacaré dos Homens continue pertencendo ao nosso território; o povo de Pão de Açúcar... etc. etc.

 

Pedindo um aparte, um Deputado favorável às pretensões de Jacaré dos Homens, interpelou Augusto Machado nos seguintes termos:

 

- Deputado, o Senhor diz a todo momento que “o povo de Pão de Açúcar” diz isso e isso; “o povo de Pão de Açúcar” quer isso e aquilo... O Senhor parece não ter vontade própria. O Senhor mais parece um MENINO DE RECADO!!!!

 

Foi então que Augusto Machado retrucou:

 

- Nobre Deputado, eu quero lembrar que estou aqui como representante do povo de Pão de Açúcar. Foi ele que me mandou para aqui. É por isso que eu, durante toda a minha atividade política, não tenho sido outra coisa, senão MENINO DE RECADO DO POVO DA MINHA TERRA!!!

 

O Deputado Augusto Machado ainda apresentou, ao Supremo Tribunal Federal, uma arguição de inconstitucionalidade da Lei 2.073. O Tribunal, porém, tendo como relator o Ministro Lafayette de Andrada[iii], rejeitou a impugnação, mantendo os efeitos da referida Lei estadual.



Jacaré dos Homens




 Agradecimentos a Mirian Vieira Lima, filha de Eloy Rodrigues Lima, pelas informações prestadas.

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NOTA:

 

Caro leitor,

 

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo. Tratamento de imagem: Vívia Amorim.

 

 



[i] Era primo, por parte de mãe, do Sr. Agnelo Tavares Amorim, do Limoeiro (pai do autor destas notas).

 

[ii] Sizenando Nabuco de Melo (1906-1989). Vice-governador no exercício do cargo, assumiu o Governo do Estado devido ao impedimento do governador Muniz Falcão, decretado pela Assembleia Legislativa Estadual, de 15 de setembro de 1957 a 24 de janeiro de 1958, quando Muniz Falcão foi absolvido pelo Tribunal Misto de desembargadores e deputados estaduais, reassumindo o governo.

 

[iii] Antônio Carlos Lafayette de Andrada (Barbacena, 23 de março de 1900 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1974). Era filho do embaixador José Bonifácio de Andrada e Silva e da embaixatriz Corina Lafayette de Andrada. Pelo lado paterno era neto do senador Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e pelo lado materno era neto do conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira. Era bisneto de José Bonifácio de Andrada e Silva, o “Patriarca da Independência”. Fonte: Jornal do Commércio, RJ, 16 de julho de 1959.

 

 

 




terça-feira, janeiro 14

1887 – PÃO DE AÇÚCAR PERDE PIRANHAS

 

Por Etevaldo Amorim


O município de Pão de Açúcar possuía, originalmente, uma área de 2.195,2 km², aproximadamente. Era um vasto território, cujos limites abrangiam os atuais municípios de Piranhas (inclusive Olho D'Água do Casado), São José da Tapera, Monteirópolis, Jacaré dos Homens e Palestina.


A primeira perda de território ocorreu com a emancipação política de Piranhas, em 3 de junho de 1887, pela Lei Provincial nº 996, quando cedeu parte do seu território,  juntamente com o município de Água Branca, que também contribuiu para a formação do novo Município. Tanto que, em 1950, segundo o Almanak do Correio da Manhã - 1959, sua área ficou reduzida a 1.524 km².


A pitoresca povoação, outrora conhecida como Porto das Piranhas, já se tornara importante, sobretudo após o estabelecimento da navegação a vapor, em 3 de agosto de 1867, que proporcionou significativo impulso para o seu comércio. Criou-se ali uma concorrida feira, aos sábados, que pela Resolução Provincial nº 696, de 15 de maio de 1875, foi transferida para as quartas-feiras, por serem estes os dias em que ali chegavam os vapores.


Porto das Piranhas. Foto Augusto Riedel, 1868/69.


O porto de Piranhas em 1869. Foto Abílio Coutinho.



Piranhas, 1875. Foto: Marc Ferrez.



Subindo o rio, os navios partiam de Penedo às segundas-feiras, 10:00h, passando por Propriá, Traipu e alcançando Curral de Pedras (atual Gararu) ao anoitecer, onde pernoitavam.

No dia seguinte, terça-feira, às 5:30h, punham-se em marcha até chegar a Pão de Açúcar. Dali, por volta das 13:30h, seguiam para Piranhas.

Na quarta-feira, às 15:00h, após a feira, desciam até Pão de Açúcar, onde pernoitavam. 

Na quinta-feira, partiam deste porto às 9:00h, tocando novamente em Curral de Pedras, Traipu e Propriá, de onde largavam às 14:00h para chegar finalmente ao ponto de partida.

O vapor Sinimbu no porto de Penedo.



O vapor Simimbu no porto de Gararu-SE.


Os vapores Jequitaia e Sinimbu no porto de Piranhas. Foto: Ignácio Mendo.

Tabela de preços das passagens Peneo-Piranhas, em 1870.


Ganhou ainda mais importância depois de ter sido escolhida como ponto de partida da Estrada de Ferro Paulo Afonso, interligando o Baixo e o Médio São Francisco, com destino final em Jatobá, no Estado de Pernambuco.


Por Decreto nº 6.941, de 19 de junho de 1878, o Governo Imperial autorizou que se procedessem aos estudos para a construção da estrada de ferro. Já em agosto daquele ano, tiveram início os trabalhos de exploração, e a 23 de outubro eram solenemente inaugurados os de construção, com a presença do presidente da província de Alagoas, Dr. Francisco de Carvalho Soares Brandão.


Em 25 de fevereiro de 1881, com a assistência do presidente Dr. José Eustáquio Ferreira Jacobina, inaugurava-se o tráfego entre a Piranhas e a Estação mais próxima - Olho D'Água (Olho D'Água do Casado), com extensão de 28 km. 


Finalmente, em 1883, concluídos os trabalhos de construção e colocação dos trilhos em toda o seu percurso (Piranhas-Jatobá-PE), foi a estrada entregue ao tráfego de cargas e passageiros.


Diz o Almanak do Estado de Alagoas, de 1891:


"A povoação de Piranhas tomou, então, considerável incremento. O alvião e a picareta, a pólvora e a dinamite abriram espaço na rocha viva para o levantamento da estação e suas dependência , e bem assim para o prolongamento das ruas e edificação de prédios particulares.

Boas casas térreas e de sobrado, pitorescos e elegantes chalets foram construídos e a povoação em breve tempo tomou novo e atraente aspectos."


Para a construção da via férrea, para ali afluiu muita gente: funcionários dos Correios e Telégrafos, engenheiros, topógrafos e outros técnicos especializados, oriundos de grandes centros urbanos do país, criando um ambiente de intensa e múltipla atividade cultural. A localidade respirava ares de civilidade. 


Nota do jornal O Repórter, que se editava na Capital do Império, edição de 10 de janeiro de 1879, dá uma ideia dessa movimentação:


"Seguem para a Bahia, no paquete nacional Espírito Santo, os Srs. Carlos Scherer e Albano Joaquim, aquele na qualidade de Auxiliar e este de Feitor da Estrada de Ferro Paulo Afonso. Também seguem no mesmo paquete 160 trabalhadores  contratados pelo Governo, e com eles vão 29 volumes de materiais para o serviço da estrada."


No dia 20 do mesmo mês, embarcaram no vapor Gonçalves Martins com destino a Penedo. Com eles também vinha o Dr. Reynaldo Von Kruger, Engenheiro-Chefe das obras da estrada. (Gazeta de Notícias-RJ, 14 de janeiro de 1879).


A exemplo de Pão de Açúcar, que já editava seus jornais, a povoação de Piranhas tinha o seu "A LOCOMOTIVA", órgão do Club Literário Democrático São Francisco, fundado em 23 de maio de 1880.


Eis a ata da primeira reunião do Clube:


"Aos 23 dias do mês de maio de 1880, presentes no Hotel Popular, de propriedade do Sr. Antônio Loureiro, em Piranhas, ao meio-dia, os Srs. Carlos Augusto Zanotti, José Domingues das Dores, João Augusto de Carvalho Marinho, Carlos Scherer, Antônio da Silva Mota Sobrinho, Maurício Maus, Firmino Dória Filho, Eduardo Laranja e Oliveira e João José da Hora. 

O Sr. Laranja, aproveitando o ensejo, tomou a palavra e lembrou aos acima citados a ideia de se organizar um Club sob a denominação supra, bem como a fundação de um órgão de imprensa, a fim de tratar, não só de assuntos literários, mas também de advogar os interesses da Estrada de Ferro Paulo Afonso.

Esta ideia foi unanimemente aceita, e concertou-se em uma nova reunião, domingo próximo, em lugar aprazado que previamente determinar-se-ia. E por assim haver-se concordado eu, Eduardo Laranja e Oliveira, lavei a presente ata, que foi assinada por todos aqueles sócios citados."


A Locomotiva de 1º de junho de 1880 traz a notícia da fundação da Sociedade Democrática Club Democrático São Francisco. 


"No dia 23 de maio último, achando-se alguns distintos e esperançosos jovens em agradável palestra em uma das salas do Hotel Popular, sito nesta povoação, acordaram e organizar uma Sociedade Literária, tendo por órgão um periódico intitulado A LOCOMOTIVA, a fim de melhor aplicarem o tempo, tão precioso, que a maior parte das vezes é por aqui gasto em pura monotonia.

Esta ideia que, de improviso, partiu do talentoso rio-grandense o Sr. Eduardo Laranja e Oliveira (v), encontrando apoio em seus companheiros de palestra, como ele ávidos em consagrar alguns instantes na insípida vida dos sertões às letras e à poesia, tomou logo incremento, sendo imediatamente instalada a Sociedade como nome da epígrafe acima."


Eduardo Laranja e Oliveira em 1914, aos 58 anos, quando era Chefe
 da Estação Central dos Telégrafos, no Rio de Janeiro. Foto: O Malho.


No dia 30 de maio teve lugar a posse da primeira Diretoria: 


Presidente: Eduardo Laranja e Oliveira; Vice-Presidente: Cap. Luiz Fernandes de Araújo Besouro (vi); 1º Secretário: Carlos Augusto Zanotti (x); 2º Secretário: João Augusto de Carvalho Marinho; Orador: Firmino Dória Filho; Tesoureiro: João José da Hora. (vii)

Membros da Comissão Revisora: Cap. Rodolpho Sérgio Ferreira, (viii) Olympio Rollemberg d'Oliveira Chaves (ix) e Firmino Dória Filho.



Esse jornal, em edição de 3 de julho de 1881, trazendo a notícia do primeiro baile promovido pelo Club Recreativo Cassino Piranhense, faz apaixonada exaltação da próspera povoação e da sociedade local:


"Piranhas tem seu cassino e suas noites de festas, os seus brilhos de astro, os seus sorrisos de princesa! 

Piranhas se metamorfoseia. Desperta ao silvo agudo do trem de ferro irrompendo o seio de suas montanhas seculares e de suas selvas frondosas, e vem sertaneja, altiva, garbosa, civilizada calçar a luva de pelica  e passear nos salões como a cortesã e orgulhosa dos seus foros!

Em uma palavra: Piranhas já começa a sentir vida!

Já lhe causa atonias uma valsa doidejante. Já a amorosa polka lhe faz suar e a amável contradança palpitar-lhe o seio!

Bravo! Mil vezes bravo, civilizada Piranhas!"


E ainda falando do baile, que começou às 9 horas da noite:


"O luxo quase asiático que os seus salões ostentavam preparados caprichosamente; os raios das inúmeras luzes que se cruzavam, o perfume das flores, o aroma dos lenços, e outros mil enfeites; tudo dava aos salões do Cassino um aspecto maravilhoso, uma aparência da gruta dos amores e uma habitação encantada das mil e uma noites!

Tudo era perfume, poesia e amor!

Tudo respirava, harmonia, felicidade sem par!

O Cassino se deslumbrava!"


Por essa época, Piranhas também tinha adeptos da maçonaria, que compunham a Augusta Loja Maçônica Paulo Afonso. O venerável era o Sr. Alberto Aschoff; 1º Vigilante: Antônio Monteiro de Mello; 2º Vigilante: Antônio Rodrigues de Mello Loureiro; Orador: Eduardo Laranja e Oliveira; Secretário: Guilherme Porfírio do Carmo; Tesoureiro: Felismino Novaes d'Almeida. (Fonte: Boletim do Grande Oriente do Brasil, 1881).



Foram esses os argumentos de que se valeram os piranhenses para reivindicar a sua emancipação. O jornal DIÁRIO DA MANHÃ, Maceió-AL, 29 de junho de 1882 (reproduzindo o períódico A Locomotiva), publica um “abaixo-assinado” nos seguintes termos:

 

“Ilmº Sr. Presidente e demais membros da Assembleia Legislativa da Província das Alagoas


– Nós, abaixo assinados, habitantes e moradores da povoação de Piranhas, considerando não só o grande e rápido desenvolvimento que tem tido a mesma povoação, pelo aumento relativamente considerável de sua população, e consequente aumento do seu número de fogos, desde que foi a referida povoação escolhida para ponto de partida da Estrada de Ferro Paulo Afonso, tendo por objetivo a ligação do Alto com o Baixo São Francisco, o que realiza-lo como vai sê-lo em breve, e melhorada a parte do Alto S. Francisco que se opõe a uma navegação regular, se constituirá Piranhas um entreposto de todo o comércio do vale do maior rio do interior do Brasil, como as grandes dificuldades com que lutam os seus habitantes para cumprirem os seus deveres, quer espirituais, quer temporais, por serem administrados por município diverso, o que os obriga a incômodas e dispendiosas viagens  para poderem desempenhar os seus deveres de católicos e de cidadãos, vêm por isso respeitosamente perante a digna Assembleia Legislativa da Província, pedir para que seja a referida povoação elevada à categoria de Vila de Piranhas, satisfazendo os seus habitantes as prescrições que forem de direito para a realização desse desideratum.


E, no intuito de demonstrarem os abaixo assinados a verdade que afirmam quanto ao desenvolvimento que tem tido Piranhas, indicam o resultado do arrolamento procedido por uma comissão composta de quatro os infra inscritos.


Segundo este arrolamento, o número de fogos é de 469, e o número de habitantes é de 1.825, assim distribuídos:

Casados:                        253

Solteiros, menores      1.516

Viúvos                              56

                        __________

TOTAL                       1.825

 

Este arrolamento compreende apenas os habitantes de Piranhas propriamente dita, não entrando em linha de conta a população que se estende desde por mais de seis léguas até os limites do município de Pão de Açúcar com os de Paulo Afonso.[i]


Nestes termos, convencidos os abaixo assinados dos prósperos destinos reservados a Piranhas, concorrendo desta sorte para o desenvolvimento da província e o engrandecimento do país, e confiados, além disso, nas luzes e patriotismo dos representantes da província, encarregados imediatos de promoverem os seus grandes interesses, ousam esperar que o projeto que for apresentado para este fim, será convertido em Lei na Sessão da presente Legislatura.

(Seguem-se as assinaturas).”



Alguns anos se passaram e o sonho dos piranhenses começou a se tornar realidade. Na Sessão de 4 de maio de 1886, da Assembleia Provincial, foi apresentado o Projeto de Lei nº 9/1886, que propunha a elevação de Piranhas à condição de Vila.


Presentes estavam os deputados Apolinário Rabelo Pereira Torres, que a presidiu; José Felippe de Gusmão Uchôa; Antônio Cardoso Sobral; Epaminondas Hipolito Gracindo; José Virgínio Teixeira de  Araújo; Augusto José de Melo; Filigônio Avelino Jucundino de Araújo: João Baptista Acioli Lins; Esichio de Barros Bezerra; Lúcio Soares de Albuquerque Eustáquio; João Francisco da Rocha Rijo; Cândido Augusto de Mendonça Sarmento; Jacinto Paes de Mendonça Filho; Mariano Joaquim da Silva; José Ramalho dos Reis; Padre Loureiro (Francisco de Borja Barros Loureiro); Pedro Rodrigues; Manoel Clementino do Monte; Padre Soares (Antônio  Soares de Melo); Antônio Alves Feitosa[ii]; Aprígio Gonçalves de Andrade e Francisco Lins de Meira Lima.


Ausentes: Tiburcio Alves de Carvalho; Padre Melo;  Manoel Melchisedeck de Farias Maia; Macário das Chagas Rocha Lessa; Ursulino Barbosa da Silva; Francisco de Paula Bittencourt; Tertuliano José Eliseu Canuto e João Coimbra.


“A Assembleia Legislativa Provincial das Alagoas


Decreta:


Art. 1º Fica elevada à categoria de vila a povoação de Piranhas, na Comarca de Pão de Açúcar, com os mesmos limites da freguesia criada pela Lei nº 964, de 20 de julho de 1885.


Art. 2º Ficam criados na referida vila os Ofícios de 1º Tabelião, que acumulará os do escrivão de órfãos e ausentes, do crime e cível, de 2º Tabelião, que acumulará os escrivão de júri, da provedoria, capelas e resíduos e de execução, e um contador que será também  um distribuidor.

Art. 3º Ficam revogadas as leis e disposições em contrário.

S. R


Sala das Sessões da Assembleia Legislativa Provincial das Alagoas, 4 de maio de 1886 – Manoel Clementino do Monte, Pedro Rodrigues, Mariano da Silva, Augusto José de Melo, Esiquio de Barros[iii], Cândido Sarmento, Meira Lima, Feligônio Avelino Jucundiano de Araújo, João Rijo". [iv]


Feita a primeira leitura, seguiram-se alguns discursos. Dentre estes o do Deputado Clementino do Monte, natural de Penedo. Em sua fala, destacou as pretensões da destacada e florescente povoação de Piranhas.


Ciente de que um dos nobres colegas de Distrito estava encarregado e tencionava elevar a Vila a referida povoação, onde reside, com ele entendi-me, e não nos foi possível acordar sobre um dos pontos principais do Projeto -senão o mais importante- os limites do território do município projetado.


Não se conformando o nobre colega com os limites designados pela Lei nº 964, de 20 de julho de 1885, que criou ali uma freguesia, limites únicos e razoáveis e que harmonizam perfeitamente todos os interesses dos povos vizinhos, insistia pelo alargamento e grande amplitude do território, ainda que dessa desarrazoada delimitação resulte grave detrimento para os termos confinantes."


Adiante acrescenta: 


"Não resta a menor dúvida, Sr. Presidente, que prosperando a passos largos aquele grande povoado, aumentada consideravelmente a sua população, e distando da Sede do Termo a que pertence - PÃO DE AÇÚCAR - 7 léguas ou 42 quilômetros, precisa de que lhe facultem meios para facilitar a distribuição da justiça, dispensando os seus habitantes do incômodo, e muitas vezes o inconveniente, pela longitude, de procurarem a defesa e a garantia dos seus direitos em lugar diverso do de suas residências."


O colega de Distrito a que se refere o deputado Clementino do Monte é o Capitão Antônio Alves Feitosa, proveniente daquela região, e muito provavelmente o autor do Projeto. O 5º Distrito compreendia os colégios eleitorais de Penedo, Colégio, Piaçabuçu, São Brás, Traipu, Pão de Açúcar, Santana do Ipanema, Paulo Afonso (Mata Grande) e Água Branca.


Na Sessão de 10 de maio de 1886, entra em 1ª discussão o Projeto nº 9. Sem debates, é aprovado. (Fonte: ORBE, 26 de maio de 1886). 


A instalação do novo município se deu naquele mesmo ano com a eleição e posse da respectiva Câmara Municipal. 


 Foi assim que Pão de Açúcar viu a filha Piranhas largar a sua mão e seguir o seu destino.


Estação da EFPA em Piranhas-AL, em 1888.. Foto: Adolpho Lindemann.

 


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NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo. Tratamento de imagem: Vívia Amorim.

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[i] Paulo Afonso, antiga denominação de Mata Grande.

[ii] Capitão Antônio Alves Feitosa. Foi tesoureiro da Estrada de Ferro Paulo Afonso. Nasceu em 12 de agosto de 1844. Casou-se com Maria Áurea de Souza Feitosa. Era pai do professor Domingos Alves Feitosa. Quando era Intendente de Piranhas, ali faleceu no dia 14 de julho de 1890. Fonte: Jornal do Penedo, 26 de julho de 1890.

[iii] Dep. Esíchio de Barros Bezerra.

[iv] Dep. João Francisco Pereira Rijo. Professor.

(v) O telegrafista Eduardo Laranja e Oliveira nasceu no Rio Grande do Sul, em 28 de fevereiro de 1856. Filho de Eduardo Frederico Laranja e Deolinda Pinto de Oliveira. Faleceu no Rio de Janeiro em 9 de junho de 1928 quando era Diretor dos Correios. Casado com Cândida dos Santos Oliveira.

(vi) Luiz Fernandes de Araújo Besouro seria Intendente do novo Município de Piranhas em 1891. Fonte: Almanak do Estado de Alagoas.

(vii) João José da Hora, agente dos Correios em Piranhas, enquanto que, em Pão de Açúcar, era Antônio Manoel de Castilho Brandão, pai de Dom Antônio Brandão.

(viii) Rodolpho Sérgio Ferreira, Inspetor da Repartição Gral dos Telégrafos e pagador da EFPA. Faleceu no Rio de Janeiro em 30 de agosto de 1898. Era tenente honorário do Exército.

(ix) Olympio Rollemberg de Oliveira Chaves – Músico e poeta, nasceu em Socorro, em 1860, e faleceu em Maceió, sendo sepultado no cemitério de Jaraguá, Maceió-AL, no dia 9 de janeiro de 1919. Foi contador do Tesouro do Amazonas, cargo que desempenhava em Manaus, capital do Estado.

(x) Carlos Augusto Zanotti, Escriturário da Estrada de Ferro Paulo Afonso até março de 1885, sendo também secretário do Engenheiro em Chefe. Era casado com Amélia Martins, filha do comerciante Ventura José Martins, estabelecido em Piranhas. Ventura Martins compôs comissão com o Eng. Henrique Theberge e o também comerciante Manoel Ferreira de Souza, encarregados das obras da matriz de N. S. da Saúde.

(xi) Guilherme Porfírio do Carmo foi comerciante em Penedo, onde ocupou o cargo de Vice-Intendente em 1890/91. Em Piranhas, foi Juiz de Paz. 

(xii) Alberto Aschoff. Relojoeiro estabelecido em Penedo, à época; mas atuante também em Maceió, Rio de Janeiro, Fortaleza.  Nasceu em 1832 na Alemanha. Faleceu no Cabo de Santo Agostinho-PE, a 23 de maio de 1902. Era casado com Gertrudes Aschoff.

(xiii) Antônio Monteiro de Mello. Guarda-livros da Estrada de Ferro Paulo Afonso.

(xiv) Firmino Dória Filho. Redator principal do periódico A LOCOMOTIVA. A CONFIRMAR: 

(xv) Carlos Rodolpho Scherer, Engenheiro, natural da Alemanha, filho de Rodolpho Scherer e Eliza Scherer. Casado com Aimée Iracema Jambré, filha de um chefe indígena das margens do Rio Doce, no Espírito Santo. (Fonte: Jornal do Recife, 20 de junho de 1896.

(xvi) Antônio da Silva Mota Sobrinho, português naturalizado.

(xvii) Maurício Maus de Colmar. Engenheiro francês. Nasceu em 23 de março de 1826. Filho de Nephtalie Zevy Hirtzel Maus e Blumele Levy. Casado com Maria Alexandrina de Luna Maus. 

(xviii) Felismino Novaes d'Almeida. Era Juiz de Paz no Distrito de Piranhas.

(xix) João Augusto de Carvalho Marinho. Por volta de 1874, era Escrivão dos Vapores, na Empresa da Estrada de Ferro Central e Navegação da Lagoa Manguaba, estabelecido na Rua do Imperador. (Fonte: Almanak da Província de Alagoas. Na ocasião, era Ajudante de Almoxarife na EFPA.


A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia