Por Etevaldo
Amorim
O
sobrenome não é estranho em terras de Pão de Açúcar. A família Gato tem
descendência conhecida. Não se desconhece também a capacidade que tem o
sertanejo de se safar das situações mais difíceis, valendo-se da sua sagacidade
e esperteza.
Um
episódio dos tempos do cangaço, que transcrevo do Correio da Manhã, Rio de
Janeiro, de 31 de janeiro de 1932, dá bem a medida dessa qualidade do
nordestino. Vejamos:
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Caatinga. Desenho Percy Lau |
“Maceió, janeiro. (Comunicado da Agência Brasileira) – Da última vez que Lampeão esteve no município de Pão de Açúcar, abandonou a estrada real, em seu regresso, e seguiu por uma vereda.
Caminhando,
encontrou uma camponesa de nome Maria Gato e dois irmãos desta – Luiz e
Francisco Gato – os quais, por ali se meteram para evitar um encontro com o
grupo do bandoleiro.
Logo
que Lampeão avistou a senhorita Maria Gato, fez-lhe propostas julgadas menos
honestas, que foram repelidas. Francisco aconselhou a irmã a se deixar matar
com eles, antes de conceder o que o bandido queria.
Nesse
comenos, Lampeão ameaçou-a de disparar-lhe um tiro, dizendo a moça que podia
fazê-lo, porquanto ela não tinha medo da morte.
Recuando
de seu propósito, Virgulino prometeu-lhe avultada quantia para que a moça
aquiescesse aos seus desejos. Mas a sertaneja não quis.
O
chefe dos bandoleiros declarou que desistia absolutamente do propósito de
conquistar Maria Gato, ou mesmo de subtrair-lhe a existência. Ouvindo isso, um
do bando estranhou que aquela moça ficasse viva, quando Lampeão já havia morto
tantas moças brancas e bonitas, ao passo que aquela era mulata e feia.
Ao
seu interlocutor, respondeu Virgulino Ferreira, com um tom de absoluta firmeza,
que aquela moça não morreria.
A
conversa mudou de rumo e o facínora procurou sindicar dos rapazes quais eram as
pessoas abastadas daqueles arredores.
Os
dois camponeses, na melhor intenção e certos de que Virgulino não ousaria
penetrar no perímetro urbano de Pão de Açúcar, informaram-no de que, na rua (na
cidade propriamente dita), havia muita gente rica.
Virgulino
disse, então, que queria saber quem eram os ricos do interior. Responderam,
Luiz e Francisco, que por ali reinava absolutamente miséria, não havendo quem
dispusesse de recursos. Mas, o facínora perguntou se um tal “Janjão Maia” não era rico, obtendo
resposta negativa.
Não
convencido, Lampeão forçou Luiz Gato a servir-lhe de guia até a propriedade do
fazendeiro, sem conhecer que estava tratando com um campônio extremamente
ladino e astuto.
Marchando,
Luiz falou tanto que os cangaceiros lhe puseram a alcunha de “Canário”. Este canário, porém, conseguiu
demonstrar que Janjão Maia[i]
não passava de um reles tirador de toneladas (lenha para o cotonifício de
Penedo, vendida às toneladas) e que era apenas rico de filhos.
Preservando
o fazendeiro da espoliação ou da desgraça iminente, Luiz Gato ainda atirou
Lampeão e seu bando, que então se compunha de sete pessoas, ao risco de ser
pego, pois, dizendo não conhecer veredas escuras por onde os levasse,
intencionalmente os guiou pela estrada real, pelos lugares povoados.
Em
um desses, denominado Quixaba, três léguas a montante de Pão de Açúcar,
dormiram eles sossegadamente, sem serem incomodados pela numerosa tropa que
ficava perto.
São
assim os sertanejos, tão mal julgados por quem não lhes conhece a alma pura e
bondosa.”
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NOTA:
Caro
leitor,
Deste
Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de
informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita
pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência
bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse
para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior
proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a
citação das referências. Isso é correto e justo.
Tratamento
de imagens: Vívia Rodrigues Amorim.
[i]
Janjão Maia (João da Silva Maia). Viria a ser prefeito de Pão de Açúcar,
administrando o município de de 31/01/1951 a 27/11/1952. Faleceu em Maceió, a 26
de novembro de 1952, sem concluir o período administrativo.
Eita turminha criativa, esses irmãos nordestinos! Um balaio de gato para Lampião e sua turma, por uns Gatos kkkk... Muito bom!
ResponderExcluirÉ muito bom conhecer um pouco da história do famoso rei do cangaço , através do seu empenho
ResponderExcluirde diversas pesquisas sobre a nossa história do passado, principalmente do sertão regional . Valeu amigo e blogueiro . Parabéns
Aloísio Bezerra Leite - Barreiras - BA
ResponderExcluirValeu amigo , pelo seu empenho de levar diversos conhecimentos sobre a história do nosso nordeste , principalmente do sertão regional . Parabéns 👏👏👏👏👏👏
ResponderExcluirParabéns Etevaldo por nos deixar bem informados sobre uma história tão importante p o povo nordestino
ResponderExcluirAdoreiii! Minha família Gato é de Maceió, Murici, Santa Luzia do Norte, Alagoas..
ResponderExcluirSão Gato, mesmo e parentes!