Por Etevaldo Amorim
À época do Império, alguns paulistas governaram Alagoas: José Joaquim Machado de Oliveira (14/12/1834); Antônio Moreira de Barros (09/09/1867 a 22/05/1868); Antônio Cario da Silva Prado (de 05/09/1887 a 16/04/1888). Mas pouca gente sabe que um alagoano já governou São Paulo. Trata-se de Albuquerque Lins, que esteve à frente da governança do maior estado do País de 1º de maio de 1908 a 1º de maio de 1912.
Manuel Joaquim de Albuquerque Lins
nasceu em São Miguel dos Campos (AL) no dia 20 de setembro de 1852. Era filho
de Manuel Joaquim de Albuquerque Lins e de Orminda da Rocha e Silva. Seu pai
era dono de engenho de açúcar. Era primo de João Lins Vieira Cansanção de
Sinimbu, o visconde de Sinimbu, que foi presidente do Conselho de Ministros do
Império entre 1878 e 1880.
Fez
seus primeiros estudos em sua cidade e aos 14 anos seguiu para Salvador, na
Bahia, onde estudou humanidades no Seminário Arquiepiscopal. Sentindo vocação
eclesiástica, também cursou teologia, mas, apesar de ter recebido os aplausos
dos mestres, não foi ordenado por não ter a idade exigida. Resolveu então, em
1871, ir completar seus preparatórios em Pernambuco. Com efeito, em janeiro de
1873, desembarca do vapor Guará, no Recife, para ingressar na Faculdade de
Direito[i],
recebendo o grau de bacharel em ciências jurídicas e sociais em 1877, em
companhia de Rosa e Silva, J. J. Seabra, Leão Velloso, José Paranaguá e outros.
Em novembro daquele ano, deixa o Recife a bordo do vapor Marquês de Caxias.[ii]
Nesse
mesmo ano, volta a Alagoas, sendo nomeado Promotor Público no município de
Anadia. Desempenhou a função durante pouco mais de um ano, até transferir-se, a
conselho do visconde de Sinimbu, para a Província de São Paulo. Aí foi Juiz
Municipal e de Órfãos de Santos e São Vicente e Juiz de Direito de São Simão e
Ribeirão Preto, sendo posteriormente removido, a pedido, para Tatuí. Nomeado,
em 1885, Chefe de Polícia do Paraná, não chegou a tomar posse em virtude da queda
do Gabinete do Conselheiro Saraiva e o afastamento dos liberais do poder em
agosto daquele ano. Pedindo exoneração da magistratura, foi declarado juiz de
direito avulso e fixou definitivamente residência na capital paulista, onde se
dedicou à advocacia e passou a colaborar na imprensa.
Em
1881, casa-se com a Srtª Helena de Souza Queiróz, filha do Barão Souza Queiroz[iii],
de tradicional e rica família Sousa Queirós, de muita influência no Partido
Liberal da Província de São Paulo, sendo eleito Deputado Provincial pelo 5°
Distrito para a Legislatura 1888-1889, que seria a última do Império.
Em
1889, foi nomeado Presidente da Província do Rio Grande do Norte, pelo
Ministério Ouro Preto, mas não chegou a tomar posse.
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Albuquerque Lins,
Secretário da Fazenda do
Estado de São Paulo. O MALHO, Ano VI, nº 244,
18
de maio de 1907.
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Foi
eleito vereador à Câmara Municipal de São Paulo para o triênio de 1899-1902 e
escolhido por seus pares, por unanimidade, presidente da casa. Em 16 de
dezembro de 1901 foi eleito para a vaga de Paulo de Sousa Queirós no Senado
Estadual, e tomou posse em 8 de abril de 1902.
Renunciou
em 2 de maio de 1904, quando foi nomeado secretário da Fazenda pelo presidente
do estado Jorge Tibiriçá (1/5/1904-1/5/1908). Exerceria o cargo até 31 de
outubro de 1907, quando foi substituído por Olavo Egídio de Sousa Aranha. À
frente da secretaria, atuou em defesa da política de valorização do café
adotada em face da grande safra cafeeira do período, que abriu uma tremenda
crise econômica no estado e muito preocupou o governo.
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Albuquerque Lins, Presidente de São Paulo. Foto:
Brazil Magazine.
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Como
Presidente de São Paulo, graças à sua gestão na área financeira, quando da
disputa pela indicação do candidato à sucessão de Jorge Piratininga, venceu o
ex-presidente Campos Sales na convenção do PRP. Formada a chapa governista, foi
eleito em 1º de março de 1908, tendo como vice Fernando Prestes de Albuquerque,
e tomou posse em 1º de maio de 1908, com mandato até 1º de maio de 1912.
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Panorama da Capital de São
Paulo, à época do Governo do Dr. Albuquerque Lins. Foto: Revista Fon-Fon, 1908.
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Em
sua administração à frente do governo de São Paulo, prosseguiu em sua política
de valorização do café; incrementou a entrada de imigrantes, cujo número chegou
a 185.367; fomentou a construção de numerosos grupos escolares, tanto na
capital como no interior; transformou todas as escolas complementares em
escolas normais primárias; criou institutos profissionais na capital e nas
cidades de Amparo e Jacareí; aprovou a planta e orçamento para a edificação das
escolas normais de Pirassununga e Botucatu; criou a diretoria geral da
Instrução Pública, em substituição à Inspetoria do Ensino; iniciou a reforma do
regimento penitenciário, tendo batido a pedra fundamental da penitenciária do
estado; criou o Serviço Florestal, visando a desenvolver a silvicultura; criou
o Patronato Agrícola; criou os Bancos de Custeio Rural; e lançou os alicerces
do palácio das Indústrias, localizado no parque Dom Pedro II, no centro da
capital. Entre seus auxiliares estavam Carlos Guimarães, na Secretaria da
Fazenda, e Washington Luís, mais tarde presidente da República, na Secretaria
da Justiça.
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O Presidente Albuquerque Lins
participa do lançamento da pedra fundamental da construção do novo Presídio de
São Paulo, que ficaria conhecido como Carandiru, tendo a sua direita (esquerda
de quem olha) o General Comandante da 10ª Região Militar e o Dr. Carlos
Guimarães, Secretário do Interior, em 1911.
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Palacete de residência do Dr. Albuquerque Lins, em
São Paulo, na Rua da Liberdade, 87. Brazil Magazine, Ano IV, 41-41, 1920.
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Nas
eleições para presidente da República em 1910, foi candidato a vice-presidente
na chapa civilista de Rui Barbosa, derrotada pela chapa Hermes da
Fonseca-Venceslau Brás. Teve assim perturbados os dois últimos anos de seu
governo, quando ocorreu uma tentativa de intervenção federal em São Paulo pela
vindita do marechal Hermes, afinal evitada. Ao término de seu governo,
transferiu o cargo para o sucessor Francisco de Paula Rodrigues Alves.
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Teatro
Lírico, Rio de Janeiro. Flagrante da Convenção Civilista, realizada em 22 de
agosto de 1909, que indicou o Senador Rui Barbosa para Presidente e Albuquerque
Lins para Vice-Presidente da República. Foto: FON-FON, Ano III, nº 35.
28.08.1909.
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Mesa
Diretora dos trabalhos da Convenção. De pé, fazendo a chamada dos
convencionais, o Deputado paulista Cincinato Braga. Sentados: Deputado Álvaro
de Carvalho, Senador José Marcelino e Deputado Galeão Carvalhal. Foto: Careta,
Ano II, Nº 65, 28 de agosto de 1909.
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Em Campanha, recebendo Rui
Barbosa nos jardins do Palácio do Governo de São Paulo. Foto: Brazil Magazine.
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A
Chapa Rui Barbosa/Albuquerque Lins. |
Em 8
de fevereiro de 1913 foi eleito senador estadual para o período de 1913 a 1921,
e em 29 de abril de 1922 foi reeleito para o período de 1922 a 1930. Como
parlamentar, discutiu os projetos de lei de criação de bancos agrícolas e
outras medidas de interesse para a economia paulista. Foi membro da comissão
diretora do PRP, como grande capitalista foi presidente do Banco de São Paulo e
da Companhia Mecânica Importadora, e sempre ligado a agricultura, foi
importante proprietário rural em Limeira. Foi Presidente do Banco Popular de
São Paulo, depois denominado Banco Provincial de São Paulo.
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Albuquerque
Lins deixa o Palácio do Governo de São Paulo, sendo acompanhado pelo seu
sucessor Rodrigues Alves. Careta, 18 de maio de 1912. |
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Já
como Ex-Presidente de São Paulo, o Dr. Albuquerque Lina, tendo a seu lado a
filha Helenita, os filhos Manoel e Abel e a esposa Helena, no vapor Astúrias,
em viagem para a Europa.
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Faleceu
em São Paulo, a 7 de janeiro de 1926, em pleno exercício do mandato de senador
estadual. Seu sepultamento se deu no dia 8 de janeiro de 1926, às 17:00 horas,
saindo da sua residência à Rua da Liberdade, 87[iv].
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Funerais de Albuquerque Lins,
vendo-se à frente do cortejo o Dr. Washington Luiz, que viria a ser Presidente
da República e o Dr. Carlos de Campos, então Presidente de São Paulo. Foto: Fon-Fon, 16 de janeiro de 1926.
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Outro aspecto do cortejo fúnebre
do Dr. Albuquerque Lins. Foto: Fon-Fon.
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Deixou
fortuna particular calculada em cerca de 10.000 contos de réis. Era sócio de
uma casa Comissária de Exportação em Santos, abastado fazendeiro e proprietário
de diversos imóveis na Capital Paulista, inclusive o Palacete (com teatro)
Santa Helena, na Praça da Sé.
De
seu casamento com Helena de Souza Queirós, teve seis filhos: Joaquim, José,
Antônio, Carlos, Álvaro, Anna Helena, Helenita e Maria.
Em
sua homenagem foi criado, pela Lei nº 1.708, de 27 de dezembro de 1919, o
município de Albuquerque Lins, que, em 1926, teve alterada a denominação para
Lins. (Antônio Sérgio Ribeiro)
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A cidade
de Albuquerque Lins (atualmente Lins), no Estado de São Paulo. |
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FONTES:
AMARAL,
A. Dicionário; Correio Paulistano (8/1/1926); EGAS, E. Galeria (v.2); Folha da
Manhã (8/1/1926); FONSECA, A.; IGNÁCIO, A.; BRISOLLA, C. São Paulo; Municípios
e distritos; RIBEIRO, J. Chronologia; RIBEIRO, A. Governantes..
CPDOV
– FGV
ABC DAS
ALAGOAS, FRANCISCO REYNALDO AMORIM DE BARROS
Fundação Casa Rui Barbosa
[i]
Diário de Pernambuco, 10 de janeiro de 1873.
[ii]
Diário de Pernambuco, 16 de novembro de 1877.
[iii]
Falecida a 4 de abril de 1936. A Nação, 5 de abril de 1936.
[iv] A
Manhã, RJ, 8 de janeiro de 1926, p. 2
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