quarta-feira, junho 11

ARQUEOLOGIA PÃO-DE-AÇUCARENSE - OBJETOS ANTIGOS

 

Por Etevaldo Amorim

 

Na última vez que estive em visita ao nosso Museu de Arte e Cultura Joãozinho Lisboa, fui levado a conhecer um conjunto de porcelanas antigas, algumas em pedaços, peças essas julgadas de grande valor.


Prato de THOMAS HUGHES & SON - ENGLAND


Esta é um prato fabricado por "THOMAS HUGHES & SON - ENGLAND", identificada como do Século XIX. Trata-se de uma produção da empresa britânica Thomas Hughes & Son, conhecida por sua qualidade e estilo, com produtos que incluem pratos, bowls (tijelas), sopeiras, e xícaras.



Parte de uma peça de "J.A.G. Meakin - Hanley"


Nesta, igualmente datada do Século XIX, se pode ler "J.A.G. Meakin - Hanley". Refere-se a uma marca de porcelana inglesa, conhecida por sua qualidade e variedade de peças. A marca "J.A.G. Meakin" (ou "J & G Meakin") é uma das maiores fabricantes de porcelana no Reino Unido, com a fábrica em Hanley, Inglaterra.


Peça do Museu identificada como sendo do Século XVI

Isso me fez lembrar um outro exemplar, que me foi dado a conhecer há muito tempo.


Em 2003, quando finalizava as pesquisas para o livro TERRA DO SOL ESPELHO DA LUA, que seria publicado em março do ano seguinte, eu estive em casa do simpático casal Judite Mendonça[i] e Jorge Mendes Graça[ii].


Duplo motivo me levava a conversar com dona Judite: ser filha do ex-vereador  e Prefeito Interino Antônio Alves da Silva – “Totonho Pampia”, e sobrinha do primeiro vigário da Paróquia de Pão de Açúcar, o Pe. Antônio José Soares de Mendonça.


Depois de ser gentilmente brindado com dados e fotografias, especulei ainda sobre outro assunto. Há algum tempo, corria a notícia de que, quando das escavações para as obras de reforma da casa, foram encontradas algumas peças muito antigas, possivelmente de grande valor histórico. Eles confirmaram a informação e me permitiram fotografar a peça, que agora divulgo.


Prato de Porcelana de Judite Mendonça. Inscrição P. Regout A. 1836 Maastricht Timor


Fundo do prato, vendo-se a inscrição P. REGOUT A. 1836 – MAASTRICHT - TIMOR


Trata-se de um prato de porcelana com marcas de emendas, decorado com cena oriental, tendo ao fundo a inscrição “P. REGOUT A. 1836 – MAASTRICHT - TIMOR”.


É um exemplar da Série TIMOR, do conhecidíssimo Petrus Regout, produzida na sua fábrica, em Maastricht (Holanda). Fabricadas entre 1836 e 1880, essas peças eram conhecidas por sua estamparia em azul e branco, exibindo cenas de vida e paisagens daquele arquipélago asiático. A fábrica Petrus Regout era famosa por sua porcelana, contemplando peças de serviço de jantar e louças decorativas.


Não é difícil encontrar, em lojas de leilão, na internet, a oferta de uma dessas peças produzidas em Maastrichht, em anos posteriores. Mas a que foi encontrada na casa de dona Judite se reveste de grande valor, especialmente por exibir o ano de 1836, precisamente o ano em que Regout fundou a sua fábrica.


PETRUS DOMINICUS LAURENTIUS REGOUT nasceu em Maastricht, Países Baixos, no dia 23 de março de 1801, e faleceu em 18 de fevereiro de 1878, em Meerssen, Países Baixos. Era filho de Petrus Leonardus Dominicus Regout e de Maria Gertrudis Nijsten.


Dona Judite Mendonça

O Sr. Jorge Mendes Graça em 1981.

O português Jorge Mendes Graça em 1961, quando chegou ao Brasil.


***

 

À época da fabricação dessas porcelanas, o Brasil vivia sob o regime das Regências, período compreendido entre a abdicação de Dom Pedro I (1831) e a declaração da maioridade de Pedro de Alcântara (D. Pedro II), em 1840, quando se iniciou o Segundo Reinado.


A província das Alagoas estava sob os governos de Antônio Joaquim de Moura (15 de maio de 1835 a 23 de agosto de 1836) e Rodrigo de Souza Pontes (23 de agosto de 1836 a 18 de abril de 1838); e Pão de Açúcar era ainda uma pequena povoação, que só viria a ser emancipada em 3 de março de 1854.


Achados como esses, ainda que sobre eles não se tenha feito um estudo mais aprofundado, e especialmente por se tratar de peças importadas, podem dar uma ideia da situação socioeconômica da população de Pão de Açúcar naquele momento histórico.


Museu de Arte e Cultura Joãozinho Lisboa, em Pão de Açúcar-AL


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NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo. Tratamento de imagem: Vívia Amorim.

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Agradecimentos ao Secretário de Cultura de Pão de Açúcar, Igor Luiz Rodrigues Silva.



[i] JUDITE MENDONÇA DA SILVA. Filha de Antônio Alves da Silva e Francelina de Mendonça Silva.  Faleceu em Maceió, em 15 de setembro de 2015.

 

[ii] JORGE MENDES GRAÇA. Filho de Custódio Emídio Graça e Filipa Augusta Onça. Nasceu em Ponte de Sor, Portalegre, Portugal, em 24 de setembro de 1936. Chegou ao Brasil em 1961. Faleceu em Maceió, Alagoas, Brasil, em 24 de junho de 2019.

6 comentários:

  1. Muito interessante o estudo arqueológico!!!

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  2. 👏👏👏👏

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  3. Um belo ensaio sobre parte da arqueologia de nossa terra. Com certeza, muito rica em fatos

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  4. Recomendo ao Etevaldo pesquisar alguns artefatos de pedra polida, encontrados nos arredores da Ilha do Ferro, pelo nosso querido Mestre Fernando. Já tive a oportunidade de os ver. Interessantes.

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  5. Você, como sempre, muito pontual em suas pesquisas, Etevaldo.

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia