quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

NOTÍCIAS CURIOSAS III

Deu no jornal paraense Diário de Belém — edição de 6 de março de 1888, uma curiosa notícia sobre uma figura cujos feitos são verdadeiramente extraordinários. Eis o texto:

“GASTRÔMOMO E ANDARILHO

Encontramos no Trabalho, folha que se publica em Pão de Açúcar, na província das Alagoas, a seguinte interessante notícia, da Vila de Traipu:

‘Há poucos dias faleceu neste município Ludovico de Souza Bispo, residente há muitos anos no Sítio Lagoa Grande.
Cidadão de têmpera antiga, trabalhador, com alguns bens da fortuna, Ludovico Bispo era considerado como homem de bem e um dos mais abastados fazendeiros destas regiões.
Além de tudo isto, o Sr. Ludovico tinha um estômago que era um colosso; era ainda conhecido como um andarilho de extraordinária nomeada e de uma força muscular de verdadeiro gigante.
Em resumo, damos aqui a notícia de alguns fatos extraordinários da vida do Sr. Ludovico, fatos estes verdadeiros e que estão no domínio da maior parte dos habitantes da Vila de Traipu.

— Ludovico Bispo, quando moço, por mais de uma ocasião, comeu de uma vez um quarto de boi criado, de tamanho regular, depois do que ainda servia-se de uma sobremesa relativa.
— Por brincadeira, comia oito litros de melaço com farinha.

Cinquenta e cem espigas de milho assava em uma caieira e deixava o sabugo limpo.
Em uma pescaria na Várzea Grande, do Traipu, quis fazer uma aposta para comer de uma vez um surubim muito gordo, da altura de uma vara, não realizando a aposta por terem certeza de que Ludovico ganharia.
Este que escreve estas linhas, em 1865, presenciou Ludovico querer fazer uma aposta para comer de uma vez um quarto de boi. Achavam-se presentes nesta ocasião diversas pessoas idôneas, que ainda hoje existem em Traipu.
O sítio de Ludovico dista da Vila de Traipu algumas poucas léguas; pois o herói muitas vezes mandava um dos seus vizinhos em um cavalo correndo a toda brida e Ludovico quando não chegava a Lagoa Grande juntos, era porque chegava primeiro. Fez isto por muitas vezes.
Nunca levou em conta cavalo algum para pegar gado: a rês mais brava e corredeira que houvesse, ele a pé, em poucos minutos, escorava-a.
— Ouvimos ele dizer uma ocasião, e deu testemunho, que correndo já havia pegado dois veados, isto quando tinha 18 até 22 anos.
Um novilho correndo, quando Ludovico segurava na cauda o detinha no momento!
Muitos outros fatos verídicos sabemos de Ludovico, porém agora deixamos de os relatar para não nos tornar mais prolixo.
O grande gastrônomo, o portentoso andarilho, o gigante, faleceu há pouco, sem nada poder suportar no estômago; neste estado já estava há meses; fraco, sem forças, não comia mais nem quarto de boi e nem mesmo a mais simples canja de arroz.’


Ora, ai está em que deu tanta guloseima.”

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia