quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

A PARÓQUIA DE PÃO DE AÇÚCAR – DO SEXTO AO NONO VIGÁRIO

Por Etevaldo Amorim

PE. FERNANDO MEDEIROS

 

O Padre Fernando Medeiros

O sexto vigário da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus assumiu no dia 30 de abril de 1939, em presença dos vigários de Santana do Ipanema, Belo Monte, Quebrangulo, Pe. Moisés dos Anjos, e dos senhores Joaquim Rezende, Gaspar Wanderley, Augusto Machado e José Teófilo Filho.

Durante o seu período, novos melhoramentos foram feitos na Matriz, particularmente com a colocação do forro na nave central. Capelas do interior também mereceram a atenção do novo pároco, dotando-as de paramentos necessários às celebrações.

Foram instaladas as organizações Pia União das Filhas de Maria, Congregação Mariana e Cruzada Eucarística Infantil, além da realização da Quarta Semana de Ação Católica, com a colaboração do padre Ferreira Neto.

O Padre Fernando Medeiros


Foi ainda na gestão do Pe. Fernando Medeiros que foi construída a Casa de São Vicente, que serviu para os primeiros meses de atividade do recém-criado Ginásio Dom Antônio Brandão.

Era filho de Sebastião Medeiros Wanderley e de Olávia Monteiro Medeiros, ele nasceu em Poço das Trincheiras, Estado de Alagoas, a 30 de maio de 1910.[i]

Estudou as primeiras letras na cidade natal com a professora Honorina Dias[ii], e em Santana do Ipanema no Instituto Santo Tomás de Aquino, fundado pelo Dr. Manoel Xavier Accioly[iii] e pelo padre Bulhões. Foi aluno do professor Rodolfo Araújo Gondim.

Querendo ser padre, foi levado ao seminário de N. S. da Assunção, em Maceió, no dia 10 de fevereiro de 1923, sendo depois transferido para o seminário de Olinda, onde concluiu os estudos.

A sua ordenação sacerdotal ocorreu no dia 8 de setembro de 1934, na capela do Colégio Salesiano, no Recife, por D. Manoel de Paiva, bispo de Garanhuns. No dia seguinte, na mesma capela, cantou a sua primeira missa.[iv]

Em 10 de maio de 1935, foi nomeado vigário encarregado de Sertãozinho (atualmente Major Isidoro). Em 30 de abril de 1939, foi transferido para Pão de Açúcar. Em 1º de maio de 1947, nova transferência para Santana do Ipanema. Concluiu a reforma da matriz de Senhora Santana iniciada pelo Padre José Bulhões. Inaugurou o relógio da torre da matriz em 25 de setembro de 1947.

Em 1º de janeiro de 1948, promoveu a VI Semana de Ação Católica, o maior acontecimento cristão quanto ao fervor religioso e ao número de fiéis, já realizado naquelas paragens sertanejas. Colaborou com a criação do Ginásio Santana e foi professor fundador, lecionando Latim.

Em 1951, foi transferido para a Cura da Sé, da Diocese de Penedo. Também foi vigário em 1958. Dirigiu o jornal "O Apóstolo" e ajudou a dom frei Felício da Cunha a fundar o seminário N. S. de Fátima do qual assumiu o cargo de Diretor Espiritual, também em 1958.

A convite de dom José Vicente Távora, seu amigo e colega de seminário, foi ser vigário de São José, em Aracaju. Monsenhor Fernando, preocupado com os colegas idosos, fundou a chácara João XXIII, em Salgado, Estado de Sergipe, para seu lugar de morada, descanso e encontro do clero. Deixando a paróquia, passou a ser um missionário na região de Jeremoabo Bahia.

Já cansado de ter-se dedicado à evangelização, veio residir em Maceió, por volta de 1980, onde permaneceu por dois anos. Depois foi para a terra natal, onde faleceu em 11.06.1984.[v]

Monsenhor Fernando Medeiros faleceu em Poço das Trincheiras no dia 11 de junho de 1984.

É patrono da Cadeira nº 10, da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes.

Poço das Trincheiras Alagoas
Família Wanderley. Data provável: 1959. Sebastião Medeiros Wanderley com
seus filhos. Em pé: Pe. Fernando, Ademar, Sebastião, Osman, Tobias, Olivan
e José Arimatéia. Sentados: Lindalva, Donatila, Sebastião Wanderley, Oralda,
Orene e Oraide. Foto: Virgílio Wanderley Agra.


PE. JASSON SOUTO

 

O Cônego Jasson Souto


No dia 20 de abril de 1947, tomou posse o sétimo Vigário da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, o Padre Jasson Alves Souto.

Filho de Antônio Alves Souto e de Maria Olímpia Souto, ele nasceu em Jacaré dos Homens, então município de Pão de Açúcar, no dia 22 de outubro de 1909.

Fez o curso primário em sua terra natal, indo depois para o Seminário de Maceió, onde foi ordenado em 30 de novembro de 1933, tendo celebrado a primeira missa na Igreja Matriz de Penedo, no dia 1º de dezembro daquele mesmo ano.

Atuou como Coadjutor da Paróquia de Pão de Açúcar até 4 de março de 1935, quando foi nomeado Vigário de Belo Monte, sucedendo ao Padre Epitácio Rodrigues. Ali permaneceu por 11 anos e 1 mês, até 3 de abril de 1947, quando foi substituído pelo Pe. Leão Kuipers[vi].

Naquela cidade, no início do seu paroquiato, o Padre Jasson construiu a torre da igreja, fez o reboco, a platibanda, o forro, os vitrais coloridos e as calçadas ao redor[vii]. Só mais tarde ele coloca o piso em mosaico, doação de José Capistrano Souto[viii]. O templo de Nossa Senhora do Bom Conselho tem uma particularidade: a torre é na parte posterior, contrariando o padrão adotado e consagrado por toda a região.

A igreja de N. S. do Bom Conselho em Belo Monte


Anos depois, foi nomeado Cônego.

Foi um sacerdote muito presente nos movimentos católicos da época: Cruzada Infantil, Marianos, Filhas de Maria, Franciscanos, Sacramentinos e Apostolados da Oração.

Durante o tempo em que esteve à frente da Paróquia, a Igreja Matriz ganhou um serviço de alto-falante e foi criada a Escola Paroquial, funcionando na Casa de São Vicente, constituindo-se no embrião do majestoso colégio que se tem hoje.

Reorganizou a Irmandade de São Francisco e doou à Matriz a imagem de Nossa Senhora de Fátima.

Dois fatos marcantes assinalam a sua passagem à frente da Paróquia: a inauguração do Monumento do Cristo Redentor e a passagem da imagem de Nossa Senhora de Fátima.

Trazida de Portugal, peregrinou pelo Brasil, permanecendo em Pão de Açúcar nos dias 19 e 20 de agosto de 1952. Defronte a Matriz, montou-se um enorme altar, onde a imagem foi venerada pelos fieis católicos.

Em 6 de janeiro de 1953, por motivo de saúde, o Cônego Jasson afastou-se da Paróquia para, em Penedo, ser Diretor Espiritual do Seminário e Capelão da Santa Casa.

Falecem em Pão de Açúcar a 12 de dezembro de 1955.

Em sua homenagem, foi dado o seu nome à rua que inicia na Av. Bráulio Cavalcante, na Praça do Sesquicentenário, prolongando-se pela AL-130 até o Bairro Alto do Fonseca, em Pão de Açúcar.

Há também uma Escola Estadual Cônego Jasson Souto em Jacaré dos Homens e uma Travessa Cônego Jasson Souto em Belo Monte.

 

PADRE LUIZ FERREIRA NETO


Monsenhor Ferreira
O Padre Luiz Ferreira Neto


O Padre Ferreira tomou posse no dia 6 de janeiro de 1953, ano em que se festejaria o centenário de fundação da Paróquia. Com efeito, segundo notícia do diário carioca O Jornal, em edição de 14 de agosto daquele ano, houve grande comemoração, tendo, a Matriz, passado por reforma.

No último dia do seu paroquiato, recebe a primeira visita pastoral do Bispo Diocesano de Palmeira dos Índios, Dom Otávio Aguiar.

Padre Fernando Vieira
Dom Otávio Aguiar ao tomar posse na Diocese de Palmeira dos Índios,
em 19 de agosto  de 1962, vendo-se o Pe. Fernando Vieira (2ª à esquerda),.
natural de Limoeiro(Pão de Açúcar). Foto: Site História de Alagoas,


Filho de João Ferreira da Silva e de Maria da Glória Jupi, o cônego Luiz Ferreira Neto nasceu em Palmeira dos Índios a 17 de maio de 1918.

Ingressou no Seminário em 23 de março de 1932, tendo iniciado o Curso Ginasial em Garanhuns e concluído em Maceió, onde também cursou Filosofia e Teologia.

Foi Vigário de Junqueiro de fevereiro a agosto de 1943. Em seguida, foi Diretor do Ginásio Diocesano de Penedo até janeiro de 1949. Foi Vigário Ecônomo da Catedral de Penedo e Diretor do jornal “O Apóstolo” de janeiro de 1949 a janeiro de 1950, quando passou a ser Cooperador da Paróquia de Arapiraca até janeiro de 1952 e, daí, para a Paróquia de Pão de Açúcar.

Quando deixou a Paróquia, foi ser Secretário do Bispado de Palmeira dos Índios, chegando a ser Vigário Geral.

Faleceu em sua terra natal em 8 de junho de 2005.

O Pe. Ferreira com crianças na Igreja Matriz.


 

PE. HELIOMAR QUEIRÓZ MAFRA – NONO VIGÁRIO


Padre Heliomar


Com provisão em 2 de fevereiro, tomou posse a 3 de fevereiro de 1963.

Fato marcante deste paroquiato foi a fundação da Escola de Datilografia Pe. Antônio Mendonça, no dia 12 de fevereiro de 1965. Iniciou com 64 alunos, era gratuita e funcionava na sala da própria Casa Paroquial.

Nesse período, deu-se a primeira visita pastoral do Bispo Diocesano de Palmeira dos Índios, Dom Otávio Aguiar, no dia 29 de junho, coincidindo com a celebração da Festa do Sagrado Coração de Jesus.

No ano de 1965, seguindo orientação do Concílio Vaticano II, durante o pontificado do Papa Paulo VI, as missas, casamentos e batizados passaram a ser rezadas em língua local, evitando-se o latim. E os padres passaram a celebrar de frente para os fieis.

Esteve à frente da Paróquia até o dia 17 de janeiro de 1967.

O Pe. Heliomar em procissão do Bom Jesus dos Navegantes, em 1966.
À esquerda, o rapazinho "Tiquinho" como membro da Chegança e, à direita, Chicão.


 HELIOMAR QUEIRÓZ MAFRA nasceu em Delmiro Gouveia a 26 de dezembro de 1934. É filho de Antônio Queiróz Mafra e de Feliciana Marques Mafra.

Iniciou seus estudos no Seminário de Maceió e depois foi para o de João Pessoa-PB, onde cursou Filosofia e Teologia.

Ordenou-se em 9 de julho de 1961, tendo como sua primeira paróquia a de Santa Rita, no Estado da Paraíba.

A partir de outubro de 1962, foi vigário coadjutor na Diocese de Palmeira dos Índios, junto ao Pe. Odilon Amador dos Santos.

Em fevereiro de 1963, transferiu-se para Pão de Açúcar, onde ficou a 17 de janeiro de 1967.


Durante o seu paroquiato, deu especial atenção aos movimentos religiosos: Legião de Maria, Apostolado da Oração, Congregação Mariana. No campo material, empreendeu reforma das instalações elétricas da Igreja Matriz. Foi ele quem reuniu as festas de Santos Reis e Bom Jesus dos Navegantes em uma só, no segundo domingo de janeiro.

Um fato marcante e auspicioso aconteceu durante a sua estada em Pão de Açúcar: a chegada das irmãs holandesas, da congregação Franciscana de Santo Antônio de Pádua.

Em viagem a Roma, Dom Otávio Aguiar, bispo da Diocese de Palmeira dos Índios, soube que algumas irmãs estavam fugidas do Congo por conta da guerra civil e, através de uma conversa com a madre superiora delas, as convidou para realizar missões no Brasil. Essas religiosas que estavam no Congo eram as irmãs Odiliana e Clementina. Estabeleceram-se inicialmente em Palmeira dos Índios[ix].

A Paróquia de Pão de Açúcar em muito contribuiu para a missão. Tanto que, no dia 26 de fevereiro de 1965, com a venda da propriedade denominada Pau Ferro, por Cr$ 3.000.000,00 (Três Milhões de Cruzeiros), a paróquia adquiriu uma casa na cidade de Palmeira dos Índios que, alugada à Diocese, serviu para abrigar a comunidade das religiosas holandesas.

No ano seguinte, as Irmãs Missionárias Franciscanas de Asten, Holanda, abriram casas em Santana do Ipanema e Pão de Açúcar, respectivamente a 3 de março e 21 de agosto.[x]

Da parte de Pão de Açúcar, isso ocorreu pelo concurso do Pe. Heliomar, que conseguiu levar para lá as duas irmãs vindas do Congo (Odiliana e Clementina), que se juntaram às irmãs Quinera, Joannis e Redenta, que estavam na Paraíba. Naquele Estado, na pequena cidade de Esperança, realizavam trabalhos de assistência médica aos mais vulneráveis do município, em parceria com médicos e enfermeiros.

A Irmã Redenta (Elisabeth Jacoba Maria Bogers),
ao chegar ao Brasil em 1962, aos 31 anos. Foto: Consulado.


A Irmã Redenta[xi], cujo nome de batismo era Elisabeth Jacoba Maria Bogers, nasceu na província de Ginneken em Bavel, Holanda, no dia 17 de agosto de 1931. Filha de Cornellus Bogers e Maria J. E. Wirken.

Chegou ao Brasil em 1962, conforme Ficha Consular de Qualificação expedida pelo Vice-Cônsul, Milton Rivera Manga, encarregado do Consulado do Brasil em Rotterdan, em 8 de agosto de 1962.

Segundo Derllânio Telécio da Silva, em seu TRABALHO EDUCACIONAL DA FREIRA FRANCISCANA “IRMÔ REDENTA NO SERTÃO ALAGOANO, SÃO JOSÉ DA TAPERA (1977-2018), as irmãs franciscanas de Santo Antônio de Pádua chegaram ao município de Pão de Açúcar em 22 de agosto de 1966. Irmã Clementina era superiora, junto com as irmãs Odiliana, Quinera (substituída pela Patrícia posteriormente), Joannis e Redenta iniciaram neste mesmo ano suas missões e dividiram as atividades. Começaram a desempenhar trabalhos no setor educacional, religioso e profissional.

O Pe. Heliomar em foto afixada na sacristia da Matriz
de Pão de Açúcar. Foto: Lisboa.


Heliomar Queiróz Mafra licenciou-se do Ministério e constituiu família. Tornou-se professou e se formou em Direito em 1973, pela Faculdade de Caruaru.

Foi professor de Inglês no Ginásio Dom Antônio Brandão e também no Colégio Estadual de Santana do Ipanema.

As irmãs Odiliana, Redenta e Clementina em Pão de Açúcar.

O Padre Heliomar com as crianças.



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NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.



[i] AGRA, Virgílio Wanderley Nepomuceno. Base e padrão do povoamento de Poço das Trincheiras. 5 de junho de 2013, Disponível em: < https://saudacoescaetes.blogspot.com/2013/06/base-e-padrao-do-povoamento-de-poco-das.html>, acesso em 25/02/2024.

[ii] Honorina Dias. Professora. Lecionou no Poço das Trincheiras entre 1912 e 1916, como também em Penedo e Traipu, onde faleceu a 12 de novembro de 1930. Filha de Henrique Dias e Anna José Dias. Foi casada com Francisco Thomáz de Sant’ Anna.

[iii] Manoel Xavier Accioly. (Palmeira dos Índios – AL 21/03/1880 – Maceió – AL 17/02/1955 ). Escritor, promotor público, desembargador. Filho de Francisco Xavier Accioly e Apolinária de Rezende Accioly. Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Faculdade de Direito do Recife (1907). Delegado de Polícia da Capital (1920). Foi Promotor Público, nas Comarcas de Maceió e Mata Grande e Curador de Órfãos, nomeado em 07/06/1912, para a Comarca do Pilar. Juiz de Direito na Comarca de Santana do Ipanema, nomeado em 10/06/1924, posteriormente promovido para 2ª Vara da Comarca de Maceió, de 3ª Entrância sendo a posse em 24/04/1930. Desembargador do TJ-AL (por ato de 07/12/1937) e presidiu o Tribunal de Apelação (1945-51). Juiz do TRE-AL, sendo eleito Vice-Presidente (1945-46), ainda, ocupando o cargo de Juiz Efetivo (1953-55). Aposentou-se em 15/09/1950. Obra: Da Vistoria, Maceió: Off. Graph. da Casa Ramalho, 1936.  Fonte: ABC DAS ALAGOAS. Em 1937, era Professor de Direito Judiciário Civil da Faculdade de Direito de Alagoas. Almanak do Ensino, 1927, nº 1.

[iv] Diário da Manhã, Recife-PE, 7 de setembro de 1934.

[v] MEDEIROS, Tobias. Site da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes. Disponível em:<https://aslca.org.br/cadeiras/patronos/fernando-monteiro-de-medeiros>. Acesso em 25/02/2024.

 

[vi] Leão Kuipers. Nasceu Leonardus Jacobus Kuipers, em 1894, em Vlaardingen, Zuid-Holland, Países Baixos, no dia 7 de setembro de 1892. Filho de Franciscus Josephus Kuipers e Petronella Augustina Jansen. Faleceu no Recife-PE, em 1986, aos 93 anos.

[vii] SANTOS, Pe. José Antônio dos. HISTÓRIA RELIGIOSA DE BELO MONTE. Disponível em: https://padrejosenatonio.blogspot.com/2011/01/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x.html. Acesso em: 5 de fevereiro de 2024.

 

[viii] José Capistrano Souto. Casado com Verana de Gois Souto tiveram de numerosa prole: José Wilson Souto, José Edison Souto, José Abdon Souto, Maria da Conceição Souto, José Capistrano Souto Filho, José Odilon Souto, Maria Felomena Souto, Maria Elza Souto, Maria Helena Souto Silva, José Sebastião Souto, Maria Cyra Souto, Maria Irene Souto Silva. NOTA: Membros da família Souto nos informam que, na verdade, a doação fora feita por José Capistrano Souto Filho, conhecido por Zezé Souto.

 

[ix] SILVA, Derllânio Telécio da. FALAR DAS IRMÃS FRANCISCANAS DE SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA. TRABALHO EDUCACIONAL DA FREIRA FRANCISCANA “IRMÔ REDENTA NO SERTÃO ALAGOANO, SÃO JOSÉ DA TAPERA (1977-2018). Universidade Federal de Alagoas, Campus do Sertão, Curso de História. Delmiro Gouveia, 2020.

[x] Tribuna do Sertão. Palmeira dos Índios celebra centenário de Dom Otávio Aguiar, 19 de abril de 2013. Disponível em:https://tribunadosertao.com.br/noticias/2013/04/19/1965-palmeira-dos-indios-celebra-centenario-de-dom-otavio-aguiar. Acesso em: 28/02/2024.

[xi] A “Irmã Redenta” faleceu em Santana do Ipanema-AL, no dia 6 de junho de 2018, aos 86 anos.. 

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

NOTAS DE VIAGEM

Dr. Oswaldo de Meiróz Grillo

 

Difícil é fixar-se no papel todos os aspectos de uma viagem, todas as perspectivas dos diversos panoramas, que se descortina, quando de uma travessia de terra, mar e rio.

Não há muitos dias, observei cuidadosamente as múltiplas passagens do longo trajeto que fiz, do Recife a Pão de Açúcar (Alagoas), em um percurso de 3 ½ dias, sem contar dois dias que passei no porto de Penedo, aguardando a partida do vapor fluvial, o Comendador Peixoto.

O vapor Comendador Peixoto, da Companhia de
Navegação do Baixo São Francisco.


***   ***

Depois de uma noite de insônia, tomei a direção da estação das “Cinco Pontas”[i] a fim de viajar no comboio das 5 e 50 para Maceió. Aos silvos agudos e estridentes da locomotiva, o meu espírito se atordoava com um mundo de pensamentos e de sonhos. Emudecia-me um sentimento acridoce de saudade da bela Recife – da família que mais iria se distanciar de mim, do convívio acadêmico e da grata companhia de jornalistas que me proporcionava uma escola singular de experiência, trabalho, prudência e intrepidez.

De um lado me envaidecia, com humana e natural ufania, a honrosa posição que vinha ocupar na terra das Alagoas, superiormente dirigida pela visão esclarecida e patriótica do Sr. Dr. Costa Rego[ii], cujo governo se faz credor da estima e das simpatias da mocidade.

Por outro lado, pensava no intercâmbio intelectual e artístico que iam realizar os meus colegas de Faculdade, e do qual tanto desejara fazer parte.

Era, por consequência, dúbia a minha situação, juntando-se a isso a fadiga de uma noite de vigília, que eu andara à gandaia, percorrendo os trechos alegres em despedidas da vida noturna da encantadora capital pernambucana. E nesse estado de espírito, tive que adormecer nas preguiçosas poltronas do vagão, pouco tendo a dizer da extensa caminhada de Recife a Maceió.

Lembro-me, no entanto, das estações de Gameleira, Palmares, Glicério, em Pernambuco. Em Alagoas, dentre outras, ficaram-me na memória Barra e Lage do Canhoto, duas lindas cidades à direita da linha férrea.

Em todos os pontos se me deparavam campos verdejantes de sadia paisagem, plantações de cana, mandioca, milho, algodão, etc.

Conquanto faíscas, que se desprendiam do combustível da locomotiva, viessem a incomodar-me e empoeirar, sentia uma temperatura saudável e amena da estação invernosa.

Nesse ambiente de um estafante e estirado dia de viagem, chegamos às velha e formosa capital alagoana. Não foi sem experimentar grande surpresa que, levado por um creoulo que agenciava passageiros para o seu hotel, me achei em um suntuoso e confortável palacete da hospedaria.

Confesso que excedeu à minha expectativa encontrar em uma cidade pequena e, relativamente, de pouco progresso, tão luxuosa estalagem.

Fazer a descrição do “Bela Vista Hotel” é tarefa dos seus representantes, para propalarem o reclame do seu estabelecimento, e da qual eu me escuso, por não pertencer ainda a nenhuma companhia de comércio...

No dia seguinte, enverguei um solene frack, instituição que defendemos, por amor à tradição do magistrado, e me dirigi então ao palácio governamental para cumprimentar
S. Ex.ª, apostilar o título da  minha nomeação e prover-me de códigos e leis necessárias e especiais à judicatura do Estado.

Cinco pontas
A Estação das Cinco Pontas, Recife-PE


Fiquei, portanto, aparelhado a exercer as funções do “juiz de roça”, no longínquo e sertanejo município de Pão de Açúcar.

Saí de Maceió em lancha da navegação lacustre até a cidade de Alagoas[iii], no espaço de tempo de 2 horas e 30.

Quanto a Alagoas, nada posso adiantar, porque a demora lá foi apenas de poucos minutos, somente o preciso para o chauffeur pôr o auto em ponto de marcha para uma disparada de 6 horas até Penedo, ponto terminal desta via de condução e onde devíamos pernoitar e repousar dos solavancos e sopapos da velocidade do carro.

Toda a cidade de Penedo já dormia, em sua pacatez rústica, quando o veículo, insistentemente buzinando, penetra de alfa a ômega uma das principais artérias, perturbando o sono calmo da cidade com esse impertinente “fonfon”...

Despontava o dia da feira do lugar, que assisti pacientemente, abordando os botequins e as toldas com o intuito de conhecer os produtos que me eram estranhos. Grande feira, onde se expunham à venda, com abundância, os diversos gêneros de alimentação, ornatos rurais, artefatos regionais como a esteira de pery-pery, etc...

Devo registrar aqui o quanto fiquei devendo à gentileza de um distinto amigo que fiz em Penedo – o coronel Octaviano Carvalho, administrador da mesa de rendas.

Este cavalheiro, apresentado que me foi por um seu colega da Alfândega de Maceió, cativou-me, em poucos momentos que tive de privar das suas relações, pela carinhosa maneira de tratar e o modo lhano de captar amizade. A sua atenciosidade dispensada a mim foi a tal ponto que me aproximou da intimidade do seu lar, oferecendo-me lauto e opíparo almoço.

***   ***

Tive, enfim, de me submeter à via fluvial, para alcançar a meta da jornada. Era um bem instalado e pitoresco bôttement, que faz semanalmente a comunicação de Penedo com as outras cidades do baixo S. Francisco. Além de pequenas localidades, são elas, entre outras: Propriá e Gararu (do Estado de Sergipe), Traipu, Belo Monte, Pão de Açúcar, Piranhas, etc...

Oque mais me impressionou, e que deve merecer particular registro nesta minha digressão foram os penetrantes e insinuantes olhares de uma linda morena penedense. Coisa singular!

Já o navio dava de marcha, quando vim apercebê-la, risonhamente sentada em uma cadeira do convés e, toda esquiva e indiferente, não quis talvez, de logo, compreender a expressão de meus olhares perspicazes.

Sou, francamente, por tudo que faz esquecer as tristezas da vida e muito sensível às seduções femininas; donde essa criatura, de olhos castanhos e expressivos, de formas plásticas e elegantes, ser, a bordo do Comendador, o objeto de alento do meu coração envolto na intensa saudade desse adorável “santuário de amor”, que é a sagrada instituição da família, a quem me acostumei a amar desde a mais tenra idade.

O vapor aportou no porto de Gararu e, depois do chá, fizemos uma atraente serão de jogo, anedotas, etc...que arrastou, também, o comandante do Peixoto, velhinho vermelho folgazão e bonacheirão.

E a sedutora morena, sempre a me encantar e a me enlear, saltou, no dia seguinte, em Belo Monte.

Terna e meiga, essa alagoana, que tanto me atraiu pela sua singeleza e candura, ao despedir-se de mim, com olhar languido, semblante emocionado e mãos gélidas, disse em voz trêmula desejaria não fosse ali o ponto do seu destino!...

E eu lhe retribuí outras tantas cortesias e galanteios!...

 

*** ***

Às 9 e 55 dava entrada o navio no ancoradouro de Pão de Açúcar, onde desembarquei, e corri logo à agência telegráfica, para a visar aos meus o termo da minha odisseia.

Em seguida, instalei-me no hotel, à rua da frente, assim chamada porque dá a frente às águas do caudaloso S. Francisco.

Outras ruas existem no município, tais como: Duque de Caxias, Augusta, Comércio, Alto da Paciência, etc.

Após ligeiro almoço, procurei o Juiz de Direito, perante o qual prestei a formalidade de posse, assumindo as funções de Juiz Substituto.

*** ***

Cheia de 1926 no rio São Francisco
Pão de Açúcar, 1926. Grande Cheia do Rio São Francisco.


Pão de Açúcar, cidade plana, em uma reta precisamente de 1 quilômetro quadrado, sentiu os efeitos de uma calamidade. Fica à margem esquerda do S. Francisco, cujas enchentes subiram este inverno a um nível muito elevado, invadindo os campos de agricultura, as pastagens da criação e as moradas dos pão-de-açucarenses[iv].

As autoridades locais estão bem representadas: o prefeito é um cidadão probo e operoso que, no curto período de ano e meio de gestão, já tem promovido alguns melhoramentos. Agora mesmo, cogita de fazer instalação elétrica, já havendo feito o contrato com abastado industrial do lugar[v]; o Juiz de Direito, moço digno e competente, convencido da sua alta e nobre missão de distribuir justiça; também não devemos esquecer o secretário da Prefeitura que, apesar da idade avançada, tem grande amor e dedicação ao ofício, com uma longa folha de serviços prestados ao Município, mantendo o fio da tradição de uma ilustre família, de reconhecido prestígio político no Estado.

Assim, nesta atmosfera de idoneidade moral e honradez pessoal, vou fazendo a minha vida de judicatura.

Praza aos céus que bonançosos dias estejam sempre reservados ao Juiz Substituto de Pão de Açúcar.

Pão de Açúcar, Alagoas, 16 de junho de 1926.

Oswaldo de Meiróz Grillo.

 

Transcrito do jornal A PROVÍNCIA, Recife, 7 de julho de 1926.

http://memoria.bn.br/DocReader/128066_02/16338

 

O autor destas notas, Dr. Oswaldo de Meiróz Grillo, nasceu em Goianinha, Estado do Rio Grande do Norte. Filho de Abdon Franklin de Meiróz Grillo e de Alexandrina Leopoldina de Meiróz Grillo. Irmão do Dr. Joaquim de Meiróz Grillo. Foi casado com Letícia Marinho Grillo. Faleceu no Hospital Miguel Couto, no Rio de Janeiro, a 1º de setembro de 1940, com apenas 37 anos de idade. Foi sepultado em Goianinha. Fonte: A Ordem, Natal-RN, 4 de setembro de 1940.

Formado pela Faculdade de Direito do Recife, colou grau em 11 de agosto de 1927, na chamada “Turma do Centenário”, pois se comemorava, naquele ano, cem anos de fundação dos cursos jurídicos de Olinda e São Paulo.

No ano anterior, ainda bacharelando, com apenas 23 anos de idade, foi nomeado Juiz Substituto na Comarca de Pão de Açúcar, pelo Governador Costa Rego, em 19 de abril de 1926.[vi] Precisamente a 26 de maio daquele ano, parte do Recife com destino a Pão de Açúcar.[vii]

 

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NOTA:

Caro leitor,

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[i] O Conjunto Ferroviário de Cinco Pontas, no Recife-PE, foi a estação central inicial do primeiro trecho da Estrada de Ferro do Recife ao São Francisco.

[ii] Pedro da Costa Rego. Foi padrinho de formatura do Dr. Oswaldo, no dia 11 de agosto de 1927, representado na solenidade pelo escritor José Lins do Rego.

[iii] Atual Marechal Deodoro.

[iv] Refere-se à Cheia de 1926, uma das maiores do rio São Francisco.

[v] O prefeito era o Sr. MANOEL FRANCISCO PEREIRA FILHO, conhecido por “Manoelzinho Pereira”, que administrou o município de 7 de janeiro de 1925 a 7  de janeiro de 1928. Em março de 1926  a Prefeitura contrata com  o Sr. José de Freitas Machado - Zuza  o serviço de iluminação elétrica.

[vi] Diário de Pernambuco, 30 de abril de 1926.

[vii] A Província, de 26 de maio de 1926. 

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia