sábado, 11 de janeiro de 2020

CÔNEGO OCTÁVIO COSTA


Por Etevaldo Amorim
O Cônego Octávio Costa. Foto: acervo
Aldemar de Mendonça.
De vida breve, mas intensa e produtiva, ele foi uma das expressões maiores do clero alagoano em sua época. Doutor em cânones[i] pela Catedral de Olinda, lente catedrático do Lyceu Alagoano, Vice-Reitor do Seminário de Olinda, Capelão do Asilo da Tamarineira, vigário de União (1896) e Jaraguá.[ii] Culminou com o posto de pároco da Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres, de 1899 a 1907 (em março de 1896 já regia a Paróquia no impedimento do titular)
Foi Capelão de diversas associações e confrarias, como, por exemplo, a Archiconfraria de Nossa Senhora das Victórias e a Venerável Confraria do Rosário.[iii] Foi também Mordomo da Irmandade do Senhor Santíssimo Sacramento e da do Livramento, Juiz da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário.
Criou a Sociedade São Vicente de Paula e, em 1904, a Sociedade Auxiliadora dos Cristãos, com o fim especial de enterrar os mortos desvalidos.  Foi ainda Presidente da Sociedade Gladientes.
Sua origem, pouco referida, foi na sertaneja Pão de Açúcar, então uma pequena Vila, situada na margem esquerda do Rio São Francisco. É que seu pai, o professor público José Casimiro da Costa[iv], homem de largo conhecimento e ilibada reputação, ali chegara a 8 de março de 1865 para lecionar em uma das Cadeiras criadas pelo Governo Provincial. No ano seguinte, a 1º de novembro, nascia o menino Octávio José de Farias Costa. Sua mãe, Antônia Rosa de Farias Costa, ao que tudo indica era de família pão-de-açucarense.
A Vila do Pão de Açúcar, 1869. Foto: Abílio Coutinho
Seus avós paternos eram: Félix José da Costa (falecido em Propriá - SE aos 96 anos de idade, no dia 19 de julho de 1905) e Delfina Maria da Conceição. Maternos, Antônio José de Farias e Maria Clara da Graça Farias.
Eram seus irmãos: Josefina Domitila de Farias Costa (casada com José Ovídio da Silva Braga), Clotildes Rosa de Farias Costa, Theodolinda Othilia de Farias Costa, José de Farias Costa, Delfina de Farias Costa, (também nascidos em Pão de Açúcar) e Maria Emilia da Costa Silveira (esposa de Manoel Macedo da Silveira), Felisbela Rosa de Farias Costa, e Antônio José de Farias Costa (casado com Maria Nunes Leite Costa), estes nascidos em Traipu.
Após os estudos secundários no Liceu Alagoano, em Maceió, seguiu para o Seminário de Olinda. Recebeu tonsura em 25 de maio de 1890, por D. Antônio Cândido de Alvarenga, bispo da Diocese do Maranhão, que se achava hospedado no Palácio da Soledade, da Arquidiocese de Olinda[v]. Em 21 de dezembro de 1892, na Matriz da Boa Vista, pelo Bispo Diocesano de Recife, recebeu a ordem de Presbítero.[vi] Tornou-se Cônego a 30 de maio de 1894.
Após longos dias de grave enfermidade, que o fez até mudar de ares transferindo rua residência para o Alto do Farol, faleceu no dia 23 de maio de 1907, sob a assistência do seu abnegado médico, o distinto Dr. Afrânio Jorge. Ocupava então o posto de vigário da Freguesia de N. S. dos Prazeres, tendo substituído o Cônego João Machado. Era também Senador Estadual e sócio do Instituto Arqueológico e Geográfico de Alagoas, do qual foi seu Tesoureiro. Escreveu: ELEMENTOS DA ARTE DA MÚSICA, Maceió, livraria Fonseca, 1904.
Na Catedral, onde foi velado, oficiaram-se as cerimônias da liturgia e rito católicos, pelo Bispo Diocesano. Ao seu sepultamento, realizado ao final da tarde do mesmo dia, acorreram cerca de cinco mil pessoas. Estiveram presentes os representantes de todas as entidades religiosas, o Governador do Estado e seus Secretários, seus Pares do Senado Estadual e da Câmara, além dos membros da imprensa.
À beira do túmulo, oraram os senhores Dr. Demócrito Gracindo, em nome do Corpo Docente do Ginásio Alagoano; o acadêmico Aurélio Jatubá, pela Sociedade Auxiliadora dos Cristãos; Senador Pedro Pacífico de Barros, pelo Senado Estadual; e o Cônego Machado de Melo, representando o Clero.[vii]
O seu falecimento, prematuro e profundamente sentido, foi noticiado por diversos órgãos da imprensa do país, a exemplo da revista O Malho (RJ, 6 de julho de 1907, p. 20) que estampou uma foto sua e a legenda:
“Estimadíssimo, a sua morte abriu um vácuo profundo no seio da sociedade que o conhecia e respeitava.”
O cônego Octávio Costa. Foto: O Malho,
Rio de Janeiro, 7 de julho de 1907.



[i] Antigo curso ou faculdade de teologia.
[ii] A União, RJ, 20 de outubro de 1921, p. 2.
[iii] O Malho, RJ, 6 de julho de 1907, p. 20.
[iv] Nascido em Propriá (SE) a 4 de março de 1842 (filho de Félix José da Costa, natural do Penedo e de Delfina Maria da Conceição, natural de Cedro-SE). O Capitão José Casimiro da Costa, que também chegou a compor o Conselho Municipal (cargo equivalente a Vereador) foi removido para Traipu no dia 20 de janeiro de 1876, “por conveniência do Serviço Público”. Na verdade, fora perseguido em virtude de suas posições políticas.  Faleceu em Maceió, a 6 de março de 1896, por volta das 3 1/2 da tarde, na sua residência na Rua Augusta.
[v] Diário de Pernambuco, 28 de maio de 1890.
[vi] Diário de Pernambuco, 20 de dezembro de 1892.
[vii] Gutenberg, Maceió, 24 de maio de 1907.

3 comentários:

  1. Muito grata pelo artigo sobre o cônego Octávio José Faria Costa! Trouxe novas informações sobre personagem tão interessante.

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  2. Muito bom, parabéns. Já esperando o próximo artigo.

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia