sexta-feira, maio 23

NOTÍCIAS DO PASSADO – MÊS MARIANO EM PIRANHAS E JACARÉ

 

Por Etevaldo Amorim


Piranhas, Alagoas.

 

Pelo calendário litúrgico da igreja católica, estamos em pelo mês mariano, período dedicado à celebração e honra da “Virgem Maria”, repleto de eventos marcados por muita oração, reflexão e devoção à “Mãe de Jesus”.


Resgatamos essas notícias, que remontam aos princípios do século passado. O jornal A FÉ CRISTÃ, semanário dedicado aos interesses da religião católica, que se publicava em Penedo sob a direção de Achilles Mello[i], fazia a divulgação dos eventos católicos em toda a região do Baixo São Francisco.


Conforme anunciava em sua primeira página, o corpo redacional era composto de “diversos sacerdotes e seculares de reconhecida competência”. Sob o seu título, uma frase em latim: Adveniat regnum tuum (Venha a nós o teu reino – Mateus, VI – 10).


Colhemos essas notas do seu número 23, de 17 de junho de 1905, 120 anos atrás. São comunicações referentes às celebrações do Mês Mariano em Piranhas e Jacaré, este último ainda um povoado pertencente ao território de Pão de Açúcar.


 

Diz o hebdomadário penedense:

 

COMUNICADO


Com relação ao exercício mariano, nos transmitiram de Piranhas as seguintes linhas:


Com grande concurso de pessoas, encerrou-se o Mês Mariano nesta vila, sendo o ato revestido do maior brilhantismo e pompa religiosa. Os habitantes de Piranhas e seus arredores afluíram desde o alvorecer, tirando longas jornadas, a fim de assistirem com a atenção que é peculiar aos habitantes destas plagas, à missa cantada pelo Reverendíssimo Pe. José Nicodemos[ii], na qual se exibiu a orquestra, hábil e competentemente regida pelo maestro José Emiliano[iii], que nos deliciou com um Credo, primorosa composição sua.


Graças aos distintos e dedicados Diretores do Instituto Polymáthico[iv] e à Exmª Dona Avelina[v], zelosa preceptora da Vila, fizeram a 1ª comunhão 44 crianças, sendo 31 do sexo feminino e 13 do masculino. Ao comungarem, o Ver. Coadjutor da Paróquia fez ouvir sua palavra eloquente em um substancioso sermão análogo ao ato, deixando em todos a agradável impressão que produzem os sãos dizeres dos grandes oradores sacros.


Às 6 horas da tarde houve a cerimônia da renovação do Batismo para as crianças que comungaram, sendo pelo Reverendíssimo Nicodemos distribuídas cromo gravuras, como lembrança desse dia. Em seguida foi cantada a Ladainha de N. S., com o que terminou a festa.




MÊS MARIANO EM JACARÉ

 

Se não víssemos, não acreditaríamos. Diz S. Afonso de Ligório que os homens creem antes no que veem do que no que ouvem.


E outro escritor já havia dito que é fácil o discurso – difícil a obra – os homens preferem atos a palavras.


Assim é que, devido aos esforços, piedade e dedicação generosa de algumas Senhoras, dignas de todo o respeito, auxiliadas pelo Sr. A. Souto[vi] e pelo Reverendíssimo Pe. Antônio Soares de Mello[vii], mártir de paciência, que com sua palavra fácil, docilidade e amor vai explicando ao povo as grandezas de nossa Santa Religião; foi assim que - íamos dizendo – presenciamos o percurso das 31 noites do mês de Maria, cantando dia a dia diversas moças desta localidade, com gosto, melodia e estilo, condignas homenagens a Maria Santíssima, com o que nos avivavam mais em nossos corações a devoção a tão augusta Rainha.


A missa foi soleníssima, cantada com gosto e esmero, salientando-se o grande Banquete Espiritual, que excedeu à minha expectativa, pois comungaram por essa ocasião 47 pessoas, já tendo havido nos dois dias anteriores 25 comunhões, o que perfaz o número de setenta e duas.


Já vê, pois, que empreguei bem a frase – exceder a minha expectativa – porque tantas Comunhões em um pequeno povoado é para admirar.


Ainda abrilhantou a festa a instituição da Irmandade do Sagrado Coração de Jesus, que se inaugurou neste povoado com 31 irmãs, as quais todas compareceram à noite com seus distintivos no ato da consagração.


A consagração esteve à altura da missa, cantando as mesmas senhoritas deliciosos hinos, entre eles um de despedida, consagrando seus corações à Maria Santíssima, o qual me ficará insculpido na memória.


Ao terminarem os festejos, foram queimados fogos de planta, sobressaindo um painel representando a Virgem.


O mês de maio deste ano ficou imorredouro aos habitantes desta terra.

 

Jacaré dos Homens.

____


Transcrito do jornal A FÉ CRISTÃ, Penedo-AL, 17 de junho de 1905.

 

NOTA:


Caro leitor,


Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.


Tratamento de imagem: Vívia Amorim.



[i] Achilles Balbino de Leles Mello. Político, jornalista. Nasceu em Traipu-AL, em 1846. Filho do Cap. Benedicto Soares de Freitas Mello e de Maria Angélica dos Prazeres. Faleceu no dia 9 de julho de 1930, aos 81 anos, na cidade de Paraíba do Sul, Estado do Rio de Janeiro.

[ii] Pe. José Nicodemos da Rocha. Celebrou sua primeira missa em Sertãozinho (atual Major Isidoro) no dia 18 de novembro de 1903. Em 1906, depois de ter atuado como coadjutor em Pão de Açúcar e capelão na então Vila de Piranhas, que foi paróquia, criada pela Lei Provincial nº 964, de 20 de julho de 1885, mas não foi instituída canonicamente, continuando sob a administração do vigário de Pão de Açúcar.[vii] Logo pós, foi nomeado pároco da Paróquia de Água Branca. Faleceu em 1936.

[iii] José Emiliano de Souza. Filho de Antônio Bernardes de Souza e Izabel Maria de Jesus, nasceu em 1858. Foi casado com Maria Emília do Amaral Canuto (filha do Alferes Manoel Vicente Ferreira Canuto e dona Joaquina Maria do Amaral. Era regente da orquestra Filarmônica Piranhense.

[iv] Colégio sediado em Maceió, sob a direção da Madame Renêe Marie, esposa do Sr. Paul Lucien Marie.

[v] Professora Avelina Maria do Carmo. Natural de Maceió, faleceu em Traipu-AL no dia 24 de fevereiro de 1960, com 75 anos presumíveis.

[vi] A. Souto. Trata-se, provavelmente, do Sr. Antônio Alves Souto, pai do Cônego Jasson Souto e de Dona Haidéa Souto Silva.

[vii] Pe .Antônio Soares de Mello, que foi vigário de Belo Monte de 01/07/1887 a 14/08/1896; e  de 06/11/1901 a 01/02/1913. Nasceu em Belo Monte-AL em 1851, filho de Antônio Soares de Mello e Maria Hermelina Soares. Em 1886 era Deputado Provincial. Faleceu em Propriá-SE em 24 de junho de 1930, sendo ali sepultado no dia seguinte.

2 comentários:

  1. Excelentes informações de cunho histórico para futuros esclarecimentos de fatos que, a oralidade, já não lembra mais . Muito bom lembrar fatos inusitados de um passado remoto , mas que fora tão glorioso, para hoje ser digno de merecida e destacada menção, parabéns ao confrade amigo, mestre Etevaldo!

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  2. Mais um belo artigo sobre nossa história regional. Desta feita, aproveito para alimentar minha árvore genealógica com mais dados sobre meu tetravô Achilles de Mello

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia