Por Etevaldo
Amorim
Segismundo Maciel |
Filho de Laurentino Irineu de Oliveira Maciel e de D. Olímpia Benvinda Maciel, Segismundo nasceu em Pão de Açúcar, Estado de Alagoas, no dia 11 de abril de 1889. Eram seus avós paternos: Roberto Gomes Pereira de Carvalho e Anna Carolina de Oliveira Maciel; e, maternos: João Inácio de Moura e Maria Francisca de Carvalho.
Segundo o escritor patrício Aldemar de Mendonça, de quem era sobrinho, ele deixou sua terra natal com destino à cidade de Santos-SP, em 27 de abril de 1910. Efetivamente, seu nome consta da lista de passageiros do Vapor Nacional Minas Gerais, do Lloyd Brasileiro, passando por Salvador-BA, em 23 de setembro do mesmo ano.
De uma nota no jornal Correio Paulistano, de 8 de março de 1913, dando conta de que ele se achava a passeio na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo, hospedado em casa do Coronel Antônio Augusto de Andrade, ficamos sabendo que ele se estabelecera em Santos como guarda-livros, denominação, à época, do profissional autônomo encarregado de fazer o registro da contabilidade e das transações de uma empresa. É o que se chama, hoje, de Contabilista, ou simplesmente Contador.[i]
Em 17 de abril de 1916, segundo a Gazeta de
Notícias, RJ, em reunião de membros da colônia portuguesa, realizada em São
Vicente-SP, Segismundo é escolhido para integrar uma Comissão Central
encarregada de “promover festivais e angariar donativos” para a Cruz
Vermelha Portuguesa.
Sua permanência em solo paulista não foi contínua: há registro de sua chegada no Recife, a bordo do Vapor Nacional Rio de Janeiro, em 10 de novembro de 1916.[ii] Em 4 de dezembro de 1918, ele se achava residindo em Pão de Açúcar, tendo sido, inclusive, testemunha do casamento do casal Pedro Antônio dos Santos e Maria Luiza da Conceição, segundo notas do Cartório do Registro Civil.
Em 1919, casa-se com Maria Amélia Teixeira Ribeiro, filha de Francisco Teixeira Ribeiro e Cândida Flora Rego Teixeira Ribeiro (irmã do Cap. Manoel Rego). Em nota publicada no jornal Diário de Pernambuco, em 5 de julho de 1919, o correspondente de Alagoas informa: “Com a senhorinha Maria Amélia Teixeira Ribeiro, consorciou-se o inteligente moço Sigismundo Maciel”.
Maria Amélia, esposa de Segismundo. |
É provável que o casamento tenha sido realizado em Salvador, onde residiam os pais da noiva. Natural de Pão de Açúcar-AL, nascida em 9 de janeiro de 1890, Maria Amélia foi batizada na capital baiana a 26 de abril de 1891, e faleceu em Santo André-SP, a 5 de maio de 1982.
Bem
conceituado na sociedade santista e aberto à modernidade, Segismundo Maciel é
mencionado em anúncio da Casa Edson, situada na Rua General Câmara, nº 7, como
sendo um dos “cavalheiros que adquiriram VICTROLAS ORTHOPHONICAS”
naquela Casa, concessionária exclusiva para a Praça de Santos[iii].
Em
1927, Segismundo Maciel contribuiu com com a quantia de 100$000 (Cem Mil Réis)
em Subscrição aberta pelo jornal Praça de Santos, intitulada PELOS BRASILEIROS
EXPATRIADOS. Tratava-se de campanha de ajuda aos membros da “Coluna Miguel
Costa/Prestes”, exilados na Bolívia desde o dia 3 de fevereiro daquele ano.
O
lançamento da campanha, em 19 de junho de 1927, expõe as razões, com apelo
patriótico muito acentuado:
“PELOS BRASILEIROS
EXPATRIADOS
Dentro do programa de
justiça que nos traçamos, abrimos
ontem, neste jornal, uma subscrição pública em favor dos brasileiros
expatriados, que sofrem atualmente, no seio das florestas bolivianas, o peso de
um martírio que é moral e físico ao mesmo tempo.
Nas
palavras que escreveu, em prol do nosso apelo, Maurício de Lacerda deixou
patente a covardia inominável que o Brasil praticaria se abandonasse ao
desespero do destino impiedoso, aqueles famosos legionários da coluna Prestes,
erguidos em combatentes da revolução por ideias que eles julgavam de
imprescindível objetivação para felicidade brasileira.
Não
é preciso ser solidário com o movimento armado, que os erros imperdoáveis do
Sr. Arthur Bernardes provocaram, para auxiliar os brasileiros afastados
inexoravelmente da terra comum. É preciso compreender, antes de tudo, a nobreza
dos sentimentos que determinaram a atividade desses homens e o ânimo sincero e
desinteressado com que eles jogaram a própria vida em prol da causa nacional.
Admita-se
a hipótese de que estivessem errados no emprego de meios violentos para
consecução dos seus objetivos - daí não se deduz que sejam eles criminosos
passíveis de castigos ferozes, mas, quando muito, brasileiros que não teriam
acertado nos meios de fazer feliz a sua Pátria, embora fosse este o seu único
anseio, a verdadeira força motriz das suas heróicas ações.
Agora,
que a adversidade os levou à derrota, porque havemos de deixá-los perecer à
falta de um pouco de pão - a eles, os ousados idealistas de uma cruzada em que
só encontraram o sacrifício de si mesmos?
Assim,
não é preciso discutir as razões fundamentais da epopeia de Luiz Carlos
Prestes, para podermos auxiliar os seus companheiros que sofrem, nas matas da
Bolívia, o duplo e amargurado martírio do exílio e da miséria.
O
apelo que fazemos ao povo de Santos não foi, portanto, um apelo de partido, mas
unicamente um gesto de patriotismo, em nome de princípios de humanidade que honram
apenas à tradicional pureza do caráter brasileiro e à nobreza do coração sempre
generoso de nossa gente.”
No decorrer da campanha,
já com quase 5 mil contos de réis arrecadados, o jornal dá conta de que:
"Continua
francamente vitoriosa a subscrição aberta pela PRAÇA DE SANTOS em favor dos
brasileiros exilados na vizinha República da Bolívia, onde, apesar da generosa
acolhida daquele país amigo, muitos abnegados irmãos nossos, honrados e
paupérrimos, curtem horas amargas de fome e privações de toda a espécie, por
terem sonhado, um dia, a regeneração política da Pátria. O povo de Santos, mais
uma vez, tem sabido honrar as suas tradições de nobreza e liberalidade,
prestigiando a nossa ideia e concorrendo diariamente para a subscrição aberta,
que já alcançou as seguintes contribuições:"
Identificamos assim o
pensamento político de Segismundo Maciel. Artista e profissional autônomo, ele
era adepto do Partido Democrático - PD, que, junto ao PRP - Partido Republicano
Paulista, constituíram a Frente Única Paulista, lançando as bases para o
Movimento Constitucionalista de 1932, que teria início em 9 de julho de 1932.
Em princípios daquele
ano, representando o Diretório de Santos, Segismundo subscreve telegrama publicado
no jornal Diário Nacional (órgão do PD), de 16 de janeiro de 1932, com voto de
aplauso ao Manifesto do Partido Democrático, intitulado À NAÇÃO, divulgado no
dia anterior.
“Confortados atitude Partido, vimos
trazer nossa solidariedade eminentes Chefes. (a) Jacyntho Martins, Segismundo
Maciel e Hygino de Carvalho.”
O Manifesto, encabeçado
por Francisco Morato, um dos fundadores do Partido Democrático,[iv] conclamava: “Entregue-se
aos Estados o governo dos Estados; venha a Constituinte; e estaremos salvos.”
Em 5 de agosto do mesmo
ano, já com a Revolução Constitucionalista em plena marcha, o jornal A Tribuna,
de Santos-SP, abre Subscrição para AQUISIÇÃO DE CAPACETES DE AÇO para as tropas
paulistas. Sigismundo Maciel contribui com a quantia de 15$000 (Quinze Mil
Réis). Diz o jornal:
"Foi recebida com o mais vivo entusiasmo por parte do nosso público, a louvável iniciativa de vários rapazes que ontem nos visitaram e cujos nomes já foram declinados, de se obterem os meios para a aquisição de capacetes de aço para os nossos soldados que estão combatendo no 'front', iniciativa essa que foi aberta pelos aludidos rapazes com a quantia de 60$000 (Sessenta Mil Réis)."
Soldados paulistas em combate na Revolução de 1932. |
Em 30 de agosto de 1932, tendo sido reconhecida
pela Comissão Central do MMDC, tomou posse a Comissão de São Vicente, composta
por: José Meirelles, Segismundo Maciel, Rodrigo Pires do Rio Filho e Paulo Hourneaux de Moura[v]. Até então, o Movimento
funcionara sob a direção de José Inácio Teixeira.
O M.M.D.C
é o acrônimo pelo qual se tornaram representados os nomes dos mártires do
Movimento Constitucionalista de 1932, que culminou no levante denominado
Revolução Constitucionalista, eclodido em 9 de julho daquele ano. As iniciais
representam os nomes dos manifestantes paulistas Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo[vi],
mortos por tropas federais ligadas ao Partido Popular Paulista (PPP), um grupo
político-militar sustentáculo do regime de Getúlio Vargas, em uma manifestação
ocorrida na noite de 23 de maio de 1932, evento que antecedeu e foi uma das
razões para o grande conflito daquele ano. A sigla também representou a
organização clandestina que conspirou para o levante e posteriormente coordenou
os esforços de guerra, no recrutamento, arrecadação de fundos e recursos, bem
como a distribuição desses para os soldados do Exército Constitucionalista.
Ainda em 1932,
precisamente em 22 de setembro, o prefeito de São Vicente, José Monteiro[vii], incumbido que fora de
obter recursos para as tropas em operação nas diversas frentes da “revolução
constitucionalista”, constituiu uma Comissão da qual fez parte Segismundo
Maciel, ao lado de Eduardo Vítor de Freitas[viii], Rodrigo Pires do Rio
Filho, Jaime de Almeida Paiva, José Meireles, Raul de Souza Dantas, José de
Paula Machado, José Rites, Washington de Almeida e Carlos Vieira da Cunha.[ix]
Em 1933, era integrante
da Liga dos Empregados no Comércio de Santos.[x]
Segismundo Maciel faleceu
em Santos-SP, na Santa Casa de Misericórdia, em 25 de abril de 1951, sendo
sepultado no cemitério do Saboó.
Em 5 de maio de 1951, sua esposa publica, no jornal santista O DIÁRIO, uma nota de agradecimento a todos os que o ajudaram durante sua doença e tratamento:
“A
viúva de Segismundo Maciel, na impossibilidade de dirigir-se, pessoalmente, aos
que a acompanharam durante a moléstia e falecimento de seu esposo, vem trazer a
todos o testemunho de sua gratidão pelo conforto que lhe foi proporcionado,
permitindo-lhe, desse modo, suportar com resignação o rude golpe que sofreu.
Muito especialmente dirige-se aos Srs.
Henrique Soler[xi],
Fausto de Oliveira[xii],
Drs. José Rittes Filho[xiii],
Goulart Penteado[xiv],
Paulo Antunes Azevedo[xv],
às Irmãs, enfermeiros, enfermeiras e demais auxiliares da Santa Casa de
Misericórdia de Santos, bem como ao Sr. Antônio de Oliveira Rato e doadores de
sangue, os quais, num gesto sublime de solidariedade humana, caridade cristã e
proficiência, empregaram os melhores de seus esforços no sentido de minorar
seus sofrimentos materiais e morais.
Que Deus, na sua infinita misericórdia,
cubra-os de bênçãos.
MARIA AMÉLIA MACIEL”
Ainda segundo Aldemar de
Mendonça, além de bom fotógrafo, era bom pintor, tendo deixado quadros na
Escola de Belas Artes, do Rio de Janeiro.
Sobre sua obra, localizamos referências na imprensa de São
Paulo. No jornal Gazeta do Povo, de Santos-SP, em 30 de agosto de 1920, a
notícia de que, na vitrine da Loja Nova,
situada à rua 15 de novembro, nº 9, em São Vicente, achava-se em exposição o
retrato do capitão Luiz Horneaux, saudoso ex-presidente do club náutico de São
Vicente.
Diz o jornal: “Esse
trabalho, que é um primor, foi executado pelo Sr. Segismundo Maciel, e será
ofertado ao Tumyarú pelos seus sócios.”[xvi] O capitão Luiz Horneaux
havia sido recentemente eleito Presidente do Club de Regatas Tumyarú, quando
veio a falecer em 24 de abril de 1920.
Em 1958, outra obra de
Segismundo Maciel, um retrato a crayon do pintor itahaense Benedito Calixto de
Jesus, foi afixado no Grupo Escolar que leva o seu nome, em Itahaem, Estado de
São Paulo. O retrato fora conseguido pela diretora D. Eugênia Pita Rangel
Veloso, por intermédio de d. Carolina Balio.[xvii]
Segismundo Maciel jovem. Foto: acervo de Lygia Maciel |
Victrola Orthophônica Granada_1926. |
Anúncio da CASA EDSON |
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NOTA:
Caro leitor,
Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E
LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes.
Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta
documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão,
solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer
trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo
também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é
correto e justo.
Tratamento de imagens: Vívia Rodrigues Amorim.
[i]
Correio Paulistano, São Paulo-SP, 9 de
março de 1913.
[ii]
Diário de Pernambuco, 11 de novembro de 1916.
[iii]
Em 1925, a Victor Talking
Machine Company, nos EUA, introduz no mercado o sistema “ortofônico”. Era uma
avançada tecnologia em reprodução sonora consistindo na substituição dos
antigos diafragmas com membranas de mica, por um material de maior resiliência,
como o Alumínio. No setor de amplificação os aparelhos apesar de serem ainda de
origem acústica usavam agora da chamada corneta dobrada exponencial. Estas inovações
aliadas ao aparecimento das primeiras gravações elétricas permitiam que os
aparelhos tivessem uma excepcional qualidade de som para a época. Entretanto, a
fase áurea dos aparelhos reprodutores de origem mecâno-acústica chega ao fim a
partir do aparecimento das gravações de alta qualidade devido às novas
exigências do cinema falado, uma conseqüência direta da amplificação valvulada.
Fonte: DO GRAMOFONE À VICTROLA ORTOFÔNICA.
http://www.fazano.pro.br/port139.html.
[iv]
Francisco Antônio de Almeida Morato (Piracicaba 17/10/1868-São Paulo
12/05/1948), fundador e primeiro presidente da Órdem dos Advogados do Brasil em
São Paulo.
[v]
Diário Nacional, São Paulo-SP, 31 de agosto de 1932.
[vi]
MMDC = Mário Martins de Almeida, Euclides Miragaia, Dráusio Marcondes de Sousa
e Antônio Américo Camargo de Andrade.
[vii]
Dr. José Monteiro. Foi prefeito de São Vicente nos períodos: 10/04/1931 a
19/05/1938 - 01/01/1948 a 31/12/1951.
[viii]
Eduardo Vítor de Freitas nasceu em São Vicente-SP a 12 de abril de 1865, filho
de Adolfo Gonçalves de Freitas e Carolina do Espírito Santo Peres. Foi casado
com Amância Gonçalves em em 25 de novembro de 1882, na matriz de São Vicente.
Faleceu em São vicente a 3 de julho de 1956.
[ix]
A Tribuna, Santos-SP, 3 de março de 1968.
[x]
Gazeta Popular, Santos-SP, 13 de fevereiro de 1933.
[xi]
Henrique Soler era, à época, Provedor da Irmandade da Santa Casa de
Misericórdia de Santos.
[xii]
Fausto de Oliveira era, à época, Mordomo-Geral da Santa Casa de Misericórdia de
Santos.
[xiii]
José Rittes Filho, médico e membro do Diretório do Partido Republicano em
Santos.
[xiv]
José Goulart Penteado, médico-cirurgião.
[xv]
Paulo Antunes Azevedo, médico, integrante do Serviço de Combate à
Esquistossomose em Santos.
[xvi]
Gazeta do Povo, Santos-SP, 30 de agosto de 1920.
[xvii]
A Tribuna, Santos-SP, 28 de setembro de 1958.
Mais um importante legado histórico disponibilizado pelo autor Etevaldo sobre nossos ilustres conterrâneos, com a riqueza de detalhes, fatos e diversos personagens. Muito bom
ResponderExcluirParabéns, Etevaldo, gostei muitíssimo do seu blog, muita informação precisa e correta. Lamentei, apenas, não ter tido conhecimento antes de publicar o meu livro sobre a nossa família, sob a descendência de Dona Sinhazinha, minha vó. Sou filha de Fernando Mendonça, me chamo Maria America. Para algum contato: maregehr39@gmail.com.
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