Por Etevaldo Amorim
Ele retratou, com traços precisos e
inconfundíveis, o período de transição política do Império para a República. Na revista Vida
Fluminense, da qual foi um dos
fundadores, e ao lado de caricaturistas famosos como Vale[i] e Hilarião Teixeira[ii], tratados como “redatores
artísticos”, ele nos legou a
imagem fiel dos embates políticos que se travavam no Brasil daquela época e o
retrato de muitas personalidades que fizeram a história do Brasil. A pintura,
na qual se destacou em grande estilo, também era um talento revelado desde a
infância. Era um desenhista nato. “Em Teixeira
da Rocha, o desenho era a linha mestra sobre a qual repousava o edifício da sua
pintura”.[iii]
Manoel Teixeira da Rocha. Foto:
Revista da Semana, Ano XLII, nº 18, 3 de maio de 1941.
Manoel Teixeira da Rocha nasceu em São Miguel
dos Campos a 15 de outubro de 1863, filho de Pedro Teixeira da Rocha e de Maria Rosa de
Jesus Rocha, ambos professores naquela pequena localidade alagoana. Eram seus
avós paternos major Manoel Casimiro da
Rocha e Joanna Maria da Conceição Rocha.
Teixeira da Rocha faleceu no Rio de Janeiro em 18 de abril de 1941.
Ainda criança, em 1870,
órfão de pai, foi com a família para o Rio de Janeiro. Lá, sob a proteção do
tio, o futuro Barão de Maceió (Dr. Antônio Teixeira da Rocha, professor da
Faculdade de Medicina), ingressou, em 1878, no Lyceu de Artes e Ofícios e, em
1881, na Imperial Academia de Belas Artes, onde teve aulas de Victor Meireles e
José Maria de Medeiros. Sobre essa sua época de Academia, disse Escragnolle
Dória, na Revista da Semana de 3 de maio de 1941: “Em todos os estabelecimentos de ensino há duas espécies de alunos: os
que se matriculam por se matricular, e os que o fazem para estudar. A esta
classe pertenceu sempre Teixeira da Rocha”.
Sua
primeira exposição ocorreu em 1884 e, já em 1887, concorreu ao prêmio de
viagem, ao lado de Oscar Pereira da Silva, Hilarião Teixeira, Pinto Bandeira e
Eduardo de Sá. Nesse concurso, os cinco candidatos finalizaram empatados. Só em
1900 foi que Teixeira da Rocha viajou, a suas próprias custas, para Paris, onde
estudou com Jean-Paul Laurens e Benjamin Constant. Tornou-se, como tantos
outros artistas brasileiros, bolsista do Imperador D. Pedro II.
Em
1888, segundo o Diário de Belém, de 13 de julho de 1888, foi nomeado Auxiliar
Interino de Desenho Topográfico e de Marinha da Escola Naval, e, em 1891, foi
nomeado Professor de Desenho Linear da Companhia de Aprendizes Artífices do
Arsenal de Guerra da Capital, conforme o jornal O Brasil, de16-17 de fevereiro
de 1891. Nessa ocasião, dirigiu-se ao Imperador e pediu para suspender o seu
auxílio. O bondoso monarca ainda o aconselhou a continuar recebendo por algum
tempo, mas, ante a peremptória recusa do beneficiado, atendeu ao seu pedido.
Durante
a Exposição Universal de Paris de 1889, contando 26 anos de idade, Teixeira da
Rocha recebeu medalha de ouro – a distinção mais elevada recebida por um
brasileiro em eventos internacionais até aquela época. No Salão de 1898,
recebeu também uma medalha de ouro de terceira classe, por seu esboço “A Lei de
28 de setembro” e um grupo de paisagens.
Em 1891, casa-se
com Maria Luiza de Albuquerque Palhares (Filha de Maria de Albuquerque Palhares,
falecida em 1912. Fonte: O Apóstolo, 10 de abril de 1891, p. 3), com quem teve os filhos
Armando, Renato (casado com Adelina Pette Ciuffo), Laura (casada com Almério
Pinto de Albuquerque), Osvaldo (que se tornaria também pintor), Manoel, Odete
(casada com Luiz Santos) e Hilda (casada com o Dr. Alberto Francisco Canejo).
As duas eram exímias pianistas. A primeira, tornou-se professora de música, e a
segunda, formada no Instituto Nacional de Música, era artista muito requisitada
nos eventos da sociedade carioca de então.
Hilda Teixeira da Rocha,
pianista, filha de Teixeira da Rocha. Foto: revista Careta, ano XV, nº 708, 14
de janeiro de 1922.
Durante a Exposição da
Escola de Belas Artes de 1899, Teixeira da Rocha concorreu ao prêmio de viagem
à Europa, mas não conseguiu por ter excedido da idade máxima permitida pelo
Regulamento. Então, o Dr. João do Rego Barros ofereceu-lhe a viagem, conforme registra
a Revista
A Estação, Ano XXVIII, nº 24, Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1899, p. 14.
Foi
assim que, afirmando uma significativa interação entre artistas brasileiros e
portugueses, o caricaturista Julião Machado (Luanda, 1863 – Lisboa,1930) escreve
esta carta para Rafael Bordalo Pinheiro (Lisboa, 1846 – Lisboa, 1905),
recomendando Teixeira da Rocha:
“Segue neste vapor
para Paris (creio que com alguma demora em Lisboa) o Teixeira da Rocha, um
artista brasileiro muito consciencioso que vai ser subsidiado pelo Rego Barros.
É de supor que este o procure e então melhor do que por mim saberá notícias
daqui. Este tenciona demorar-se na Europa dois anos e eu espero bem, (porque
sei de quanto são capazes a sua força de vontade e a sua excelente aptidão que
esta viagem há de fazer deste um artista notável (...). Não ocuparia a sua atenção
com o Teixeira da Rocha que o meu querido amigo aqui conheceu desta vez se este,
além ser um valente carácter de homem e de amigo, não fosse um verdadeiro
artista, já muito conceituado por cá. Além de tudo isto, creio que não lhe será
desagradável a si, ter o ensejo de, com a sua tão generosa afabilidade, e com
os seus preciosíssimos conselhos, animar um artista brasileiro que vai a Europa
pela primeira vez e que – naturalmente – lutará com o tédio e talvez com o desalento.
”
[i]
Conquistou a Medalha de Ouro
na Exposição da Academia, com seu quadro A Horta. Esse quadro, lamentavelmente,
desapareceu. Confiando-o ao uma comissão de artistas franceses que visitava o
Brasil, e autorizando que eles o expusessem em Paris, nunca mais soube notícias
dele. Nem mesmo quando foi, pessoalmente procura-lo na Cidade Luz.
Além da sua participação na
revista Vida Fluminense, atuou também no Monóculo e na publicação
especializada, fundada e dirigida por Alvarenga Fonseca, a Revista Theatral,
quem tinha também como ilustradores: Bento Barbosa, Pereira Neto, Ricardo
Casanova, Helios Seelinger e Julião Machado. Em 1907, publicou charges e
composições satíricas na revista Tan-Tan. Sua assinatura variava entre o
“Teixeira da Rocha”, “Txrª da Rocha” ou simplesmente as iniciais “T. R”.
[i]
Oitocentos, Intercâmbios culturais entre Brasil e Portugal, de Arthur Valle,
Camila Dazzi e Isabel Portella. 2ª edição, CEFET/RJ, 2014.
Charge de Teixeira da Rocha ilustrando o
episódio da prisão e ferimento do Barão de Ladário, Ministro da Marinha do
Império. Vida Fluminense, de 17 de novembro de 1889.
Capa
da revista Fida Fluminense com o Dr. Cesário Alvim, Ministro do Interior, o
bisavô (mineiro) de Chico Buarque de Holanda por parte de sua mãe (Maria Amélia
Cesário Alvim Buarque de Holanda).
Outra capa da Vida Fluminense, de 8 de
fevereiro de 1890, com o Senador Francisco Glycério (1846-19160, Ministro dos
Transportes e da Agricultura de 1890 A 1891.
Teixeira da Rocha, conhecido
no meio artístico por “Rochão”, numa alusão ao seu porte físico avantajado
(1,90 m de altura)[i],
tinha, como traço marcante do seu caráter, a independência. “Não se escondia
para dizer nem para manifestar sentimentos. O que estava no coração lhe via à
boca, em louvor merecido ou condenação rude. ”, disse Escragnolle Dória.
Aqui uma capa da mesma revista, de 2 de
janeiro de 1890, homenageando a Imperatriz Tereza Cristina, pouco depois do seu
falecimento, no Porto (Portugal), em 18/12/1889.
O alagoano Ladislau Netto, retratado por
Teixeira da rocha na Vida Fluminense, Ano II, Nº 18, 18 de janeiro de 1890.
Suas obras mais conhecidas são: A Horta, Praia de Santa Luzia, Pescaria, Costura, Aula à Note, Paisagem de Petrópolis, Fundos do Arsenal de Guerra, Abolição da Escravatura e Vista de Copacabana; além de Interior de Paris e Rio Sena.
A Lavadeira.
A Carta.
A Leitura.
Cabeça de velho.
Castelânea, Petrópolis.
Chácara, 1897.
Quadro de Teixeira da Rocha.
Pescaria, 1900.
Casas com riacho.
Natureza morta, Pêras.
Modelo de academia.
Minha família, 1899.
Paisagem,
Paris, 1902. Quadro de Teixeira da Rocha
Retrato de um pintor brasileiro,
1886. Quadro de Teixeira da Rocha.
Sagrada missão, 1900.
Vista da Quinta da Boa Vista,
1906. Quadro de Teixeira da Rocha.
[i]
Don Quixote (publicação de Ângelo Agostini), Ano V, nº 95, 23 de setembro de
1899, p. 3.
[i]
Antônio Alves do Vale de Sousa Pinto, português, nasceu em 1846 e veio para o
Brasil em 1859. Era paisagista, retratista, desenhista, caricaturista,
litógrafo e irmão do pintor português José Júlio Sousa Pinto. Fonte: Angelo
Agostini: crítica de arte, política e cultura no Brasil do Segundo Reinado (em
inglês, p. 236) ROSANGELA DE JESUS SILVA.
[ii]
Pintor, desenhista e caricaturista,
Francisco Hilarião Teixeira
da Silva, nasceu em 1860 em Santana de Pirapitinga, MG, e faleceu em Campos,
RJ, em 1952. Fonte: Um Século de Pintura, de Laudelino Freire.
[iii]
Tapajoz Gomes, “Artistas de Outros Tempos”, revista Ilustração Brasileira, Ano
XXI, nº 99, Rio de Janeiro, julho de 1943, p. 38.
olá,
ResponderExcluircom sua ajuda (via google) fiz esse post,
obrigado
http://agaqueretro.blogspot.com.br/2017/02/fundou-revistas-illustradas-em-sp-e-no.html