sexta-feira, 23 de setembro de 2022

A LIBERDADE DAS URNAS

 

Por Graciliano de Oliveira[i]

 Quando o povo odeia, o seu ódio é como as lavas dos vulcões, que ainda mesmo em contato com as mais possantes cachoeiras, não se apagam nunca. E quando o ódio do povo se deixa arrefecer, é para mais impetuoso ainda transformar-se em verdadeiras tempestades cívicas que, estremecendo as montanhas e fortalezas e transpondo diques criminosos, vão levando de arrasto o falso pedestal de misérias e bandalheiras, donde os desfalcadores das fortunas públicas mercadejam a honra nacional nas mesmas condições em que a adúltera mercadeja a honra sagrada do lar, ora estremecendo em mármores tumulares, ora assassinando honrosas tradições.

Vezes há em que esta tempestade passa, para depois transformar-se em desprezo público, que é o último punhado de areia que o povo joga sobre o túmulo dos fariseus, que, divorciados do povo, uma única esperança lhes resta e um único direito lhes assiste: caírem no abismo das decepções da vida e afogados ficarem através dos séculos e das gerações.

São fariseus estes que, antes de galgarem o poder, iludem a boa fé do povo com falsas promessas, para depois assumirem, cínica e impatrioticamente, o evangelho sagrado da liberdade republicana de 89!

São fariseus estes que chegam até a Alta Câmara do país e lá se conservam silenciosos durante todas as sessões legislativas, em cega obediência aos seus interesses pessoais, enquanto os problemas mais importantes da comunhão nacional são jogados na penumbra do esquecimento.

O comércio, a agricultura, a indústria, essas grandes fontes de receita e de riqueza do nosso pais, essas grandes forças do progresso brasileiro, além de esquecidas e desamparadas, cada vez mais são sobrecarregadas de impostos escandalosos pelos poderes da república!

São estes homens, que tão justamente respondem por tamanha calamidade, que ainda se aproximam do povo para mendigar-lhe um voto, ou à troca deste voto oferecer-lhe dinheiro!

Quanto isto é deprimente e afronta, ao mesmo tempo, os sentimentos cívicos da nossa gente!

O podo brasileiro que se não deixe iludir mais por estes milionários mendigos, cujo ouro azinhavrado está a oxidar o sentimento sagrado da liberdade nacional.

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 Transcrito do jornal O Índio, de Palmeira dos Índios, Estado de Alagoas, edição de 10 de fevereiro de 1924. Há 98 anos!



[i] GRACILIANO DE OLIVEIRA. Cirurgião-Dentista, formado pela Faculdade de Medicina da Bahia. Nasceu em Maceió a 12 de agosto de 1890. Filho do Major Anathólio  Adelino de Oliveira e de Theresa Maria de Jesus. Avós paternos: Manoel Pereira Baracho de Oliveira e Felismina Adelina de Morais. Avós maternos: João dos Santos Ângelo e Cecília Ignácia dos Santos. Eram seus irmãos: o médico Dr. Manoel de Oliveira; o auxiliar do comércio Antônio de Oliveira; Alfredo Oliveira, Rosa de Oliveira, Primitiva Oliveira e Aurélia Oliveira..

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia