Por Etevaldo Amorim
O Major João Machado de Novaes Mello "Barão de Piaçabuçu" |
João Machado de Novaes Mello, eis o nome de um dos mais respeitados líderes políticos da região do Baixo São Francisco, nos tempos do Império. Era tenente-coronel da Guarda Nacional, destacado líder do Partido Liberal e chefe político da sua região.
Casou-se com Maria José de Novaes Mello, com quem teve os filhos: Manoel Leite de Novaes Mello (1849-1898), Josefina de Novaes Mello (1847-1893), Miguel de Novaes Mello (1851-1901), João Marinho de Novaes Mello (-1883), Antônio Ferreira de Novaes Mello (1856-1880) e José Matheus de Novaes Mello.
Era seu filho o primeiro prefeito (Intendente) do município de Pão de
Açúcar, Alagoas – o juiz de direito Dr. Miguel de Novaes Mello. Ele também foi
Deputado Provincial em Alagoas. (vide http://blogdoetevaldo.blogspot.com/2015/07/miguel-de-novaes-mello.html)
Outro filho, nascido em Pão de Açúcar, foi o advogado Antônio Ferreira
de Novaes Mello, formado na Faculdade de Direito de São Paulo em 1879 e
Deputado Provincial em Alagoas. Faleceu em acidente ferroviário durante a
construção da Estrada de Ferro Paulo Afonso, ocorrido no dia 17 de julho de
1880. Foi durante alguns anos o jornalista responsável pelo jornal Liberal em
Maceió. (Vide http://blogdoetevaldo.blogspot.com/2012/04/desastre-em-piranhas-e-morte-de.html )
João Marinho de Novaes Mello, major da Guarda Nacional, também seu
filho, comerciante em Pão de Açúcar, membro do Conselho Municipal, faleceu em
1º de maio de 1883. Três anos antes, em 17 de julho de 1880, ele havia
sobrevivido, com graves ferimentos, ao terrível acidente de que foi vítima
fatal seu irmão Ferreira de Novaes.
Ainda outro filho do Barão teria enorme projeção: o médico Manoel Leite
de Novaes Mello. Formado pela Faculdade de Medicina da Bahia, radicou-se no
Espírito Santo. Sua carreira política contempla os cargos eletivos de vereador
na Câmara Municipal de Cachoeiro do Itapemirim - ES, da qual foi presidente, em
1890; Deputado Provincial para a Legislatura 1876-1877 e Deputado Federal.
*** *** ***
A primeira atividade pública do Major João Machado, de que se tem
notícia, foi durante a presidência de José Francisco de Menezes Sobral, em
1847, como coletor de rendas em Capela, Província de Sergipe[i];
Em janeiro de 1859 foi nomeado major ajudante de ordens do comando
superior da Guarda Nacional dos municípios de Porto da Folha (hoje Traipu) e
Mata Grande, ambos em Alagoas.[ii]
Quatro anos depois, em julho, foi nomeado Capitão Cirurgião-mor do Comando Superior
da Guarda Nacional para os municípios de Porto da Folha (atual Traipu), Pão de
Açúcar e Mata Grande.[iii]
Em 1877 já era Major e em julho de 1879, Comandante Superior em Pão de
Açúcar, como Tenente-Coronel. Era também o Delegado de Polícia daquele
município até 1880 e Suplente de Juiz Municipal em 1891.
Era também comerciante, estabelecido em Pão de Açúcar com lojas de
tecidos.
Esteve presente à visita do Imperador D. Pedro II à cachoeira de Paulo
Afonso, no dia 20 de outubro de 1859.[iv]
Aliás, quando da passagem do Imperador D. Pedro II, demandando a Cachoeira de
Paulo Afonso, foi no sobrado de sua propriedade (já transformado em Casa da
Câmara) que ele pernoitou em Pão de Açúcar nos dias 17 para 18 e 22 para 23 de
outubro de 1859.
No dia 22 de outubro de 1878, recepcionou o Presidente da Província, Dr.
Francisco Carvalho Soares Brandão, quando de sua passagem por Pão de Açúcar com
destino a Piranhas, onde assistiria à inauguração dos trabalhos da Estrada de
Ferro, que aconteceria no dia 23. Vide http://blogdoetevaldo.blogspot.com/2020/05/soares-brandao-em-pao-de-acucar.html.
Assim também o fizera em 1869, por ocasião da visita do então presidente
da Província, Dr. José Bento da Cunha Figueiredo Junior. Naquela oportunidade, posou
para as lentes do fotógrafo Abílio Coutinho, na famosa fotografia da numerosa
comitiva. De fraque e cartola branca, que mandou vir de Londres para aquela
ocasião[v],
lá estava ele no alto de seus cinquenta anos, já conceituado líder político da
região. Essa fotografia, emoldurada por iniciativa do nosso historiador Aldemar
de Mendonça, sempre esteve exposta no Prédio-sede da Prefeitura Municipal,
sendo a única imagem conhecida do grande líder político.
O Major João Machado (2) junto à comitiva do Presidente da Província de Alagoas - Dr. José Bento da Cunha Figueiredo Junior (1). Pão de Açúcar, 8 de janeiro de 1869. Foto: Abílio Coutinho. |
Recentemente, explorando um álbum que pertenceu ao venerável pão-de-açucarense Monsenhor Freitas, que me fora gentilmente cedido pelo Dr. Álvaro Otávio Vieira Machado (e que pertencera ao seu pai Sr. Armando Machado), eis que encontro a foto que encima estas notas, feita na Bahia pelo renomado fotógrafo Guilherme Gaensly, com estúdio no Largo do Teatro, 92[vi], cuja dedicatória se fez nos seguintes termos:
“Offerece o abaixo assignado em signal de amizade, Bahia, de 13 de maio
de 1881. Pe. Freitas. (a) João Machado de Novaes Mello.”
Recebeu o título nobiliárquico de barão em 5 de outubro de 1889, um mês
e cinco dias antes da queda da monarquia. O jornal O CONSTITUCIONAL, órgão do
Partido Conservador, que circulava em Vitória-ES, veiculou a seguinte notícia,
em sua edição de 24 de outubro de 1889:
“BARÃO DE PIAÇABUÇU.
Foi agraciado com esse título o Coronel
Novaes, pai do ilustrado clínico e hoje fazendeiro, o Dr. Manoel Leite de
Novaes Mello.
Demos-lhe sinceros parabéns pela merecida
distinção com que foi agraciado o seu ilustre progenitor, cidadão dos mais
qualificados e beneméritos na província de Alagoas, onde reside.”
Por fim, já tendo cumprido seus 72 anos de existência, faleceu em Pão de
Açúcar, a 3 de agosto de 1892.
Eis a íntegra do seu registro de óbito no Livro 3-C –fls. 78v, do
Cartório do 1º Ofício do Registro Civil de Pão de Açúcar, Estado de Alagoas, sob
o Nº 97:
“Aos três dias do mês de agosto do ano do
nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de Mil Oitocentos e Noventa e Dois,
Quarto da República, neste primeiro distrito de Paz da Paroquia do Município de
Pão de Açúcar do Estado de Alagoas, compareceram no meu cartório o Doutor Juiz
de Direito Miguel de Novaes Mello e em presença das testemunhas abaixo
nominadas e assignadas declarou: Que hoje, por cinco horas e meia, nesta
cidade, em casa de sua residência faleceu um homem de nome João Machado de
Novaes Mello, de setenta e quatro anos de idade, natural de Villa Nova[vii],
Estado de Sergipe, residente nesta cidade, viúvo por falecimento de Maria José
de Novaes Mello, filho legítimo de Antônio Ferreira de Novaes e Maria Magdalena
Leite Sampaio, falecidos; faleceu sem tratamento, deixou dois filhos de nomes
Doutor Manoel Leite de Novaes Mello, de quarenta e três anos e ele, declarante,
de quarenta e um anos, a morte é natural e a causa conhecida congestão cerebral
e no cemitério público desta cidade vai mandar sepultar. E para constar lavrei
este termo em que comigo assinam o declarante e as testemunhas Manoel Rego, e
Antônio Moreira de Souza Sobrinho, que atestam, de conhecimento próprio que o
falecido de nome João Machado de Novaes Mello era o mesmo mencionado neste
assento. Eu Theotônio Rodrigues de Souza Christo[viii],
Escrivão de Paz escrevi.
(a) Theotônio Rodrigues
de Souza Christo
Bacharel Miguel de Novaes Mello
Manoel Rego
Antônio Moreira de Souza Sobrinho
Em tempo: Declaro que o falecimento foi às cinco
horas e meia da tarde. Eu, Theotônio Rodrigues de Souza Christo escrivão de Paz
escrevi.”
Ao noticiar o seu falecimento, o Jornal de Notícias, publicação
bi-semanal que circulava em Maceió, a ele assim se referiu, em sua edição de 14
de julho de 1892:
“Muito estimado por suas belas
qualidades individuais, o Coronel João Machado era chefe de uma das mais
distintas e ilustres famílias do Baixo São Francisco. Homem probo e sincero foi,
no tempo da Monarquia, uma das mais extensas influências políticas do Partido
Liberal. Agraciado com o título de “Barão”, deu provas de seus sentimentos
democráticos não aceitando a distinção com que o honrou o governo do Imperador.”.
Com o mesmo destaque, o jornal A Pátria, de Maceió, na sua edição de 16
de julho de 1892:
“Com o maior pesar, registramos a
infausta notícia do sentido passamento do venerando ancião Coronel João Machado
de Novaes Mello, abastado proprietário no município de Pão de Açúcar.
Ocupou diversos cargos de nomeação do governo
e eleição popular, procedendo sempre com a maior inteireza e probidade.
Nos últimos tempos da monarquia, foi
agraciado com o título de Barão de Piaçabuçu, que não aceitou.
Nossos pêsames à sua família e especialmente
a seu prezado filho, Dr. Miguel de Novaes Mello, distinto e honrado juiz de
direito de Pão de Açúcar, Santana e Piranhas.”
*** *** ***
Nota-se que, em que pese o registro de óbito dizer que o falecimento se
deu no dia 3 de agosto de 1892, as notícias dos jornais de Alagoas, aqui
reproduzidas, são do mês de julho. (!)
Entretanto,
as notícias dos veículos de outros Estados são do mês de agosto, inclusive os
Anais da Câmara dos Deputados, onde seu filho, o Dr. Manoel Leite de Novaes
Mello, justifica a ausência à sessão 5 de agosto de 1892 - 63ª Sessão, em
virtude do falecimento de seu pai.
Fiquemos,
então, com a data do registro oficial: 3 de agosto de 1892.
Pão de Açúcar, 1869, vendo-se o sobrado que pertenceu ao Barão de Piaçabuçu. Foto: Abílio Coutinho. |
Pão de Açúcar 1888, vendo-se ao fundo o dito sobrado. Foto: Adolpho Lindemann. |
Pão de Açúcar, 1919, vendo-se o sobrado que hospedou Dom Pedro II em 1859. |
*** ***
***
NOTA:
Caro leitor,
Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA
E LITERATURA”, constam postagens com informações históricas resultantes de
pesquisas, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência
bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso algumas delas seja do seu
interesse para utilização em qualquer trabalho, que faça uso tirando o maior
proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a
citação das referências. Isso é correto e justo.
[i]
Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 27 de agosto de 1847.
[ii]
Correio da Tarde, Rio de Janeiro, 6 de janeiro de 1859.
[iii]
A Atualidade, Rio de Janeiro, 7 de julho de 1863.
[iv]
Correio Mercantil, Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1859.
[v]
Novaes Filho (Senador Antônio de Novaes Filho), em OS NOVAES NO BRASIL, Diário
de Pernambuco, Recife, 19 de julho de 1969.
[vi]
Wilhelm Gänsli nasceu a 1º de setembro de 1843, em Wohlhausen - Cantão de
Thurgau, Suíça, filho de Jacob Heinrich e de Anna Barbara Kyn, veio para o
Brasil ainda menino, acompanhando o pai comerciante que se radica em Salvador.
Ali inicia sua carreira em meados da década de 1870, associando-se a Rodolpho
Lindemann em 1882 e fotografando diversas localidades da província da Bahia
antes de se transferir para a cidade de São Paulo em 1890 e deixar seu sócio à
frente do estúdio baiano. É na capital paulista, colaborando durante mais de 25
anos para a São Paulo Tramway Light and Power Company e organismos oficiais
como a Secretaria de Agricultura, que se firma como o mais importante
paisagista do Estado de São Paulo na primeira metade do século XX. Consagrado
ainda em vida, é agraciado com as medalhas de prata das exposições de Paris
(França), em 1889, e Saint Louis (Estados Unidos), em 1904. Faleceu em São
Paulo a 20 de junho de 1928.
[vii]
Atual Neópolis, Estado de Sergipe.
[viii]
Theotônio Rodrigues de Souza Christo. Natural de Alagoas e falecido em Sergipe
em 26 de outubro de 1907. Casado com Maria Luiza de Souza Christo, nascida em
Alagoas, a 29/11/1864 e falecida no Rio de Janeiro.
Sempre muito bom. Um deleite. Cultura e conhecimento da terra de Jacioba. Parabéns!
ResponderExcluirEnriquecedora a leitura. Parabéns, Sr. Etevaldo, e gratidão por partilhar a história de nossa região com tanto requinte e dedicação.
ResponderExcluirParabéns meu amigo Etevaldo pela belíssima partilha com tantos detalhes enriquecedores da historia da nossa região , a você toda a nossa gratidão e admiração .
ResponderExcluirMais uma excelente pesquisa sobre os personagens que marcaram a história de nossa querida Pão de Açúcar. Parabéns confrade Etevaldo
ResponderExcluirParabéns Etevaldo Obrigada por excelente trabalho,tivemos homens ilustre em Pão de Açúcar. Um grande abraço. Marinita
ResponderExcluirParabéns Etevaldo, sempre muito bom ler seus textos. Abraço carinhoso!
ResponderExcluir