sexta-feira, julho 25

PERSONALIDADES PÃO-DE-AÇUCARENSES - ZALUAR SANT’ANA

 

Por Etevaldo Amorim

 

Zaluar Sant'Ana. Foto: acervo Lygia Mendonça.

No rol das personalidades pão-de-açucarenses, há aqueles que são natos e que desenvolvem suas vidas na terra natal; há aqueles que são de fora e se integram àquela sociedade; e há aqueles que ali nascem, mas logo deixam a terra demandando outras plagas.


Zaluar Sant’Ana é um desses. Filho de Francisco Sant’Ana e Silvina Virgínia de Sant’Ana, ambos pão-de-açucarenses, MANOEL ZALUAR DE SANT’ANA nasceu em Pão de Açúcar no dia 29 de novembro de 1904, na então chamada Rua da Frente, atual Av. Ferreira de Novaes.


Segundo o saudoso professor Francisco Reynaldo Amorim de Barros, organizador do ABC DAS ALAGOAS, em 1905 Zaluar é levado a viver no Rio de Janeiro, “mas logo depois sua família volta a viver em Maceió”.


Em 1909, com cinco anos de idade, ingressa na Escola de D. Mocinha Buarque, que funcionava na Praça Floriano Peixoto (Martírios). Em seguida – continua o professor Reynaldo - passa a morar em Aracaju, lugar onde seu pai, um adepto dos Maltas, escolheu para morar, enquanto esperava serenar os acontecimentos que levaram à queda de Euclides Malta. De volta a Maceió, passa a estudar no Instituto Benjamin Constant.


Em 1914, muda-se para Quebrangulo, onde seu pai resolvera ser agricultor. Porém, em 1918, já está vivendo em Rio Largo, estuda no Instituto Nilo Peçanha e é um dos fundadores da Sociedade Lítero-Musical Sete de Setembro.”


“Trabalhou no jornal oficioso A TRIBUNA, do qual se tornou gerente do periódico, transformado em Diário Oficial em 1912. Fez parte da orquestra de cinema ODEON.


Sua família volta a viver em Paulo Jacinto, entre 1920 e 1922, quando seu pai resolve se estabelecer novamente em Maceió.


Começa, então, sua fase de aprendizagem de pintura. E, logo depois, vende o seu primeiro quadro, por meio da Casa Mercúrio, especializada em molduras, vidros e estampas.


Em 1926, na quinta mostra da qual participou, vende alguns quadros, o que possibilitou sua viagem ao Rio de Janeiro, para melhor conhecer a obra e técnica de alguns pintores da capital federal, como Marques Júnior e Antônio Parreiras, além de visitar diversas exposições, entre as quais a retrospectiva de Batista da Costa. Em novembro desse mesmo ano, já está de regresso a Maceió.”


Em 3 de maio de 1930, expôs quarenta quadros no Cinema Capitólio, “reproduzindo trechos magníficos e empolgantes dos deslumbradores cenários alagoanos”, diz a reportagem do Diário de Pernambuco, do dia 10 daquele mês e ano.


Em novembro de 1930, participou da grande exposição de pintores alagoanos chamada “Semana das Cores”, promovida pela Academia Guimarães Passos.


 

Zaluar Santana expondo seus quadros no Rio de Janeiro. Foto: revista Fon-Fon, RJ, 18.10.1930, p. 38.


Foi nomeado, em 22 de maio de 1933, após aprovado em concurso, para o serviço público, como Estatístico Demógrafo-Sanitário, no qual se aposentou em 16 de abril de 1959.

 

 Aldemar de Mendonça, ao se referir a ele, cita matéria publicada na Gazeta de Alagoas de 7 de abril de 1974, pelo jornalista Álvaro Antônio Melo Machado:


“Zaluar Santana é mais um pão-de-açucarense que integra a galeria dos vultos ilustres da terra, posição altamente merecida pelo invejável talento de saber pintar bem, de que é possuidor.

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Ainda rapazinho trabalhou como Guarda Fiscal, no Governo Costa Rego e em 1928 dedicava-se oficialmente á sua verdadeira vocação, trabalhando como desenhista e cartógrafo do então Serviço de Profilaxia Rural.


Zaluar não sabe e nem avalia quantos quadros pintou até hoje, mas destaca alguns referentes a sua terra natal, que são de uma perfeição magnífica, talvez, fruto do amor que o pintor devota a Pão de Açúcar. São eles: “Casinha rústica”, “Tarde Sertaneja” e “Craibeiras Engalanadas”, além de outros. Suas obras estão espalhadas por todo o Brasil, fixadas em academias e nas mãos de famosos colecionadores.


Tem feito diversas exposições individuais e coletivas, nas principais cidades brasileiras. Ainda este mês Zaluar vai expor cerca de trinta quadros a óleo e guache em Brasília, vários dos quais já se encontram na capital federal. Logo após, partirá para uma nova exposição em Aracaju.


O que chama mais atenção nos seus quadros é, sem dúvidas, a arte de projetar luz e sombras nas cenas por ele retratadas.


Ele continua a integrar, orgulhosamente, a galeria dos filhos ilustres de Pão de Açúcar. Breve se tornará um imortal dela e será sempre lembrado pelas gerações futuras de sua terra querida”.

 

Fonte: ABC das Alagoas. BARROS, Francisco Reynaldo Amorim de.


Zaluar Santana. Foto: Diário de Pernambuco, 28.06.1935.


Tela SERRA DA BARRIGA, de Zaluar Sant'Ana.

Zaluar diante de alguns dos seus quadros.


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Zaluar casou-se em Maceió, a 14 de março de 1931, com Marina Lobo Medeiros de Sant’Anna, com quem teve os filhos: Maidir, Milton, Moema, Mário, Marluce, Marcelo, Murilo e Moacyr. Este último, o conhecidíssimo professor Moacyr Medeiros de Sant’Anna, pesquisador, escritor, e que foi por muitos anos Diretor do Arquivo Público de Alagoas.

 

Já contava 93 anos de idade, quando faleceu às 5:20h do dia 13 de janeiro de 1998, na Santa Casa de Misericórdia de Maceió. Residia na Rua Prof. Lavenère Machado, 468, no baixo Trapiche da Barra.


Zaluar Sant'Ana foi também músico. Aprendeu a tocar violino com o seu conterrâneo pão-de-açucarense Américo Castro Barbosa, irmão do Mestre Nozinho.


A Orquestra de Cordas Paganini com Zaluar ao centro, em 1963.


É patrono da Cadeira 26 da Academia Arapiraquense de Letras e Artes.


Fonte: SANT'ANA, Moacir Medeiros de. ZALUAR, UM HOMEM DE MUITAS ARTES. Sergasa, 1987.


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NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo. Tratamento de imagem: Vívia Amorim.

Um comentário:

  1. Célebre pintor. Mais uma bela homenagem e um resgate desse valoroso conterrâneo.

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia