Por Etevaldo
Amorim
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Adalberto Marroquim_foto_DIÁRIO DA NOITE-RJ, 01.05.1930. |
Procedente da região de
Palmares, com raízes familiares nos Engenhos de Açúcar de Campos Frios, povoado
de Água Preta, esse pernambucano, por sua atuação no campo das letras e da política,
vincularia definitivamente a sua vida ao vizinho Estado do Sul.
ADALBERTO AFFONSO MARROQUIM,
era filho de Francisco Affonso Marroquim e de Sebastiana Maria da Conceição
Areda. Nasceu no dia 12 de setembro de 1888. Seu pai, cujo nome de batismo era
Francisco Correa de Almeida, era sócio de Cândido gonçalves Ferreira Cascão na propriedade da Usina Pirangy Assu, no Município de Palmares, Pernambuco, e do Engenho Pirajá, distrito de Campos Frios, Água Preta. Seus avós paternos era Herculano Antônio José Marroquim e Francisca Correa de Almeida, falecida a 14 de setembro de 1900, em Água Preta, aos 90 anos de idade.[ii].
Depois de prestar os exames
preparatórios no Ginásio Pernambucano, ele ingressou na Faculdade de Direito do
Recife em 1908, para se formar em 1911, juntamente com Bráulio Cavalcante e
Pontes de Miranda. Talvez por ser colega desses dois alagoanos ilustres, já
visitava Alagoas ainda nos tempos da academia. Há um registro de sua visita à
redação do jornal Gutenberg, em 2 de julho de 1909.
Casou-se com Olívia La Greca,
natural de Pernambuco, mas filha do casal italiano Vicenzo La Greca e Teresa
Carlomagno, que veio para o Brasil no final do Século XIX, quando a Itália
atravessava sérias crises. Era irmã do banqueiro José La Greca e do pintor Murillo
La Greca, cujo nome de batismo era Vicente. Com ela teve os filhos: Francisco
La Greca Marroquim, que se tornaria médico conceituado em Pernambuco; Nicaula
La Greca Marroquim e Maria Helena La Greca Marroquim.
Em 17 de setembro de
1910, e, portanto, antes de se formar, assumiu interinamente o cargo de
Promotor Público da Comarca de Palmares, Pernambuco.[iii]
Em 1915, já exercia a
advocacia em Maceió, onde também ocupou o cargo de Fiscal Municipal junto à
Companhia de Bondes Elétricos. Ficou famosa a sua atuação no caso de Cândida Mendonça
Malheiros, de 22 anos, acusada de autoria intelectual do assassinato de
Marietta Cunha, de apenas dezesseis anos, suposta amante de seu marido, o
comerciante Manoel Malheiros. Marroquim conseguiu a absolvição de sua cliente,
não obstante a grande repercussão do crime, ocorrido entre Bebedouro e Fernão
Velho. Segundo o jornal O Pharol, de Juiz de Fora-MG (9 de novembro de 1915),
os executores do crime aplicaram à vítima mais de vinte punhaladas, tendo ainda
cortado suas orelhas, os cabelos e a língua, levando como prova para a
mandante.
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Adalberto Marroquim ao lago de Fernandes Lima e a filha deste_A Notícia_Bahia_23.04.1915. |
Em 1919, Marroquim
participou do Congresso Brasileiro de Geografia, realizado em Belo Horizonte,
em companhia de Moreira e Silve e Diegues Júnior. Chegaram a Maceió a 22 de
outubro de 1919. Coincidentemente, neste mesmo navio viajava a urna mortuária
do escritor maranhense Aluísio de Azevedo, que falecera seis anos antes em
Buenos Aires, para ser sepultado em sua terra natal, por sugestão de Coelho
Neto. O governador de Alagoas o visitou no cais de Jaraguá.[iv]
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O livro Terra das Alagoas, organizado por Ad. Marroquim. |
A 19 de fevereiro de
1922, embarca no vapor Itaúba com destino ao Rio de Janeiro para, de lá,
embarcar para a Itália,[v] com a missão de mandar
imprimir o livro Terra das Alagoas.[vi] Tal publicação fazia
parte das comemorações, em Alagoas, do Centenário da Independência do Brasil. Em
setembro, ainda permanecia na Itália, o que provocou críticas no jornal Gazeta
de Alagoas. Tanto que, em carta publicada no mesmo jornal, no dia 10 daquele mês,
carta essa replicada no Jornal do Recife, de 16 de setembro de 1922, pelo poeta
Jayme d’ Altavilla procura justificar a demora na confecção do precioso livro. Esclareceu
que o organizador da obra, ao chegar a Roma, “Marroquim teve de enfrentar não
poucas dificuldades, oriundas da exorbitância dos preços das casas editoriais,
tendo somente em maio deste ano, conseguido firmar contrato com a grande
empresa Maglione & Cia.” Ademais, tratando-se de uma obra com mais de 300
páginas, 470 clichés esparsos, outros 30 em fototipia, capa em percalina com
tricromia e ouro, não poderia ficar pronta em menos de quatro meses.
Afinal, demorou-se em Roma
até o ano de 1923, (jornal do Recife, 17 de fevereiro de 1923), desembarcando
do vapor inglês Almanzora, no dia 16 de fevereiro de 1923, vindo de Lisboa. No
dia 20, chegou a Maceió e, de imediato, foi a Riacho Doce, oferecer um exemplar
ao Governador Fernandes Lima.
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Adalberto Marroquim_foto_Jornal do Recife
_18.02.1923_recém-chegado da Itália. |
No Governo de Costa Rego
(1924-1928), ocupou os cargos de Administrador da Recebedoria Central e Diretor
da Instrução Pública, nomeado no dia 23 de junho de 1924.
A 29 de agosto de 1926,
foi nomeado para a Serventia Vitalícia Privativa de Registro de Imóveis e
Hipotecas de Maceió, após pedir dispensa da Recebedoria da Capital.[vii]
Foi indicado e eleito
para o cargo de vice-governador, tendo como cabeça de chapa o Dr. Álvaro Paes,
para o período de 12 de junho de 1928 a 12 de junho de 1932. Em eleição
realizada o dia 12 de março de 1928, foi eleito Vice-governador. Ele já tinha sido eleito Deputado Estadual
nas legislaturas 1917-18 (eleito com 7.915 votos); 19-20 (com 6.386 votos);
21-22 e 23-24.[viii]
A 2 de agosto de 1929,
participa de reunião da Comissão Executiva do Partido Democrata em Alagoas,
presidida pelo Gov. Álvaro Paes, aprovam Moção de apoio às candidaturas de
Júlio Prestes e Vital Soares para Presidente e Vice-Presidente da República.
Nesse mesmo ano, torna-se presidente da Sociedade Alagoana de Educação.
Nesse mesmo ano, segundo
notícia do jornal Diário Carioca (4 de abril de 1929, p. 3), o Vice-Governador
depôs o Prefeito de Leopoldina (Colônia Leopoldina), Sr. Aristeu Ramos. Este,
na imprensa pernambucana, vocifera contra o ato considerado por ele arbitrário.
Outro episódio em que também se achou envolvido foi o empastelamento da revista
penedense A Semana.
Em 11 de abril de 1930,
deixa o cargo de Secretário do Interior no governo Álvaro Paes. Na verdade, o
Congresso Estadual decretou a perda do seu mandato. Os jornais da época
comentavam que tal se deu a pedido do Governador Álvaro Paes e pelo fato de
Marroquim se ter negado a dar assinatura a uma nomeação de um seu desafeto para
professor do Liceu Alagoano.
Com o advento da
Revolução de 1930, o Interventor Federal em Alagoas, Hermilo de Freitas Melro,
determinou a sua prisão. Em inquérito instaurado pela autoridade
revolucionária, depuseram contra ele os tenentes Panaleão Netto e o chouffer
Hegecipo Caldas. Inicialmente levado para o Quartel da Polícia Militar, foi
depois transferido para a sua residência. Libertado, retorna a
Pernambuco e, em 1938, no Governo de Carlos de Lima Cavalcanti, exerceu o cargo
de Diretor do Tesouro. Logo depois foi nomeado Consultor Jurídico da Caixa
Econômica Federal.
Faleceu às 10:00 horas do
dia 10 de novembro de 1940, em sua residência, à Rua dos Caldeireiros, 1916, no
bairro Casa Forte, no Recife, com 52 anos de idade, quando era
Diretor-Secretário da Junta Comercial. Foi sepultado no dia seguinte às 15:00
horas no Cemitério de Santo Amaro, na capital pernambucana.
Para homenageá-lo, logradouros
das duas capitais nordestinas aonde ele viveu receberam o nome do Dr. Adalberto
Marroquim. No Recife, no bairro da Imbiribeira e, em Maceió, no bairro do
Farol. Há também uma Escola Estadual em Batalha com o nome do Dr. Adalberto
Marroquim.
Ad. Marroquim foi autor de
peças de teatro, como é o caso de “Madrasta”, apresentada no Teatro Deodoro em
11 de outubro de 1916 pela Cia. Maria de Castro, e da comédia “Passado que
volta”, apresentada pela Troupe Zorda e São Luiz do Maranhão (Pacotilha, 25 de
janeiro de 1919, p. 4).
Em 1919, a 16 de novembro,
em reunião na casa do pintor Correia Dias[ix], reúne-se com diversas
personalidades do mundo das letras e das artes para ler a sua peça sertaneja
“Maria Rosa”. São dele essas obras: “Maceió Civiliza-se”; “À Espera da Missa”;
(Repositório de Informações sobre o Estado) e a opereta “A Mais Bela”.
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Adalberto Marroquim_Foto Bahia Illustrada_Ano III_18_1919. |
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Em 16 de novembro de
1919, na casa do pintor Correia Dias, onde leu a sua peça sertaneja “Maria
Rosa”, Adalberto Marroquim, sentado ao centro, entre os Srs. Alberto Deodato e
Correia Dias. De pé, da esquerda para a direita: Oliveira e Silva, Vieira da
Cunha, Bráulio Vieira, Gustavo Barroso (João do Norte). O Malho, RJ, Ano XIX,
nº 898, 29 de novembro de 1919, p. 31.
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SONETO
AD. MARROQUIM
Embaraçado
nos meus vinte e um anos,
Nos
vinte e um dias dessa indefinida
Teia
de dores transcendente – a vida,
Tecendo
enganos, destecendo enganos!
Alma
tateante, incerta, confundida
No
turbilhão de humanos – desumanos,
Tantalizada
pelos desenganos,
De
agonias mortíferas transida.
Como
que ao longe uns vultos solitários,
Negrejando
na sobra extraordinários
Através
do meu censo descortino
Vejo-os,
vem vindo, nítidos, perfeitos,
Figurar
espectrais, sonhos desfeitos
Todos
velando sobre o meu destino.
Publicado no Gutenberg,
Maceió, 14 de agosto de 1909, p.2.
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M. LaGreca e sua aquarela representando uma canoa de tolda no rio S. Francisco. |
[i] Falecido a 30 de setembro de 1908, com 52 anos de idade e filho de Antônio José Marroquim - falecido a 12 de março de 1881 - e de Anna Correa de Almeida, proprietários do Engenho Baité ou Bathé.
ii]
Francisca Correia de Almeida, prima em segundo grau de seu marido, era filha de
Manoel de Barros Lindoso e Costódia Correia de Almeida - donos do Engenho
Baeté, em Barreiros, Pernambuco, pelo menos até a segunda metade do século XIX
[iii]
Diário de Pernambuco, 7 de outubro de 1910.
[iv]
Correio da Manhã, 22 de outubro de 1919, p. 3.
[v]
O Paíz, 20 de fevereiro de 1922, p. 2.
[vi]
Jornal do Recife, 15 de janeiro de 1922, p. 4.
[vii]
Correio da Manhã, RJ, 31 de agosto de 1926, p. 7.
[viii]
Barros, José Reynaldo Amorim de. ABC DAS ALAGOAS.
[ix]
Fernando Correia Dias, artista plástico luso-brasileiro que se casaria, em
1922, com a poetisa Cecília Meireles, com que teve as filhas Maria Elvira,
Maria Matilde e a atriz Maria Fernanda.
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