sábado, 18 de maio de 2024

A ILUMINAÇÃO PÚBLICA EM PÃO DE AÇÚCAR

Por Etevaldo Amorim

 

No princípio, era o breu. No interior das residências, candeeiros ou lampiões produziam aquela luz tênue, suficiente apenas para dar conta dos últimos afazeres do dia, antes do recolhimento. No máximo, as pessoas se permitiam reunir nas portas das casas, sobre as calçadas, a contar histórias ou mesmo observar o céu que, quando em poucas nuvens, exibia-se com magnífico esplendor.

Daquele observatório improvisado, vislumbrava-se uma grande variedade de astros: a Estrela D’Alva, o Sete-Estrelo, o Cruzeiro do Sul, As Três Marias, Os Três Reis Magos... Nas ruas, a escuridão era total, apenas amenizada nas noites de lua, quando se podia transitar sem o risco de uma pisada em falso ou uma topada em pedra traiçoeira.

Depois vieram os lampiões. Nas esquinas, confluência das principais ruas da cidade, um simples poste de madeira encimado por “uma caixa com armação de ferro, vedada por vidro nas quatro faces laterais; dentro desta, uma lamparina a querosene.”[i]

Na parte superior do poste, uma cruzeta, que servia de apoio para a escada utilizada pelo operador. Desde as dezoito horas, ou quando o sino da Matriz anunciava a “Ave Maria”, o encarregado desse serviço, por muitos anos o Sr. Antônio Damasceno Souza (Antônio Barateiro), dava início ao reabastecimento e ao acender dos lampiões, que permaneciam acesos até as vinte e duas horas.

Relembra Gervásio dos Santos, em seu livro UM LUGAR NO PASSADO:

 “Esse tipo de iluminação arcaica teve sua fase final no ano de 1926, quando surgiu a Empresa Elétrica, graças à mentalidade progressista do industrial José de Freitas Machado (Zuza Machado), que levou a Pão de Açúcar a evolução da civilização, abandonando a iluminação antiquada, adotando a moderna.”

Trecho da Rua Pedro Paulino (atual Cel. Manoel Antônio Machado).
À esquerda, um poste com um "lampião de gás". Pão de Açúcar, 1926

 Na foto acima, que mostra a Rua Pedro Paulino (atual Cel. Manoel Antônio Machado) tomada pelas águas do São Francisco, vindas da Praça do Bonfim.

Carente de pavimentação, a rua exige boas calçadas, feitas de pedra lameliforme xistosa, tão farta nos morros em grande parte da margem do São Francisco.

À esquerda, ereto, imponente, um rústico poste de madeira sustenta um lampião de gás, tal como descrito por Gervásio Francisco dos Santos, com a diferença de não estar localizado em uma esquina.

O Município, tendo à frente o Prefeito Manoel Francisco Pereira Filho (Manoelzinho Pereira)[ii], contratou com o Sr. José de Freitas Machado[iii] a iluminação elétrica da cidade, como informa a notícia publicada no jornal Diário de Pernambuco, de 23 de março de 1922.  Aliás, o Sr. Zuza conseguira, do Governo do Estado, isenção de impostos para montar a usina.[iv]

A essa época, Pão de Açúcar, assim como todas as localidades ribeirinhas do São Francisco, já se ressentia dos efeitos de uma das maiores cheias de sua história.

O transporte do maquinário, desde o porto de Penedo nas canoas “Philadelphia” e “Pão de Açúcar”, exigiu grande esforço e se constituiu em operação de grande risco.

O deslocamento da caldeira[v], a peça mais pesada, proporcionou momentos de perigo e tensão. Gervásio ainda detalha:

 “A locomoção dessa caldeira do porto para o local da sua instalação, na Praça do Bonfim (João Pessoa), se verificou colocando-a sobre toros de madeira e arrastada sob a ação de talhas[vi], acionadas por um grande número de homens. Trabalho esse lento e árduo, partiu do porto na Rua Ferreira de Novaes (Rua da Frente), seguindo as ruas Fernandes Lima (Bêco de seu Zé de Nenen[vii], Silva Maia (Bêco de seu Aprígio), trecho da Av. Bráulio Cavalcante (Rua do Meio), Bêco do Vapor[viii] e, finalmente, Praça do Bonfim (João Pessoa), onde foi instalada em um prédio ali existente, que anteriormente já foi adaptado às condições adequadas para o seu funcionamento.”

O prefeito Manoel Pereira Filho-"Manoelzinho Pereira"

O empresário José de Freitas Machado - "Zuza Machado"

O governador Costa Rego. 


Chegou, finalmente, o grande dia!

Em 7 de novembro de 1926, o prefeito Manoel Pereira Filho e muitas autoridades eclesiásticas, civis e militares, além do empresário, Sr. José de Freitas Machado e seus familiares, celebraram aquele momento histórico da cidade. O ponto alto foi a presença do Governador Costa Rego[ix], que partira de Maceió no dia 6[x], acompanhado de grande comitiva[xi]. O Chefe do Executivo Estadual, além de prestigiar a inauguração do serviço de iluminação pública, compareceu à cerimônia de aposição do seu retrato na sede do Tiro de Guerra 656[xii].


***   ***

Conta de energia elétrica da Empresa. Arquivo de Manoel Rego, fornecido por Juracy Rego.

Conta de luz de Manoel Rego:

Emitida em 31 de agosto de 1935, a fatura correspondia ao consumo daquele mês. A Empresa fornecia lâmpadas de 16, 25, 32 e 50 velas, sob as seguintes condições, impressas no verso conta:

“A Empresa não fornece lâmpadas novas sem lhe serem entregues as queimadas;

Para a boa conservação das lâmpadas, recomenda-se conservá-las apagadas, logo que não precisar de luz;

A Empresa não fornece energia elétrica aos assinantes que usarem lâmpadas e outros materiais que não forem comprados à mesma;

Só se atenderão reclamações feitas no escritório;

A empresa tem o direito de fiscalizar, em qualquer tempo, as instalações domiciliares;

O preço da luz domiciliar é de 200 rs por vela.

A Empresa interromperá o funcionamento da luz ao consumidor que não pagar suas contas dentro de 15 dias”

A usina de energia elétrica funcionava neste casarão, situado
na Praça do Bomfim. 


.***   ***

 Essa empresa foi adquirida pela municipalidade, quando já pertencia ao Sr. Joaquim Rezende[xiii], e serviu á coletividade até 3 de agosto de 1963, quando foi substituída pela CHESF. Era sócio de Joaquim Rezende o Sr. Lauro Veiga.[xiv]

Segundo Aldemar de Mendonça, autorizado pela Lei nº 199, de 14 de outubro de 1952, o Poder Executivo adquiriu, por compra à firma Joaquim Rezende, a Empresa Elétrica, pela quantia de Cr$ 250.000,00 (Duzentos e Cinquenta Mil Cruzeiros), em três prestações anuais, sem juros. Isso ocorreu durante a gestão do prefeito João da Silva Maia (31/01/1951-27/11/1952).

***   ***

Foi assim por trinta e sete anos. Até que, com a construção da hidrelétrica de Paulo Afonso, a energia elétrica passou a ser distribuída pelo interior do Nordeste. A criação da CHESF e da SUDENE, bem como da Comissão do Vale do São Francisco, deram o impulso necessário ao desenvolvimento da Região.

Em 1959, sob o governo de Muniz Falcão, Alagoas deu os primeiros passos em suas políticas de desenvolvimento com planejamento.[xv] No ano de 1963, sob o governo de Luiz Cavalcante, a política energética do Estado ganhou grande impulso. Era prefeito de Pão de Açúcar, à época, o Sr. Ronalço Vieira dos Anjos (02/02/1961 a 31/01/1966).

O jornal Diário de Pernambuco, Recife, em edição de 23 de agosto de 1963, informa:

CINCO CIDADES ALAGOANAS VÃO TER ENERGIA

No final do mês, serão inaugurados os serviços de energia elétrica de mais cinco cidades do sertão de Alagoas: Santana do Ipanema, Jacaré dos Homens, Olho D’Água das Flores, Batalha e Pão de Açúcar, como parte do plano de iluminação total do Estado, para a atração de investidores do sul do país.

Os detalhes foram acertados, nesta Capital, entre o governador alagoano, General Luiz Cavalcante, e o Sr. Apolônio Sales, presidente da CHESF.

Durante o período de inauguração (cinco dias) todo o Executivo alagoano se transferirá para Santana do Ipanema.”

 

Com efeito, as inaugurações aconteceram: em Olho D’Água das Flores, no dia 27; Santana do Ipanema, no dia 28; Jacaré dos Homens, no dia 29; no dia 30, foi a vez de Pão de Açúcar. A de Batalha acabou sendo no dia 18 de dezembro.[xvi]

Na Zona Rural, Lagoa de Pedra e Meirús (então chamado de Campo Alegre das Flores), em 30 de junho de 1967.

Limoeiro foi o último dos maiores povoados a receberem esse serviço, em 1976. Enquanto esperavam, os limoeirenses eram assistidos por conjunto motor-gerador, iniciado durante a gestão do prefeito Elpídio dos Santos, continuado nas gestões de Ronalço dos Anjos, Augusto Machado e Antônio Gomes Pascoal. Esse serviço sofria frequentes interrupções, provocadas pelas constantes avarias do motor, apesar dos esforços do competente e abnegado mecânico Valdemar. Com a saída de Valdemar, sucedeu-lhe o Sr. José de Melo, conhecido por Zé de Atanázio.

Executados pela CEAL – Companhia de Eletricidade de Alagoas, durante do governo do Gal. Luiz Cavalcante (o “Major Luiz”), esses serviços implantados em 1963 vieram da SUDENE – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Tanto que, em reunião do Conselho deliberativo, realizada no dia 4 de setembro, em Recife, Celso Furtado, em reunião da SUDENE, o presidente Celso Furtado informa que “cinco cidades alagoanas receberam energia de Paulo Afonso em agosto; entre elas Pão de Açúcar”.

Além disso, informou o economista em seu relatório, que foram destinados Cr 145.000,00 (cento e quarenta e cinco milhões de cruzeiros) para a implantação de linhas de transmissão, entre elas Palmeira dos Índios – Quebrangulo – Paulo Jacinto, em Alagoas.

 

Pão de Açúcar-AL, 30 de agosto de 1963. Inauguração da luz elétrica daCHESF. Ao microfone o Prof. Antônio de Freitas Machado, tendo à direita o radialista Luiz Tojal e o Deputado Federal Segismundo Andrade. Foto: acervo da família.

A solenidade de inauguração contou com a presença do Governador Luiz Cavalcante e do Superintendente da Comissão do Vale do São Francisco, Eng. João Gomes Sobrinho.


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NOTA 1.

O Sr. Josias Carnaúba.

Um leitor reclama: “Faltou citar o nome de Josias Carnaúba, irmão de Joab Carnaúba, que por muitos anos deu manutenção nos motores que geravam energia elétrica a partir da Praça do Bonfim”.

Para atendê-lo, e para nos aproximarmos o mais possível da verdade e da justiça históricas, cumprimos o dever de informar que se trata do Sr. Josias Carnaúba Matta.

Ele nasceu em Viçosa-AL, no dia 2 de agosto de 1918. Filho de José de Lima Carnaúba e Alexandrina Alves da Matta. Casado com Corália Nepomuceno Carnaúba. Faleceu em Recife-PE a 30 de janeiro de 1980 e foi sepultado em Santana do Ipamena.

Informações de familiares, conseguidas por meio do amigo Virgílio Wanderley Nepomuceno Agra, confirmam que ele foi, por muitos anos, encarregado de manter funcionando os motores instalados na Praça do Bonfim. Quando esses se tornaram desnecessários, ele foi residir em Santana do Ipanema, onde montou sua própria oficina.

Dona Corália e seus filhos Rômulo e Robson. Foto: acervo de Beatriz Carnaúba Paulsen, publicada no Facebook (Grupo Pão de Açúcar Antiga).


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NOTA 2

Relembramos também a figura do Sr Manoel Rodrigues Soares, conhecido por "Mané Leão", que também por muitos anos foi eletricista da CEAL. O nome "Mané Leão" ficou tão marcado, que desconhecíamos o seu verdadeiro, que aqui registramos por informações do seu neto Samuel, prestadas ao amigo Hélio Fialho.

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NOTA 3

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.

 



[i] SANTOS, Gervásio Francisco dos. UM LUGAR NO PASSADO. Rio de Janeiro, Princeps Gráfica Editora, 1976. Filho de Luiz Francisco dos Santos e Olindina dos Santos, nasceu em Pão de Açúcar - AL a 19/06/1916  e faleceu no Rio de Janeiro – RJ em  17/09/1980. Advogado, funcionário público. Diplomado em Direito, membro da OAB.

[ii] Manoel Francisco Pereira Filho. Filho de Francisco Pereira de Mello e de Generosa Pereira de Mello. Casou-se com Josephina Pinto Pereira (filha de Seraphim Soares Pinto e Maria Oliva de Mello Pinto).  Administrou o município de 7 de janeiro de 1925 a 7  de janeiro de 1928.

[iii] José de Freitas Machado – Zuza Machado. Filho do Cel. Manoel Antônio de Freitas Machado e de Rosa Maria Machado. Nasceu em Pão de Açúcar-AL, no dia 25 de fevereiro de 1885 e faleceu em Penedo-AL, no dia 24 de fevereiro de 1958. Casou-se, em Propriá, no dia 5 de janeiro de 1923, com Rosa Seixas Brito (Filha do Cel. João Fernandes de Brito e Francisca de Seixas Brito).

[iv] Diário de Pernambuco, 3 de julho de 1926.

[v] A caldeira é um recipiente que possui como função a produção de vapor através do aquecimento da água. O vapor produzido pelas caldeiras pode ser utilizado para a alimentação de máquinas térmicas e geração de energia.

[vi] Talhas são usadas para arrastar ou levantar materiais pesados. Consiste em um mecanismo que compreende dois sistemas de polias. Onde um deles é fixo e o outro móvel.

[vii] Atual rua João Antônio dos Santos – calçadão).

[viii] Trecho da Rua Cel. Manoel Antônio Machado.

[ix] Pedro da Costa Rego, filho de Pedro da Costa Rego e  Rosa de Oliveira da Costa Rego, nasceu no Pilar – AL, a 12/03/1889 e faleceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no dia  06/07/1954).  Jornalista, Governador, Senador Federal, Deputado Federal. Governou o Estado de Alagoas de 12 de junho de 1924 a 7 de junho de 1928.

[x] Diário de Pernambuco, 6 de novembro de 1926.

[xi] Diário de Pernambuco, 4 de novembro de 1926.

[xii] Diário de Pernambuco, 22 de outubro de 1926.

[xiii] Joaquim Cruz Rezende. Filho de Manoel Cruz Rezende e Maria do Céu Rezende. Nasceu em Gararu-SE, a 12 de março de 1902 e faleceu em São José da Tapera, então município de Pão de Açúcar, a 28 de agosto de 1954. Administrou o município de 18 de agosto de 1938 a 8 de abril de 1941.

[xiv] Lauro Veiga de Araújo, sócio de Joaquim Rezende na empresa de energia elétrica. Filho de Pompeu de Araújo e Albuquerque Mello e de Ritta Veiga de Araújo. Casou-se, em Propriá-SE, em oratório particular, a 18/11/1941, com Edênia Carvalho Cury (filha de Elias Cury e Eponina de Carvalho Cury).

[xv] Pinto, Edberto Ticianeli. CEAL, a histórica Companhia de Eletricidade de Alagoas. Disponível em: https://www.historiadealagoas.com.br.

[xvi] Diário de Pernambuco, 15 de abril de 1969. 2016. 

10 comentários:

  1. Eu tinha 07 anos de idade no ano de 1963, quando foi inaugurada a chegada da energia elétrica em Pão de Açúcar. Recordo do palco que fora montado na Avenida Bráulio Cavalcante, praticamente de frente a casa de Seu Ronalço dos Anjos. Após os discursos, houve um show do Coronel Ludugero e Atrope. A praça estava lotada de gente por conta da novidade. De lá pra cá, o tempo devorou 61 anos!!!!!!

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    1. Faltou a inclusão do nome de Josias Carnaúba irmão de Joabe Carnaúba responsável pela manutenção dos motores geradores de energia elétrica a partir das praça do Bonfim.

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  2. Fiat Lux! E nossa cidade se transformou... belos relatos históricos, com personagens bem conhecidos (um deles, meu bisavô materno Manoelzinho Pereira) e uma época de transição para nossa atual realidade. Ótimo artigo

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  3. Uma pesquisa interessante e cuidadosa, que considero de utilidade pública.um relato histórico e preciso, marco na evolução da nossa querida Pão de Açúcar

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  4. Faltou citar o nome de Josias Carnaúba irmão de Joabe Carnaúba que por muitos anos deu manutenção nos motores que geravam energia elétrica a partir das praça do Bonfim

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    1. Obrigado pelo comentário, que me permitirá acrescentar ao texto essa importante informação.
      Gostaria de saber o seu nome para o devido crédito.

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  5. Vc sempre surpreende, com a nossa história riquíssima.Que seja eterna e que nunca apareça aventureiros para modificar.

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  6. Vc sempre surpreende com nossa riquíssima história.
    Pão de Açúcar sempre será a terra da cultura, Turismo, esportes e grandes celebridades

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  7. Parabéns. Gosto muito de suas pesquisas.

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  8. Parabens Gostei muito do seu BLOG

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia