sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

AGERSON DANTAS

Por Etevaldo Amorim
Capitão Agerson Dantas
Foto: Diário da Manhã_18.10.1931
Uma rua do centro de Maceió, que liga a Praça da Independência à Rua do Livramento, transpondo a Rua Barão de Penedo, exibe um nome praticamente desconhecido da maioria das pessoas que por ali passam. RUA AGERSON DANTAS. Quem seria essa personalidade ilustre que mereceu denomina-la?
Sabe-se que foi dado em sua homenagem, quando chegaram do poder os vitoriosos da chamada “Revolução de 1930”[i]
AGERSON DE CARVALHO DANTAS nasceu em 1897, filho do Cap. Agapito Dantas, um comerciante estabelecido na Rua do Livramento, nº 38, no ramo de molhados; e de d. Maria dos Anjos de Carvalho Gama. Seu avô paterno era Manoel Antunes Vieira Dantas, falecido em 1924, aos 80 anos.[ii]
Por volta de 1909, estudava no Lyceu Alagoano,[iii] e, em 1917, fez Exames de Admissão ao Colégio Militar, no Rio de Janeiro.[iv]
Em 1921, concluiu o Curso de Farmácia na Faculdade da Bahia. Formado, volta para Maceió e instala uma Drogaria, cujos negócios fluem satisfatoriamente. Por esse tempo, chegou até a vislumbrar um emprego público, quando, em 1923, foi classificado em 7º lugar no Concurso para Fiscal de Consumo em Alagoas.
As circunstâncias políticas locais não eram, por certo, do seu agrado. Tanto que, quando estoura o primeiro movimento contra o Governo Artur Barnardes, Agerson vende o estabelecimento e entra para as hostes revolucionárias. Não tardou, porém, que as consequências se fizessem sentir, especialmente sobre a família de seu pai, provedor de numerosa prole[v]. O Governador Costa Rego, sob o pretexto de que Agapito Dantas bancava o “Jogo do Bicho”, mandou prendê-lo “numa cela do Batalhão Policial, proibindo-lhe cigarros, fósforos, roupas para mudar, alimentos e, ao menos por misericórdia, uma esteira de peri-peri, para ele não repousar; como repousou sobre o cimento sujo e nauseabundo da prisão à chinesa. [vi] Depois desse episódio, a família Dantas mudou-se para o Espírito Santo.

Alto comando da Coluna Miguel Costa-Prestes. Esq/Dir.: (sentados) Djalma Dutra, Siqueira Campos, Luiz Carlos Prestes, Miguel costa, Juarez Távora, João Alberto e Cordeiro de Farais. (em pé) José Pinheiro Machado, Atanagildo França, Emídio da Costa Miranda, João Pedro, paulo Kryger da Cunha Cruz, Ari Salgado Freire, Nelson Machado, Manuel Lima Nascimento, Sadi Vale Machdo, André Trifino Correia e Ítalo Canducci. Fonte: CPDOC-FGV.
Em 5 de julho de 1924, estando a Coluna Prestes/Miguel Costa combatendo em Aimorés, Minas Gerais, Agerson Dantas a ela se incorporou, sob o comando do Capitão Manoel Henrique Vilá. Já o conhecendo de outras batalhas, o Capitão lhe ofereceu o comando da tropa. Agerson, entretanto, recusou dizendo:
- Quero somente uma coisa: ir para a primeira coluna fazer fogo.
Fracassado o movimento de 1924, Agerson Dantas retorna ao Espírito Santo “com a mesma coragem do vencido destemido, sobrepondo ao coração a esperança de um dia vir a ser vencedor”, diz o jornalista capixaba Edwaldo Calmon, no jornal Diário da Manhã, edição 17 de outubro de 1931.
Depois de algum tempo, deslocou-se para Minas Gerais, procurando meios de sobrevivência. Voltando ao antigo ofício, estabeleceu-se com uma botica em Naque, então pertencente ao município de Peçanha.
Em fevereiro de 1926[vii], foi ferido gravemente num braço, no combate de Umburanas, localidade perto de Custódia, em Pernambuco, deixando-o defeituoso. Mesmo assim, com o braço na tipoia, lutou bravamente por longo tempo.
General Miguel Costa_arquivo CPDOC_FGV.
Esse ferimento, que o debilitava fisicamente, ensejou uma recomendação do General Miguel Costa, em carta datada de 12 de julho de 1927, escrita em Paso de los Libres, Argentina. Aconselhava-o a ir ao Rio de Janeiro procurar meios de tratar-se e o orientava a procurar o Dr. Luiz Amaral, de O Jornal, com quem arranjaria os recursos para fazer a operação. Disse-lhe ainda que, caso o jornalista pusesse dúvida sobre o que lhe falasse, mostrasse a carta, que ele por certo reconheceria sua assinatura. Um trecho da carta diz:
“Diga-lhe que seu braço nos deu 22 mil tiros, vários automóveis, fuzis, etc. e uma boa vitória, derrotando a coluna do Coronel João Nunes, Comandante da Política de Pernambuco, na terça-feira de carnaval, em 1926, no combate do Carneiro”.
Após esse combate referido por Miguel Costa, Agerson Dantas foi promovido, por ato de bravura, ao posto de Capitão, por ter sido o elemento definidor do triunfo do mesmo.
Em outra carta que, como a anterior, foi cedida ao autor dessas notas, o farmacêutico Abílio Schwab[viii], pelo irmão de Agerson, o dentista Afonso Gama, diz o General Miguel Costa:
“No último combate de Bom Jardim, em Mato Grosso, vi o Capitão Agerson Dantas, empunhando com o braço que lhe resta, o revolver fumegante, com que fazia retroceder o adversário mercenário. A marca que você leva no corpo é a condecoração que a Pátria conferiu ao filho leal e desinteressado, ao herói que semeou com o seu sangue a árvore do fruto que será colhido amanhã: Liberdade”.
Enquanto a maioria dos revoltosos foram para o exílio, o Capitão Agerson resolveu voltar para o Brasil, sendo encarregado de trazer o Arquivo da Revolução, prova da confiança que nele depositavam os líderes revolucionários. Estando já em Corumbá, Mato Grosso, escreve ao General Miguel Costa, no dia 30 de abril de 1927: “Volto para casa com a consciência serena, tranquilo e satisfeito por ter cumprido o meu dever”. O General responde em 21 de maio: “Como é feliz o homem que assim pode falar”.
Aliás, nessas notas de Abílio Schwab, há uma revelação de que Agerson, em todas as suas batalhas no vasto território brasileiro, sempre cuidou para que seu nome e fotografia não fossem revelados. Isso, talvez, explique a escassez de relatos e imagens a seu respeito.
Em 1928, prestou exames finais de Inglês e de História Universal no Ginásio do Espírito Santo.[ix]
Mineiros na Revolução de 1930_Revista da Semana.
Faleceu a 7 de outubro de 1930, no combate de Aymorés, no Estado do Espírito Santo. Sobre as circunstâncias que levaram à sua morte, o seu colega de profissão Abílio Schwab reproduz a informação obtida junto ao Dr. Nestor Lobo Leal, médico capixaba residente em Aimorés, que combateu com ele ali combateu:
“Quando explodiu o movimento revolucionário, o Capitão Agerson Dantas residia no município de Itanhomi, em Minas Gerais. Sabendo do movimento, partiu incontinenti para esta cidade, aqui chegando no dia 6 de outubro, à noitinha. Durante todo o dia 7, passou em revista de reconhecimento na fronteira de Minas com o Espírito Santo. No dia 8, foi completar o reconhecimento para, no dia 9, estando senhor das possibilidades do inimigo, entrar com facilidade à noite, em Baixo Guandu, conforme sua declaração de revolucionário histórico. Ao partir pela manhã do dia 8, avisou aos seus comandados que estivessem sempre alerta, principalmente aos que guardavam a passagem que liga os dois Estados e que serve de leito à estrada de ferro Vitória a Minas. Pediu mesmo aos seus camaradas que se alguém recalcitrasse em entrar para o território de Minas, que fizessem foto por sua ordem. Nesse dia completou o Cap. Dantas o serviço de reconhecimento e no seu regresso para Aimorés, disse aos seus quatro companheiros que no dia seguinte iria com uns 500 homens ocupar a povoação de Baixo Guandu, no Norte do Espírito Santo. Já eram quase 7 horas da noite quando o Capitão Dantas se aproximou de Aimorés. Ele vinha a cavalo e por picada feita a seu mando. Por infelicidade, porém, veio entrar na cidade pelo caminho que ele ordenara ninguém passar. Conversava alegremente com os quatro companheiros, quando mal o seu cavalo marchava na estrada proibida, sem que ele ouvisse o acostumado brado de “quem vem lá?”, uma saraivada de balas dos próprios companheiros de ideal convergiram para o seu lado. Os seus companheiros, rastejando-se no solo escalvado e seco, puderam atingir a restinga e, chegando à margem do Rio Doce, rumaram para a cidade que estava bem perto. O Capitão Dantas, ao ouvir a fuzilaria, deu de rédeas ao animal; mas não houve tempo; o bravo revolucionário foi atingido em pleno tórax pelo projetil de um mosquetão, que o atravessou da direita para a esquerda, rasgando-lhe os pulmões e o coração. O seu enterro realizou-se no dia 9, com grande acompanhamento de revolucionários e das principais famílias de Aimorés.
Morreu assim o Capitão Agerson Dantas. Esse era seu destino, não obstante os conselhos da sua zelosa mãe, que implorava para que não se envolvesse mais em revoluções. Mas ele, embora compreendendo os cuidados da mãe aflita, respondia com energia que revolução não se fazia com palavras. Era necessário sangue, e que ele tinha assumido o compromisso de pagar o seu tributo até o fim, por mais doloroso que fosse.




[i] DIÁRIO CARIOCA, RJ, 8 de outubro de 1931.
[ii] JORNAL DO RECIFE, 8 de janeiro de 1924.
[iii] GUTENBERG, Maceió, 29 de outubro de 1909.
[iv] O IMPARCIAL, RJ, 22 de março de 1917.
[v] Dentre seus filhos, o dentista Afonso Gama, que chegou a atender em Pão de Açúcar, pelos idos de 1910, e o médico Carvalho Gama.
[vi] Relato do jornalista Costa Bivar, Diretor do Correio da Tarde, de Maceió, para Jornal do Recife, 14 de agosto de 1924.
[vii] Nesse ano, ainda constava como sócio da Sociedade Bloco Alagoano, entidade instrutiva e beneficente, fundada em 28 de abril de 1907, do qual seu próprio pai, o Cel. Agapito Dantas, foi Presidente Efetivo e Tesoureiro.
[viii] DIÁRIO DA MANHÃ, Vitória-ES, 24 de outubro de 1931.
[ix] DIÁRIO DA MANHÃ, Vitória-ES, 23 de março de 1928.

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia