quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

A PROFESSORA ROSÁLIA SAMPAIO BEZERRA

 Por Etevaldo Amorim

Blog do Etevaldo

Pão de Açúcar-AL. Década de 1920. A Professora Rosália e seus alunos. Georgina de Carvalho Mello, filha de Alípio Gomes de Carvalho Mello e Maria Regina de Carvalho Mello, avó de Maria Rocha, é a terceira da direita para a esquerda, da segunda fila de cima para baixo.


Por mais de quarenta anos ela estimulou o raciocínio de muitas gerações de crianças de Pão de Açúcar. Como Professora do Ensino Primário, ensinou-as a ler e contar, libertando-as da escuridão da ignorância.

Pouco se sabe a respeito de Rosália Sampaio Bezerra. Seu nome, entretanto, está imortalizado porquanto dá nome a uma de nossas ruas e a uma Escola Estadual. 

Falecida já há mais de 53 anos (30 de dezembro de 1957), não sendo de Pão de Açúcar e não tendo deixado descendência, resta-nos apenas informações vagas colhidas de familiares de alguns de seus alunos.

Recentemente, encontrei no perfil de uma pessoa amiga numa rede social da internet, uma foto identificada como sendo da “Professora Rosália e seus alunos”. 

Surpresa!!! Temos, enfim, uma imagem da famosa Mestra.

Essa amiga, a também professora Maria Rocha, conseguiu da sua avó octogenária algumas informações: não era casada; veio para Pão de Açúcar com mais dois irmãos, que também moravam com ela: Rodolpho e Osvalda. Disse também que ela criou uma pessoa chamada Ivone, e que o irmão dela ensinava, às escondidas, as tarefas aos alunos, através do corredor da sala.

Sobre Rodolpho de Fraga Bezerra, pudemos apurar que ele estava, em 1904, no 1º Ano da Faculdade de Direito do Recife. Ainda como acadêmico, foi nomeado pelo Vice-Governador Antônio Máximo da Cunha Rego (no exercício do cargo de Governador) Juiz Substituto de Anadia. Gutenberg, Maceió, 9 de março de 1906.

Foi tão longa a atividade da Professora Rosália, que ela chegou a ensinar a sucessivas gerações da família de Maria Rocha: primeiro a avó Georgina (filha de Alípio Gomes de Carvalho Mello e Maria Regina de Carvalho Mello), na década de 1920; depois a mãe Norma, na década de 1930 e a tia Solange, na década de 1940.

Desde antes da construção do Grupo Escolar Bráulio Cavalcante, cujas aulas iniciaram em 2 de julho de 1935 e do qual foi sua primeira Diretora, D. Rosália lecionava na sala de sua própria residência.

É muito pouco o que temos, considerando a sua importância para a Educação em nossa terra. Rogo, então, aos que mais souberem para que deixem aqui o seu recado e, assim, contribuam para a constituição de uma biografia digna da Grande Mestra.

***   ***

O texto acima é um resgate da postagem feita em 26 de janeiro de 2011. 

Decorridos treze anos, logramos conseguir mais alguma informação.

Rosália Sampaio Bezerra nasceu em 1881, provavelmente em Murici, já que sua irmã Guiomar, que também foi professora em Pão de Açúcar, apenas um ano mais nova que ela, ali nasceu em 24 de setembro de 1882. 

Era filha do Capitão Ramiro da Fraga Bezerra e da Srª Maria Sampaio Bezerra; neta paterna de Gilberto Bezerra e Maria Bezerra. 

Seu pai, quando faleceu em 1921, era 1º Escriturário do Tesouro do Estado de Alagoas.

Em 27 de junho de 1905, ele foi nomeado para 3º Suplente do Comissário de Polícia da Capital. Foi Subdelegado no Distrito de Santo Antônio da Boa Vista, em Muricy, onde também foi Delegado Literário e, em 1891, compunha a 6ª Companhia do 17º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional naquele Município.

Além de Guiomar, Rodolpho e Osvalda, tinha um irmão: Antão da Fraga Ribeiro, nascido em Camaragibe-AL, em 13 de janeiro de 1887 e falecido no Rio de Janeiro em 7 de maio de 1946.

Rosália Sampaio Bezerra formou-se professora no Lyceu Alagoano, tendo sido aprovada no primeiro ano com distinção no curso de Pedagogia, em 1905.

Antes de Pão de Açúcar, lecionou no povoado Olhos D’Água do Accioly, município de Palmeira dos Índios, atual cidade de Igaci. Por Decreto de 19 de fevereiro de 1915, foi removida para a Cadeira de Mar Vermelho, então município de Anadia. 

Não conseguimos precisar a data em que ela iniciou sua atuação em Pão de Açúcar. Entretanto, somos levados a crer que chegou junto com sua irmã Guiomar, que veio removida de Cajueiro (município de Paraíba, atual Capela), por Ato de 22 de janeiro de 1915, para a 2ª cadeira do sexo feminino de Pão de Açúcar. 

Ademais, sua assinatura consta em um Registro de Casamento realizado em Pão de Açúcar, na residência do Sr. Perdiliano Gomes de Carvalho Mello, no dia 25 de abril de 1918, em que constam como nubentes: Orlando Monteiro de Oliveira (natural do Rio Grande do Sul) e Anália de Souza (natural de Pão de Açúcar), filha de Maria Francisca de Souza. 

Por esse tempo, passaram por Pão de Açúcar: Maria Felicíssima Possidônio dos Santos, Joana Amélia Romeiro, Alice Menezes de Mesquita (esposa do Sr. Lucilo Mesquita), Cecília Maria dos Anjos Campos, Agripina Melo (nos Torrões, que pertencia a Pão de Açúcar); Ernesto Pereira Mello, em Meirus; e João Gomes da Silva (em Jacarezinho).

O nome da Professora Rosália aparece nos Almanaques e Relatórios entre 1929 e 1931. Por essa época, atuavam no município: Ana Vieira Conde, José Bento Lima, Annete de Mesquita Cavalcante, Alba de Mesquita, estas, filhas de José Venustiniano Cavalcante Filho e Theonilla de Mesquita Cavalcante e, portanto, sobrinhas de Bráulio Cavalcante; Alzira de Almeida e Astéria Melo e Maria da Glória Lyra (em Meirús).

Já nos tempos do Grupo Escolar Bráulio Cavalcante, e sob sua direção, lecionavam as professoras: Flora Calheiros Martins (esposa do Dr. José Cotrim, que atendia no Posto de Saúde), Helena Calheiros Martins (irmã de Flora), Angelita Lins de Albuquerque e Alcina Mangabeira Canuto. Esta última também lecionou no Limoeiro, além de Diomédia Prazeres dos Santos, em 1923; Joana Coelho da Silva, em 1924, Maria do Céu Damasceno (Dona Céu), em 1929; e Maria José Feitosa (Sinharinha Feitosa), irmã do Sr. Juca Feitosa, já em 1937.

Na Ilha do Ferro, entre 1929 e 1937, ensinavam: Manoel Alves da Costa Lima (que dá nome à Escola Municipal ali existente); Juracy Lima e Regina Emirantina Bello. 

A professora Rosália Sampaio Bezerra faleceu em Pão de Açúcar no dia 30 de dezembro de 1957.

Digna de todas as homenagens, pela trajetória de absoluto devotamento à causa do ensino e à formação de cidadãos, ela mereceu dos pão-de-açucarenses a denominação de uma Escola Pública estadual e uma via pública.

Assim, por força da Lei Municipal nº 270, de 12 de junho de 1958, a rua Santa Maria passou a ter o nome de “Rua Professora Rosália Bezerra”. Essa via faz a ligação entre a Rua Cônego Jasson Souto (precisamente defronte à Unidade Municipal de Ensino Profª Maria Tavares Pinto, antigo Ginásio Dom Antônio Brandão) e a Praça Darcy Gomes.

Já a Escola Estadual, o antigo Grupo Escolar Rosália Sampaio Bezerra, está situada na Av. José de Freitas Machado, nº 300, próxima à Praça do Bonfim. Cabe observar que o cidadão que dá nome a essa rua é o Sr. José de Freitas Machado, conhecido por Zuza Machado, e não o seu primo José de Freitas Machado (Zeca), farmacêutico e químico, fundador da Escola Nacional de Química.

Rua Santa Maria - Pão de Açúcar-AL
A Rua Rosália Sampaio Bezerra recebendo pavimentação
durante a gestão do prefeito Augusto de Freitas Machado.

Escola Estadual Rosália Sampaio Bezerra - Pão de Açucar-AL
O Grupo Escolar Rosália Sampaio Bezerra durante a enchente
do rio São Francisco, em 1979.

Avenida Bráulio Cavalcante - Pão de Açúar-AL
Grupo Escolar Bráulio Cavalcante, que teve a Profª Rosália
como sua primeira Diretora. Foto: Elisabete Gandra, 1974.




NOTA:


Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.



7 comentários:

  1. Mais um belo resumo e uma homenagem póstuma à merecida educadora Rosália Sampaio. Parabéns, confrade Etevaldo

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  2. Resgate extraordinário da nossa história!!

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  3. Amigo Etevaldo, o povo Pau-de-açucarense deve muito se orgulhar das suas pesquisas e fabulosos resgates como este. Orgulho-me em tê-lo como amigo, muito obrigado por me proporcionar a leitura de matérias como esta e tantas outras!!!

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  4. A professora Rosália foi profa. do meu pai José de Freitas Lima. Ele guardou a 1a prova dele. Falava dela com muito carinho.

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    1. Lígia, obrigado pelo acesso ao meu Blog e também pelo seu comentário.
      Se você ainda dispõe dessa "1ª prova" do seu pai (lembro bem dele), mande para mim... Eu posso incluir no artigo para ilustrá-lo.

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    2. Ok, vou procurar. Como posso enviá-la? Temos também foto da canoa Barcelona onde meu pai transportava sal no Rio São Francisco. Ele falava muito de Piaçabuçu.

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    3. Ligia, pode enviar para o e-mail seagrietevaldo@gmail.com ou (82) 9 9974 7509 WhatsApp.
      Tenho interesse na foto da canoa Barcelona. Fico muito grato!

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia