Por Etevaldo Amorim
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O Dr. Manoel Leite de Novaes Mello.Acervo
da Drª Maria do Carmo de Novaes Schwab.
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Alagoano, procedente da região
sertaneja do São Francisco, ele foi um dos mais destacados políticos do Estado
do Espírito Santo no período que se verificou entre o ocaso da monarquia e os
primórdios da República. Numa família, em que todos os homens, desde o pai até
os três irmãos, tiveram atuação política em Alagoas, ele a exerceu em benefício
do povo capixaba, com base no município de Cachoeiro do Itapemirim
Manoel Leite de Novais Melo nasceu em Pão de Açúcar, a 10 de junho de 1849. Era filho
do Major João Machado de Novaes Mello, barão de Piaçabuçu, e de Maria José de Novaes
Mello. Eram seus irmãos: João Marinho de Novaes Mello, que foi membro do
Conselho Municipal; o Dr. Miguel de Novaes Mello, que foi o primeiro Prefeito
de Pão de Açúcar; e Antônio Ferreira de Novaes Mello, que foi Deputado
Provincial, os dois últimos formados em Direito. De mulher, apenas uma:
Josephina de Novaes Paes Barreto.
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Pão de Açúcar-AL em 1888, vendo-se o sobrado de residência
da família Novaes Mello. Foto: Adolpho Lindemann.
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No dia 30 de novembro de 1872, colou Grau na Escola de
Medicina da Bahia[i],
defendendo a tese: “Fratura do Radius e seu tratamento”. No ano seguinte, substituindo
o Dr. João Cullen, foi nomeado médico da Colônia do Rio Novo[ii],
na Província do Espírito Santo, a partir de 15 de abril, permanecendo até 15 de
junho de 1877, período em que enfrentou um poderoso surto de Varíola.
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Cachoeiro do Itapemirim em 1877. Foto: Albert Richard Dietz |
Deixando a Colônia, transferiu-se para Cachoeiro de
Itapemirim, onde exerceu a clínica médica e se estabeleceu em diversos ramos de
atividade. Sua ida para aquela importante cidade capixaba teria sido,
provavelmente, por intermédio do seu primo, Padre Manoel Leite de Sampaio e
Mello, vigário daquela Paróquia. Concomitantemente, clinicavam na vila de
Benevente, atual cidade de Anchieta.
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Vila de Benevente, atual Anchieta-ES, 1877. Foto: A. R. Dietz |
Em 1º de janeiro de 1878, casou-se com Maria Bárbara de
Sousa Monteiro (Maricota), filha do Capitão Francisco de Souza Monteiro e de D.
Henriqueta Rios, irmã mais velha de Jerônimo e de Bernardino Monteiro, que
seriam governadores do Espírito Santo, e de dom Fernando de Sousa Monteiro,
bispo do Espírito Santo de 1902 a 1916. O casal teve os filhos: João (que
faleceu com apenas 57 dias de idade), Maria José (que faleceu antes de
completar 8 anos, de cólera morbus), Maria Stella (professora, botânica e historiadora),
Henrique (engenheiro que fez importante carreira na política e na administração
capixaba), Thereza, Theonila, Benfindo (engenheiro agrônomo com atuação
relevante na administração federal e na estadua.) e Theonila 2ª, posto que a
primeira falecera prematuramente.
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O Dr. Manoel Leite de Novaes Mello com a família. Acervo: Drª Maria do Carmo de Novaes Schwab. |
Em 20 de maio de 1880, instalou a Farmácia Novaes, na rua
25 de Março, no centro de Cachoeiro do Itapemirim. Em 26 de junho de 1887,
traspassou o estabelecimento para o farmacêutico Bernardo Horta de Araújo.[iii]
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Anúncio da Famácia Novaes. |
Em 1882, empreendeu uma viagem a sua terra natal, talvez
a única desde que se formou na Bahia. Saudoso de sua família, retornou para
abraçar os seus entes queridos, mormente depois da terrível tragédia que ceifou
a vida do seu irmão Antônio Ferreira de Novaes Mello, no desastre da Estrada de
Ferro Paulo Afonso, em Piranhas.
Ao menos para se ter uma ideia do quanto sacrifício se
fazia numa viagem dessas, vale descrevê-la, valendo-nos dos registros em
jornais da época, que tinham por hábito citar o nome dos passageiros dos
diversos vapores.
No dia 26 de março[iv],
levando consigo um escravo, partiu de Cachoeiro do Itapemirim, a bordo do vapor
Maria Pia[v]
da Companhia Espírito Santo Campos para, no dia 31[vi],
chegar a Vitória. Daí, no dia seguinte, tomou o paquete a vapor Espírito Santo[vii]
e seguiu para a Bahia. De lá, já no dia 10 de abril, tomou o São Salvador[viii]
demandando o rio São Francisco, provavelmente passando por Penedo e, de lá,
subindo pelo rio até Pão de Açúcar. Durante a sua estada, mereceu a seguinte
nota do jornal pão-de-açucarense O Trabalho, reproduzida em O CACHOEIRANO, 9 de
julho de 1882, p:
“O Sr. Dr. Manoel Leite, durante a sua estada
neste lugar, prestou como médico grandes serviços à classe menos abastada,
provando mais uma vez as suas elevadas habilitações, e gênio bondoso que sempre
teve.
Foi acompanhado em seu embarque por avultado
número de amigos, que voltaram saudosos pela separação de tão distinto
cavalheiro.
De nossa parte, abraçamos o Dr. Manoel Leite,
a quem desejamos feliz trajeto até a sua atual residência. ”
A 12 de junho estava ele em pleno regresso, conforme
registra o jornal carioca Gazeta de Notícias, de 13 de junho de 1882, em que se
encontra o seu nome no rol dos passageiros do Paquete Bahia. No dia 25, toma o
Vapor Maria Pia[ix] e segue
para Caravelas até chegar, no dia 27 de junho, a Cachoeiro, ocasião em que foi
recebido por grande número de amigos[x].
Naquele mesmo ano, enfrentando um surto de varíola em
Cachoeiro do Itapemirim, e antes que o Governo do Estado lhe enviasse a vacina,
vacinou gratuitamente 182 pessoas[xi],
evitando assim que a doença se propagasse e fizesse maior número de vítimas.
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Vitória-ES, em 1877. Foto: Albert Richard Dietz. |
Completamente ambientado em Cachoeiro, foi eleito, em
1885, Presidente do Grêmio Bibliotecário Cachoeirense, do qual foi
sócio-fundador.
Sua carreira política contempla os cargos eletivos de vereador
na Câmara Municipal de Cachoeiro, da qual foi presidente, em 1890; Deputado Provincial
para a Legislatura 1876-1877 e Deputado Federal. O jornal O Cachoeirano,
referindo-se à eleição do Dr. Novaes Mello para Vereador pelo Partido Liberal,
em 26 de dezembro de 1887, escreve:
“Foi eleito, por maioria de votos, o
candidato do Partido Liberal, Dr. Manoel Leite de Novaes Mello, do qual,
fazendo jus a sua inteligência e atividade, devemos tudo esperar, convictos
como estamos de que SS saberá corresponder ao sufrágio do povo, trabalhando em
prol deste mesmo povo e esforçando-se para que o município caminhe na senda do
progresso. Na nossa imparcialidade, não queremos saber se quem governa é
Liberal, Conservador ou Republicano; o que queremos é que os cargos sejam
exercidos por pessoas que saibam exercê-los e teremos grande satisfação se mais
tarde à vista dos fatos pudermos felicitar os nossos munícipes pela escolha que
fizeram do Dr. Novaes Mello”.
Em 1889, mudou sua residência para a Fazenda Cachoeira
Grande, a dois quilômetros da cidade, tendo adquirido por 25 contos de réis. Por
esta razão, fez publicar no jornal cachoeirense O Constitucional (5 de setembro
de 1889), a seguinte nota:
“O Dr. Manoel Leite de Novaes Mello e sua
família, tendo mudado a residência para a Fazenda Cachoeira Grande, sem que
lhes fosse possível despedirem-se das pessoas que, nesta Vila, os tem
distinguido e penhorado com sua amizade e afeição, pedem a todas estas
desculpas por aquela falta involuntariamente cometida e esperam que as mesmas
relações e recíproca estima continuarão a ser mantidas em sua nova residência,
nas proximidades desta Villa. Cachoeiro do Itapemirim, 5 de setembro de 1889. ”
E 28 de maio de 1894, o Dr. Manoel Leite vendeu a fazenda
para o Tenente Coronel Francisco Vieira de Almeida Ramos pela importância de
155 contos de réis, além do gado, por 6 milhões e 200 mil réis.[xii]
Em 1896, tornou-se sócio da empresa Novaes, Monteiro,
Oliveira & Cia, comissário de café, juntamente com João Marques de Carvalho
Braga, Antônio Alves Monteiro e Carlos do Carmo Oliveira.
Quando a Constituição Federal, aprovada em 1891[xiii],
aumentou o número mínimo de deputados federais para quatro, o Espírito Santo,
que tinha somente dois, realizou eleições para preencher as duas novas vagas em
1892. Foram candidatos do PRC – Partido Republicano Conservador, Novaes Mello e
José Horácio Costa, ambos eleitos. Seus mandatos se encerraram em dezembro de
1893.
Nessa ocasião, Novaes Mello já se tornara dissidente, em
oposição ao partido e ao governo, participando da criação de uma nova
agremiação: o Partido Republicano Federal.
Em manifestação publicada no Jornal
do Comércio, edição de 10 de setembro de 1890, deixa claro o seu posicionamento
político no momento em que o Brasil mudava do regime Monarquista para o
Republicano:
“Não apedrejei a Monarquia deposta, nem
tampouco fiz adesões e orações ao atual estado de coisas. Como brasileiro,
desejo que este país tenha estabilidade em suas atuais instituições para seu
desenvolvimento e progresso. ”
Faleceu às 18:30 h do dia 12 de setembro de 1898, no
então Distrito Federal. Seu sepultamento se deu no dia seguinte, às 16:00 h, no
Cemitério de São Francisco Xavier.
[i]
Sua Turma era composta de: Paulino Gil da Costa Brandão (baiano de São Felix),
João das Chagas Rosa (sergipano de Japaratuba), Cyrillino Pinto de Almeida
Castro (pernambucano), Joaquim Onofre Pereira da Silva (mineiro de Montes
Claros), Francisco de Paula Alvellos, José Cardoso de Moura Brasil (oftalmologista
cearense, autor da fórmula do famoso Colírio Moura Brasil), Bernardo Gomes
Coutinho, Francisco Lázaro Tourinho, Rodrigo Aprígio Carvalhal, Antônio Bráulio
Ferreira, João Damázio José, Aureliano Macrino Pires Caldas, João Ferreira da
Silva, Salustiano José Pedrosa, Manoel Barbosa da Silva, Eduardo José de
Araújo, Manoel José de Araújo, Francisco Júlio de Oliveira Pereira, Cândido
Alves Machado Freitas, Agostinho Dias Lima, José Pereira dos Santos Portella,
Manoel Leite de Novaes Mello, Antônio Amâncio Pereira de Carvalho.
[ii]
Fundada em 1866 por imigrantes suíços.
[iii]
O Cachoeirano, 3 de julho de 1887, p. 2.
[iv] O
Cachoeirano, 2 de abril de 1882.
[v] O Espírito-santense,
2 de abril de 1882, p. 3.
[vi] O
Horisonte, 31 de março de 1882, p. 2.
[vii]
O Horisonte, 4 de abril de 1882, p.
[viii]
Alabana, BA, 11 de abril de 1882, p. 2.
[ix]
Gazeta de Notícias, 26 de junho de 1882, p. 3.
[x] O
Cachoeirano, 2 de julho de 1882, p. 2.
[xi]
Relatório com que o Sr. Dr. Herculano Marcos Inglez de Souza entregou no dia 9
de dezembro de 1882 ao Exmº Sr. Dr. Martim Francisco Ribeiro de Andrada Junior
a administração da Província do Espírito Santo.
[xii]
O Cachoeirano, 3 de junho de 1894, p. 2.
[xiii]
Dicionário Bibliográfico da Primeira República. Alzira Alves de Abreu.
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