Por Etevaldo
Amorim
PE.
JOSÉ SOARES PINTO
O Padre José Soares Pinto |
O quinto vigário da Paróquia do
Sagrado Coração de Jesus, de Pão de Açúcar, foi nomeado no dia 3 de outubro de
1910, tomando posse em 11 daquele mês e ano.
Era filho do Capitão
José Soares Pinto e de Rosa Maria Dória; esta, filha de Bernardo Machado da
Costa Dória e de Maria das Dores da Costa Dória.
Sendo sua mãe natural
do povoado Mocambo, município de Porto da Folha, Estado de Sergipe, situado na
margem oposta do rio São Francisco, e sendo comum naquele tempo as primíparas
terem seus filhos sob os cuidados da mãe, nasceu a 8 de fevereiro de 1884
naquele pequeno lugarejo fronteiriço ao morro do Farias, acidente geográfico de
Pão de Açúcar e referência natural dos que por ali navegavam.
Em 1902, ainda aos 18
anos, iniciou seus estudos no recém-criado Seminário de Alagoas, fundado pelo
bispo D. Antônio Brandão, instalado a 15 de fevereiro daquele mesmo ano,
funcionando provisoriamente na cidade de Alagoas (hoje Marechal Deodoro). O
jornal penedense A Fé Cristã, em sua edição de 22 de novembro, noticia a
presença, naquela cidade sanfranciscana, dos seminaristas daquela cidade que,
oriundos do Seminário de Maceió, que para ali retornavam para passar férias, entre
eles José Soares Pinto.[i]
No dia 10 de novembro
de 1907, então com 23 anos, em Ato do bispo D. Antônio Brandão, o então Diácono
recebeu o grau de Presbítero, juntamente com Júlio Albuquerque e Affonso Tojal.[ii]
Já ordenado, achava-se em Pão de
Açúcar quando foi chamado para ocupar a Freguesia em Maceió, durante a ausência
do Cônego Machado e de seu coadjutor,[iii]
e já em 20 de maio de 1909 tomou posse como vigário da Freguesia de Nossa
Senhora Mãe do Povo, em Jaraguá.[iv]
Foi nomeado vigário de Pão de Açúcar e 13 de outubro de 1910.
No seu longo paroquiato, muitas
foram as atividades religiosas, dentre as quais as santas missões, como estas
que se realizaram de 30 de abril a 6 de maio de 1936, pregadas pelos
capuchinhos Frei Antônio e Frei Damião. Foram presididas pelo Vigário Pe.
Soares Pinto, que foi auxiliado pelos padres Jasson Souto e José Meira.[v]
Foram realizadas ali 6.000 comunhões, 1.081 crismas, e algo em torno de 35
casamentos. Houve também imponente procissão fluvial no rio São Francisco.
A estas, por certo, sucederam-se
outras, embora pouco noticiadas, talvez ofuscadas pela outra vocação do Padre,
a política; esta sim de grande notoriedade.
O Padre Pinto, como era
popularmente chamado, faleceu no Rio de Janeiro a 2 de fevereiro de 1939.
Falecia, longe de seus
conterrâneos. O Monsenhor Achilles Mello, vigário de Madureira, seu primo, que
o acolheu no Rio de Janeiro para onde fora em busca de tratamento, faz publicar
no jornal A Noite, edição daquele mesmo dia 2 de fevereiro, uma nota de
falecimento, convidando os amigos para o seu sepultamento, às 16:00 horas, no
cemitério de Jacarepaguá, saindo o cortejo da sua residência, à rua Cândido
Benício, 698.
O Padre Soares Pinto com um grupo de teatro amador de Pão de Açúcar, em 1916. Fonte: Pão de Açúcar, História e Efemérides, Aldemar de Mendonça. |
A morte o levou aos 55
anos, interrompendo uma trajetória de intensa atividade, tanto na prática
religiosa como na atividade política. Difícil dizer em qual delas foi mais
efetivo. Fiquemos, então, com esses breves traços sobre a vida dessa personalidade
pão-de-açucarense, que foi um dos mais destacados clérigos de Alagoas, estando
à frente da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus durante 29 anos.
Sobre sua
personalidade, aqui vai transcrito o que publicou o jornalista Dr. Adherbal de
Arecippo, em crônica do jornal “Gazeta de Alagoas”, de 21 de novembro de 1954:
“Agrada-me,
no instante em que escravo, recordar um sacerdote com quem tive contato durante
todo o período da minha adolescência e começo da mocidade. E parece que estou a
vê-lo e a ouvir a sua voz “cheia” e dicção bem clara, que hoje diríamos “voz
microfônica”.
O
padre José Soares Pinto dirigiu a freguesia de Pão de Açúcar, pelo espaço de 29
anos, consagrando-se aos misteres do sacerdócio católico mantendo uma linha de
comportamento moral digna de encômios.
Era
um servidor abnegado da missão que vinha desempenhado, desde 13 de outubro de
1910, para deixa-la a 27 de outubro de 1939, quando se transportou para o outro
lado da vida.
Ainda
recordo, como se fosse agora, os exercícios da Via-Sacra, as solenidades do
“mês de maio” e as magníficas noitadas com que o Padre Yô-Yô rendia a mais
profunda e respeitosa homenagem ao Padroeiro da cidade. Naquelas noites, a
Imagem do Coração de Jesus como que se tornava humana e parecia abençoar a
quantos se regozijavam com a sua festa. E em todas essas solenidades, ali me
encontrava e me esforçava para conquistar o castiçal, de vela acesa, a fim de
acompanhar a procissão, junto a charola. Era uma vida que dava o Padre Yô-Yô
aquela oração: “Deus e Senhor nosso, protegei a vossa igreja”, pois a sua
microfônica voz completava a imponência da prece, de par com a acústica do
templo:
O
meu saudoso pai, que em Pão de Açúcar pontificava no Juizado de Direito, não se
cansava de elogiar a uma das grandes qualidades de que era dono o vigário
daquela paróquia; a elevada atenção e piedade com que ele atendia aos
moribundos que necessitavam e pediam a sua assistência espiritual, nos últimos
instantes da existência humana.
Para
qualquer que fosse o povoado, a qualquer hora do dia, da noite, pela madrugada
adentro, o Padre Pinto, pertencente a uma das melhores famílias da cidade,
mandava selar um dos seus cavalos e rumava em pleno verão ou debaixo de chuva,
de moda a chegar ao lar do enfermo, para prepara-lo, convenientemente, a
receber, com resignação o término da jornada terrena.
Era
um trabalho que aquele sacerdote católico, falecido aos 55 anos, realizava com
o mais puro sentimento cristão. E creio que só isso bastou para ele conseguir a
sua entrada no reino do céu.
Em
algumas das missas cantadas, foi o meu extremoso pai o ensaiador e dirigente da
orquestra a convite daquele digno e saudoso padre. E lembro-me de uma delas, a
qual foi cantada a “Missa do Coração de Jesus”, da autoria do querido genitor.
Quantas
recordações:
Padre
aos 23 anos. Os 32 que passou, consagrando-os á sua religião, serviu naturalmente
de exemplo para quantas o sucederam nas freguesias de Jaraguá e Pão de Açúcar.
A
última vez que o visitei, estava enfermo e se preparava para rumar ao sul, em
busca da saúde, a qual já se encontrava praticamente perdida. E o fato é que
ele não voltou mais.
Naquela
visita recordamos o passado, as solenidades da igreja, o convite que me fizera
para aprender a ajudar a missa. E, de tanto relembrar, ele chorou.
Abraçamo-nos,
o padre Pinto viajou e não nos vimos mais.”
No Livro nº 05, da
Paróquia de Pão de Açúcar, contém uma nota de significativa importância. Ali, o
vigário de Belo Monte, que substituía o titular da paróquia, anotou o fato
contristador:
“Aos
dois de fevereiro de mil, novecentos e trinta e nove, no Rio de Janeiro, em
Madureira, Freguesia de São Luiz de Gonzaga, na residência do Monsenhor
Achilles Mello, vigário da Paróquia, faleceu piedosamente, confortado com todos
os sacramentos que a Santa Igreja concede in articulo mortis, o Revmº Vigário
desta Paróquia de Pão de Açúcar, o sempre saudoso Pe. José Soares Pinto, que,
aos seus últimos momentos, ainda pronunciou palavras de saudades para sua cara
Paróquia. Ao seu funeral compareceram muitas pessoas, inclusive alguns
Sacerdotes que o acompanharam até o Cemitério de Jacarepaguá, onde está
sepultado em túmulo, e mais uma vez foi encomendada a sua alma. E para constar
mandei fazer este assento que assino. O vigário encarregado, Pe. Jasson Souto”
Para saber mais sobre o Padre José Soares Pinto, acesse o Blog do Etevaldo ou o site História de Alagoas.
Parabéns 👏👏
ResponderExcluirParabens
ResponderExcluir👏🏽👏🏽
ResponderExcluirOpa parabéns Bela homenagem
ResponderExcluir👏👏👏👏👏👏
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