sábado, 4 de janeiro de 2025

UM AÇUDE PARA JACARÉ

 

Por Etevaldo Amorim

 

Jacaré dos Homens, antigo Distrito do município de Pão de Açúcar.

Lá pelos idos de 1884, a denominação de Jacaré, importante povoação pertencente ao município de Pão de Açúcar, se alternava entre "Santo Antônio do Jacaré" e "Jacaré dos Homens". 


O primeiro nome está relacionado ao seu padroeiro, Santo Antônio de Pádua, santo português nascido em Lisboa no ano de 1.195 e falecido em 1.231. O segundo, dizem que provém do caráter do seu povo. Os jacarezeiros (produtores e comerciantes), em suas transações na praça do Penedo, eram reconhecidos como "homens de palavra", fiéis aos seus compromissos. Assim, ao se referirem ao seu local de origem, os penedenses tratavam o lugar como Jacaré "DOS HOMENS".


Elevado à categoria de Vila por força da Lei 1.473, de 17 de setembro de 1949, o Distrito de Jacaré dos Homens (que antes fazia parte do Distrito de Limoeiro) alcançou autonomia administrativa através da Lei 2.073, de 9 de novembro de 1957, sendo instalado oficialmente como município em 1° de janeiro de 1959, desmembrado do território de Pão de Açúcar.


Sua vocação para a produção agropecuária, afirmando-se como grande produtor de leite e seus derivados, foi-se consolidando a ponto de surgirem as primeiras reivindicações de melhoramentos por parte do Poder Público, culminando com sua independência político-administrativa. Exemplo disso é uma nota publicada no jornal Diário da Manhã, do Recife, transcrevendo o Jornal de Alagoas, em 21 de julho de 1934, intitulada


UM APELO DO SR. OSWALDO SOUTO.[i]


“No município de Pão de Açúcar, a 7 léguas das águas do São Francisco, Jacaré dos Homens é uma localidade atraente pela sua posição e habitada por um povo hospitaleiro e trabalhador, resistente às intempéries.

Terra, pelas invernias, fecunda e rica, com as possibilidades de tudo produzir, Jacaré dos Homens tem em suas lavouras de algodão e cereais, em seus negócios de peles e couros, em seu criatório e em sua desenvolvida e largamente conhecida indústria de queijos, a base de sua intensa prosperidade. Ali a audácia do homem é um desafio à natureza. Sobram-lhe vigor de saúde e a fortaleza de ânimo para a terrível luta pela vida, sem arredar o pé do seu torrão. Descendentes dos antigos Trapiazeiros, a gente dali herdou-lhe a inteireza do caráter e a bravura pessoal que a faz respeitada.


Está, pois, a merecer as vistas do governo este trecho sertanejo a que eu, também sertanejo, dedico uma admiração sincera.


É agora o momento de ser proporcionado a essa localidade o maior serviço que se lhe poderá prestar: um açude.


O eminente Dr. Osman Loureiro, que vem se interessando pela açudagem no Estado, poderá agir com a sua força de governo no sentido de obter do Ministério da Viação, como obteve para a fazenda Coruripe, em Palmeira dos Índios, um açude para Jacaré dos Homens, e, se o fizesse, o povo daquela terra não deixaria em olvido o seu nome e a sua benemerência.


Eu olho com admiração aquela terra. E como a desejo grande e forte, deixo nestas linhas, em nome de todos que lá vivem, esse apelo ao chefe do Governo de Alagoas, tudo empenhando para que Jacaré dos Homens seja altiva e rica com a força de seus próprios recursos.”


Não se sabe se por consequência direta desse apelo do Sr. Oswaldo, mas fato é que, em 1936, já tramitava na Assembleia Legislativa, o Projeto de Lei nº 87, que “Autoriza o governador a mandar construir um açude em Jacaré dos Homens...”[ii].



__

NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.


[i] OSWALDO SOUTO DA ROCHA.  Filho de Izidoro Jerônimo da Rocha (que dá nome ao município de Major Izidoro) e de Maria Umbelina de Mello Souto (segundo casamento, filha de Manoel Lourenço de Mello Souto e de Antônia Rodrigues da Conceição). Nasceu em Santana do Ipanema-AL, no dia 21 de setembro de 1905. Casado com Josefa Moura da Rocha.

Era funcionário do IPASE - Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado.

Em 1934, foi nomeado para Agente e Correspondente do jornal carioca Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, 12/10/1934.

Em janeiro de 1948, foi eleito vereador em Maceió pelo Partido Republicano.

 [ii] Diário da Manhã, 24 de maio de 1936.

Um comentário:

  1. Obras de suma importância, a construção de açudes em vários municípios de nosso Estado foi um dos grandes acertos do Poder Público. Pena que a décadas essa necessidade básica de armazenagem e controle de águas deixou de ser realizada.

    ResponderExcluir

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

PUBLICAÇÕES
Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia